Kumo no Ito escrita por M4r1-ch4n


Capítulo 4
Capítulo 3




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          Já fazia algum tempo desde que o ronin havia deixado a pequena vila onde enfrentara um samurai, caminhando em direção ao sul. Ele não tinha motivo algum para viajar nessa direção, a não ser fugir das temperaturas mais baixas; se continuasse indo para o norte, ele eventualmente teria problemas para se manter aquecido, e ele não tinha dinheiro para vestimentas mais quentes.
          Durante os primeiros dias na sua vida como ronin, Ni~ya parou em diversas vilas e pequenos povoados, normalmente sendo recebido com a desconfiança que as pessoas da cidadezinha de Masahide haviam demonstrado. O ex-samurai já havia se acostumado com isso, mas no final sempre conseguia conquistar a confiança de todos, trabalhando por alguns dias para os donos dos locais que o abrigavam como pagamento pela hospedagem, além de livrar essas vilas de eventuais ameaças.
          Foi assim que Ni~ya passou a viver, mas com uma preocupação crescente: relatos de abusos de samurais chegavam cada vez mais freqüentemente aos seus ouvidos, e como antigo membro da categoria, ele custava a acreditar que fossem todos verdadeiros; homens que supostamente simbolizavam a honra da classe guerreira de uma nação não poderiam ter começado a cortar pessoas, estuprar mulheres e saquear povoados.
          No entanto, isso parecia ser verdade, porque pequenas vilas como as que ele visitava não tinham como se comunicar e transmitir histórias semelhantes umas para as outras. Compreendendo que provavelmente a classe dos samurais estava degenerando, ele sentiu que sua missão de proteger pessoas como a mãe de Masahide era cada vez mais importante, mesmo sendo ele uma criatura sem honra alguma aos olhos da população japonesa.
          A sua próxima parada foi Ohira, um vilarejo mais próximo do centro da província de Miyagi, onde se encontrava. Mais algumas semanas de viagem e ele provavelmente alcançaria Kawasaki, sua vila natal.
          Vila natal...
          Talvez não fosse uma boa idéia ele se dirigir para lá, no fim das contas. Seu pai, um samurai já recluso da vida de batalhas, detestaria vê-lo naquele estado, sem mestre e ainda por cima enfrentando guerreiros respeitados em lugarejos pelo país. Quanto a seu irmão... Ele preferia não pensar na sua família no momento.
          Fechando os olhos por alguns segundos e guardando a dor que sentia para si mesmo, Ni~ya acabou finalmente entrando em Ohira, observando as casas que não eram nada diferente das que ele havia visto em outros lugares. O atraente rosto do guerreiro estava agora mais calmo, parte da sua dor sendo relativamente esquecida quando ele avistou uma árvore com flores, algumas poucas gotas de orvalho ainda sobre as folhas do grande vegetal.
          Ni~ya se aproximou da mesma, tocando com a mão direita as gotas transparentes, vendo as mesmas se desafazerem com o calor de seus de dedos. Um pequeno sorriso tomou seu lábios; ele sempre gostou da visão da vegetação coberta com água, brilhando quando o sol incidia nas gotinhas. Às vezes, elas pareciam criar arco-íris em miniaturas na frente dos seus olhos.
          Perdido na sua pequena observação matinal, Ni~ya foi puxado de volta para a realidade quando o grito alto e bem pronunciado de uma criança chegou aos seus ouvidos. Piscando, ele virou sua cabeça na direção do som, e viu um menino de uns sete ou oito anos correndo, outras crianças logo atrás dele. A primeira vista, o alto ronin acreditou que os meninos apenas brincavam, mas pela expressão no rosto do primeiro garotinho, não parecia ser bem essa a situação.
          Preocupado em fugir das outras crianças, o primeiro menino acabou colidindo com a perna direita de Ni~ya, caindo depois sentado no chão de terra, tonto com o impacto. O ex-samurai sorriu novamente, e estava abaixado ajudando o menino a se levantar quando os outros garotos finalmente os alcançaram.
