Lie - The Story Of The 8th Sin escrita por Koneko-chan, Yukari Rockbell


Capítulo 14
O Dia Prometido


Notas iniciais do capítulo

Espero q o cap vá. O Nyah é sempre chato comigo *medo*
Enfim, Yukari por aqui novamente! Koneko está viajando então postarei mais um cap!!
Será que dessa vez a Lie encontrará Envy??Leiam e descubram!
Deixem review (vcs sempre deixam!Fofos!) e indiquem a fic!



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Chapter 14 (Ep. 50, 51, 52, 53 (uma parte) – Brotherhood): o Dia Prometido.

Meus passos únicos ecoaram até que eu parei há poucos metros da cadeira do Pai.

– Que lástima – murmurou. – O Dia Prometido chegou e quase ninguém está aqui. Onde estão Pride e Gluttony?

– Pride está preso numa armadilha de Hoheheim, não pude ajudá-lo. – respondi. E não era mentira. – Ele... Pride engoliu o Gluttony.

Isso pareceu surpreender um pouco o Pai.

– Engoliu?

– Sim, mas embora agora ele esteja com as habilidades do Gluttony, não consegue sair da armadilha. Em minha opinião é impenetrável, mas ele vai ter que dar um jeito de sair por conta própria.

– Entendo – murmurou. – Hoheheim é burro. Será que a armadilha não era mais destrutível por fora que por dentro?

Eu meditei.

– Imagino que não.

Ele suspirou profundamente.

– E está acontecendo quase que uma guerra lá em cima. – informei. – Mustang sequestrou a esposa de Wrath, e vi alguns soldados de Briggs no meio disso.

Ele balançou a cabeça.

– Coronel Mustang... Não importa quanta confusão ele arme lá em cima, não vai fazer com que meu plano deixe de funcionar.

– Já se decidiu se ele será um sacrifício?

– Ahh... Ele é o mais apto a isso até o momento. Não vejo outra solução.

Assenti.

– Lie, fique de guarda nos túneis. Impeça qualquer um que queira entrar.

– Sim senhor. No entanto, somente eu não dou conta de proteger todos os túneis.

– Faça o que puder.

Eu assenti e me virei para começar a sair.

– Lie – disse o Pai.
Eu parei.

– Sim?

– Encontrou o Envy?

Não respondi de imediato, baixando o olhar para o chão.

– Não, senhor.

– Bem. Pode ir.

Eu assenti e me retirei, começando a vistoriar todos os túneis. O Dia Prometido mal começara e eu já estava seguindo ordens de alguém cuja liderança começava a deixar a desejar. Pelo menos, na minha cabeça.

Silêncio. Eu estava tentando não manter nada na cabeça, mas como não tinha com o que me distrair, essa era uma tarefa difícil. Infelizmente eu não conseguia manter um rumo de pensamento coerente. Minha mente começava a preocupar-se com diversas coisas: Envy perdido, Pride preso, Edward Elric vindo derrotar o Pai... Sim, eu também me preocupava com aquele nanico, ele parecia gente boa, não merecia morrer. É realmente difícil não gostar de uma pessoa com um bom coração.

Até por que, é assim que são escolhidos os sacrifícios.

Eu entrei por um corredor mais claro cheio de bonecos pendurados de cabeça para baixo. É o tal de exército imortal, recordei-me. Eles eram feios, tinham um olho só e corpos brancos meio desenhados. Eu toquei a testa de um boneco próximo. Eram como uma caixa vazia esperando para que seja colocado um conteúdo.

– Acho que você não fica bravo se alguém te chamar de cabeça oca, não é? – perguntei.
– Afinal, isso não passa da verdade.

Eu franzi o cenho e fiz uma careta ao perceber que aquela pergunta poderia ser aplicada a mim. Era verdade, dentre tantas mentiras na minha cabeça.

Ouvi o barulho da porta se abrindo e escondi-me precocemente entre os corpos.

– Sério, eles são patéticos! – dizia uma voz masculina. – Não podem fazer nada contra os soldados de Briggs!

– Por favor, espere! O experimento de injeção de almas ainda não está pronto!

