Lie - The Story Of The 8th Sin escrita por Koneko-chan, Yukari Rockbell


Capítulo 4
As armadilhas da mentira.


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo ficou com um ar bastante rotineiro, tipo, "apenas mais um dia de trabalho no covil dos homúnculos"! SHUASHU. Foi gostoso de escrever, só espero que não esteja confuso. Achei que eu devia aproximar mais o Envy e a Lie para que a relação deles não ficasse superficial.

Boa leitura! E obrigada por estar acompanhando até aqui! ~nya

PS: Adoro a rivalidade da Lie e da Lust XD



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Chapter 4 (Ep. 16 & 17 – Brotherhood): As armadilhas da mentira.

Eu suspirei. Às vezes desejava ter me juntado a esse grupo antes. Queria saber onde, afinal, eles usaram esse monte de Quimeras e criaturas estranhas em jaulas nesse outro compartimento do subterrâneo. Lust me contara que houve um incidente no Quinto Laboratório e algumas dessas criaturas eram a guarda de lá. Mas apenas algumas. Outras eram selvagens demais, como por exemplo, o corpo de um homem que era conhecido como Barry, o Açougueiro – ele tinha mania de fatiar tudo. Graças a Deus não lhe deram facas nem nada disso e ele estava bem seguro numa jaula.

Gluttony estava bem em frente a ele, comendo alguma coisa que eu preferi não distinguir. Ele ia deixando os ossos em frente à jaula. Imaginei que estivesse querendo fazer Barry ficar com inveja. Já Lust, estava apoiada nele, aparentemente pensando. Eu estava em cima de uma jaula, balançando meus pés para evitar que a criatura lá dentro tentasse arrancar minhas pernas. Elas cresceriam de novo, é claro, mas se acontecesse seria algo muito, mas muito desnecessário.

Envy chegou. Havia tomado a forma de um oficial militar loiro. A mão na cintura em seu estilo habitual e um sorriso afetado e presunçoso no rosto nos indicavam que era ele mesmo.

– Bem vindo. Novidades? – perguntei.

Ele sorriu presunçosamente para mim e se virou para Lust, ficando de frente para ela.

– Eu me transformei num tal de Capitão Focker mais cedo para investigar algo que achei ter visto.

– O que viu? Fale logo, seu inútil. – Lust provocou.

Envy pareceu não ter gostado de ser chamado de inútil, mas o sorriso voltou a seu rosto quando se lembrou do que tinha que falar.

– Vi o Coronel Mustang saindo de uma sala onde sei que só ficam arquivos informativos extremamente relevantes. Uma tal de Sheska tinha acabado de chegar e por acaso sabia o que ele estava procurando. Documentos referentes ao que houve no Quinto Laboratório.

– Você está dizendo que o Coronel está investigando a morte do Hughes? – Lust indagou.

– Sim.

– Ele encontrou alguma coisa?

– Talvez – Envy respondeu. Ele voltou a se transformar em sua forma habitual. – O que você quer fazer?

– Vamos continuar a vigiá-lo. Devemos enviar alguém para a Central, mas... Ele continua... sendo um candidato importante para um Sacrifício.

Em nosso... terceiro (acho) contato por telefone, Wrath me dissera que os Sacrifícios Humanos eram pessoas de quem o Pai necessitava para o tal ritual de poder e que todos os Sacrifícios tem em comum o fato de não serem do tipo que abandonaria o país. E todos os Sacrifícios Humanos já haviam feito uma transmutação humana.

– O Coronel de quem vocês falam é um de cabelo preto e cara de que comeu e não gostou? – perguntei.

Lust assentiu.

– O próprio. Coronel Roy Mustang.

– Ele já fez a transmutação humana?

– Não, mas isso é o menor dos problemas. – Envy falou. – Lust, você descobriu alguma coisa do seu namorado?

Eu esbocei um sorriso. Lust estava supostamente namorando um dos subordinados do Coronel Mustang para ver se descobria algo mais sobre as informações que eles estão buscando e o que estão tramando.

– Não... – ela bufou. – Não sei se ele é cuidadoso ou um idiota.

Ela se desencostou de Gluttony – que começava a dar ossos para o corpo de Barry morder – e começou a andar em direção à saída.

