POV Bella

Ainda estava em estado de graça depois de amanhecer nos braços dele. Eu tinha certeza de que se não houvesse vampiro ou lobisomens, meu destino seria de Jacob da mesma forma. Talvez já tivesse sido outras vezes, afinal não era assim com as almas gêmeas?

Passei em casa, peguei meu material, tomei um banho e dirigi com calma até a escola. Nada havia mudado ali, mas meu olhar para o mundo jamais seria o mesmo. Eu cruzei um caminho sem volta lá no penhasco.

Desliguei o motor da caminhonete tentando não chamar a atenção com aquele barulho e comecei a observar o pátio. Mike e Jess curtiam um momento meigo encostados no carro dele, Ben e Angie chegavam de carona com o Senhor Weber. Ela foi a primeira a notar o meu carro. Sorriu pra mim, mas deixou-me curtir o momento.

Logo estranhei quando o Audi prateado entrou no estacionamento e parou perto de uma arvore. Alice desceu correndo do carro em minha direção. Ela ainda era a minha melhor amiga, mas seria seguro pra nós duas esse encontro? Ainda mais depois da discussão no cinema?

- Isabela Marie Swan, melhor abrir essa porta antes que eu a arranque fora! – ela não falou alto e provavelmente ninguém além de mim ouviu, mas resolvi não abusar da sorte. Ela era bem capaz de cumprir o prometido.

- Nossa tá fedendo a cachorro aqui! – ela era incorrigível.

- Bom dia Alice. Você também cheira mal, mas Esme não te deu educação? - Torci o nariz pra ela.

Ela abriu as janela e o ar ficou mais respirável, aliviando meus tremores que começavam. Eu sabia que ela não me faria mal, mas minha fera interior não se deixava convencer fácil. Sorte que eu sempre fui teimosa e não perderia o controle de mim mesma.

- O que fez ontem a noite? Seu futuro desapareceu completamente pra mim. – Sua cara era de desespero. Devia fazer mesmo muito tempo que ela não ficava sem saber o que aconteceria.

- Eu estava brigando com a psicopata da Rosalie, esqueceu? Ela me deve algumas desculpas. – Tentei me acalmar, mas falar nisso despertava a parte mais insatisfeita de mim.

- Isso eu sei! Carlisle já brigou com ela por isso. Quero saber depois. Antes eu via seu futuro borrado e tinha flashes do que aconteceria a sua volta, mas agora você sumiu pra mim. Você não vai abandonar sua melhor amiga né? – Alice sabia fazer cara de vampira abandonada e dava vontade de pegar no colo.

- Eu não quero me afastar de você Alice. Mas eu vou evitar outra conversa como aquela no cinema. Seu irmão é incapaz de entender que se ficássemos juntos eu acabaria matando ele? Por isso eu prefiro me afastar. Vai ser melhor pra ambos assim. – achei melhor suprimir o Jacob dessa equação.

- Isso não tem nada a ver com aquele cachorro? - Alice era perspicaz demais pra ser iludida por mim.

- Só um pouquinho. E é Jacob ok? – Ela riu da minha tentativa

- Vamos pra aula sua mentirosa! Pelo menos nisso você continua igual. Não conseguiria mentir nem que sua vida dependesse disso.

Durante as aulas eu mal prestava atenção. Ou ficava perdida nas lembranças com Jake ou tentando não me transformar em Loba e matar Jessica e Lauren por algum comentário maldoso ou Edward por existir no mesmo universo que eu. Ele teve a cara de pau de falar comigo e pareceu ofendido quando eu o ignorei. O que ele queria? Um abraço e um beijo? – Tive que sair pra tomar um ar. Era frustrante demais e tinha horas que eu ficava muito perto de me perder.