Um homem alto e velho de cabelo e bigode castanhos entrou seguido por um careca de óculos com cara de desespero. Esperei que ele tivesse mais motivos que eu para estar desesperado, pois eu estava e ainda sim mantinha a calma.

– Cale a boca! – o homem de bigode falou. – Se eu não usar agora, quando usaremos?!

Eu o vi puxar uma alavanca e vários tubos ao meu redor se iluminarem de vermelho. Vi então várias pedras filosofais.

– Minha nossa – sussurrei.

Quantas, por Deus, milhões de pessoas tiveram que morrer para que aquelas pedras estivessem ali agora? Comecei a sentir repulsa da pedra que estava dentro de mim e mesmo da que estava em meu bolso.

– Não criamos a Pedra Filosofal para situações como esta? – o homem questionou, continuando a puxar alavancas. – Agora, se movam! Devorem os rebeldes!

Um boneco ao meu lado começou a se mover. Percebi que se eu encostasse neles os absorveria graças à Pedra Filosofal neles injetada. Eu me afastei, colocando as mãos nos bolsos da jaqueta e entrando no campo de visão dos homens.

– Hã? Quem é você? O que está fazendo aqui?!

Eu levantei a sobrancelha e desabotoei os três últimos botões da jaqueta, revelando minha tatuagem de ouroboros.

– Acho que eu quem devia estar fazendo essa pergunta. – respondi.

Os bonecos começaram a gritar. Eu não me movi, mas os homens do outro lado taparam os ouvidos.

– Que bichos escandalosos. – murmurei com o cenho franzido. Eles pararam repentinamente de gritar e começaram a respirar várias profundas lufadas de ar. Alguns cabos se soltaram deles e os bonecos caíram no chão, postando-se em pé logo que puderam. Eu estava praticamente no meio deles. Aprofundei mais as mãos nos bolsos, apenas observando-os com leve curiosidade. O homem de bigode castanho começou a rir.

– O experimento não estava pronto? – perguntou ao careca. – Esse é o experimento, ele foi um sucesso! Os soldados supremos vão lutar sob nosso comando! É o nascimento de um exército imortal!

Eu olhei fixamente para o homem.

– Olhe, se tem uma coisa que eu aprendi em toda minha vida... se é que se pode chamar de vida... é que nada é realmente imortal – comentei.

– Ahh, não é isso que interessa agora, garotinha!

– Garotinha?

– Papai... – um dos bonecos falou.

– Há! Isso mesmo! Eu sou o pai de vocês! Escutem bem o que eu vou dizer! O alimento de vocês...
Um dos bonecos começou a ir em direção ao homem.

–... está avançando contra esse Quartel General!

– Papai!

– Vocês...

O boneco avançou contra o homem e lhe mordeu o pescoço, fazendo uma enxurrada de sangue começar imediatamente. Vários outros bonecos avançaram ao mesmo tempo. Eu sorri.

– Parabéns, eles funcionam... papai. – ironizei.

Olhei para o careca apavorado. Os bonecos se viraram para ele e ele tirou uma arma do bolso, disparando contra eles. Eu revirei os olhos.

– Sabe o significado de imortalidade?

Os bonecos começaram a avançar contra ele.

– Ei! Ei, garota, me ajude, por favor! – gritou.

Eu ri.

– Não, não. A verdade é que se os bonecos não os matassem, eu os mataria. Não poderia deixar que passassem daqui.

Eu lhe dei as costas e comecei a andar, espreguiçando-me.

– Acho que vou causar mais uma distraçãozinha para o pessoal lá em cima, assim eles se manterão longe daqui.

Um último grito e um peso morto batendo no chão foram as últimas coisas que ouvi daquele homem.

Eu voltei a vigiar, deixando a porta de saída aberta. Notei alguns bonecos passando e fingi cumprimentá-los como se fossem pessoas normais. Eu sei, é babaquice, mas eu precisava me distrair. Isso não durou por muito tempo porque depois de alguns minutos eu já estava longe demais e não havia mais bonecos para cumprimentar. Pensei em cantarolar, mas se eu fizesse isso não conseguiria ouvir os sons ao redor para distinguir se algum intruso se aproximava.

Caminhei por algumas horas começando a ficar de saco cheio. Estava considerando seriamente subir e ficar assistindo a guerra. O Dia Prometido não devia ser mais emocionante? Droga.