          Dois dos maiores garotos portavam galhos de árvore, e outros pareciam carregar pedras nas mãos. Arregalando os olhos, Ni~ya apenas encarou as crianças que perseguiam o menino que ele havia colocado de pé com uma expressão ligeiramente reprovadora, que, no entanto, foi o bastante para mandar todos os outros correndo de volta para onde haviam vindo. Provavelmente haviam visto a sua katana presa na cintura também.
          Sacudindo a cabeça, o ronin moreno voltou a sua atenção para o garotinho, batendo a poeira da sua roupa rapidamente. Quando o mesmo olhou para cima, deu um grito, assustado com a face estranha e ainda mais com a arma.
          - Calma! Eu não vou fazer nada com você.
          O menino chegou a abrir a boca para gritar novamente, mas não o fez; a voz do homem que o havia ajudado era baixa e calma, e não dava medo. Respirando profundamente, o menininho apenas encarou Ni~ya novamente, com olhos suspeitos.
          - Quem é você?
          - Eu sou Ni~ya.
          - E você tem uma espada?
          - Tenho. - o bushi fez um aceno curto com a cabeça, vendo o menino se afastar quando ele confirmou a informação. Sorrindo, ele acrescentou - Mas só uso a katana quando encontro homens maus. Você não é mau, é?
          - Não! - o garoto quase gritou, agitando os braços - Eu não. Meu nome é Kiyoshi!
          - Aa, entendi. - o ronin riu baixinho, compreendendo o significado rapidamente - Então não precisa ter medo. Os meninos foram embora.
          - Foram? - só então o pequeno Kiyoshi se virou, vendo que estava livre de verdade dos outros - Ah, yokatta! Eu vou correndo ao templo contar tudo para o Yomi-san!
          - Templo? - Ni~ya perguntou quando o menino já havia começado a correr de volta para algum lugar, estendendo o braço esquerdo e chamando o garoto de volta - Kiyoshi-san! Onde fica o templo?
          O ronin havia decidido parar em Ohira justamente por causa do templo shintoísta daquela vila. No seu caminho na estrada, haviam dado indicações de que o sacerdote desse templo era um bom homem, acostumado a abrigar ronins; provavelmente Ni~ya conseguiria pouso por um dia ali.
          O menino parou, coçando a cabeça.
          - Não sabe onde fica? - ele perguntou, parecendo incrédulo - Venha comigo que eu mostro!
          - Muito bem. - o bushi sorriu, caminhando tranqüilamente até onde o garoto se encontrava, que felizmente continuou seu caminho em um ritmo mais lento.
          - Posso ver sua espada, Ni~ya-san?
          - Talvez. Se demonstrar que é realmente um bom menino.
          - Tudo bem! - ele sorriu com empolgação, virando à direita em uma viela e conduzindo o ronin pelo caminho estreito, levantando e abaixando os braços alternadamente enquanto cantava uma canção infantil - Yomi-san vai gostar da sua visita, ele adora conversar!
          - Mesmo? - o guerreiro replicou, divertindo-se enquanto observava a alegria infantil de Kiyoshi à sua frente. Era quase como se ele estivesse de volta aos seus dias de criança, quando procurava outras crianças com quem pudesse brincar e imitar samurais.
          Algumas das mulheres que moravam por ali fecharam as janelas ou olharam com receio para o menino e Ni~ya, sendo que o ex-samurai tinha ciência de que alguns dos camponeses mais corajosos da vila o estavam seguindo a distância, com medo de que ele pudesse tentar alguma coisa. A desonra e o medo dos ronins seriam sempre seus companheiros de fato.