– Vou tentar obter mais informações. – ela parou no meio do caminho e se virou. – Vamos, Gluttony.

Envy ficou olhando para o lugar de onde Gluttony levantara e logo sua expressão se fechou em irritação e ele caminhou até a pilha de ossos que o outro homúnculo abandonara.

– Ei, Gluttony... Pare de fazer bagunça, droga! – ele olhou mais atentamente para os ossos (não sei se para os ossos realmente). – Ei, Lust, ficará tudo bem se o Coronel das Chamas se acalmar, certo?

– Sim.

Envy olhou atravessado para Lust.

– Você não quer fazer “aquilo” outra vez?

Lust se encolheu e abriu um sorriso.

– Você teve alguma ideia?

O sorriso de Envy ficou ainda mais sombrio. Eu já não estava entendendo.

– Nós temos que dar uma isca para esse cão...

– O que isso quer dizer? – perguntei.

Ele se virou para mim como se lembrasse que eu estava ali. Seu sorriso ainda nebuloso e ameaçador.

– Hm? Ora, vamos lá, Lie, pense! Do que a polícia precisa quando um homem morre?

Levantei uma sobrancelha.

– De um monte de coisas. Vejamos... suspeitos?

O sorriso dele se alargou e ele se virou para Lust.

– Ande! Essa garota é muito esperta!

Eu ri com ironia.

– Deixe de idiotices, Envy. Conte-me, o que pretendem fazer?

– Vamos dar ao Coronel das Chamas o que ele quer. O assassino de Maes Hughes!

Meu sorriso cresceu e meus olhos se estreitaram.

– Vão mentir? Isso é comigo mesmo.

Ele continuou a me encarar com uma expressão cumplicidade.

– Vai ser divertido...

– Vai logo – ele sussurrou e eu me espremi para entrar na pequena biblioteca.

A primeira coisa que notei foram algumas marcas de sangue no chão, mas as desconsiderei. Lust comentara que a biblioteca na qual Envy pretendia ir era a mesma em que ela tinha atacado Hughes pouco antes de sua morte. Envy entrou na biblioteca, logo em seguida se transformado em um oficial fardado qualquer.

– Certo. – falei, virando-me para olhá-lo. – É um lugar bom pelo menos para a primeira parte do plano...

– Ok, então comece.

– Hmm, primeiro preciso que se transforme em alguém que pode ter matado o Hughes.

Ele sorriu maliciosamente e se transformou numa mulher de olhos grandes e cabelos curtos, baixinha e com uma pinta embaixo do olho esquerdo.

– Maria Ross se apresentando.

Assenti.

– Obrigada.

Eu me sentei no chão e comecei a me concentrar.

– O Que vai fazer? Invocar o espírito do morto?

Fechei os olhos, nem me preocupando em lhe dar atenção.

– Quero fazer uma cópia minha na sala de arquivos, é mais fácil para roubar alguma coisa sem ser percebida.

Eu me concentrei e deixei minha respiração regular. Visualizei a sala dos arquivos e coloquei uma cópia idêntica a mim lá. Eu podia vê-la claramente em minha cabeça. Meu cabelo repartido e castanho escuro, meu sobretudo comprido, mas leve, esvoaçando entre os papéis e minhas botas de cano alto quase chegando nos joelhos. Eu franzi o cenho, esforçando-me para fazer minha cópia ir procurar o que eu queria, quando Envy quase tirou minha concentração falando. Quase.

– Você fez tantas cópias tão rápido aquele dia, por que está armando tanto drama pra fazer uma única cópia?

Fiz uma careta, me concentrando.

– Fazer cópias é mais fácil quando eu tenho contato visual com o lugar onde elas vão aparecer. A partir daí se eu quiser a cópia pode até ter vontade própria, – o que eu não costumo permitir porque é perigoso ela se rebelar – mas quando a cópia que tem que ser feita está num lugar muito distante, que eu não conheço ou que eu não tenho contato visual, é mais difícil. No caso são os três fatores contra mim.

Ele murmurou algo inaudível e eu voltei a prestar atenção à minha cópia. Ela passava os olhos por uma gaveta marcada como R-W. Randall, Rowest, Rodney, Ross... Ross. Maria Ross. Ela pegou o arquivo e abraçou-o contra o peito. Eu ordenei que usasse o tubo de ventilação para vir para onde eu estava.

