Eu nunca Disse... escrita por Daniele Avlis


Capítulo 1
Sentimentos e Pensamentos




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Eu nunca disse...



Aquele Live Earth foi um dos mais difíceis que já fiz...


           

Havia uma banda japonesa que tinha três integrantes de nacionalidades diferentes: um americano, um inglês e uma brasileira, era a única mulher na banda e era a vocalista. A PS Company, famosa por ter contratos com bandas como The GazettE, Alice Nine, Kra, Kgarra e entre outras, agora tinha assinado contrato com essa nova banda de jrock que estava fazendo um grande sucesso na Ásia e no Ocidente, um sucesso considerável para uma banda nova...

            Eu estava no computador acabando de ver alguns e-mails, praticamente sem fazer nada quando meu momento de tédio foi interrompido por um Ryo agitado me chamando aos berros pra ver o comercial das bandas anunciadas do Live Earth daquele ano, no AOL Arena em Hamburgo na Alemanha, fomos convidados a tocar lá.

            - SATOSHIIIIIII!!!!!! - ele não tinha necessidade de dar esses berros, eu estava apenas uma parede de distância do apartamento do hotel onde a banda estava hospedada para fazer uma apresentação em Osaka.

            - Já vai! - falei enquanto dava meus passos até a sala. Ryo parecia uma criança que via seu mangá favorito virar desenho animado e estava estreando naquele momento. Preciso dizer que ele só faltou entrar dentro da TV?

            - Nossa! Que demais! Olha só cara, quanta banda! - como se não estivéssemos acostumados com isso... - Olha! - ele apontava como uma criança animada e feliz quando a banda nova da PS Company apareceu no vídeo.

            - Aquela não é a banda nova da PS? - perguntou a voz de Shuu de algum ponto da sala do qual não me dei o trabalho de procurar, acho que meus olhos estavam pregados no vídeo.

            - É sim! - respondeu Ryo excitado que não desgrudava os olhos da TV, desconfio seriamente se era o "comercial" que ele estava olhando, mas quem sou eu pra acusá-lo? Eu também estava olhando o comercial. Dê ênfase ao estava.

            - A vocalista é mó gata! E que voz! - Nii falou do meu lado; em outra ocasião eu teria tomado um susto por ele ter brotado do chão, mas algo me impedia de olhar para outro canto a não ser pela moça de cabelos negros, com algumas mexas coloridas, que cantava no vídeo. Realmente era uma moça muito bonita...


Os dias foram se passando os shows e apresentações foi indo e vindo, singles, álbuns e outros eventos. Até que nossa gravadora teve a idéia de gravamos uma música com a nova banda da PS Company e um cantor Tailandês, em pró do Live que se aproximava. Nós aceitamos e não ouvi objeções das outras partes, era até bom fazer essas parcerias com as bandas, principalmente com bandas de outros países. E passamos a assistir alguns lives e vídeos da banda e do cantor, envolvidos. É até engraçado, só tinha coisas da nova banda da PS, por que será? De tanto que o Nii e o Ryo ficaram empolgados em conhecê-los, nem me dei o trabalho de saber os nomes, pois de alguma forma, já estavam gravados na minha mente. Será por que Ryo teve a mania de ficar lembrando a cada cinco minutos? Só faltou ele descobri as medidas do corpo da vocalista, porque ele tinha material ali sobre ela mais do que o próprio fã clube oficial da banda... Ou será que ele virou o presidente do clube? Vai saber...


            E cá entre nós, sim nós, você! Folha de ofício que peguei agora nesse momento para compor algo, mas não esta dando certo porque os materiais da outra banda que Ryo virou fã, estão todos espalhados sobre a mesa e o sorriso da moça esta me desconcentrando... Falando sério agora... ultimamente, tenho notado coisas estranhas comigo, não sei porque...


            Chegou o dia de conhecermos nossos parceiros num hotel aqui perto. Assim que eu abrir a porta eu a vi, - atualmente não sei o que anda acontecendo com algo que bate no meu peito, mas estou notando algumas coisas estranhas que não é do meu feitio, pelo simples fato de ter sempre o controle de tudo ao meu redor... mas com esse algo, não estava dando certo. - Algo no meu peito começou a bater rápido e senti uma coisa nova e engraçada... algo pulando dentro do meu estomago. Não, não era o almoço e nem as batatinhas que Shuu me forçou a comer dentro do ônibus da banda quando estávamos vindo pra cá, com certeza não era isso... essa coisa estava pulando e era viva! Que porra era aquilo!

            Ela veio em minha direção com um sorriso gentil e era linda, Deus do céu era linda demais! Ela estendeu a mão. Tá, aonde porra foi parar o meu cérebro naquele momento? Sim, porque fiquei uns dois minutos parado olhando pra ela com uma cara que nem quero saber! Que merda estava acontecendo comigo? Meche a mão Anta! É costume deles apertarem as mãos! Seja homem Porra!

