Shimmer escrita por scarlite


Capítulo 9
Capítulo 9


Notas iniciais do capítulo

Fico feliz e surpresa por alguém demonstrar interesse pela estória. Isso realmente aquece meu coração.
Quero demonstrar minha gratidão a todas que comentam me fornecendo estímulo adicional para escrever.
Abraços!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/89123/chapter/9

CAPÍTULO 9: À la fin de l'attente.

(parte em 3ª pessoa, parte pelo ponto de vista normal – Edward).

E o tempo se pressiona sobre nós;

Como rochas empilhadas, uma após a outra.

O que pode haver no final da espera?

Uma garotinha.

Um dia úmido e ventoso.

Mãos embrulhadas em si mesmas.

Um estalar de dedos nervosos.

Olhos na estrada;

Um palpitar de coração;

Uma pequena conversa interna:

O MONÓLOGO INTERIOR:

É ele! – o peito se ensoberbece com a perspectiva.

Não. Não é esse o carro certo.

Talvez ele tenha atolado no caminho.

Mas, se assim fosse teria telefonado. O sol

Fica numa cor engraçada em dias assim.

Movimento.

Pensamento chega e é afastado das vistas. Será que ele não vem?

Ali na varanda a menina espera pacientemente, enquanto no calor da casa, dois pais conversam:

- Será que devemos contar logo? Ela vai realmente se decepcionar. – Um sussurro baixo dito entre tragos de um copo de chocolate quente.

- Está realmente esfriando lá fora. É melhor trazermos ela para dentro antes que se resfrie. – Olhos derrubados, como um dia nublado.

O homem que é pai, mas, não da jovem, (uma garotinha, porém, quase uma mulher) se levanta da pequena mesa da cozinha, olhando pela janela os cabelos curtos se projetando pela boina colorida.

Seu amor se derramava para a menina, quase palpável, assim como o pesar pela notícia que teria que lhe entregar como uma encomenda indesejada.

Levou exatamente dez passos e meio da porta da frente para o canto leste da varanda onde um embrulho de cobertor e cachecol – sem esquecer a boina colorida – aguardava.

- Bella? – O homem de feições suaves - agradáveis a vista - se senta perto da menina.

Ela mantém ainda os olhos fixos na estrada. Balançando para frente e para trás como um pendulo de relógio; os pés pendendo para fora do piso sobre as flores recém cobertas com neve.

- Querida, vamos entrar. Está muito frio aqui fora. Venha – Pressionando a mão espalmada nas costas da sobrinha, ele tenta protelar a comunicação da notícia.

Nenhum movimento.

O homem espera sentindo o vento frio se abater sobre o seu rosto.

Uma faceta se revela sobre este personagem tão forte: A aceitação incondicional. É isso que faz dele tão marcante; não “forçar a barra”. Apenas uma silenciosa mão no ombro, um olhar de entendimento ou um sorriso afável.

Carlisle era um homem diferente. Ou comum. Talvez o mundo fosse o discrepante fazendo dele tão excepcional.

Sua natureza calma e compreensão serviram de terreno confortável sobre os pés daquela família; além de harmonizar perfeitamente com a personalidade amorosa e emocional de sua esposa.

A cena lembrava muito um quadro de Norman Rockwell: O homem, a menina, a neve, a varanda familiar, o som delicado do mensageiro do vento tilintando, os barulhos de Esme dentro da cozinha, preparando o jantar, o cão deitado.

A garotinha-quase mulher deixou seus movimentos estereotipados e vagarosamente encostou a cabeça no ombro daquele que sempre representara à figura de pai em sua curta existência. Dedos em volta dos botões do casaco do tio, sua mente divagava.

Uma parcela de tempo considerável pareceu se dissolver nesse momento familiar. E as cores no céu se diluíam em um caldo escuro acinzentado como se o dia – já não tão claro – estivesse sendo empurrado para um pote.

Era a hora do comunicado.

Sorrateiramente, o homem deslizou as palavras como quem conta um segredo:

- Ele não vem, querida. – Um copo gelado de água pareceu ser derramado sobre a cabeça da garota. Por alguns instantes apenas a imobilidade, depois o estouro.

E logo a única coisa que Carlisle podia ver eram os cobertores sendo abandonados pelo caminho, enquanto ela corria para seu esconderijo não tão secreto assim.

Na casa da árvore, se perguntava por que as pessoas têm que prometer as coisas. Simplesmente não compreendia porque dispensar palavras sem que elas fossem necessárias e verdadeiras.

