Antagônicos escrita por Lady May


Capítulo 1
Antagônicos


Notas iniciais do capítulo

Essa história não passou por um beta. Se ouver algum erro, por favor, me avisem.



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Antagônicos

 

Suas roupas, antes de um branco imaculado, agora possuíam grandes manchas vermelhas - seu próprio sangue - que se misturavam com algo negro e viscoso - o de seus inimigos. Os cabelos castanhos estavam soltos, ao sabor do vento frio e sua espada, manchada, pendia de seu braço cansado, enquanto assistia aos seus irmãos lutarem pela Luz. 

Há muitos anos, devido aos sete selos, cuja quebra a sagrada Ordem de Miguel não conseguiu impedir, Lúcifer fora libertado de sua milenar prisão e estava tão poderoso que não demorou a dominar todos os corações, fazendo com que toda fé fosse esquecida e a Luz, expulsa. 

As trevas eram tão poderosas que o sol já não nascia mais. Conformada, a humanidade passou a se contentar apenas com as pesadas nuvens de chuva, simbolizando o choro infinito do Paraíso.

Desde então, os anjos vinham à Terra para lutar e restabelecer o equilíbrio.

Anael olhava fixamente para os tímidos raios que escapavam dentre a escuridão. Um filete de esperança que comprovava a vitória naquela batalha. Pensava em quantos embates travaria até que o calor lhe indicasse o fim da guerra. 

Estava tão cansada... A cada segundo precisava policiar sua mente para que não caísse em desespero. Queria tanto voltar para casa e se aconchegar no colo do Pai. Esquecer-se de todas as atrocidades e do ódio que sentia cada vez que via seus irmãos caindo, um a um, mortos. Anjos formidáveis que a ensinaram a ser uma grande guerreira. 

Um forte relâmpago cruzou o céu. Mau presságio, com certeza. Anael olhou para trás, encarando a rua sombria e deserta, pois sabia que os pingos que recomeçaram a cair significavam mais que uma tempestade: ele estava chegando, oculto pelas trevas às quais se entregou. 

A possibilidade do encontro apertou seu peito. Ele era como aquelas nuvens frias e independentes, capaz de causar uma tempestade no coração. 

- Estamos com você, irmã. – Uthiriel garantiu, tocando suavemente seu ombro. 

Mal sabia que a dor que a afligia estava além da batalha. 

A serafim suspirou enquanto olhava os dez anjos ao seu lado, fortes sobreviventes, acenando positivamente para cada um como uma despedida silenciosa. Virou o corpo e empunhou sua espada à espera de mais sangue. 

 

Tudo estava na mais absoluta escuridão. Perfeito para ocultar o caído vestido de preto no topo do prédio. Ele olhava absorto para o lugar onde os anjos travavam um duro combate.

Há tanto tempo abrira mão de sua Graça que não entendia porque continuavam a lutar por uma causa perdida. Gabriel e Rafael caíram diante do poder de Lúcifer. Até mesmo Miguel não resistira. O poderoso arcanjo que expulsou Adão e Eva e permaneceu sempre fiel ao Criador, fora abandonado no fim.

Sentia pena, pois não havia mais um líder, não havia mais salvação. Mas eles lutavam e, por causa de tanta força de vontade, até tinha vontade de que a Luz voltasse a reinar, pois uma parte dele sentia falta da bondade, da esperança que nunca morria e do calor. 

Talvez fosse por isso que a admirasse tanto. Anael era o mais próximo de Deus que ele chegaria. Era como o nascer do sol, como a verdadeira estrela da manha, o fogo que aquecia o coração. 

Embora anjos fossem incentivados a amar, nunca se imaginou cultivando esse sentimento e agora, como um desertor, esta dádiva deveria ser-lhe negada porque nunca seria digno. 

Por isso temia encontrá-la. Sabia que cedo ou tarde se enfrentariam e acabariam se matando. Ele pensava se seria capaz... Perderia a única coisa capaz de mantê-lo são naquela carnificina?

Observava, ao longe, Anael derrotar seus inimigos com destreza. Porém, sujeita a ferimentos, quando as espadas se chocavam e qualquer lâmina tocava aquela pele acetinada, era como se também sentisse sua dor. Se algo a acontecesse... 

Não! Eles eram armas! Vidas sacrificadas em nome de senhores que jamais se enfrentariam... Como se a questão fosse apenas influencia. Egoístas! 

E no meio disso tudo, nasceu um amor que jamais conheceria a realização, um amor destinado a matar, se não o outro, a si mesmo.

- Kael, - chamou Asmodeus – há luz. – E apontou para tímidos e insignificantes raios.

Suspirou resignado e, com um sorriso de desdém, se levantou e saltou do alto do prédio. Parecia que o encontro não seria adiado. 

Um forte relâmpago cruzou o céu.


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Notas finais do capítulo

Esta micro história está no meu caderno há, pelo menos, dois anos. Ela sugiu depois que eu assisti ao filme Gabriel, de Shane Abbess, e ao clipe.
Eu a imaginei como um adendo de um projeto que tenho sobre o tema Anjos/Demônios/Apocalipse. Então fica aí o texto para dar uma prévia do que virá.