Memórias Póstumas escrita por dona-isa


Capítulo 21
Adeus




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"Hmmm..."
- Não é necessário gemer enquanto come, ahh..
"Shhhhh" L ordena enquanto equilibrava vários cubos de gelatina em cima de uma bandeja, a fim de devorar todos os cubos coloridos em sua frente.
- Uma coisa me intriga, como pode um fantasma como você ser tão... físico, tão presente.
"Eu sou especial" ele murmura com a boca cheia de gelatina.
"Eu preciso saber bem o que vou fazer de agora em diante, e é estranho quando de repente centralizo minhas suspeitas em alguém, algo me chama a atenção e me tira do foco, arrastando as suspeitas pra outra pessoa..."
L observava Near, que estava pensativo, a corrente prateada nas mãos, ele a olhava com os olhos mas não com os pensamentos.
"Isso quase me lembra o caso de Fukushima, a suspeita pulando de suspeito em suspeito, até enfim voltar a minha suspeita inicial"
Near de repente volta ao mundo real, acordando-se de seu devaneio, olhando pra L, que estava parado próximo a janela, a posição imóvel e terrivelmente assustadora, os olhos estavam sutilmente arregalados, não respirava, não se movia, não nada, ele apenas observava em silêncio, a Lua prateada que iluminava parte do quarto.
- O que você tem? - Near perguntou confuso.
Ele se virou roboticamente pra Near, não respondeu absolutamente nada, e depois tornou a olhar a Lua, assumindo a posição em que estava imóvel novamente.
Near uniu as sobrancelhas, não entendendo o que aquilo significava.
E assim L passou o resto da noite, não era incômodo pra ele, se manter naquela posição, não sentia mais dor, não sentia mais o peso do corpo incomodando as pernas, não sentia sono, não sentia mais nada...

"Fantasmas são estranhos, ou talvez só ele seja..."
Era de manhã, cedíssimo, Near verificava algumas planilhas, a cabeça doía com a falta de dormir, incrivelmente, L se mantinha na mesma posição, agora admirando o Sol, subindo aos poucos acima do horizonte.
- O que você tem hoje? Ficou a noite inteira aí, de pé.
Depois de muitos segundos imóvel, ele enfim estufa o peito, como se algo grandioso estivesse dentro de seu peito, e respirasse, puxando todo o ar possível.
"Eu vou ter que ir"
Near se levantou da cadeira onde estava sentado, encarando L.
- Sim, está tudo bem, mas por que está avisando que vai ir, você nunca avisou, somente sumia e pronto!
L tombou a cabeça de lado, o cabelo escuríssimo se movendo junto.
"Você não entendeu, eu vou ir embora... pra sempre"
- Hã? O que?
"Eu abusei muito do meu tempo aqui, eu já havia lhe avisado antes, uma hora ou outra você teria que seguir sozinho, e essa hora já chegou"
Near mordeu os lábios.
- Mas...
"Eu sinto muito, mas minha alma precisa descansar"
- Tudo bem, eu entendo, ainda bem que me falou antes.
"Era o mínimo que eu pude fazer, eu posso dizer que morri... feliz, de certa forma."
- Feliz?
Ele suspira, abaixando a cabeça e fitando as mãos que estavam no bolso.
"Sabe qual foi a minha última lembrança de vida? A última coisa que me lembro ter visto, antes de cair na escuridão da morte?"
- Não, o que?
L deu um sorriso forçado, quase que como se risse de uma piada interna, um humor negro e que não era engraçado.
"A última coisa que vi, foi o rosto de Raito, me amparando, e logo depois sorrindo maleficamente, comemorando a vitória de nossa batalha pessoal... Foi então que tive a mais pura certeza de que ele era Kira, ou talvez sempre tivesse essa certeza, mas eu não... queria acreditar, talvez..."
- Por que você não apareceu pra mim antes? Pouparia muitas coisas, pouparia a vida de Mello...

L suspirou, os olhos descendo lentamente até o chão, os ombros de repente se arqueando e se contraindo, como se ele esperasse uma advertência.
"Eu não pude..." a voz saiu quase num sopro.
- Por que? Por que não? - Near se aproximou, controlando a revolta.
"Eu não tive permissões, pra aparecer a ninguém, e principalmente, eu não tive paz... Pela primeira vez em toda a minha vida, eu sentia angústia, medo, dor... Muita dor, meu coração parecia ainda estar tendo o ataque cardíaco, ele ainda parecia palpitar e ser forçado a para de bater, eu vaguei por muito tempo sem rumo, eu me sentia preso a alguma coisa, foi então que eu entendi o que me prendia, e enfim, você me libertou..."
Near ergueu as sobrancelhas.
- Eu libertei?
"Sim, libertou, quando você solucionou o caso, mesmo isso custando a vida de Raito, eu, inconscientemente me libertei, me libertei de toda a angústia, de toda a dor que me acompanhava, aquela dor que parecia fazer parte de mim, ter nascido comigo, e que me acompanhava por tanto tempo, que pra mim pareciam ser séculos, tudo, tudo aquilo foi embora...Toda a minha tristeza, e angústia, sumiram, e enfim, eu pude seguir em paz..."
Near fechou os punhos com força, colados ao lado do corpo.
- Eu fico muito feliz por ter feito isso por você.
"Não Near, eu fico feliz, acredite"
- Então eu acho que isso é um adeus, não é?
L move a cabeça, devagar e com calma, fechando os olhos lentamente, como se estivessem sonolentos, fazendo que sim.
"Mas antes disso, eu preciso fazer uma coisa"
- Sabendo que você não vai me contar, então eu prefiro não perguntar o que é.
"Bom, garoto" L sorriu, e caminhando em direção a janela, se virando devagar, pra olhar Near, uma última vez, um olhar fraterno, era quase como um pai, que vê o filho pela primeira vez, ou depois de muito tempo, e enfim saí pela janela, desaparecendo definitivamente, deixando Near a sós, no quarto escuro.


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