Que... Tenso escrita por wateru


Capítulo 2
Epílogo


Notas iniciais do capítulo

Não se espantem com a "inversão" dos nomes dos capítulos. É assim mesmo. u.u



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Capítulo 02 – Prólogo


Se em uma ocasião diferente eu dissesse que o trabalho de Mario era, basicamente, icinerar plantas carnívoras, esmagar cogumelos humanoides, arrancar tartarugas de seus cascos – ou asas, em algumas situações – e fugir de balas de canhão parecidas com tubarões... Bem, talvez ninguém acreditasse. Entretanto, devido aos conhecimentos prévios sobre ela, fica até difícil duvidar de algo. Mas, antes que alguém comece a pensar, já digo logo: ela não trabalha com tráfico de animais ou extermínio de pragas. Quero dizer, não oficialmente (brincadeira, é só para descontrair).

Na verdade, Mario é a encanadora-chefe do parque temático Mushroom Kingdom, situado na Nova Zelândia. Acalme-se, você não é o primeiro a sentir o cérebro fritar nessa parte – isso é mais comum do que você pode imaginar. E não, o “Mushroom” do nome não tem a ver com os cogumelos que ela tem que enfrentar, é porque aquela região é rica em fungos mesmo. Devo admitir, no entanto, que será preciso voltar um pouco na história de Mario; mais precisamente, até o dia de seu nascimento (se quiser, pode ligar uma maquininha de fumaça ou balançar as mãos para me dar sorte, após essa frase tão clichê):

Mario e Luigi são gêmeas não-idênticas. Na maternidade, porém, isso ainda não era bem visível: a mãe, para diferenciá-las, passou a comprar roupinhas vermelhas para Mario e verdes para Luigi. Após a morte daquela, foram morar com uma tia na Nova Zelândia. A nova responsável pelas duas, que nunca se lembrava da cor que representava uma ou outra, tricotou dois gorrinhos com as iniciais das sobrinhas.

Com o advento da adolescência, desapareceu a necessidade de distingui-las por cores ou letras (por mais que elas teimassem em continuar usando roupinhas características): enquanto Luigi crescia para cima, Mario crescia para os lados. Somente uma coisa aumentava igualmente nas duas: o buço (eu ouvi alguém gritando "peitos"?). Coitadas, tinham mais pêlos sub-nasais do que a Frida Kahlo. Digo "tinham" porque, após uma ou duas depilações, o buço virou um quase-bigode. Agora, imagine: como alguém chamado Mario, dono de um bigode ao estilo Groucho Marx, conseguiria arrumar algum emprego... digamos... feminino? Casamento era algo impossível, e foi descartado da mesma forma que um curso superior ou a possibilidade de abrir um negócio próprio.

Pois bem: Mario atingiu a idade adulta, e, para a surpresa de muitos, conquistou anos exitosos no mundo do esporte. Apesar da forma roliça, Mario era vigorosa. Seus quilinhos extras eram consequências de uma disfunção hormonal, não do sedentarismo. O tino para os esportes, de certa forma, compensava seu destalento na área intelectual – e até mesmo sua "não-formosura".

Mario praticou futebol, tênis, golfe, beisebol, Kart (além de várias artes marciais) e ganhou vários prêmios em torneios pela Oceania; sua irmã, como sempre, acompanhava-a em todos eles – talvez por não conseguir se desgrudar da irmã três minutos mais velha. A questão é que a moça baixinha de boina vermelha nunca se realizou nesses trabalhos, e, somente após ganhar uma vaga no Reino do Cogumelo (se você não sabe, isso é Mushroom Kingdom em português), Mario passou a se sentir reconhecida por seu bom trabalho, e, nas horas de folga, podia divertir-se em qualquer brinquedo do parque!

Não, Mario não era infantil. Acho que você não entendeu minha ironia: ela simplesmente não possuía tempo livre. E esse papo de encanadora-chefe foi só um cargo de fachada inventado pelo Governo dos EUA (embora ela realmente tivesse que consertar alguns vazamentos de vez em quando). Ah, você quer saber o que o governo dos Estados Unidos está fazendo na história?... Desculpe-me, acho que me esqueci de comentar esse pequeno detalhe: o parque está desativado há mais de uma década. Mais confuso ainda?