– Não teria como simplesmente fazê-la sumir com o arquivo e materializá-la aqui de novo? – Envy perguntou, quase tirando minha concentração. De novo.

– Pare de falar, droga! – bradei. Então me acalmei um pouco e me concentrei ainda mais. – Não teria como, se eu a fizesse sumir o arquivo ia cair no chão como se nada o estivesse segurando.

– Ah, certo, não precisa ficar nervosinha, Bela Dama Misteriosa e Estressada!

– Não estou nervosinha, é que falar de repente me desconcentra.

Eu observei a cópia ir de sala em sala pela tubulação da ventilação. Passou até pela sala do Führer, tive uma breve visão de Wrath conversando com alguém. Então logo ela estava na ventilação acima da biblioteca e eu a fiz chutar a grade do ar e cair bem atrás de mim. Envy se sobressaltou levemente e eu me virei, sorrindo e estendendo a mão. A cópia me entregou o documento e eu dei uma olhada.

– Bom trabalho, obrigada. – murmurei antes de fazê-la sumir.

– Você agradece à sua própria cópia? – Envy perguntou incrédulo.

Eu olhei para ele, pensativa por um minuto.

– Vício de linguagem. Costumo agradecer a todos, acabo considerando minha cópia alguém, mesmo que não seja de fato um ser vivo e sim uma ilusão materializada pela minha mente. – respondi.

Ele riu.

– Você é estranha. Conheço poucas pessoas doidas que nem você.

– Obrigada. – respondi, resolvendo considerar um elogio.

Examinando o documento, procurei um ponto possível que pudesse acusar a Segunda Tenente.

– Você apareceu com ela na frente do Hughes, certo? – perguntei a Envy, lembrando-me dele ter falado sobre uma subordinada com uma pinta embaixo do olho esquerdo.

– Sim.

– Que calibre de arma você usou?

– Calibre 45.

Eu sorri.

– Serve como uma luva. É o calibre da arma dela também. Alguém te viu saindo de lá transformado nela?

Envy pensou por um momento.

– Acho que sim.

– Perfeito.

Eu fechei o arquivo e peguei em cima da mesa um papel rabiscado. Deixei o arquivo de lado e puxei do bolso de trás da minha saia um pedaço de giz, fazendo um círculo de alquimia no chão e depositando o papel sobre ele. Uni as mãos como numa prece e depois, em sincronia, coloquei-as no chão, próximas ao círculo. Um rojo de luz azulada percorreu o recinto e eu examinei o papel novamente.

– V-Você sabe fazer alquimia?! – Envy perguntou surpreso. Notei que ele se transformara nele próprio novamente, o que era inútil, tendo em vista meu plano. Ele já ia ter que se transformar novamente.

– Fiquei um tempo estudando isso, te conto essa história depois. Tem a ver com o que houve em Dubith.

Ele franziu o cenho e assentiu, parecendo reprimir um comentário.

– O que é isso que você fez? – perguntou em vez disso.

– Um falso formulário sobre a bala que matou o Hughes. É praticamente uma cópia ilegal, mas não importa, porque os exames vão mostrar o mesmo.

Ele riu.

– Só para não termos o trabalho de ir roubar outro documento?

Eu lhe lancei um olhar.

– É mais difícil controlar uma cópia a longa distância do que você pensa.

Ele deu de ombros e se espreguiçou.

– Então, vai demorar? Não tenho o dia todo.

– Você tem a eternidade toda, é imortal. – falei, revirando os olhos. Entretanto, estiquei os papéis para ele. – Transforme-se num dos subordinados do cara encarregado do caso e se manda daqui com um ar de afobado. Vou esperar, volte para cá assim que terminar de falar com ele.

Envy assentiu, franzindo o rosto. Pude perceber que ele gostava de receber ordens tanto quanto eu. Ainda sim era divertido para ele interpretar. Saiu da sala e eu fiquei aguardando. Apaguei os riscos de giz do chão e coloquei-o de volta no bolso. Subi numa cadeira e pus a grade do duto de ar no lugar dela. Fiquei tentada a mandar uma cópia para uma janela e observar se Envy fazia tudo direitinho, mas achei que podia confiar nele pelo menos para isso. Ele não ia querer estragar um plano tão bem bolado.

