O sol estava forte naquele dia. Pessoas vestidas com jalecos brancos iam de um lado para o outro, atarefadas.
  A loira se sentou na calçada, abrindo o jaleco e pegando um leque de sua bolsa.
  O calor estava insuportável.
  Mas ela estava feliz. Havia acabado de “dar alta” a um de seus mais queridos pacientes, aquele garoto loiro de sinceros olhos azuis.
  Um pensamento lhe ocorreu e ela abriu sua maleta branca, revelando remédios, ataduras e outros itens de sua profissão completamente desarrumados.
  - Preciso dar um jeito nisso – ela disse, cansada só de pensar.
  Apesar de tudo, a organização com pequenas coisas não era uma qualidade dela.
  Fechou a maleta, adiando a nada agradável tarefa, e voltando a se abanar.
  Ouviu passos e uma sombra se estendeu sobre ela.
  - Está um lindo dia, não é? – disse um homem parado ali.
  Ele tinha cabelos já grisalhos, apesar da pouca idade, e um sorriso radiante no rosto.
  - Você é médico? – ela perguntou – Não, não é – ela respondeu a própria pergunta após pensar um pouco – Nunca te vi na organização antes.
  - Ah, você está certa – ele disse – Posso me sentar?
  Ela confirmou com a cabeça e o homem sentou ao seu lado.
  - E o que faz aqui? – ela perguntou para o simpático homem.
  - Eu ando por muitos lugares – ele respondeu – Registrando informações.
  - Informações? – ela perguntou.
  - Para meus livros – respondeu o estranho – Não tenho nenhum publicado ainda, mas espero conseguir uma editora logo – ele falou, parecendo despreocupado.
  - Ah, um escritor, hein? – ela disse, interessada – Uma profissão que respeito muito. Sobre o que escreve?
  - Assuntos diversos – ele disse – Um diferente a cada livro.
  - O que está escrevendo atualmente? – ela perguntou, curiosa a respeito dele.
  - Acabei de terminar um livro – ele disse – Estou a procura de um novo assunto.
  Ela sorriu.
  - As histórias que enfrentamos em nosso trabalho renderiam um bom livro – comentou ela.
  O homem avaliou a proposta indireta por um instante.
  - Acho interessante – ele disse – A propósito, meu nome é Jiraya.
  - Tsunade – ela falou, simpática.
 
  Alguns meses haviam se passado.
  Jiraya se interessara pelas histórias de Tsunade e se empenhou em escrever um livro sobre o assunto.
  E com o tempo, idéias não foram as únicas coisas que compartilharam. Muitos bons momentos, alguns de romance e outros até mesmo de erotismo.
  Porém, não podiam se dizer apaixonados. Apenas interessados um no outro, algo que no futuro poderia se tornar, sim, um amor.
  Mas naquele dia, sua história tomou um rumo inesperado.
  A mulher acordou em sua cama, desprovida de suas vestes.
  Se espreguiçou e só então notou a ausência ao seu lado.
  Sentou-se na cama e olhou em volta. Nada no quarto indicava que ele estivera ali na noite passada. Mas estava equivocada.
  Um pequeno bilhete mostrava sua passagem por ali. Ele estava na mesa de cabeceira, com uma esferográfica azul impedindo que voasse.
  Reconheceu a caligrafia rebuscada, mas perfeitamente legível.
 
  “Querida Tsunade,

  Adorei os momentos que passamos juntos, mas agora sinto que é hora de prosseguir minhas viagens em busca de novas histórias. Porém, não pense que a esquecerei.
  Assim que conseguir publicar a obra que me ajudou a criar, a enviarei para você, quem sabe até pessoalmente, se assim o destino decidir.
  Espero então que não se mude.
  Provavelmente nos veremos outras vezes, não acho esse fato impossível, nem de longe. Aliás, tenho certeza de que voltaremos a nos ver, só não sei quando. O tempo guarda seus mistérios com sabedoria, pois estarei ansioso para nosso reencontro.
  Até lá, continue sendo a pessoa incrível que conheci, e se esforçando em seu nobre objetivo, pois lhe garanto que, deis que eu permaneça em perfeito estado mental – corrijo-me, nunca estive em perfeito estado mental, acredito que escritores necessitem de um toque de fantasia para obterem sucesso no que fazem – eu continuarei assim como me conheceu.
  Talvez mais sábio, pois o tempo nos traz valorosas experiências.
  E espero que enfrente muitos obstáculos para alcançar o sucesso, pois são eles que nos fazem crescer.
  Não pare jamais de sonhar, pois os sonhos nos impulsionam em direção aos grandes feitos, e a juventude é feita para sonhar e correr atrás disso.
  Não me esqueça, por que se isso acontecer pode ter certeza que uma hora aparecerei para lembrá-la.
 