É, realmente eu ainda não expliquei a presença do governo estadunidense na história da Mario. Acontece que os yankees mantinham um laboratório secreto na Nova Zelândia, e este, em dado momento da década de 90, sofreu um sério acidente: várias cobaias geneticamente alteradas saíram correndo, pulando, voando e se arrastando por todos os lados – sim, as tartarugas e cogumelos do primeiro parágrafo. A equipe de segurança do laboratório interditou imediatamente uma área de milhares de quilômetros quadrados, impedindo que as aberraçõezinhas se alastrassem pelo mundo. Por sorte, o laboratório não ficava próximo a cidades.

Para evitar escândalos, o exército nacional foi obrigado a evacuar toda a região imediatamente, desocupando fazendas, pontos de turismo... E tal parque onde Mario trabalhava. Na verdade, trabalha. Ela e sua irmã (sim, ela também) são as únicas remanescentes no emprego. Agora, é claro, responsáveis pela manutenção do parque abandonado e pelo extermínio dos bichinhos do mal que sobraram.

Eu bem que acabaria esta história por aqui, mas ainda falta algo importante a ser dito. Afinal, se a história de Mario terminasse, agora, não haveria motivo algum para que ela ingressasse em um grupo de ajuda tão sério quanto o D.A.

Lembra-se do que eu disse sobre a evacuação no local do acidente, e que isso incluía a retirada de pessoas do Mushroom Kingdom? Daí você poderia se perguntar: "Mas por que diabos Mario e Luigi permaneceram?" O intuito do governo em retirar as pessoas era meramente preventivo: não queriam que ninguém visse uma daquelas quimerinhas soltas por aí. E as gêmeas viram. Então, para os EUA, era melhor mantê-las debaixo de vistoria. Daí você pergunta (que leitor perguntador, não?): "E como foi que elas viram? O que elas viram?"

Nada de especial, só um dragão-fêmea cuspidor de fogo com um casco espinhento e um príncipe nos braços. Um príncipe loiro de olhos azuis vestido de princesa, para ser mais exato. Quem era ele? Se você parar de perguntar, eu respondo. O príncipe era Laag Toadstool, herdeiro do trono dinamarquês. Ao alcançar a maioridade, tratou de mudar o nome para Peach Toadstool. Dizia ele que Peach é um nome mais "bonitnho" – além de combinar muito melhor com seu jeito... é... Não quero por em questão a sexualidade de Peach. Enfim, não é difícil adivinhar.

– Nosso filho! Nosso filho! – gritava a rainha da Dinamarca, puxando os soldados pela farda e tentando abrir caminho entre o pelotão. Ela nunca imaginaria que uma temporada de férias na Austrália causaria todo esse transtorno.

Aquele era o mês em que a família real dinamarquesa passaria o período mais longo fora daquele ambiente aristocrático e cheio de falsidade. Em vez de uma visita política, viajaram exclusivamente a passeio. Peach, com seus dezoito anos, estava saindo de seu país pela primeira vez. Talvez por isso ele soubesse tão pouco sobre a “vida”.

Mario e Luigi foram convocadas para a busca. Conheciam o parque melhor do que ninguém, e não haveria alguém mais capacitado do que elas para andar pelas tubulações e por entre os caminhos labirínticos da complexa rede de esgoto, caso fosse preciso. Se não ficou claro antes, que fique agora: Peach estava desaparecido.

Para a infelicidade das duas, o parque era grande. Muito grande. Com quase vinte quilômetros quadrados de área, o Mushroom Kingdom possuía vários ambientes temáticos: campos abertos, áreas de lazer aquático e um enorme anfiteatro eram apenas algumas das atrações. E as irmãs se viram obrigadas a passar por todas essas áreas.

– Você vasculha metade da área, eu vasculho a outra – Mario ordenou, separando-se da irmã. Ela ficou responsável pela parte leste, que compreendia a área de esportes, o parque aquático e a “trilha” – este era o trunfo do parque: a trilha era composta de vários túneis temáticos, decorados como ambientes distintos (um campo aberto, uma caverna com sonoplastia imitando o som agudo dos morcegos, um vulcão prestes a explodir, e por aí vai) e foi o que Mario resolveu deixar em último plano, por ser a parte mais afastada de onde ela estava.