Sentiu raiva.

Enfurecida atirou longe a caixa que montara com seu melhor amigo. Ali guardava espólios de suas peripécias antigas.

Permaneceu ali durante mais ou menos uma hora, até que sua tia veio em seu resgate.

- Bella, desça daí meu bem. Hora de jantar.

- Não. – A menina se furtou a dizer mais alguma coisa.

- Bella, ele não pôde vir hoje, porque ficou enrolado com uns problemas da faculdade. Mas, amanhã ele estará aqui. – Esmè falava o mais alto que podia; o necessário para ser ouvida do topo da árvore-esconderijo.

Um novo tom de alegria invadiu a garota, imediatamente desceu da casa da árvore juntando-se timidamente a tia no chão.

- Vamos, tenho certeza que antes que você perceba, ele estará aqui; e logo Alice e Emmett também.

As duas caminharam até a casa. Esme segurava protetoramente, os ombros da sobrinha.

***

Aquela foi uma noite nervosa para Bella. Ela esperou que o sono não lhe escapasse pelos dedos, para que assim, o dia “amanhã” pudesse chegar rápido. No entanto, não aconteceu como esperava, ele foi roubado pela expectativa.

Em algum ponto ela acabou dormindo.

O farfalhar de tecido. O colchão sendo abaixado;

Um calorzinho gostoso se debruçando em seu lado esquerdo. Braços em seu entorno e um som meio acidentado, porém, muito conhecido: O zumbir da voz grave de Edward cantarolando o Andante Gracioso da Sonata em Lá maior de Mozart.

UM PENSAMENTO AÇUCARADO: (Bella)

“Minha composição favorita.”

Os sons – mesmo no ruído gutural da voz de Edward – ainda prendiam completamente a atenção da garota. Repentinamente alerta, se voltou para o grande amigo e o abraçou com todas as forças que conseguiu juntar. Ele viera mesmo!

Um beijo na testa dela foi ofertado como brinde pela demonstração gratuita de afeto. Acompanhada por um “É bom estar em casa”.

Ainda estava escuro e os dois acabaram permanecendo despertos pelo resto da madrugada, contando e ouvindo estórias sobre os últimos meses que permaneceram longe um do outro.

Teriam um bom natal no fim das contas.

**** x ****

- Espero que tenham uma boa explicação para estarem neste estado.

Uma Esme enfurecida se postava a minha frente agora.

Meus pés estavam emparelhados sobre o ladrilho, e do alto de meus vinte e três anos, me sentia novamente com seis.

Não havia nada a ser dito alem de:

- Desculpe.

Uma palavrinha feroz, difícil de ser domada.

- Meu filho, olhe o seu rosto! O que diabos aconteceu? – Suas mãos foram para as maçãs do meu rosto, e eu senti a região dolorida apesar do cuidado com que ela tocou.

- Foi exatamente isso que perguntei – Meu pai se aproximou da comoção, com um ar descontraído.

Suspirei profundamente, demonstrando meu cansaço. Hmm... Minha cama macia e quente agora ocupava meus desejos mais pungentes; subindo a escala acima de todos os propósitos.

- O meu querido irmão aqui, teve ímpetos de super herói, se metendo numa confusão enquanto estávamos na praia. – Esme olhou para mim e do seu rosto as palavras “O que?!” se fizeram ler em forma de careta.

- Como assim? Com quem? E como isso de alguma forma terminou com Bella no hospital e pelo que me disseram, desacordada? – Revirei meus olhos diante da afirmação. Ok, minha culpa já estava em níveis altos demais.

E se minha prima terminasse com uma concussão ou algo pior por minha causa? Bem, já era difícil suficiente pensar nisso, ouvir era como engolir pimentas. (Acreditem é bem ruim).

- É uma longa historia... – Estava começando a me repetir, eu sei. Mas, eu só queria saber uma coisa nesse exato minuto:

- Como Bella está?

Meu pai abriu um sorriso pequeno e inclinou a cabeça cruzando as mãos à frente do corpo.

Tic, tac, tic...

Sessenta segundos. Cabeça baixa e bochechas elevadas pelo desenho do riso no rosto.

- Vamos pai! – Ele estava troçando de minha ansiedade. Minha mãe deu-lhe um tapa sonoro no braço. Ele apensa riu ainda mais.

- Está tudo bem. – Alice suspirou ao meu lado, olhando para mim com feições bem menos assustadoras que há minutos atrás.