– Que está fazendo aqui? – ouvi uma voz perguntar.

Desequilibrei-me da cadeira e cambaleei para o chão, olhando para a figura baixinha que aparecera na biblioteca.

– Ah! Olá Pride. – saudei.

– Você não me respondeu.

Levantei uma sobrancelha.

– Está bravinho? Relaxa, não vou denunciar seu incrível disfarce de criancinha apesar de morrer de inveja dele. Estou só realizando um plano com o Envy para culpar uma subordinada pelo assassinato do Hughes. Queremos acalmar o Mustang-kun.

Sua expressão relaxou um pouco.

– Que pensou que fosse? – perguntei.

– Nada, não pensei que fosse nada. – rebateu. – Só fiquei surpreso em vê-la aqui em cima. Achei que podia estar aprontando alguma coisa.

– Estou do lado de vocês, esqueceu? Se eu fosse aprontar seria para ferrar com os mocinhos.

Ele me lançou um olhar que não entendi.

– Pelo seu nome é difícil saber se podemos acreditar.

Eu sorri.

– Nunca vão saber.

Ele ficou sério e do chão eu vi subirem algumas sombras ao redor dele. Sombras concretas, quase como minhas cópias.

– Estou brincando.

– Mentira tem perna curta, Lie. – ironizou, colocando um sorriso cruel no rosto. – E se quiser posso te deixar ainda mais baixa.

Fiquei séria.

– Melhor não tentar, Pride, ou pode sair com o orgulho ferido.

A expressão dele vacilou e eu sabia que minha ironia tinha-o atingido mais do que a dele a mim. Nesse momento, a porta se abriu e Envy entrou disfarçado de subordinado.

– Aquele cara fala pelos cotovelos. – murmurou. E então virou-se para me encarar, notando Pride. Ele franziu o cenho – Que está havendo? Isso aqui parece a casa da mãe Joana? Três homúnculos no mesmo lugar não é dar muita bandeira não?

Eu ri e dei de ombros.

– Foi tudo certo?

– Melhor impossível, ele ficou fascinado com a ideia. Disse que vai resolver o assunto ainda hoje. Melhor pegarmos um lugar nos bastidores para observar o show, estou doido para ver a cara da Ross quando ficar sabendo.

– Então vamos, também estou curiosa.

Soltamos sorrisos cúmplices um para o outro e eu comecei a andar para a janela.

– Pride, desculpe se te ofendi. – falei, notando seu olhar ainda em chamas em minha direção. Eu sorri amistosamente para ele. – Não foi minha intenção.

Claro, essa foi a pior mentira que já contei. E acho que ele percebeu, pois estreitou os olhos para mim de um jeito desafiador.

Ei, até mesmo eu posso moldar minhas mentiras para que realmente pareçam mentiras.

O homem colocou a mão no ombro dela.

– Segundo Tenente Maria Ross. – disse. Ela se virou e ele se afastou. – Sou Henry Douglas, da Polícia Militar.

Maria Ross se levantou.

– Precisa de alguma coisa?

– Você virá comigo. Me entregue sua arma.

Ela pegou a arma com o cenho franzido e depositou-a na mão dele.

– Pode me dar uma explicação?

– Você é suspeita da morte de Maes Hughes.

Ela ofegou, assustada. Eu não pude evitar rir.

– Isso é ridículo! – exclamou.

– Vamos ouvir tudo o que você tem a dizer mais tarde... Vamos.

Ele se virou e ela, relutante, o seguiu.

Eu explodi em risos, quase me desequilibrando.

– Isso é demais, demais, demais! – falei.

– Shh! Alguém vai ouvir idiota! – Envy protestou. Mas então um sorriso se abriu em seu rosto. – Viu a cara dela? Quase nem acreditou no que estava acontecendo!

Eu estava pendurada na janela do refeitório enquanto observava Maria Ross ser acusada. Eu e Envy esquematizamos tudo para que corresse como o planejado. Nossas duas mentes juntas bolaram uma lorota enorme que ele materializou em realidade. Ou quase.

– Eu vi. – ri-me. – Foi hilário! Você se certificou de que ela e Hughes se conheciam, mas não eram tão próximos, não é?