Eu caminhei mais um pouco e de repente parei, arregalando os olhos ao ouvir um som. Uma risada afetada numa voz extremamente familiar.

– Eu voltei à vida! – gritou entre a risada.

– Envy... – murmurei, olhando ao redor e procurando de onde vinha a voz. – Envy? – perguntei em voz mais alta.

As risadas foram diminuindo. Estaria eu ouvindo coisas? Comecei a andar pelo corredor mais decididamente, procurando. Cheguei a um desvio com duas passagens e tive que escolher para que lado ir. Concentrei-me no som de uma batalha próxima. Direita ou esquerda...? Olhei para a esquerda, vendo um boneco. Dessa vez não pensei em cumprimentá-lo, mas fui em sua direção.

– Envy? – perguntei, ignorando o boneco. Logo, um monte de bonecos aparecia na minha frente e viraram a esquerda em outra conjunção.

– Novamente! – gritou uma voz fininha. Eu virei à esquerda e vi aquela garotinha do gato preto e branco. E logo atrás dela, Envy.

Os bonecos foram na direção deles e a garota deu um chute em um. Ele deslocou o pescoço e levou as mãos à cabeça para colocá-lo no lugar. Envy riu dos esforços da garota, que parecia apavorada.

– É inútil – disse ele. – São bonecos feitos com a Pedra Filosofal. Eles não vão morrer facilmente.

Envy, ainda aparentemente sem me notar, lançou sem braço para frente como se fosse uma corda de massinha de modelar e enrolou-o no pescoço do monstro, absorvendo-o enquanto a criatura gritava.

– Vamos, vamos, você fica só fugindo. – disse para a menina. – Se continuar assim vou absorver mais e mais e ficar mais forte!

Ele investiu contra a garota, mas ela desviava todas as vezes. Envy absorvia os bonecos no caminho. Eu acho que perdi a capacidade de falar naquele momento ao ver que ele estava bem, me senti tão realizada que não consegui fazer nada sair da minha garganta.

– Você não entende, né? – ela perguntou. – Fugir desses bonecos seria difícil, mas fugir só de você é fácil!

Envy franziu o rosto de indignação.

– Não brinque comigo!

A garota começou a correr entre os bonecos e Envy foi atrás dela. Ele parou por um segundo quando me viu, fuzilou-me com o olhar e continuou correndo, absorvendo os monstros no caminho e tentando acertar a garotinha.

Eu franzi o cenho. Espera, por que ele estava bravo comigo? O que foi aquele olhar...? Eu ergui as sobrancelhas, lembrando-me: Pride. Argh, claro, Lie, sua idiota, ele ainda está bravo com você. Eu tropecei ao virar para a direita e ir atrás dele.
– Ahh! Envy! Espera! – gritei, levantando-me. Eu nunca mais o perderia de vista, isso eu podia jurar.

Ele continuou correndo, mas eu o alcancei depressa.

– Espera seu idiota!

– Lie, quer largar do meu pé? Já falei para ficar longe de mim! Além do mais estou meio ocupado aqui!

Suas palavras foram enfatizadas quando a garota pulou na cabeça de um boneco e desviou de outro ataque de Envy que rosnava toda vez que a garota escapava.

– Não vou ficar longe de você. – protestei. – Até que você ouça o que eu quero dizer!

Ele rosnou para mim lançando-me um olhar frustrado e voltou sua atenção à garotinha outra vez.

– Se não vai me deixar em paz... Vou fazer com que deixe!

 Ele jogou seu braço projetado contra mim. Senti o impacto na hora, sendo lançada contra a parede do túnel. Coloquei a mão na cabeça.
Droga, ele está mais forte. E eu não esperava por essa. Eu os observei se afastando. A garota fugindo e ele atrás. O problema é que ela estava indo para a direção onde não deveria ir. Eu me levantei e corri atrás, alcançando-os novamente, mas mantendo uma distância segura de Envy. Ouvi uma explosão vinda do andar de baixo e o chão tremeu, me fazendo ter que me segurar numa parede. O tremor parou e eu continuei avançando.

Envy parara de atacar e a quantidade de bonecos era nula agora.

– Envy, me escute! – gritei.