          A exceção talvez fossem as crianças, como Kiyoshi, que agora saltitava alegremente antes de virar mais uma vez à esquerda e sair para uma parte da vila sem casas, mais cheia de árvores e apenas com uma construção simples de madeira que possuía uma grande área na frente, com um poço e um pequeno lago. Era o templo.
          Ni~ya olhou para cima, atravessando o pequeno portal vermelho que fazia parte da entrada de qualquer santuário da religião: dois pilares de madeira sustentavam dois outros acima deles, entre os quais havia um quinto pedaço de madeira, também pintado de vermelho, na vertical. Depois de hesitar por um momento, o jovem ronin seguiu em frente, seus passos leves enquanto Kiyoshi já havia sumido para dentro da construção de madeira que avistara segundos antes.
          O bushi nem tinha chegado perto do santuário o suficiente quando uma figura relativamente baixa saiu de dentro do mesmo, os trajes brancos e folgados característicos de um sacerdote shintoísta um pouco sujos de terra. O cabelo castanho curto do outro homem estava bagunçado, encobrindo um pouco os olhos pretos escuros e amendoados que eram simplesmente dois poços de simpatia; o pequeno homem riu de alguma coisa e se voltou para trás por alguns segundos, gritando algo para dentro da construção e em seguida fitando o samurai parado a pouca distância dele.
          - Konnichiwa! Então você é Ni~ya! O ronin que salvou Kiyoshi?
          - Aparentemente sim. - ele concordou, vendo o sacerdote caminhar na sua direção, descalço - As outras crianças pareciam a ponto de bater nele.
          - E teriam feito isso, se você não estivesse por perto! - o outro concordou com a cabeça rapidamente, abrindo os braços e continuando a falar no seu ritmo acelerado - Eu digo para eles se comportarem, mas nunca funciona! Aí fui obrigado a inventar a lenda de um ronin malvado, que viria puni-los se eles continuassem se aproveitando do Kiyoshi e de outros garotos mais fracos da vila... Quando você apareceu, eles ficaram muito assustados.
          Ni~ya se encontrou sorrindo da história, embora não acreditasse que aquele fosse um procedimento muito correto para sacerdotes. Olhando rapidamente em volta, ele foi pego de surpresa quando o outro falou novamente:
          - Quer entrar e descansar? Você deve ter viajado bastante... Lá dentro não é muito chique nem confortável, mas é abrigado do vento que faz aqui de noite. Pelo menos as roupas secam rápido. - ele acrescentou, dando as costas para Ni~ya e voltando para a construção principal do templo - Estamos fazendo uma reforma no ofuro lá nos fundos, deve ficar pronto em... Alguns meses. - ele coçou a cabeça, virando a cabeça para trás enquanto continuava seu discurso - Mas tenho certeza que alguma senhora da vila deixaria que você tomasse um banho na casa delas! E ah, prazer, meu nome é Yomi.
          O ronin tentou assimilar tudo que o empolgado homem à sua frente falava, se concentrando para não escorregar também; o terreno perto do lago com carpas estava bem escorregadio e cheio de lama, o que explicava a mudança na cor das vestes do sacerdote também. Ele concordou com a cabeça.
          - Eu não pretendo incomodar ninguém na vila. Só dormir já basta.
          - Mas você não vai incomodar ninguém. Conheço umas três garotas que com certeza adorariam aquecer quanta água você quisesse para o seu banho, ou até mesmo esfregar suas costas, sabe? - ele piscou o olho para Ni~ya, que simplesmente não sabia como agir diante daquele religioso hiperativo. E não muito ortodoxo.
          - E os camponeses que estavam me seguindo? Não virão até aqui?
          - Ah, não. - o outro fez um gesto com a mão esquerda, guiando Ni~ya por um corredor até parar em frente a uma porta, correndo a mesma para o lado - Eles sempre seguem os visitantes suspeitos para terem certeza que ou virão aqui ou irão embora. Eu tenho um dom para saber quem pode e quem não pode ficar aqui, eu sinto as intenções das pessoas. E as suas são boas. - ele sorriu e indicou o quarto para o moreno - Pode colocar suas coisas aqui e...
