Quando acabei de ler a carta as minhas pernas fracassaram. Tive que me apoiar no móvel de entrada para não cair. Tremia dos pés à cabeça e estava com um ar chocado. Pensava que o acidente da Amber tinha sido apenas um acidente, nada mais. Pensei que o motorista tinha fugido com medo das consequências mas nunca pensei que tinha sido propositado. Nunca pensei que tivesse sido a Maria. Eu sentia que ela estava a preparar algo, e passei noites em claro com medo disso e agora o meu medo tornou-se real. Os dias que a Amber esteve no hospital, foram os piores dias da minha vida. Tive tanto medo de perde-la e agora sabia que isso tinha sido culpa da Maria. Apoiei-me mais no móvel para não cair. Cada vez tremia mais e não me sustentava nas minhas pernas. Abria a boca várias vezes mas não saía som nenhum. Acabei por deixar cair o candeeiro que estava em cima do móvel de entrada. Continuei parada a fitar a carta e a apoiar-me no móvel.

- Alice? – Chamou o Jasper. – Alice, o que foi isso? – Disse calmamente entrando no hall de entrada. – Alice! O que se passa? – Perguntou ele alarmado. Eu abria a boca, eu queria explicar mas as palavras não me saiam da boca. Estiquei o meu braço e ele tirou-me a folha da mão e começou a ler. Eu continuava a tremer, eu não conseguia parar, estava além de mim. Quando o Jasper acabou de ler a carta, pôs a carta de lado e abraçou-me. Encostei a minha cabeça ao peito dela. – Alice, acalma-te.

- Tenho medo… - Consegui dizer.

- Eu sei. Estás a tremer tanto, Alice. Acalma-te, por favor. – Suplicou ele. Tentei acalmar nos braços dele. Abracei-o com mais força. Aos poucos fui acalmando. Já não tremia mas ainda estava uma pilha de nervos e com medo.

- Estou bem… - Disse.

- Alice, eu sei que não estás. – Disse ele acariciando a minha bochecha.

- Vou ficar. – Garanti. E ia mas quando é que não sabia. Fui ter com a Amber e a Liv à sala. Precisava de estar com elas. Precisava de as ter perto de mim. Elas e o Jasper eram a minha vida. Só de pensar que algo mais poderia acontecer a algum deles, já me dava vontade de chorar e havia um aperto no meu coração. Fiquei o resto da tarde a ver televisão com elas. Por volta das seis e meia, o Jasper convenceu-me a ir a casa da Esme. Eu queria ficar em casa com eles os três mas iria fazer-me bem ir lá. Ia-me distrair um pouco.

Quando lá chegámos, a Amber e a Liv foram logo ter com o Ray e a Amy, que já estavam a brincar no quarto onde estavam os brinquedos. Eu sentei-me no sofá, completamente aluada. A carta da Maria não me saía da cabeça. Estava com tanto medo, com o que ela pudesse fazer a seguir. Eu ouvia os outros a falar animadamente, mas não estava a prestar atenção, eu não me conseguia concentrar em mais nada, sem ser na Maria.

- Alice? – Ouvi a voz da Rose de fundo. – Alice?

- Sim? – Respondi.

- O que se passa? Estás completamente aérea!

- Vamos para o teu quarto. – Não queria falar à frente de todos, provavelmente choraria e não queria que todos vissem. Ela acenou com a cabeça e fomos de seguida para o quarto dela.

- Então o que se passa? – Perguntou preocupada.

- Hoje, recebi uma carta da Maria a dizer que tinha atropelado a Amber de propósito. – Disse. Percebi que ela ficou chocada. Ela sabia que a Maria era louca mas nunca pensou que ela fosse tão louca, ao ponto de atropelar alguém de propósito. – Estou com tanto medo, que ela faça mais alguma coisa! – Disse à beira do choro. – Eu não quero, que lhes aconteça algo. Eles são a minha vida. – Disse já a chorar. Ela veio abraçar-me.

- Shh! Tem calma! Vai tudo correr bem. O Jasper não vai deixar que mais algo deste tipo aconteça. Nem ele nem eu, nem o resto da família. Todos vos amamos e queremos o vosso bem. Ela não vai conseguir mais nada. – Disse ela para me reconfortar. A maior parte daquilo era verdade e eu sabia-o mas o meu medo era irracional, eu não conseguia controlá-lo. Limpei as lágrimas e tentei acalmar para descer. Estava na hora de irmos jantar e já tinha ouvido a Esme a chamar. Quando me recompus, desci com a Rose. Comi em silêncio e depois o Jasper percebeu que eu não estava muito bem, então fomos para casa mais cedo.