Ele me ignorou, tentando ir mais rápido para alcançar a garotinha.

– Sua maldita... – rosnou para ela.

Ele ergueu a mão e a projetou para frente, tentando pegá-la. Ela pulou e se esquivou e jogou cinco kunais no chão. Um círculo de transmutação brilhou e Envy tentou parar para não encostar-se àquilo, mas escorregou e uma explosão ocorreu. Eu não consegui parar a tempo, tropecei e caí no buraco também.

Bati a cabeça em algo duro e senti meu corpo cair no chão. Eu me encolhi, apertando o lugar da batida.

– Droga, vocês tem algo contra minha cabeça oca?

– May Chang! – gritou uma voz. Ah, então era esse o nome da menina?

Eu ergui o rosto do chão, tentando me levantar e olhando ao redor. Ergui as sobrancelhas ao perceber que estava no Terceiro Laboratório, numa sala branca agora toda cheia de canos e concreto por todo lado graças à explosão da pequena May.

Observei os presentes: três Quimeras, Scar, Coronel Mustang, Riza Hawkeye e Edward Elric.
Olhei para o lado e vi Envy tossindo e tentando afastar a fumaça.

– Envy! Lie! – Edward exclamou. Ele olhou para mim franzindo o cenho. Lancei-lhe uma expressão de dúvida.

– Vocês... – Envy começou.

Eu me levantei por completo e vi May correr para o lado de Scar.

– Idiota! – Scar reclamou. – Por que não voltou para seu país?

Ela o olhou chorosa de um jeito que até eu fiquei com vontade de brigar com Scar por falar assim com ela.

– Porque... Porque... Porque...

– Já chega. – ele murmurou com voz mais mansa. – Não chore.

– Desculpe-me, Scar-san!

Lancei um olhar a Envy para ver sua expressão. Estava parecida com a minha: uma sobrancelha levantada e cara de quem não quer ter que aguentar isso.

– Droga. – ele murmurou. – Isso dos humanos também me irrita.

Ele suspirou e olhou ao redor. O chão estava todo queimado, devia ser dali que viera a explosão.

– E também, fizeram uma grande bagunça. – olhou para os presentes. – O Alquimista do Aço e o Alquimista das Chamas. E também o Scar... E as malditas Quimeras do Norte também estão juntas. – ele sorriu maliciosamente. – Então... Começo a limpeza por quem?

– Você é o Envy? – Mustang perguntou. – Se me lembro bem, é o homúnculo que pode se transformar. – ele olhou para mim. – E você é Lie, a que pode fazer cópias de si mesma, certo?

Eu fiquei surpresa, mas antes que pudesse falar, Envy se manifestou.

– Então, você me conhece? Prazer conhecê-lo, Coronel Mustang. Mas o quê? Tudo bem, Scar? Ele é um alquimista do estado que fez o inferno em Ishval.

– É verdade. – Scar murmurou.

Eu e Envy nos entreolhamos, confusos.

– Está do lado dele? Que chato, me mostrem alguma briga! É muito divertido ver insetos como vocês lutando.

Mustang suspirou profundamente.

– Não tenho tempo para satisfazer seus gostos patéticos.

Eu comecei a rir, olhando de lado para Envy.

– Desculpe. – murmurei, recebendo um olhar irritado. Ele se virou para Mustang, sorrindo.

– Patéticos? Então escute. Vocês humanos também não gostam de ver os outros se ferindo ou algum idiota dançando por aí? – ele sorriu de um jeito que apenas eu, imagino, interpretei como fofo. – Não é por isso que começam as guerras?

Mustang fez cena de quem coopera.

– É verdade, eu gosto de ver idiotas dançando por aí.

Envy assobiou, aprovando.

– Especialmente idiotas chamados homúnculos dançando. – completou, sorrindo perversamente. – Não tem nada melhor que vê-los assim.

Envy pareceu ter visto sua satisfação indo por água abaixo. Eu arqueei uma sobrancelha para Mustang.

– Bem então entende como nos sentimos. – rebati, abrindo um sorriso maldoso. – Mas vocês humanos têm suas frustrações uns com os outros posta a prova com mais facilidade, o que trás a nós um pouquinho de diversão.