          A voz do sacerdote morreu na garganta do mesmo, e Ni~ya deu dois passos para poder enxergar o interior do cômodo, assim como Yomi fazia. Em seguida, um pequeno sorriso surgiu no rosto do espadachim, que sacudiu a cabeça negativamente.
          - Não tem problema, Yomi-san. Vamos deixá-los aí, são apenas crianças dormindo. - observou o bushi, vendo por volta de oito crianças dormindo naquele quarto, espalhadas sobre o tatami nas mais diferentes posições. Pareciam dormir tranqüila e profundamente. Havia um lugar com lençóis desarrumados; era provável que Kiyoshi estivesse dormindo por lá também.
          - Mas eu jurava que eles tinham voltado para casa depois das histórias de ontem... - o homem mais baixo parecia desolado e ligeiramente nervoso também - Eu prometi para os pais delas que eles voltariam logo. Da última vez que isso aconteceu, eu levei uma reprimenda nada agradável.
          Pela primeira vez em muitos dias, Ni~ya riu. Parecia que sua estada ali santuário seria no mínimo divertida.

          - Ah, pronto! Veja o que acha, Edokawa-san.
          - Só Sakito, Etsuko-san. Por favor.
          - Tudo bem. Mas por favor, olhe bem e me dê sua sincera opinião a respeito desse kimono, está certo?
          O jovem herdeiro dos Edokawa foi encaminhado para um espelho grande que estava posicionado no outro canto do quarto, andando devagar por causa da roupa que vestia; ela tolhia um pouco do movimento das suas pernas. Parando na frente do espelho, o nobre sentiu seu queixo cair alguns centímetros, a figura simpática de Etsuko surgindo ao seu lado no reflexo logo depois:
          - E então?
          Sakito não era leigo em matéria de kimonos, e já tinha usado alguns festivos muito bonitos. Porém, nada se comparava àquele em especial. Era verde, começando desde a gola em um tom mediano, que clareava progressivamente até quase ficar branco na barra, onde o desenho era da margem de um rio, com algumas folhas e juncos desenhados ali. No resto do tecido, pequenos folhas e linhas de variados tons de verde enfeitavam o tecido que do contrário seria liso. As mangas do mesmo tinham o desenho da barra, mas de forma muito mais delicada e discreta. O obi na sua cintura era também verde, porém muito mais intenso, bordado com linhas em dourado, tom encontrado nos detalhes das sandálias que Etsuko havia lhe emprestado.
          O herdeiro foragido girou lentamente na frente do espelho, observando sua imagem por um tempo considerável, enquanto a irmã de Hitsugi ajeitava um lenço branco dentro do seu obi. Ainda espantando com a mudança, ele deixou que a mulher arrumasse seu cabelo, penteando-o com cuidado e depois prendendo-o com um enfeite que também tinha pedrinhas do tom do obi.
          - Etsuko-san, eu...
          - Está maravilhoso, Sakito-san. Nenhum taikomochi poderá colocar defeito algum em você!
          Ela parecia orgulhosa e contente com o seu trabalho, aproximando-se de um ainda espantado Sakito para arrumar uma mecha do seu cabelo. Nesse momento, os dois ouviram batidas na porta de leve, e a dona da casa permitiu a entrada de quem quer que fosse.
          - Etsuko-sama, Edokawa-san. Hitsugi-sama está pedindo a presença de ambos na...
          A pausa na voz do seu guardião só fez Etsuko abrir um sorriso ainda maior para o homem parado na porta, abaixando-se rapidamente e fechando uma caixa de onde havia tirado o enfeite de cabelo, colocando-a do lado do espelho:
          - Perfeito, não acha?
          - Realmente se parece com um taikomochi de primeira grandeza, Edokawa-san.