Em casa, tive a brincar com a Liv e com a Amber até ser hora de elas irem para a cama. Quando percebi que elas já estavam cansadas, fui deitá-las. Fui pôr a Liv no berço, enquanto a Amber vestia o pijama e lavava os dentes. A Liv estava cansada. Só fechava os olhinhos inconscientemente mas mesmo assim teimava comigo que não queria ir para a cama e que não queria dormir.

- Querida, estás cansada. Amanhã, brincas mais! – Disse-lhe, escondendo o meu sorriso de divertimento.

- Não quewo domi! Não ‘tou cansada. – Disse ela fazendo biquinho.

- Eu sei que estás cansada. – Disse-lhe. – Vá, a mãe canta até tu adormeceres. – Cantar uma canção de embalar quando ela não queria dormir mas estava cansada, resultava sempre. Ela sempre adormecia. Aconcheguei-a ao meu colo e comecei-lhe a cantar baixinho ao ouvido. Como sempre, cinco minutos depois de começar a cantar, ela adormeceu. Coloquei-a no berço e tapei-a um pouco. Ela agarrou-se logo ao seu peluche e continuou a dormir. Saí do quarto dele e encostei a porta para ela não ver claridade. Depois fui ver da Amber. Ela já estava deitada na cama, com a luz da mesa-de-cabeceira acesa, à minha espera. Quando ela me viu sorriu.

- A Liv não queria dormir? – Perguntou ela ainda sorrindo.

- Não. – Disse rindo um pouco. – Sabes como ela é, princesinha.

- Pois sei. – Disse ela sorrindo. Ela aconchegou-se na cama e eu tapei-a melhor. Dei-lhe um beijo na testa.

- Dorme bem, princesinha. Se precisares de algo, chama. – Disse-lhe.

- Dorme bem também, mamã. Amo-te.

- Também te amo. – Disse sorrindo. Saí do quarto da Amber e também encostei a porta, quando cheguei ao meu quarto, deparei-me com o Jasper deitado na cama, ferrado a dormir. Tapei-o e beijei-lhe a bochecha. Depois fui à casa de banho, vesti o meu pijama e lavei os dentes, indo de seguida para a cama. Não estava com sono nenhum e era à noite que o meu medo se intensificava mais. Comecei às voltas na cama, como sempre acontecia quando pensava na Maria. Fiquei assim a noite toda. Mal consegui fechar os olhos. Tinha um medo enorme. Levantei-me e fui ver como é que a Liv e a Amber estavam. Ainda dormiam profundamente e o Jasper também. Lembrava-me do que o Jasper me tinha dito, quando eu comecei a ter estas noites em claro. Ele disse-me para eu o acordar. Mas eu não conseguia. Ele estava a dormir tão profundamente, que não conseguia acordá-lo. Fui para a sala, e sentei-me no sofá. Não queria acordar o Jasper com a minha inquietação na cama. Eram cinco da manhã, quando oiço passos no corredor. Deviam ser do Jasper. Ele deve ter acordado e visto que eu não estava na cama.

- Alice? – Perguntou ele baixinho para não acordar as meninas.

- Sim? – Perguntei.

- Porque não estás na cama? – Perguntou ele preocupado.

- Não consigo dormir. – Desabafei.

- Anda cá. – Chamou-me ele. Levantei-me do sofá e fui ter com ele. Ele abraçou-me e beijou-me a testa. – Podias ter-me acordado. – Disse ele.

- Não consegui, estavas tão bem a dormir. – Disse-lhe.

- Mas Alice, tu tens de dormir. Não podes passar noites em claro.

- Eu sei. – Disse tristemente. – Mas eu não consegui. Eu andava às voltas na cama. Não conseguia deixar o meu medo de lado. – Desabafei.

- Anda. Vais ter de tentar. Eu estou aqui contigo. Não vou deixar que aconteça mais nada. Eu não quero que vos aconteça mais alguma coisa. E não quero que fiques doente. - Não disse mais nada. Segui-o até ao quarto e deitei-me com ele na cama. Aconcheguei-me nele e ele começou a acariciar as minhas costas. Sabia que estava exausta. – Tenta dormir. Eu estou aqui. – Disse ele ao meu ouvido. Passado um bom tempo, acabei por adormecer, num sono sem sonhos.