- Ela vai ficar em observação hoje à noite por causa do desmaio. Estive com Jasper agora pouco junto com sua mãe. E ele disse que tudo vai ficar bem.

- Então ela não vai poder voltar para casa hoje? – Alice questionou olhando Carlisle aborrecida. Ao que ele respondeu apenas com um menear de cabeça;

- Bem, nós moramos aqui perto. E não é a primeira vez. – Definitivamente não.

- Mamãe, temos que pegar algumas coisas para ela. – Alice levantou-se num só movimento. Travando como uma estátua de gelo. Olhei questionador para seu rosto horrorizado. Bem lentamente ela o virou para mim.

UMA VERDADE ÚTIL:

Nos momentos de agitação

Sempre esquecemos coisas bem importantes.

Cuide de sua memória.

Amarre-a bem.

- Maggie!

A gente cresce, e muitas sensações são perdidas com o passar dos anos. Mas, tente lembrar-se da maior travessura que você já aprontou. Conseguiu?

Agora rememore aquela em que você foi pego no ato.

Conseguiu?

Ótimo.

Como descreveria a percepção?

Eu tenho uma palavra perfeita: Fria.

- Oh meu Deus! A Bella vai nos matar! – Arranquei da cadeira estofada recebendo uma golfada de ar gelado ao sair em disparada pela porta principal.

- As chaves, droga! – Grunhi frustrado com a repentina esclerose de meu aparelho reminiscente. – Porcaria! – A recepcionista me olhou carrancuda quando fiz menção de correr de volta para onde Alice e meus pais estavam antes. Diminuí a velocidade aumentando o tamanho dos meus passos ao máximo que pude.

- Alice as chaves do carro, por favor?! – Ela ignorou minha mão estendida e passou por mim rapidamente. Deveria saber que não me deixaria dirigir esse bendito carro.

Revirei os olhos seguindo-a pelo corredor.

- Como assim, vocês esqueceram a cadela na praia? – Meu pai assobiou. – Querida, vou junto com eles, acho que precisam de mais vozes. – Por cima do ombro vi minha mãe assentir.

A distância entre o hospital e La Push pareceu triplicar. Provavelmente pela presença de meu pai no veiculo, e consequentemente a velocidade moderada.

Um

Dois

Três

Quatro...

Meus dedos indicador, médio, anelar e mínimo na janela aberta do carro. A borracha abafando o barulho irritante que faria se estivesse batendo no vidro.

Um

Dois

Três

Quatro...

- Edward seu maluco, porque você decidiu enfrentar aquele bruto? – Ela jogou, e quase se podia sentir o som: BAM!

- Eis uma pergunta que muito me interessa – Carlisle provavelmente não insistiu na abordagem esperando o momento mais adequado para me sondar sobre o assunto, em casa, com calma e sem expectadores.

Mas, ali no carro parecia haver intimidade suficiente para questionar o filho adulto e normalmente responsável, por se meter numa briga.

Um

Dois,

Três

Quatro.

Mais uma batida de dedos, mais um suspiro, mais uma explicação.

- Alice, ele humilhou Bella, provocou você e me chamou de mauricinho. Você precisa de mais alguma justificativa? – Ergui minhas mãos e as deixei cair sobre os joelhos sentindo-me vitorioso com minhas palavras, temporariamente me fazendo sentir o justiceiro destemido.

O carro ficou em silêncio por algum tempo.

Alice parecia reconsiderar sua bronca, e meu pai... Bem, ele – provável e bem secretamente – me apoiava. Isto deve ter durado só o tempo de Alice tomar fôlego e:

- Eles estavam em maior número, eram maiores, e pareciam bem doidões. Você quer mais uma justificativa para não se deixar levar pelas provocações?! – Um fato que ainda hoje me deixa perplexo: Como as mulheres conseguem encontrar uma base para seus argumentos de forma tão rápida?

UMA QUESTÃO INSOLÚVEL:

Como?

Sim, o resultado estava ali no meu rosto. Se Bella atrapalhadamente, não me tivesse “salvado” eu estaria pior.

Eu sei, não é muito honroso ser acudido por sua prima menor de ser nocauteado. Não sei bem como uma tarde calma pode virar uma bagunça dessas. Mas, comparado com outras situações que já passamos... Um feriado típico com os Cullen.

***

Já passava das 19 horas quando três Cullen cruzavam a areia agora gelada e pegajosa da primeira praia.

Passadas gordas e pés ansiosos.