– Não é isso que está em jogo. – ele se virou para Envy. – Eu respondi sua pergunta. Agora responda a minha pergunta. Quem matou Maes Hughes?

Edward olhou para Mustang, surpreso.

– Responda homúnculo. – o Coronel das Chamas ignorou.

Eles se encararam por alguns segundos e eu fiquei tensa. Não, ele ia matar o Envy se descobrisse eu tinha certeza. Estreitei os olhos, mas antes que pudesse agir, Envy falou:

– Maria Ross, você mesmo a torrou.

– Errado. – Mustang corrigiu. – Não foi ela.

Envy riu e pareceu impressionado.
– Você queimou viva uma mulher inocente?! Cara, isso é terrível! Então, que explicação deu à família dela? Estava chorando e pediu desculpas? Ou estava tão nervoso que ficou quieto?

– Cale essa sua boca, idiota!

Envy pareceu não gostar de ser chamado de idiota. Como sempre.

– Responder essa pergunta, para os homúnculos parece ser uma tarefa difícil. Ande, fale logo a verdade, seu idiota. Quem foi que matou Maes Hughes?

Um silêncio tenso tomou conta do ambiente e Envy começou a rir. Não, eu não podia o deixar falar que foi ele. Eu já achara que o perdera uma vez, não ia deixar Mustang matá-lo de verdade e bem na minha frente. Não se pudesse impedir.

– Fui eu. – respondi em voz alta e clara.

Envy parou de rir imediatamente, olhando para mim. Mustang virou o rosto para me encarar e toda a atenção do cômodo foi voltada a mim. O ser mais surpreso ali, apesar de tudo, era Edward.

– Lie, você... – começou ele.

Eu sorri, mas olhei para o Coronel.

– Sim, fui eu que matei seu amigo. Ele era um cara inteligente, foi realmente uma pena, mas no fim das contas foi divertido. – eu ri um pouquinho (tudo parte do teatrinho na verdade). – E então, o que vai fazer comigo?

– Ei, Lie, pare com isso. – Envy reclamou.

Eu olhei para ele, alertando-o para se calar com o olhar.

– O que foi? Ele ia acabar descobrindo mais cedo ou mais tarde, não é? – eu ri um pouquinho. – E eu pensei que nossa armação para que ele acreditasse que foi a Ross tinha funcionado... Eu devia ter ficado para olhar a cara dele pela janela, tinha que ter me certificado de que daria tudo certo... Como fui imprudente.

Dei de ombros.

– Bem, tanto faz, não adianta me lamentar. Agora estamos aqui. – olhei para o Coronel.
– E então, me responda, o que vai fazer comigo?

Ele estreitou os olhos para mim.

– Que tal se eu não der uma prévia? Gosta de surpresas?

Ele estalou o dedo. Nesse momento, senti todo meu corpo queimar. A surpresa que veio junto com isso não era nada comparada à dor. Era como se ele arrancasse toda a pele do meu corpo. Será que Greed se sentira assim quando o Pai o matara na primeira vez?

Eu gritei, tentando emanar a dor que sentia e as chamas pararam, cessando meus berros. Eu caí de joelhos, apoiando minhas mãos. Comecei a rir maniacamente depois de alguns segundos. Olhei para ele.

– É isso? Essa é minha punição?

Ele balançou a cabeça.

– Esse é só o começo.

A queimação veio de novo. Eu olhei para Envy pelo canto do olho. Ele me olhava com raiva e ao mesmo tempo uma mescla de preocupação. Ah, preocupação! Ele ainda se preocupava comigo! Isso já era alguma coisa.

O calor parou novamente e eu não consegui me apoiar com as mãos, acabando deitada de bruços no chão. Gemi um pouco e apertei os olhos, me levantando lentamente.

– Minha jaqueta já era... – murmurei olhando-a.

– Não só sua jaqueta. – Mustang completou. Vi seus olhos começarem a queimar de fúria. – Você vai aprender a não se meter com os humanos.

Eu sorri, tentando ignorar a dor.

– Então venha me ensinar. – murmurei.

Preparei-me para fazer cópias minhas que fariam seus amigos de reféns, mas Envy se interpôs.

– Ei, parem com isso! – gritou. – Não foi a Lie que matou o Hughes, fui eu! Eu!