No almoço passei com Angie, Mike e os meninos. Jess tentou me encurralar diversas vezes pra conseguir uma fofoca enquanto eu me esquivava graciosamente de suas perguntas. Respondi apenas quando ela perguntou sobre Edward, quando eu confirmei o término e garanti que eu estava bem. Eles tinham medo que eu voltasse a ser um zumbi. Obviamente, antes da saída esse já era o assunto mais comentado pelos corredores. Já diziam até que estava namorando um ator mais velho e ouvi também algo sobre meu caso com uma mulher. Preferi não desmentir nenhuma versão. Nem chegavam perto da verdade e era melhor assim.

Na saída encontrei Mike no caminho do estacionamento.

- Bella, minha mãe vai perguntar, quando você volta. – ele parecia animado com algo. – Pode ser na segunda?

- Ok. – sorri pensando em como seria meu fim de semana.

- Vai à La Push no sábado? – Jess perguntou pra mim e cutucou Lauren pra ela prestar atenção.

- Vou estar por lá sim. Que horas vocês vão? – respondi no automático. Minha mente já estava lá na reserva.

- Vamos passar o sábado na praia. – Mike que respondeu e eu ia tentar acertar o horário da ronda pra poder ir. Talvez Jake queira me acompanhar.

- SE ENFIA EM LA PUSH MESMO SUA VADIAZINHA! – aquela voz não podia ser outra senão da Rosalie.

- Rose! – Censurou Emmett.

- O que você tem com isso sua morcega velha? – Fui andando em sua direção e nem pensei no que poderia acontecer.

Logo já tinha uma rodinha a nossa volta esperando o próximo passo que daria inicio a guerra.

- O pulguento não está aqui pra salvar esse seu rabo branco. Nem o meu irmão vai me segurar. Eu vou te mostrar o que é enfrentar uma mulher de verdade.

- Não preciso que ninguém me defenda. Eu sou mais que o suficiente pra você parasita. Manda chamar a tal mulher que vai me ensinar porque você não é nem... – eu senti aquele calor na espinha. Estava alem do meu controle e ia explodir a qualquer momento.

Foi quando eu senti aquela mão grande e quente em minhas costas. A outra foi direto ao meu cabelo fazendo os tremores diminuírem com aquela voz aveludada.

- Vamos embora Bells. Têm inocentes demais aqui. – sua voz era calma, mas carregada de um comando irresistível. Não havia como lutar contra isso. Era natural. Simplesmente me deixei levar por ele.

POV Jake

Bella me deu muito que pensar pela manhã. Quill e Embry reclamaram a manhã inteira que eu estava disperso e eles praticamente me arrastavam de uma classe pra outra. Depois do almoço, eu estava na aula de história antiga quando senti um aperto no coração. Fiquei aflito, não conseguia uma posição confortável na cadeira, comecei a suar frio. Decididamente eu não estava bem.

- Você tá legal Jake? - Embry perguntou baixinho do meu lado.

- Não cara. Acho que comi demais. – Respondi confuso. Era como se a floresta me chamasse. – eu vou ter que sair pra correr.

- Não dá pra segurar a vontade Jake? – Embry já estava rindo. Era comum os novatos sentirem essa compulsão.

- Você sente como se algo estivesse te chamando lá? – agora foi Quil que perguntou e ele tinha uma expressão estranha no rosto. Como se já tivesse sentido antes. – Vai embora logo. Você vai se arrepender se não for.

Sai correndo e pedi desculpas pro Sr. Grahan pela fuga. Assim que cheguei no bosque amarrei minhas roupas e deixei o lobo me guiar. Não sabia porque mas estava correndo a toda velocidade pra Forks. Precisava ver a Bella. Ela estava me deixando maluco.

Cheguei perto da escola dela e coloquei a roupa novamente. Tinha deixado meu tênis e minha mochila no Rabbit. E continuei sendo guiado para uma grande aglomeração de alunos. Bella e a Loira fatal estavam trocando elogios, mas se eu não fizesse algo, ia ficar bastante físico rapidinho.

Abri caminho na multidão e encostei minha mão nas costas de Bella. Ela estava fervendo e ia explodir a qualquer momento. Não consegui ouvir toda a discussão. Mas pelo olhar que a sanguessuga me lançou quando eu cheguei fazendo carinho na Bella posso apostar quem era o motivo da bagunça. Não gosto de fazer uso do meu comando, mas sabia que nada menos que isso pararia a minha Loba.