- MAGGIE!

- MAGGIE, - Um assovio e mais vozes berrantes se confundiam com o som revolto do oceano.

Um latido estridente e lá estava a cadela correndo em nossa direção. Aliviado me larguei no chão como um saco de batatas velhas. Ela chegou perto de mim e com a cauda freneticamente sendo agitada me entregou de bom grado um graúdo soco na boca do estômago.

UM CONSELHO SÁBIO:

Caso queira deixar alguém realmente culpado, seja

Alegre e amoroso quando este houver cometido algum erro:

Isto o fará ter a melhor de todas as vinganças.

Se nós humanos fôssemos assim como os animais, não precisaríamos de muito para promover a paz mundial.

Pode rir.

- Vamos lá garota! Você nos esperou direitinho não é?! – O que tem de errado em conversar com um cachorro?

Tudo, eu sei. Mas, nós temos essa necessidade interna de comunicar tudo e qualquer coisa. Muitas vezes estamos falando apenas com nossa própria consciência. Mas, o que importa?

Carlisle me entregou a coleira que, provavelmente estava no carro de Alice e eu prendi Maggie pelo pescoço.

- ALICE! VAMOS! JÁ A ENCONTRAMOS! – Papai gritou enquanto caminhávamos para o carro.

Os postes conseguiam iluminar grande parte da praia, o resto era a escuridão revolta do mar.

- Sorte termos a encontrado tão fácil.

- Ela não podia se afastar muito; sempre ficamos por aqui quando a trazemos. Ela não iria para a parte desconhecida.

Minha irmã se juntou a nós e quando entrava no carro eu me lembrei do compromisso que deveríamos ter hoje com os amigos de meu pai.

- Pai, e os Black? – Sentei-me no banco traseiro segurando a coleira bem ao pé do pescoço peludo, indicando o local para que Maggie se acomodasse.

- Nossa, havia me esquecido mesmo papai! – Alice colocou a mão sobre a direção pesadamente.

- Não se preocupem. Como vocês hão de ter percebido, sua mãe é muito perceptiva com relação a mim. Cancelamos o jantar. Amanhã eles irão se juntar a nós.

Sem mais nos dirigimos para o Hospital em busca de minha mãe.

E um de nós – provavelmente eu – voltaria para ficar com Bella. Falo desta forma não por achar a tarefa de ficar com minha prima no Hospital enfadonha. De fato é bastante desgastante ficar nesse ambiente inauspicioso. Mas, de nós eu seria aquele que não conseguiria ficar em casa com ela no hospital, além de minha mãe.

Levei minha mão num afago distraído em Maggie, sua língua vermelha se projetando para fora da boca aberta.

Segurei meu queixo com o polegar enquanto cobria meus lábios com indicador e médio. Meu pensamento vagou para os trabalhos que teria que realizar no dia seguinte na clínica, no jantar com os amigos de meu pai, no jantar de hoje – já que meu estômago dava voltas desconfortáveis dentro do meu tórax -, teria que levar algo para Bella comer...

Não levou mais que quinze minutos para chegarmos ao estacionamento. E lá estava Bella e minha mãe esperando.

Meu pai soltou um risinho presumido.

Alice desligou o carro e descemos.

Bella disparou em minha direção me dando um enorme abraço, bem apertado do jeito que gostamos. E foi para o carro passando por Alice e papai. Eles olharam o caminho dela que sentou no banco e colocou o sinto sem dizer nenhuma palavra.

Eu os olhei novamente, e rimos.

- Ela se negou completamente a dormir aqui. Fez uma enorme comoção quando uma enfermeira a ameaçou com um calmante.

Esme ainda ria olhando amorosa para a garota sentada no banco acariciando o mascote.

***

- “Por ali me demorei, sob um céu propício, observando as borboletas que esvoaçavam entre as urzes e as campainhas-do-monte, ouvindo a brisa suave que de mansinho agitava a relva, perguntando a mim mesmo como seria possível alguém imaginar que macabras deambulações perturbassem o sono dos que ali repousavam na terra tranqüila.”

Fechei o livro grosso e envelhecido. Olhei para Bella que repousava quieta no meu ombro há um bom tempo; pensei que a leitura associada à agitação do dia a tivessem levado ao sono, no entanto lá estavam os olhos brilhantes contra a luz branda do abajur.

Ela olhava para um canto do quarto e parecia mais uma vez estar em todos os lugares menos ali comigo.