          Sakito retribuiu o comentário sincero com um sorriso ligeiramente melancólico.
          - Doumo arigatou, Yamaguchi-san. Mas são apenas roupas... Belas roupas.
          - Mas as roupas são parte integrante da vida dos taikomochis. As pessoas querem ver beleza, refinamento, cultura. O visual é muito importante para os clientes, Edokawa-san, e ficar assim dentro de um kimono é algo que muitos almejam, mas nem sempre conseguem.
          Sentindo sua face corar, Sakito apenas agradeceu com um movimento de cabeça.
          - Arigatou. Mas... Hitsugi-sama não estava esperando por nós?
          - Ah, verdade. Mas não se preocupe, meu irmão sabia que estava experimentando roupas em você. Acho que vamos precisar de kimonos novos... - Etsuko comentou quando ela e Sakito finalmente deixaram o quarto de vestir, seguindo Yamaguchi pela casa - Ou reformar alguns de Hitsugi, não sei. Você é bem mais alto que ele, ne.
          Foi nesse momento que chegaram à sala onde Hitsugi os esperava, ajoelhado no tatami com um tabuleiro de go e um shamisen ao seu lado. Sorrindo para a irmã e para o seu protegido, ele dispensou Yamaguchi silenciosamente, esperando que os outros dois se acomodassem. Com um sorriso de aprovação ao ver que Sakito mantinha a graça natural que possuía mesmo quando dentro de um kimono, ele se dirigiu brevemente à única mulher na sala:
          - Etsuko. Começo a achar que você é igual a todos os meus clientes, que zombam da minha estatura quando já beberam mais do que deveriam.
          - Ah, Hitsu. Sakito é incomparavelmente mais alto, não pode negar isso. A menos que seus olhos tenham decidido pregar peças.
          - Não, não decidiram. O que me deixa muito feliz, porque meu aprendiz parece-se de fato com um taikomochi, e dos mais bonitos. Meus parabéns, Sakayume.
          O herdeiro dos Edokawa hesitou um pouco antes de replicar, ainda estranhando seu novo nome no meio do alto entretenimento japonês.
          - Arigatou, Hitsugi-sama. - ele agradeceu, inclinando-se e fazendo uma reverência - Mas como eu disse a Etsuko-san momentos atrás, são apenas roupas.
          O famoso taikomochi observou seu pupilo por alguns segundos, antes de suspirar e retomar a conversa, colocando o tabuleiro de go um pouco de lado.
          - Sakayume-san, precisa entender uma coisa: enquanto a modéstia é uma virtude em algumas áreas, ela não o é no nosso universo. Você deve saber aceitar um elogio e valorizá-lo sempre. Os clientes pagam por hora para verem aquilo que é de fato belo, e eu não sonharia em torná-lo um aprendiz de taikomochi se não julgasse que teria o mínimo para ter sucesso nessa área. As roupas não fazem de você uma pessoa atraente, Sakayume-san; você faz de si mesmo alguém que os outros desejam.
          Sakito concordou silenciosamente com a cabeça, entendendo a veracidade das palavras de Hitsugi. A vida de taikomochis realmente dependia disso, e agora a sua também. Ele havia perdido tudo que seria seu por direito um dia, e deveria se aplicar com todo o empenho possível na sua nova profissão.
          - Eu acho que podemos começar parte do seu treinamento hoje.
          - Boa idéia, meu irmão. Vou buscar alguma coisa para beberem enquanto começam.
          Sorrindo amavelmente, Etsuko saiu da sala com os seus passos leves e delicados, a sua voz chegando fracamente aos ouvidos de Sakito e Hitsugi enquanto ela conversava com Yamaguchi na cozinha. O famoso profissional de entretenimento então virou-se para o jovem nobre, examinando-o com seus olhos perspicazes por alguns segundos.