– Sim. Ela é subordinada daquele monstro enorme do Armstrong.

Eu assenti. Lembrava-me de tê-lo visto em algum momento.

– Queria ver a cara do Mustang quando ficar sabendo disso. – murmurei.

– Nah. Provavelmente não vai mudar muito, ele é bom em esconder sentimentos inúteis.

– Não vai ser tão divertido quanto foi com a Segundo Tenente?

Ele balançou a cabeça.

– Mas vai ser legal ver como ele vai reagir aos poucos... Ele era amiguinho do Hughes, vai ser incrível o desejo ardente de vingança que vai corroê-lo!

– Sim! – exclamei, os olhos brilhando. Então me lembrei de algo. – Ah, ei, onde está a Lust?

Ele franziu o cenho.

– Foi encontrar-se com o tal de Jean. Tentar saber alguma coisa dele.

– Ah, claro. Como é mesmo o nome que ela está usando?

– Solaris.

– Que mau gosto.

– Você pensaria em algo melhor?

Dei risada.

– O que seria melhor que Lie?

– Envy. – ele respondeu.

– Eu não poderia me chamar Envy.

– Você não especificou, só perguntou o que poderia ser melhor.

Eu revirei os olhos.

– Não tente ser mais esperto do que eu.

Ele sorriu.

– Não preciso, eu sou.

Mostrei a língua para ele e olhei ao redor.

– Melhor sairmos daqui antes que alguém nos veja.

Ele riu.

– Humanos são tolos demais, não nos perceberiam nem que estivéssemos bem em frente ao nariz deles.

Eu balancei a cabeça, sorrindo.

– Não os subestime. Se fossem tão tolos quanto julga não precisaríamos nos preocupar com o Coronel Mustang investigando a morte do Hughes.

– Agora ele não vai mais fazer isso, tenho quase certeza...

E Envy estava particularmente certo. O jornal de poucos dias depois comprovava isso.

Quando vimos à notícia, eu e Envy ficamos histéricos. Era fantástico! Eu rira muito. Bastante. Mas já parara. Apenas um sorriso presunçoso escapava de meus lábios. Eu chutei uma jaula.

– É fantástico. – falei animadamente. Estava parecendo como quando da primeira vez que vira Pride. Chutei a jaula de novo e o monstro lá dentro se agitou.

– É isso. – disse Envy. – O Mustang-kun fez uma linda vingança pelo seu amigo.

– Queria tanto ter visto! Eu consegui ver o corpo, isso sim, ele a queimou muuito! – exclamei.

– Maravilhoso, maravilhoso! – Envy repetiu.

No entanto, Lust não compartilhava nossa animação.

– Não estamos sendo descuidados? – Envy e eu a olhamos com atenção. – O plano era para o Coronel ser obediente, não era?

– E daí? O cachorro mordeu a isca e não perdemos nada. – Envy protestou. – E também aquela subordinada foi acusada...

– A cara de surpresa dela não me sai da cabeça. – murmurei maliciosamente.

Lust levantou a sobrancelha.

– Veremos.

– Falando em ver! – Envy exclamou. – Vou ver se consigo descobrir quem foi que nos ajudou no nosso pequeno plano. Afinal, presos não costumam escapar sozinhos.

Envy saiu correndo antes que qualquer um pudesse dizer mais alguma coisa. Lust ainda estava séria. Eu me joguei em cima da jaula de novo e fiquei balançando os pés para provocar o bicho. Ela me observou por um minuto.

– Você e Envy estão andando um pouco juntos demais ultimamente. Não acha Lie?

Eu franzi o cenho para ela, ainda sorrindo.

– O que quer dizer?

Minhas habilidades de mentir aparentemente estavam melhorando. Devo ter ficado enferrujada com todo o tédio e nostalgia que estava vivendo antes de me juntar a estes homúnculos. Por isso não consegui mentir para o Envy. Mas agora minha mentira para Lust fazia com que eu parecesse realmente não saber do que ela estava falando. A verdade era que eu realmente andava gostando mesmo de passar tempo com o Envy. Ele é engraçado, apesar de arrogante e petulante.

– Você bem sabe. – ela me lançou um olhar penetrante. – Vocês tem andado demais juntos e desse tempo para cá você tem andado mais animada.