Mustang desviou os olhos de mim para encará-lo e ficou por um tempo pensativo.

– Não acho que um idiota como você tenha matado o Hughes.

Eu ergui uma sobrancelha. Quem ele pensava que era para chamar o Envy de idiota?! Isso já estava passando dos limites. Entretanto, me vi obrigada a concordar ficticiamente já que precisava fazê-lo acreditar que fora eu.

– Realmente Envy não tem essa capacidade. Eu quem matei aquele homem. – lhe lancei um olhar de aviso. – Não seja idiota.

Ele começou a rir.

– Idiota?!

Então ocorreu o que eu temia. Envy começou a se transformar.

– Idiotas são aqueles que caem em truques como este! Aqueles idiotas como o Hughes!
Eu o olhei, começando a ficar com raiva. Ele se transformara na mulher de cabelos claros que eu vira pela primeira vez como ele. A mulher de Maes Hughes. O Coronel arregalou os olhos e ficou mais branco que papel.

– Você parece pálido! – riu-se Envy. – Essa expressão é ótima! Quando eu matei o Hughes foi magnífica também! Aquela cara dele, aquela cara de desespero ao ver sua amada esposa atirar nele! Nossa, foi maravilhoso!

Eu trinquei os dentes de raiva.

– Envy – murmurei, tentando manter a calma. Mas eu previ que explodiria.

– O quê? – perguntou, ainda rindo.

– Você é um idiota.

– Hã? Por que está dizendo isso?

Eu me virei para ele.

– SEU IDIOTA – gritei entredentes, com vontade de bater nele. – EU AQUI, MENTINDO PARA SALVAR ESSA DROGA DA SUA PELE E VOCÊ VEM SE DENUNCIAR DESSA FORMA?!

Ele me olhou da mesma maneira que me olhara no estômago do Gluttony quando eu gritara com ele.

– O QUE DIABOS VOCÊ ESTÁ PENSANDO? – perguntei. – QUE EU IA DIZER QUE MATEI O HUGHES SÓ PARA ME VANGLORIAR EM CIMA DE VOCÊ?! – trinquei os dentes e cruzei os braços. – Não sei por que ainda perco tempo!

Ele ficou olhando para mim por um tempo, mas depois se virou para o Coronel.

– Está decidido. – disse Mustang sombriamente. – Eu só precisava saber se era verdade que você matou o Hughes. Não precisa mais falar, Envy. Porque a primeira coisa que eu vou queimar até virar cinzas... Será sua língua!

Envy sorriu da ironia e observou o Coronel se aproximar alguns passos dele.

– Scar, Do Aço... – Mustang falou. – Eu vou cuidar das coisas aqui. Ele é minha presa.

– Entendido. – disse uma Quimera gorda e amarelada. – Então vamos deixar isso com você e ir na frente.

Envy estendeu a mão, deixando-a grande o bastante para impedir a passagem para a porta.

– Quem disse que podem passar? Vocês precisam pagar pelo que fizeram no Norte...
Eu vi uma chama na altura do rosto de Envy e ele caiu para trás, urrando de dor.
Quando olhei para ele, sua boca estava aberta e sua língua literalmente queimada. Ele caiu de joelhos.

– Quem disse que pode falar com os outros estando na minha frente? – perguntou Mustang. Envy se transformou nele mesmo de novo. – Parece que essa sua boca grande e suja tem bastante óleo. Ela queima muito bem, Envy.

Eu dei um passo à frente, fazendo duas cópias minhas logo à frente.

– Quem disse que você pode falar com o Envy assim na minha frente? – rosnei, tirando as adagas do bolso. Minhas cópias fizeram o mesmo.

– Primeiro Tenente, vocês dois vão ficar mesmo bem...? – Edward perguntou.

– Vá, Edward-kun – Hawkeye falou. – Nós daremos um jeito.

– Mas...

– Vá, Edward Elric. – Mustang falou. – Você tem algo que precisa fazer.

– Vamos logo, Ed – Darius falou, puxando o garoto.

– Ei, espere!

Eu os observei passar por mim. Em situações normais, eu não os permitiria passar. Mas eu estava fervendo de raiva. Meu olhar cruzou com o de Edward. Pude ver que ele se surpreendeu com a ira dentro dos meus. Eles passaram, e quando não pude mais ouvir suas vozes, vi Envy levantar-se.