Vistoriou, sem encontrar nenhum vestígio do príncipe desaparecido, todas as outras partes de sua “jurisdição”, até parar em frente ao grande portal que dava para a trilha. Inserindo uma moeda amarela na máquina, a grande porta se abriu, e ela entrou. As cores do túnel eram alegres e convidativas; o único problema era aquela musiquinha irritante que tocava repetidamente. Além da musiquinha, novos “amigos” também estavam lá para brincar.

De início ela não acreditou, visto que, por mais estranha que ela mesma fosse, não havia nada em si que extrapolasse os limites da racionalidade humana. Mas aqueles... aquelas... aquilos? O que era aquele monte de cogumelos andantes vindos em sua direção? Ela tentava escapar, pulando por cima deles, tentando evitá-los, mas alguns não escapavam de sua “pisada mortal”. Cogumelos eram normais na região – tanto que o nome do parque era uma homenagem a eles – mas os que ela conhecia, geralmente, ficavam fixos em algum lugar e não tinham dentes.

Mario não queria saber de conversa com seres que ela nem ao menos sabia se eram deste mundo. Aliás, já começara a ficar com muita raiva deles. Aonde sua vista alcançava, o estrago estava feito: canos retorcidos, tijolos quebrados, destacados para fora da parede azul-céu, e moedas para todo lado. Certamente eram dos turistas e crianças que tiveram de sair rapidamente do local, deixando todas as fichinhas caírem. A única ficha que não caiu foi a dela, se é que você entende o meu trocadilho.

Foi fácil passar pela primeira “fase”. Mario se espantou ao encarar uma planta carnívora cuspidora de fogo, isso é verdade, mas enfrentá-la foi bastante tranquilo. Tão tranquilo quanto abater os outros bichinhos nada-amigáveis que foram aparecendo a cada fase – peixes voadores, lulas elétricas, dinossauros em miniatura, feijões com capa de super-herói, macacos com uniforme de beisebol... Não vou descrever cada vulcão, mar ou encanamento sujo pelos quais ela passou, nada disso importa. Era sempre a mesma coisa: ao final da fase, ela passava por uma porta que dava acesso ao próximo desafio. E toda vez que passava por um portalzinho que parecia a entrada de um castelo, um boneco em formato de cogumelo dizia:

– Obrigado por me ajudar, mas a princesa está em outro castelo!

Princesa? Sim. Por coincidência, o objetivo da trilha era vencer os obstáculos até alcançar a princesa em apuros que estava no final do jogo. A missão era livrá-la das mãos terríveis de um monstro malvado. Lógico que era tudo encenação: uma vez por dia, as crianças faziam o percurso até a última sala, onde um homem e uma mulher fantasiados as esperavam para mais uma performance. Peach sabia disso – era o que estava escrito no guia de bolso – e não se assustou ao ver uma fantasia cor-de-rosa no chão. É, acho que você se lembra: é a mesma roupa que eu usei para descrevê-lo no início. Antes de seguir em frente, Peach vestiu-a (achou que não teria nenhum problema deixar o terno por um momentinho; e ninguém parecia dar falta do vestido, mesmo). E porque somente ele estava ali, sem os seguranças como era de costume? Ah, não pensei nessa parte. Talvez ele tenha se afastado do grupo de visitantes, ou entrou escondido, algo do tipo. Está bom para você? Voltemos a Mario.

Somente a última “fase” pode ser de algum interesse para nós. Aquela na qual Peach está – mas somente eu e você sabemos disso. Era um dos túneis mais elaborados do “brinquedo”, repleto de paredes falsas, caminhos que não iam a lugar nenhum, e, ao longe, uma enorme e pesada porta de madeira (que só precisava de mais uma fichinha para que se abrisse por completo, e sem esforço). De fora, Mario escutava gritinhos histéricos. Isso mesmo, do príncipe. Como vê, não estou planejando nenhuma surpresa mirabolante para esta história.

– Eu vim salvá-la... lo... Eu vim salvar você! – Mario bradou ao entrar no salão, com o punho direito cerrado e balançando de maneira que fizesse parecer ameaçador. Foi quando ela viu “o que” estava segurando o príncipe.