Ela veio me acompanhando e senti pela sua respiração pesada que ela estivesse tentando entrar em foco enquanto dirigíamos pra casa dela. A viatura não estava na frente da casa, logo não haveria companhia para Bella. Mal ela saiu do carro explodiu de suas roupas e saiu correndo pela floresta. Achei prudente ir atrás, já que ela podia ir pra casa dos Cullens acertar as contas. Mas Bella correu a toda velocidade, e isso é realmente rápido, pra First Beach. Ficou escondida atrás das arvores olhando o mar e toda a raiva que ela sentia não deixou de ser notada por Seth e Leah que estavam na ronda.

“cruzes Bells, Você está pior que a Leah!” – Seth tinha que aprender a manter sua boca fechada.

Bella relembrou com todos os detalhes o que acontecera entre ela e vampira. Não foi uma experiência legal sentir as emoções da Bella com tal intensidade. Ela sempre fora uma menina passional, mas saber que era capaz de nutrir um sentimento tão negativo por alguém me deixou desconcertado. Conforme ela foi sentindo nossas dúvidas sobre o porquê de tanto ódio, ela foi mostrando como Rosalie, só ela pra os chamar pelo nome, nunca a aceitou de verdade. Ela desejava ser humana, ter filhos e envelhecer e invejava a sorte de Bella.

Depois de desabafar, ela se acalmou um pouco e eu a acompanhei novamente pra casa.

- Desculpa Jake. Ela me tirou do sério. Eu sei que perdi as estribeiras e podia ter entregado nosso segredo. – Ela ainda estava se desculpando enquanto íamos pra reserva.

- Shh... – apertei-a contra mim com força. – Eu sabia que você estava precisando de mim. Eu vou estar sempre ao seu lado. – baguncei seu cabelo enquanto dirigia.

Estávamos na fronteira do tratado quando uma mulher na estrada pediu carona. Ela me parecia conhecida, mas estava assustada com alguma coisa. Seu cabelo estava maltratado e sujo e a roupa parecia de alguém há muitos dias na estrada. Ela cobria o rosto com o capuz do casaco, mas sua pele acobreada denunciava sua ascendência. La Push é uma comunidade pequena e eu conhecia todas as famílias de lá. Não era comum forasteiros pedirem carona pra First Beach. Como se tratava de uma nativa, talvez fosse filha ou sobrinha de alguém, não nos custava lhe ajudar. Ela recusou ir à cabine e foi deitada na caçamba do chevy. A todo o momento, ela olhava pra trás e para os lados como se fosse ver o demônio em pessoa nos seguindo. Bella comentou sobre o cheiro da nossa carona. Realmente ela tinha o cheiro amadeirado tão típico dos quileutes, mas tinha um detalhe de frescor. Ela lembrava o cheiro da minha mãe.

Quando chegávamos à praia ela fez uma pergunta.

- Você conhece Billy Black? – sua voz confirmou as minhas suspeitas – Ele ainda mora na reserva? – Isabella me olhou rapidamente. Ela ainda não tinha chegado a conclusão que eu cheguei.

- Sim. Eles moram aqui perto Rachel. – Os olhar de Bella se tornou doce. Com certeza ela estava lembrando-se das minhas irmãs. Nossa passageira se agitou lá trás.

- Jacob – sua voz saiu quase como um sussurro e eu pude ver uma marca roxa em seu rosto. Ela tentava juntar o pequeno irmão que ela deixara na reserva pra estudar com o grande homem que lhe falava. Paramos em frente a nossa casa e eu a ajudei a descer com um grande abraço. Ela gemeu quando eu cheguei perto e vi passar uma ponta de terror em seus olhos. Algo tinha acontecido com a minha irmã e provavelmente eu não ia gostar de saber.