– Isso mesmo. – disse. – Você sempre quis vingar o Hughes... Que amizade linda!

Eu o vi aumentar de tamanho.

– Ah não. – murmurei revirando os olhos.

Segundos depois, ele estava em sua forma original, grande, verde, feio e supostamente poderoso.

– Afaste-se, Primeiro Tenente. – disse Mustang.

– Como respeito a essa linda amizade, vou enfrentá-lo seriamente. – Envy disse. – Mas não consigo pegar leve nesse corpo. Então, não sei se pode acontecer...

O Coronel estalou os dedos e eu vi dois pontos de faísca nos olhos de Envy. Eles explodiram e o homúnculo se abaixou, gemendo de dor.

– Qual a sensação de ter seus globos oculares evaporados? Deve ser uma dor além da imaginação.

– DROGA – Envy urrou.
O Coronel estalou os dedos de novo e eu vi uma onda de fogo começar próxima a mim. Eu me joguei para o outro lado, mas Envy, com aquele tamanho todo, não foi tão rápido.

– Não acredito que se transformou num alvo ainda maior por vontade própria. – Mustang ironizou. – Achou que venceria se crescesse? Idiota.

– Pare de chamá-lo assim! – falei.

Eu e minhas duas cópias corremos em direção ao Coronel Mustang. Entretanto, Hawkeye disparou a arma e acertou as duas outras Lie, fazendo-as desaparecer. Eu estava perto demais do Coronel para criar outras, então optei por atacar por mim mesma. Ainda isso não deu certo, ele estalou os dedos e senti a queimação alastrar-se por toda minha extensão.

– AAAARGH – gritei.

– Lie! – ouvi a voz de Envy. Então ele começou a gritar também. O Coronel devia tê-lo incinerado mais uma vez.

As chamas cessaram, mas eu não consegui levantar-me.

– Vamos! – disse Mustang. – Levante-se, monstro. Ande logo e se regenere, vamos repetir esse sofrimento até você morrer.

Eu ergui a cabeça levemente e o olhar de Envy encontrou com o meu. Ele franziu o cenho com determinação e jogou o peso da cauda para um monte de pedras, atirando-as contra o Coronel e a Tenente. Tossi um pouco por causa do pó e quando abri os olhos de novo, só vi um pouco do cabelo de Envy sumindo atrás da porta.

– Espere! – disse Mustang, contornando-me e começando a correr em direção a ele.

– Coronel! – Hawkeye falou.

– Primeiro Tenente, espere aqui! Eu vou acabar com ele sozinho!

A Primeiro Tenente fez menção de objetar, mas suspirou. Olhou para mim e ergueu sua arma. Eu me sentei, tocando uma queimadura feia no braço e suspirando enquanto esperava a regeneração agir. Fitei o teto e balancei a cabeça.

– Não quero brigar. – falei.

– Então por que estava fazendo isso até agora?

Eu a encarei, maneando a cabeça e inclinando-a para a direita.

– Porque eu tinha um motivo. Tenho um motivo para lutar contra o Coronel das Chamas, mas não contra você.

– Qual é esse motivo?

Eu pensei por um minuto.
– Envy – respondi.

Ela franziu o cenho.

– Eu sei que pode parecer estranho. – murmurei. – Mas... Droga, estou apaixonada por aquele idiota. E ele está bravo comigo graças a uma mentira que outro homúnculo contou.

Ela baixou um pouco a arma, ainda em posição defensiva.

– Como isso aconteceu?

– É uma longa história. – respondi. – Mas, claro, ele tem razão em estar bravo comigo. Meu nome é Lie, ninguém deve acreditar na mentira.

Ela levantou um pouco mais a arma. Eu ri um pouquinho.

– Viu só? Eu aposto que falo mais verdades do que Envy, e ainda sim, sou de quem desconfiam mais.

Ela franziu o cenho.

– Posso confiar em você e baixar a arma? Quero ir atrás do Coronel.

Eu pensei por um momento.

– Quero ir atrás do Envy. Primeiro Tenente Riza Hawkeye. – comecei. – Gostaria de fazer um acordo com a mentira?


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