Eu fiquei séria e olhei para a criatura embaixo de mim, notando que ela já conseguira arranhar minha perna.

– Não sei do que você está falando, Lust. Eu e Envy trabalhamos juntos para enganar o Mustang e fazer todo mundo pensar que foi a Ross quem matou o Hughes. Estamos felizes porque deu certo, só isso.

Ela deu um riso cético.

– Se é assim – ela respondeu. Mas pude perceber que ela pouco acreditava em mim.

Ficamos em silêncio por algumas horas. Horas que levaram Envy a voltar num personagem bigodudo de olhos escuros. Ele carregava um papel com um desenho – só não pude identificar o que estava desenhado.

– Consegui uma informação sobre quem atacou a casa de detenção. – ele se transformou. O sorriso ainda pairava em seu rosto, mas havia diminuído. Ele parecia achar algo apenas vagamente divertido. Levantou o papel e mostrou-o a Lust. – Esse é o retrato do culpado.

Eu me esgueirei de cima da jaula para o lado dela. Era uma armadura esquisita e gorda parecida com um açougueiro. Imediatamente associei ao corpo de Barry, o Açougueiro. Lust dissera que haviam separado a alma dele do corpo e que agora ele estava preso numa armadura. Devia ser aquela.

– Ele está vivo? – ela indagou num tom de leve surpresa. Pegou o papel da mão de Envy e eu fiquei observando junto com ela. Minha presença pareceu incomodá-la, mas eu ignorei e ela fez o mesmo. Envy foi se espreguiçar para outro canto. – Ele entrou em contato com o Coronel das Chamas? – Lust perguntou.

– Não sei. – Envy respondeu. – Mas a possibilidade não é zero.

Eu me afastei pensativa e apenas observado a situação. Também não gostava de ficar perto demais de Lust desnecessariamente.

– Para onde ele fugiu?

– Ele é bom de fugir desde quando era vivo...

– Resumindo, você não sabe nada, que inútil.

– Cala a boca, velhota... – ele disse, olhando-a incomodado. – Não tenho ajudantes suficientes. – desculpou-se.

– Ajudantes? – ela me lançou um olhar. Nos encaramos por alguns segundos. O corpo de Barry fez um pouco de barulho, desviando a atenção de Lust. – Isso é o suficiente como ajudante. – ela sorriu. – Agora é sua vez. Barry, o Açougueiro. Vejamos se é um ajudante vantajoso o suficiente para nosso querido e inútil Envy.

– Ei, pare de me chamar de inútil, droga. – ele reclamou.

– Vai colocar o Barry para procurar a alma dele? – perguntei, estranhando.

Lust olhou para mim e sorriu.

– Bem, sim. Ou você prefere ser a ajudante do Envy? – ela estreitou os olhos para mim, desafiando-me.

Eu sabia. Ela se referia a nossa conversa anterior. Eu sorri e dei uma risada fraca, balançando a cabeça num movimento curto.

– Não. – respondi curta e grossa. – Não precisa Lust. Acho que ele pode se virar bem sem mim.

Nos fitamos por um tempo. Lust com um olhar afiado e desafiador e eu com a expressão de quem diz “É, você me pegou, mas vou virar o jogo”. Envy nos olhou de uma a outra.

– Aconteceu algo que eu deveria ficar sabendo? – perguntou, desconfiado.

Eu desviei meu olhar de Lust para ele e balancei a cabeça.

– Não, nada. Não releve. – lancei um olhar a Lust novamente. – Estou pagando para ver se vai repetir sua ação.

Ela riu um pouco, arrogante.

– Claro. Quando a situação se repetir.

Envy franziu o cenho, curioso.

– Droga, do que vocês estão falando?

– Vai preferir não saber. – eu respondi. – Ou então pergunte a Lust.

Revirei os olhos e me levantei.

– Vou dar uma volta.

E eu fui. Me remoendo de raiva da Lust por ser tão hipócrita e arrogante, mas eu fui. Não podia me irritar, afinal de contas, ela era um pecado. Todos éramos.


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Notas finais do capítulo

Reviews sempre fazem bem ao coração de uma escritora e só custam algumas palavras aos leitores! Então onegai! *assovia* -n

Kissus, até a próxima!