          - Sakito-san... - o outro homem se assustou ao ouvir seu próprio nome agora - Esta é provavelmente a última vez que vou chamá-lo assim, para que você se acostume com seu novo nome. Assim como ninguém mais se dirige a mim por Mitsuo. - ele falou, causando certo espanto no jovem à sua frente. Ele não sabia se era muito comum dos taikomochis revelarem seus nomes verdadeiros - Eu quero saber de você se está realmente disposto a levar esse plano adiante. Haverão momentos em que talvez você minta para mim ou esconda a sua opinião, mas não agora; preciso saber com toda a sinceridade se você realmente deseja continuar com tudo. Se não quiser... Eu deixo você ir embora e seu segredo estará seguro comigo, Etsuko e Yamaguchi.
          O belo nobre piscou, surpreso com a oferta. No entanto, não havia o que pensar; não havia futuro algum para ele fora da casa de Hitsugi, e ele já havia decidido seguir o taikomochi que o havia salvado no dia anterior. Talvez tivesse sido o destino que o levara até a Masayume no dia em que havia perdido tudo...
          - Eu estou disposto a ir em frente, Hitsugi-san. - ele respondeu com sinceridade, fazendo uma pequena reverência - Espero não desapontá-lo.
          - Está certo. - o outro replicou com alegria, sorrindo - Vamos iniciar seu treinamento o mais rápido possível então. Até porque... Parece que um grande casamento vai acontecer, e seria a oportunidade ideal para a sua apresentação. Até lá, tenho certeza de que já saberá dançar pelo menos uma música para encantar os convidados.
          Sakito concordou com a cabeça, vendo o outro homem mais baixo mover o tabuleiro de volta para o espaço que havia entre eles, ignorando o instrumento musical que estava do seu outro lado por ora. Ainda sorrindo, ele convidou o seu pupilo a começar o jogo.
          - Vamos ver quão bom você é.
          Longe, muito longe da pequena vila de Ohira na província de Miyagi, outro jovem começava a sorrir de verdade, depois das horas mais duras da sua vida.


Continua...

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Notas finais do capítulo

Notas: 1) Para quem não quer se perder na geografia, eu coloquei alguns mapas aqui. Primeiro, um mapa com as províncias e cidades mais importantes do Japão, sendo que estamos na província número 24, Miyagi - eu comecei por lá porque o Ni~ya é natural dessa região mesmo. Agora falando especificamente de Miyagi, neste mapa com as cidades da província, vocês podem ter uma idéia de onde fica Ohira (perto da palavra "Japan"; cidade onde Yomi e Ni~ya se encontraram) e Kawasaki (cidade natal do Ni~ya na fic! Não sei a verdadeira dele), mais ao sul de Ohira e próximo de Sendai.
2) O nome "Kyoshi" é um nome masculino que quer dizer "puro, santo". Por isso a reação enfática do pequeno Kyoshi quando o Ni~ya pergunta se ele era um bom menino ou não. 3) Eu acho que não deu para visualizar muito bem o portal que todo templo shintoísta tem, ne? Em todo caso, aqui tem uma imagem desses portais típicos. Acho que minhas habilidades descritivas são meio... Nulas.
4) Shintoísmo é uma das religiões mais populares no Japão, pau a pau com budismo. Eu escolhi colocar o Yomi como um sacerdote shintoísta por causa do caráter dessa religião, que é mais voltado para a natureza, pequenas construções e os seus xamãs podem ser pessoas comuns mesmo, sem qualquer necessidade de grandes preparações e etc. Depois, os monges budistas raspam o cabelo e eu... Prefiro o Yomi com cabelo. 8D Ah, sim, ela é normalmente grafada "xintoísmo", mas eu acho feio e mantive uma forma mais "inglesa" da coisa.
5) O nome do Hitsugi, de verdade, é Mitsuo Ikari. Isso eu não inventei. Até agora, já apareceram os nomes reais do Hitsu, do Sakito e do Ni~ya.



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