POV Embry

Eu nunca escondi que arrastava um bonde por ela. Ela sempre foi a mais linda de toda tribo. Ela era uma menina alegre, sempre bem cuidada e tinha uma beleza selvagem. Algo que demonstrava o quão perigosa ela se tornaria. Mas era a namorada dele e ele praticamente ostentava sua conquista como um troféu. Os mais velhos imaginavam e os mais novos sonhavam, mas apenas Sam sabia realmente como ela era. Leah vivia pra agradá-lo.

Por isso, ninguém entendeu quando ele a dispensou. Do dia pra noite, Emily se tornou tudo que Leah almejara e nenhum dos anciões achou nada de mais quando Sam se mudou pra uma pequena casa com Emy. Sam não tinha defeitos e podia ser qualquer coisa. Ela era uma Makah belíssima, tinha suas curvas e um jeito maternal. Mas ela nunca seria Leah.

Depois que eu me tornei um lobo, entendi toda a história de Sam e a compulsão do Imprinting, mas não me parecia certo que os espíritos fossem tão maldosos com uns e  desses tanto a outros.

Eu era um Makah. Não era pra eu ser um lobo. Os meninos nunca ligaram muito pra isso, mas eu me intrigava às vezes com essa questão. Depois que Jake e Quil entraram pra matilha, eu não me importava em ser meio-irmão de qualquer um dos dois. Mas o mais provável era que eu tivesse sangue dos Uley em minhas veias.

Meu alfa nunca me privilegiou por isso, mas ele sabia do sentimento que eu nutria por Leah e era difícil perdoá-lo por fazê-la sofrer. Era algo acima de mim. Eu só o faria, quando ela estivesse feliz novamente.

Tudo mudou na matilha com a entrada dos Clearwater. Nós não alimentávamos essas questões mais difíceis entre nós. Até mesmo para o bem da matilha. Mas Leah gostava de disseminar a miséria e era comum ela jogar na cara de Sam a minha condição de meio-irmão e como o pai dele era adúltero. Outro assunto recorrente era o parentesco de Emily e ela. Como elas eram amigas e confidentes. Sabendo que nada voltaria a ser como antes. Leah sentia tudo isso com uma intensidade absurda e fazia questão de dividir essa revolta conosco. Eu era sempre o mais atingido, porque alem das acusações, me doía vê-la sofrendo assim. Então eu tentava ajudar e ela pisava muito em mim.

Outro inconveniente era o fato de explodirmos das roupas e Leah, com toda essa revolta, demorou um bocado pra se controlar. Todos nós a vimos nua. O problema estava quando ela nos pegava rememorando esses momentos. Sonhava freqüentemente com ela e suava pra esconder tais fantasias de todos.

O que impedia Leah de ser feliz novamente, um fato que depois de algum tempo de revolta era recorrente em seus pensamentos, era a sua dificuldade de se libertar das magoas que ela nutria por Sam. Se ela entendia ele e toda a inexpugnável magia do Imprinting não podia mais ser amor o que ela nutria. Era uma paixão compulsiva. Uma pregadora me disse uma vez: “Só um amor puro pode curar todos os amores errados”. Eu tinha que ser esse amor puro. Ela merecia isso.

Com a entrada de Bella, Leah acordou pro que sentia. As duas tinham essa obsessão por Sam e pelo Leitor de mentes. Não era saudável e não fazia bem. Fiquei pasmo quando ela me procurou e pediu desculpas por me ridicularizar inúmeras vezes frente à matilha. Eu a convidei pra ir ao cinema como forma de reconciliação entre nós. Tinha esperança que ela se abrisse a mim. Fiquei seu amigo.

Conversamos muito depois da purificação de Bella. Leah também passou mal naquele dia e se abriu comigo. Disse que ainda gostava muito de Sam, que tinha medo de se machucar novamente e que achava estranho trocar um irmão pelo outro. Mas senti que ela estava aberta a tentar. Resolvemos ir a uma cachoeira perto de monte Rainier. De lá teríamos uma vista linda de toda parque de Olympic. Era um lugar calmo e quase ninguém ia lá. Fosse pessoa ou lobo. Seria um lugar só pra nós dois.