  Atenciosamente – e com carinho-,
 
  Jiraya”

  Anos se passaram deis daquele ultimo encontro. Tsunade seguiu com sua vida, porém sem jamais se esquecer daquele homem tão interessante.
  No momento, se encontrava em uma sala climatizada, sentada em uma confortável cadeira de alguma madeira nobre.
  - Pois sinto-me feliz por saber que encontrei alguém de tão bom caráter para me suceder na direção do meu colégio – disse o senhor, já idoso, a sua frente, tomando então um longo gole de um convidativo chá-verde.
  - Lhe garanto que fez a escolha certa – disse ela.
  - Não tenho dúvidas quanto a isso – falou o homem, e então deu uma risada – Nunca estive desse lado da minha mesa, é realmente uma outra visão – falou ele, observando a mulher sentada na cadeira que um dia lhe pertenceu.
  - Senhor Sarutobi, cuidarei muito bem do colégio – ela disse – E honrarei a posição de diretora.
  - Fico feliz ao ouvir isso – ele disse – Temia não encontrar ninguém valoroso o suficiente para ocupar meu cargo. Os educadores de hoje não são como os de antigamente.
  - Só não entendi por que o senhor está se aposentando agora – ela falou – Apesar de sua idade, o senhor está muito bem de saúde, ao que aparenta.
  - Não nego suas afirmações – disse ele – Nem nego que me orgulho do modo de como dirigi esse colégio. Porém, todos os anos recebemos alunos novos e nos despedidos de outros. A escola é um lugar de renovação, e já estava na hora de o mesmo acontecer à minha posição de diretor. Será bom ter alguém jovem e com indiscutível disposição nessa cadeira.
  “Os tempos mudam, e por mais que eu me adapte as mudanças, não sou mais jovem. Preciso de alguém que não apenas se adapte, mas viva e compreenda essas mudanças.
  E no mais, estou satisfeito com meu trabalho, e acredito ter feito tudo o que podia por esse colégio, e acredito ter feito muito bem. É hora de dar a chance a alguém mais novo.”
  - Me sinto honrada em ser sucessora de alguém tão sábio – ela disse.
  O homem então se levantou, fazendo uma pequena reverencia para a mulher.
  - Estou certo que conduzirá esse colégio por caminhos novos, mais tão bons quando os que acredito ter conduzido – ele disse – Agora devo ir, tenho alguns assuntos a resolver, e então irei aproveitar meus primeiros dias como aposentado. A velhice trás mais coisas boas do que muitos acham.
  - Agradeço por tudo – disse Tsunade – Espero vê-lo novamente.
  - Eu que agradeço – ele disse, sorrindo – E espero o mesmo.

  A muito tempo me interesso pela literatura. E anos passei escrevendo obras que só vieram a ser publicadas a pouco tempo.
  Com muito trabalho, hoje sou um nome conhecido entre os autores do Japão, e me orgulho disso.
  Acredito não poder escrever uma biografia agora, pois apesar te tudo, muito pouco teria para contar. Talvez daqui a alguns anos, com mais idade e experiência, tenha conteúdo suficiente sobre mim mesmo para tal.
  Por enquanto, resumo um pouco de mim nessa dedicatória, de minha primeira grande obra.
 E a quem mais eu poderia agradecer, se não à mulher que tornou essa realização possível? A mulher que com tanto entusiasmo me contou sobre sua vida, seu trabalho e suas dificuldades?
  Não revelarei seu nome aqui por que acredito que ela mesma não queira tal reconhecimento de terceiros, e que para essa pessoa basta o fato de ter cumprido minha promessa de não a ter esquecido.
  E se esse livro chegou como planejei a suas mãos, saiba que se até hoje não nos reencontramos, há um motivo para isso. Mas continuo ansioso pelo momento em que isso acontecerá, e certo de que teremos muito o que conversar.
  Até lá, continuaremos trilhando nossos caminhos separados, pois acredito totalmente que nos encontrarmos somente por alguns meses é sem significado, e que voltaremos a nos ver quando for a hora certa.
  Com muito carinho, daquele que jamais te esqueceu.

Muito Obrigado, T.

  A mulher terminou de ler a página. Então, quem diria que ele realmente faria o que tinha prometido? Fechou o livro, pois o sono já lhe alcançava e o dia seguinte seria cheio.
 Mais estaria com energia redobrada, pois agora tinha certeza que voltaria a se encontrar com aquele homem que tanto a encantara.
  Aquele homem que tanto falava em destino.
  O que havia, de fato, o destino planejado para eles?