Abri um sorriso me mexendo na cama para colocar o livro na mesa de cabeceira. Era nosso costume desde antes de eu me mudar para Seattle, a leitura ao pé da cama. Nossa mãe havia instituído essa prática ainda quando estávamos principiando na leitura, “para que praticássemos” dizia ela.

No fim das contas, se transformara de uma tarefa tediosa para uma boa diversão – pelo menos para mim e Isabella.

De nós, Emmett era o mais avesso a atividade.

No começo Esme nos ajudava com as palavras que se espremiam com dificuldade por nossos lábios. Letra por letra se esforçavam para sair em forma de palavras tão lentamente que me admiro até hoje que ela sequer agüentasse até o final de uma página e ainda nos elogiasse pelo “esplêndido trabalho”.

Ah... As mães. Têm um dom inefável para cobrir os defeitos e falhas dos filhos com amor.

Deslizei as costas de minha mão livre no seu rosto, ainda olhando-o divertido.

- Onde estava? – Ergui as sobrancelhas enquanto ela olhava um pouco abaixo dos meus olhos.

Virou a cabeça fitando o teto agora.

- Estava aqui mesmo.

Ergui-me e ela me dirigiu um olhar questionador, ajeitando a gola do pijama que saíra do lugar com meu movimento.

Virei um pouco o rosto mirando-a obliquamente, ainda com o ar zombador.

- Não vai me dizer?

Uma gargalhada sincera se fez ouvir. Ela cruzou os braços sobre o tórax e eu avancei, fazendo cócegas nela. Eu sei, clichê e infantil; nas histórias sempre têm essas situações para temperar a demonstração de intimidade entre dois protagonistas. No entanto não se trata de uma ficção qualquer, esta é minha vida e sempre era uma luta apinhada por vitórias quando queria tirar algo dela ou de Alice.

- Sério Edward! Eu estava aqui – Ela gritou rindo ainda mais.

- Ah tá, eu acredito.

- Tá bom! Eu estava pensando na história.

- Gostou dela? Surpreende-me você nunca ter lido “O morro dos ventos uivantes”, é um clássico! – Caí sobre os travesseiros acomodando-a sobre mim novamente; tomei sua mão, a que estava sobre o meu peito e comecei a brincar despreocupadamente com os pequenos e finos dedos.

- Não gostei dela.

Olhei-a surpreso; incomum ela dizer isto de qualquer livro que fosse. Tratava-se de uma voraz colecionadora de estórias e contos. Não era a toa que todos os presentes de natal e aniversário eram livros. E estes se aglomeravam em seu quarto, como torcedores num jogo de futebol, apertados uns aos outros nas estantes e no chão.

- Você dizendo isso? Porque exatamente? – Ela franziu a testa.

- As pessoas são estranhas, mas, não deveriam se destruir dessa forma.

Sim, ela tinha razão.

UMA VERDADE INCOVENIENTE:

Somos a única espécie que aprecia o sofrimento gratuito.

- Tudo bem. – Olhei o relógio na mesa em que o livro repousava quieto e sorrateiro. – Hora de dormir pirralha. – Apaguei a luz do abajur e suspirei fundo. Finalmente poderia usar o restinho de feriado para fazer o que queria: dormir. Eu estava definitivamente cansado e dolorido, os analgésicos ainda não tinham tido efeito.

O Dr. Hale advertiu meus pais de que alguém teria que olhar Bella durante o sono só por precaução por conta da pancada. Não foi necessário pontilhar a pequena fissura aberta na testa, apenas um curativo fora feito. Como eu já estava ali para a leitura, que fosse eu mesmo. Porém, sabia eu que minha mãe viria no mínimo umas treze vezes nos ver, então podia me dar ao luxo de dormir.

Alguns minutos de silêncio.

- Ed, você ficou muito feio. – Senti meu cenho franzindo.

- O que? – Questionei indignado.

- Todo roxo desse jeito. Não faça isso de novo. – Um bocejo e o silencio novamente. Absurda!

Meneei a cabeça.

Outra poção de minutos; e sua respiração parecia estável agora. Anunciando o sono.

- Preciso fazer a barba... – Sussurrei para mim mesmo esfregando os pêlos nascentes.

- Está bom assim. – Uma voz meio grave respondeu. Ela não adormecera ainda afinal.

Não demorou muito para que dormíssemos ambos. Despreocupadamente, como se não houvesse nada além do cansaço e do conforto com que ocupar nossas mentes.

Como há anos atrás.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!