            Eu apertei a mão dela, não forte, claro, não sou estúpido, pelo menos nisso. E sorri, sorri feito bobo, espero que ninguém tenha notado; a cumprimentei. Algumas pessoas na sala nos apresentaram e conheci uma penca de gente que estava ali, mas quem disse que lembro o nome do ultimo que me foi apresentado? E para onde eu estava olhando? Sim, acertou... realmente quando cruzei aquela porta já não tinha mais o controle do meu corpo. E o cara, o Tailandês? Sim ele também! Pensou que eu não tinha notado que ele não desgrudava aqueles olhos de lobo faminto pra cima dela? Ei! Aonde vai com essa mão? Ei! Tire a mão do ombro dela.

            - E quando vamos começar? - eu falei isso? Eu falei isso? Eu não falei isso! Sim falei, e falei ainda pigarreando de um modo irritado. Acho que algumas pessoas notaram o meu modo de falar de uma maneira grosseira, mas ela pareceu não ter notado. E sorriu. Acho que até eu notaria se alguém tivesse falado assim. Ela pareceu que não...  

            - Podemos começar agora! - ela falou animada como uma criança que tivesse descoberto que seu brinquedo tinha luzes coloridas e piscavam. Era irmã de Ryo? O mesmo parecia ter se identificado porque também ficou bem animadinho.

            - Iremos trabalhar durante três semanas numa pousadas aqui perto. Já está tudo reservado. Vamos começar amanhã. - respondeu de modo cortando o tailandês.

           

Três semanas inteira teríamos para trabalhar. Eu abrir meus olhos e me deparei com minhas pálpebras reclamando com a claridade do quarto fora de foco. Eu me levantei, estava sozinho, cada um tinha um quarto naquele lugar. Fui ao banheiro e tomei um banho longo, sai dele, me troquei e sai do quarto. Estava parado no meio do corredor quando escuto o som de um violão e uma voz...

           

Este tempo, este lugar

Esses desperdícios, esses erros

Tanto tempo, tão tarde

Quem era eu para te fazer esperar?

Apenas mais uma chance

Apenas mais um suspiro

Caso reste apenas um

Porque você sabe,

Você sabe , você sabe...


Que eu te amo

Eu sempre te amei

E eu sinto sua falta

Estive afastado por muito tempo

Eu continuo sonhando que você estará comigo

E você nunca irá embora

Paro de respirar se

Eu não te ver mais


De joelhos, eu pedirei

Uma última chance para uma última dança

Porque com você, eu resistiria

A todo o inferno para segurar sua mão

Eu daria tudo

Eu daria tudo por nós

Dou qualquer coisa, mas não desistirei

Porque você sabe

você sabe, você sabe..


Eu segui a voz que meu coração tanto ansiava pra saber. É, acabei descobrindo que esse algo que batia violentamente no meu peito tinha um nome do qual eu permanentemente recusava a usá-lo, não o nome, o próprio. Por que eu me recusava? Porque queria me dedicar somente à carreira da qual tinha caído de cabeça, não queria me envolver em relacionamentos no momento. Não que eu não o usasse para amar a minha carreira, mas para relacionamentos amorosos... Mas acho que não deu muito certo fingir que ele não estava ali, batendo dentro de mim, gritando para ter um pouco de atenção...


Eu quis

Eu quis que você esperasse

Porque eu precisava

Porque eu preciso ouvir você dizer:


"Eu te amo

Eu te amei o tempo todo

E eu perdôo você

Por ficar tão longe por tanto tempo,

Então continue respirando

Por que eu não estou te deixando mais

Acredite em mim,

Segure-se em mim e nunca me solte.

Continue respirando

Segure-se em mim e nunca me solte

Continue respirando

Segure-se em mim e nunca me solte..."


Demorei bem uns quinze minutos pra achar o som, o lugar era mais cheio de portas do que qualquer hotel que já tinha visto e ainda por cima, havia começado um outro som de piano se misturando ao som do violão e da voz feminina que cantava em inglês...


Como diabos nós fomos terminar desse jeito?

Porque nós não fomos capazes

De ver os sinais que perdemos

E tentar "virar o jogo"


Eu gostaria que você não apertasse seus punhos

E desfizesse suas malas

Ultimamente vem acontecendo muito isso

Mas não pense que é tarde


Nada está errado

Só até que

Você saiba que algum dia eu vou


Algum dia, de alguma forma

Vou fazer com que tudo fique bem mas não agora

Eu sei que você está pensando quando...


Achei!

- Olá! Satoshi! - ela sorriu pra mim. Que otário, deveria ter batido na porta, batido não, deveria tê-la aberta devagar para não atrapalhar, besta!

- Estou atrapalhando? - burro, é claro que está, mas que falta de educação eu tenho!

- Não. - ela me respondeu. - Você não quer me acompanhar? - ela perguntou me indicando um lugar a sua frente para sentar. E algo que pulava no meu estomago criou vida de repente e começou a pular feito um cãozinho feliz atrás de seu dono.  

- Claro! - espero que esse claro - frisa bem o claro - não tenha saído entusiasmado demais... Eu entrei, meio que cabisbaixo... estava sozinho com ela dentro da sala... por alguma razão, acho que senti uma leve queimação no meu rosto, não lembro de ter passado nada durante o banho...

