POV Danilo:

  Deixei Bruna em casa, como sempre fazia. O que pode parecer dramático para você e até para mim, é que aquilo nunca mais iria acontecer. Não do mesmo jeito.

  Chegando em meu apartamento, deixei as chaves na mesinha ao lado da porta e fiquei um tempo parado, olhando para o nada. “Como?” Me perguntava, sem ter ao menos uma resposta para aliviar minha dor. Tentei pensar em outra coisa, talvez na faculdade de medicina, talvez nos meus amigos, talvez em outro alguém, mas tudo me levava a pensar em Bruna.

Com a distância e tempo, fui percebendo que não havia mais ninguém, que havia perdido todos, largado tudo em um ano para me dedicar somente à ela. E tudo levou a esse... Fim.

POV Bruna:

  Saindo do banho, ainda enrolada na toalha, com o cabelo molhado e pés descalços, peguei meu celular e coloquei em cima da mesa do computador. Na noite anterior tive um pesadelo em que eu estava mergulhando e que de repente, começava a afundar. Nunca sonhei com uma coisa que me deixasse tão... Aflita.

  Não conseguia ter reação alguma, tudo parecia tão claro e ao mesmo tempo tão escuro para mim. Perdi Danilo, mas ainda não tenho a garantia que Leonardo é meu e somente meu. Ele ainda namorava Jéssica.

POV Danilo:

  Deitado de bruços no sofá recebi um bipi, como sempre recebia quando estava na hora de ir para a faculdade. Era à noite, toda a noite. Pensei seriamente em faltar mais uma vez. Já tinha muitas faltas, mais uma seria somente... Mais uma. Mesmo assim fui. Se ficasse em casa, ficaria remoendo aquela cena dela me contando sobre “ele”.

  Levantei e fui tomar um banho, estava com a roupa molhada ainda no corpo, poderia acabar resfriado.

(...)

  Chegando lá, estacionei Leila na pior vaga que tinha, pois era a única. Dei sorte de encontrar uma. Estava chovendo muito, para piorar ainda por cima minha noite.

  Cheguei todo molhado, já no segundo tempo. Abri a porta da sala com um pouco de violência, não estava com humor algum para cerimônia.

  _Boa noite. – disse sério.

  Peguei meu jaleco e me sentei no fundo.

  _Bom, hoje iremos fazer um trabalho em dupla. Então, mãos à obra!

  Permaneci sentado, sem mover um músculo. Nada me faria levantar de onde estava.

  _Não, infelizmente ninguém pode trabalhar sozinha, senhorita Valentina.

  _Mas professor!

  _Lamento.

  A moça se conformou e se sentou, ficando isolada e quieta... Pensativa.

  _Que bom que já formaram as duplas! Senhor Junqueira, por que não está ao lado de sua dupla?

  _Não formei nenhuma dupla, senhor.

  _Ótimo! Valentina, venha cá!

  _Pois não, senhor. – ela se levantou olhando diretamente para mim, vermelha.

  _Quero que você faça dupla com o Danilo, que está sem ninguém.

  _Sim senhor – A moça começou a pegar suas coisas.

  _Mas Alê! – tentei justificar.

  Não era a menina, eu realmente queria ficar sozinho.

  _Aqui em sala, sou professor Alexandre.

  _Ok – abaixei a cabeça.

  Aquela aparentemente estranha menina se sentou ao meu lado, arrumando suas coisas em silêncio. Não falei absolutamente nada.

  Já no final do ultimo tempo, Valentina virou-se para mim.

  _Oi – ela disse, tentando um sorriso.

  _Oi – Virei-me para ela, respondendo secamente, depois, virando-me para o professor.

  _Tudo bem? – Timidamente ela perguntou.

  _É – Continuei olhando para o professor.

  Ficamos alguns segundo quietos. Valentina virou-se para o professor, mordendo seus lábios vermelhos.

  _É uma bela chuva, não?

  _Como? – perguntei, não entendendo o que ela queria.

  _Quer dizer - ela colocou uma mecha de seu cabelo atrás da orelha – não sabia como falar com você. Parece triste, o que houve?

  _Desde quando nós nos falamos?

  _Ah, desculpe, eu não queria...

  O sinal tocou e eu, rapidamente, peguei meus livrou e levantei, saindo da sala.

(...)

  Sei que agi errado, mas eu realmente não tinha humor para nada. Coitada da moça, só queria ser sociável e eu fui tão... Cruel. Pena que só depois que entrei em Leila que percebi. Naquela altura ela já deveria estar longe

  Valentina era até uma moça bonita, com grandes olhos verdes, pele bem clara e cabelos dourados. Deitei-me na cama, mas não consegui dormir, pensando nas palavras que disse a ela.

‘’ _Desde quando nós nos falamos?’’

Como eu pude ser tão rude com ela? A garota não tinha completamente nada a ver com o assunto, e eu agi como se ela fosse culpada por tudo...

Um pouco mais cedo no dia seguinte:

Cheguei ao curso cedo, não tinha nada para fazer em casa. Poucos alunos já estavam na sala, e entre eles, Valentina. Ela estava sentada em uma mesa, no intervalo, desenhando. Por sinal, estava perfeitamente belo seu desenho.

  _Belo desenho. – Tentei puxar conversa.

  _Obrigada.

  Mesmo depois daquilo que eu havia dito, ela sorriu. Como um ser pode ser tão doce?

  Ela voltou a desenhar, sorrindo.

  _Você desenha bem.

  Eu estava com vergonha com tudo, não sabia como começar.

  _Se você quer se desculpar, não se preocupe, não guardo rancor.

  Nossa.

  _Ah, estava tão na cara? – perguntei, sorrindo.

  _É – ela abaixou seu olhar.

  Sentei a sua frente.

  _Então – disse batucando na mesa – aceita sair comigo um dia desses?

  _Como? – ela me fitou.

  _É, geralmente as pessoas saem, sabe, para se divertir.

  _Eu sei o que é isso – ela sorriu.

  _Então...?

  _É que ninguém nunca me chamou para sair. Sabe como é, uma nerd nunca é chamada para tomar umas bebidas, por exemplo.

  _Não acho você nerd.

  Ela sorriu, ficando vermelha rapidamente.

  _Amanhã? – perguntei.

  _Às três? – Ela completou.

  _Perfeito. – Sorri.

  Peguei minhas coisas, e sai, olhando para ela e sorrindo.