– Você não é o... – Mario iria iniciar a pergunta, mas a “coisa” logo respondeu:


– Meu nome é Trina Bowser, cientista da Anzi & Co., a responsável pelo incidente com o laboratório – ela olhou para o próprio corpo, analisando-se – e comigo. E é melhor você levar essa criatura histérica aqui antes que...

– Você desistiu de capturá-lo? – Mario perguntou, confusa.


– Ele que se jogou nos meus braços! Não temos tempo! Não sei mensurar o nível de estabilidade desta minha nova aparência, portanto é possível que... – e daí para a frente Mario e Peach só escutaram rugidos. Parecia que Bowser estava perdendo a luta contra as células malignas que tentavam dominar seu corpo.

– Ela é minha! – disse o dragão-cientista, em uma voz grossa e gutural, segurando Peach sobre o ombro esquerdo. Enquanto Mario se esquivava de projéteis de fogo lançados da boca de Bowser, o príncipe gritava palavras em dinamarquês, francês, italiano, e Mario não entendia nada. Mas sabia o que havia acontecido: a transformação estava completa. Por uma questão de segundos, perdeu a chance de acabar com aquela história.

“Mas eu ainda tenho uma chance!”, Mario pensou, ao olhar para uma alavanca dourada ao seu lado. Tinha a forma de um machado, e lhe parecia muito familiar.

“É claro! O alçapão!”

Recordando-se do percurso da trilha, Mario foi logo arregaçando as mangas e puxando a alavanca com todas as forças que possuía. O trabalho, que geralmente era feito por uma multidão de crianças loucas para ver o vilão sendo lançado em um “calabouço sem retorno”, foi árduo; mas, enfim, a forte encanadora deu conta do serviço e pôde ver, como que lentamente, o chão se abrindo debaixo dos pés de Bowser – e, como nas encenações, Peach flutuando no ar com o vestido que se armava como um pára-quedas sempre que uma corrente de ar subia por aquelas regiões. Peach era um pouquinho mais pesado do que a atriz original da peça, mas, com a ajuda da sombrinha (acredita que ele a estava segurando esse tempo todo?), ele planou até o chão.

Bem, o resto você pode imaginar. Família real de volta à Dinamarca, prometendo nunca mais voltar à Nova Zelândia, e Bowser... Antes que você pense, ela está bem – lembre-se que o alçapão era usado apenas para encenações, não tinha nada de realmente perigoso lá – seus colegas de trabalho lhe injetaram um antídoto e ela livrou-se dos genes do mal, voltando a ser uma bela cientista. As criaturinhas – algumas delas – ainda estão lá, vagando pelo espaço sitiado, apenas aguardando o fatídico dia em que morrerão pelas mãos de Luigi. Lógico, já que sua irmã resolveu partir para o Brasil e buscar apoio no D.A. (você ainda se lembrava disso?).

– Não... t-tenho palavras – Afrodite balbuciou, ainda secando as lágrimas com um lencinho. Ela, aliás, foi a única que conseguiu falar algo (além de Satam, que gritou bem alto o nome e o sobrenome de Pútak). Os outros, inclusive Sofia, apenas bateram palmas.

Espero, leitor, que você tenha gostado da história. Mario foi realmente uma guerreira. Sentiu, sofreu, lutou. E, se não tiver gostado, desde já eu peço desculpas, mas não posso fazer nada: eu transcrevi do jeitinho que ela me contou.


A Parede


E eu... Bem, eu fico por aqui. Quando a história termina, não há mais motivos para que o autor permaneça (eu e minhas frases de efeito...). O quê? Mas o que tem de mais em eu ser uma parede? Eu não disse que na sala só havia seis pessoas? Então, quem eu haveria de ser, já que eu não era nenhum dos personagens da história? Oras... E pode parar com esse preconceito com paredes. Se nós temos ouvidos, por que não podemos ter criatividade? Uma amiga minha até gravou CD com o Pedro Luís! Baita sacanagem com a gente. Olha que nós paredes somos um grupo unido na luta contra o preconceito, nem vem!

Sinto que você se cansou de mim. Foi mal, mas você pode voltar à sua vidinha normal agora. Mas pode ter certeza: quando, quem sabe um dia, você quiser voltar, saiba que eu estarei aqui.

Claro, sou uma parede.


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Notas finais do capítulo

Terminei!
O que acharam? *.*