- Eh... o que você estava cantando agora a pouco? - perguntei puxando papo.

- Eram Someday e Far Away de Nickelback... uma banda que gosto muito! - ela respondeu sorrindo. - Só não quero cantar isso na frente do vocalista... deveria estar horrível! Ele deveria era me acusar de assassinar suas músicas...

- Não, não, não estava! Estava ótimo! Muito bom! - que personalidade barata é essa agora? Estou nervoso? E estava bom sim, estava ótimo com a voz que ela tem e o dom que, descobri através do novo fã que ela tem Ryo; ela fala mais de quatro idiomas possíveis e entender mais alguns era uma pessoa incrível. A cada minuto que passava com ela eu descobria mais, era como se cada vez mais eu me afastasse dela, não sei por que... e por alguma razão isso me doía por dentro. Cara! Eu nem a conhecia direito, só sei de coisas sobre ela através das noticias de revistas e pela internet e olhava o quanto ela era bonita nas fotos e não somente nas fotos, mas também ao vivo, ali, bem na minha frente. Nós passamos aquela tarde cantando e rasgando algumas notas de várias músicas inclusive das musicas da minha banda... acho que pensei seriamente em convidá-la um dia para um dueto...

Sinceramente algo estava errado comigo, não poderia esta sentindo algo que não era real... Não era real... era impossível! Era como seu me transformasse num anônimo adolescente que estava se apaixonando pela vocalista da banda que gostava. Impossível!

Stop! Pára essa fita e volta agora mesmo, eu estava me apaixonando?

- Você esta bem? - ela perguntou num tom preocupado ao tocar minha mão. Senti algo ferver por dentro me levantei de um salto, ela me olhou de esgoelar. Eu estava olhando pra ela e ela percebeu?!

- Esqueci de fazer uma coisa! - nem me dei ao trabalho de retomar aos seus chamados, me precipitei pela porta e ainda a fechei com força. Me encostei na porta para respirar, alguém tinha ligado ao aquecedor numa temperatura muito alta ou é impressão minha? Não, com certeza alguém ligou esse troço errado e mato quem fez isso!

Me desencostei da porta e dei graças a Deus por ela não ter aberto a mesma quando eu estava encostado, estava só querendo respirar o ar que no momento, naquele corredor, não tinha.  


Estávamos todos numa sala ampla com vários instrumentos em volta, era uma sala de estúdio. E com todos aqueles equipamentos ali, mesmo que eu quisesse me concentrar, não conseguia. Eu não sei o que o Tailandês contava para ela que ela estava dando risadas, sorriam enquanto conversavam. Havia mais gente do que o necessário dentro daquela sala ou estou sentido um certo desconforto ou falta de ar? Alguém abre a porra da janela!

- Shuu, abre as janelas! - eu disse num tom não muito amigável para meu amigo. Este me olhou por um momento como se me avaliasse.

- Satoshi, não tem janelas nesta sala - ele respondeu enquanto arrumava o baixo. - Satoshi, você esta doente? - ele perguntou ao me olhar como se fosse um médico tentando descobrir uma doença rara.

- Claro que não! - exclamei irritado.

- Parece. Você não tira os olhos da moça, lá! - ele falou calmamente ao voltar para o baixo. Eu gelei. E não, ninguém havia jogado um balde de água fria em cima de mim. Estava dando tão na cara assim? E isso é alguma doença?

- Que... Que...? - foram as únicas palavras que produzi naquele momento. Retardado.

Shuu me olhou mais uma vez com uma cara de tédio.

- Não sabe ser mais discreto, não? - ele perguntou. Eu o olhei sobressaltado. - Esta dando muito na vista que você esta interessado nela e esta se roendo de ciúmes do cara lá... - ele inclinou a cabeça para que eu olhasse a cena do Tailandês e ela conversando. - Se gosta dela, fala pra ela.

- O QUÊ?! - eu berrei, e me arrependi de fazer isso porque tirei a atenção de todos. Eu sorri constrangido. - Desculpe! - falei desconcertado. Ela me olhou curiosa num sorriso meigo e quando o Ryo passou por mim, praticamente arranquei as baquetas que estavam na mão dele e fingir coçar de leve a cabeça me virando de costas, Ryo me olhou de um modo censurado, enquanto eu caminhava sem rumo pela sala, até que fiquei perto da bateria, que por sinal, estava do outro lado da sala bem longe de onde a garota estava. Shuu veio até mim como quem não quer nada, dando uma olhada na bateria. Virou-se e me encarou.

- Você finge ser um carão mandão, o arrebatador em cima de um palco. Sabemos que você é um amigo leal e bem carismático com todos a sua volta. Mas se fingir de morto perto dela, vai perdê-la! - ele falou e me deixou calado. Calado, sim, porque não tinha nada pra responder, não por birra, mas sim por falta de rebater o que ele me disse. Fico imaginando o que ele quis dizer com "fingir de morto". E saiu, me deixando sozinho com a bateria e meus pensamentos. Vou perdê-la? Mas ela não era minha mesmo. E além do mais, estávamos apenas trabalhando, era no trabalho que eu deveria pensar...


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