Mil e Dois Dias em Cilindra escrita por Okendo


Capítulo 8
8: Teioh Karr e o Porão


Notas iniciais do capítulo

Uhul, tamo de volta!



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Ué? Quando eu cheguei aqui? Aliás, onde é aqui? Iluminação precária, infiltrações e mofo nas paredes, um rato e umas aranhas passeando calmamente como se estivessem em casa (e provavelmente, estão!)...



Isso é um porão? Que estranho, o que eu estaria fazendo num porão? Eu não gosto de porões, ou de lugares escuros em geral. Prefiro campos abertos sob o céu azul. É, eu gosto da grama...



Ah sim, aqui é o Teioh. O Yoseph... eu sei lá o que ele está fazendo agora. Não deve ser agradável, pelo que eu já ouvi e vi dele...





Na Mansão Dempsei, a Karina rapidamente pulou para longe do irmão...



- Yoseph! - *BANG!*

- Yoseph! - *BEHR!*

- Yoseph! - *BENG! E abraço*



- Vocês não sabem cumprimentar as pessoas direito?! - o elfo reclama ao invés de se importar com os dois tiros que misteriosamente ricochetearam e rasparam sua perna. - E quem tá me abraçando?! Ah, oi Sara.



*Creck*

Um barulho de copo rachando sob intensa pressão de mãos raivosas. Um barulho que Yoseph conhecia bem como sinal de perigo...



- Haha... Oi Mari!



- Yoyo... - Yoseph ficou branco quando viu a aura maligna atrás da recém-saída do banho ainda de toalha que veio ver o porque da bagunça...



Alice, a pirata pistoleira e atual Madame Dempsei (mesmo que não gostasse de realmente ficar administrando tudo aquilo), riu vendo a situação. Em seguida, sentiu um toque de saudades enquanto tomava seu uísque.



- Saudades do elfo? - Sender Dempsei, Psi, pra quem conhece, perguntou à esposa.



- É, se fosse ele, aquele tiro ia com certeza acertar a perna e não pegar de raspão... Me pergunto o que será que ele está fazendo agora... - os dois imediatamente pararam e pensaram "deve estar se ferrando ou levando tiro na perna" com um pequeno sorriso.



- Deve estar perdido em algum buraco. - Karina disse surgindo do nada e provocando a reação costumeira dos dois, duas tentativas de tiro que teriam acertado lugares vitais em qualquer um que não tivesse passado a infância inteira vendo aquelas reações. Nela, foi apenas uma raspada na testa. - Ei!



- Não apareça assim atrás de nós, Karina! Isso é feio! (e burro!)



- Haha, perdão tia Alice... eu esqueço as vezes... - ela ficou quieta alguns instantes sob os olhos vermelhos daquela que era sua madrinha. Karina tinha um ligeiro medo dela, justamente por a conhecer bem e saber do que ela era capaz. - Ahn, não seria bom nós separarmos essa brincadeira antes que ela fique fora de mão?



- Por quê? Não estão nem atirando direito (ou seja, pra matar) ainda! - *BANG!* Um tiro passou perigosamente perto do chapéu dela - Ok, você pega seu irmão, eu pego a Sara e o Psi chama o médico... Sofia, segure a Marina! Vamos todos ter uma “conversinha”... Ela sacou duas shotguns...





Você pode estar meio confuso agora, mas eu realmente vou narrar um pouco em terceira pessoa. Bom, terceira pessoa do SEU ponto de vista. Eu sou um narrador. Em Cilindra, nós realmente existimos. Onde há uma história a ser contada, há um narrador observando e escrevendo num dos Livros de Madras. Assim, podemos manter um registro da história do mundo. Todas as histórias do mundo.



É um trabalho honrado, importante, interminável, chato e não-remunerado! Desgraça... Pelo menos eu não sou o coitado que compila tudo depois! Ele sofre...





Teioh estava com um problema. Ele estava num porão. SEU porão, por sinal. Mas ele estava trancado lá e sem a chave. Por algum motivo misterioso e provavelmente ruim, o porão tinha uma porta reforçada de aço ou algo parecido e ele já desistira de tentar abri-la a força. Um pouco depois de machucar o ombro...



Uma pessoa normal com certeza teria achado estranho uma casa com uma porta reforçada de ferro com uma grande facilidade de emperrar e teria pensado duas vezes antes de alugar a casa. Teioh (seus pais passavam a ele dinheiro todo mês e um monte de liberdade e abandono o tempo todo) achou que o desconto do aluguel valia mais do que as, ahn, partes duvidosas da casa...



Agora ele se irritava com os ratos e aranhas (outra coisa que provavelmente ajudou a diminuir o aluguel). Estas ficavam fazendo teias elaboradas perto dele e aqueles pareciam interessados em trazer-lhe... coisas.



- Parem com isso, desgraça! - ele gritou enquanto tentava chutar os ratos e destruir as teias. - Vocês estão me irritando! - os pequenos animais pararam e foram se esconder num canto, tremendo de medo. Teioh olhou curioso. Eles estavam... obedecendo?



- Haha, dando ordens a ratos e aranhas? Como você decaiu, “Teioh”... - uma voz feminina cutucou ele.



- Quem está aí? - o agora meio assustado jovem levantou, erguendo a cabeça como se isto fosse ajudá-lo a achar a origem da voz. - Ninguém está aí... Eu só estou falando sozinho... Será que eu estou ficando louco por causa da situação atual?



- Não, não. Você não está ficando louco, mas você ESTÁ falando sozinho. - a voz feminina veio novamente. Desta vez, Teioh não se assustou.



- Quem é você? - ele perguntou, sério.



- Você não consegue responder sozinho? - ela falou. Ele conseguia quase ver um sorriso que seguiria esta frase antes... antes de quê? Ele... lembrou alguma coisa? Aliás, ele tinha esquecido alguma coisa?



- Ainda não se lembra? Talvez você precise de mais uma ajudinha... - como se estivessem aguardando ansiosamente aquelas palavras, várias imagens, sons, memórias fluiram para ele num rápido turbilhão. Foi ligeiramente... doloroso.

- V-Você... VOCÊ me colocou aqui! - ele apontou acusadoramente para o nada.

- Não era bem o que eu queria que você lembrasse... - a voz reclamou sozinha um pouco - Oh bem, acho que não era pra ser tão fácil assim, né? Seria meio fácil demais se você simplesmente lembrasse tudo logo de cara...



- Me tire daqui, sua voz horrível! - não houve resposta - Ei!É sério, me tire daqui! Você... Eu estou falando sozinho de novo, né... - um dos ratos colocou a pata na ponta do joelho dele, simpatizando com a situação - O quê você está olhando?! Dá o fora!



Os pequenos animais que haviam se aproximado enquanto ele estava distraído fugiram de volta para seu canto escuro.



- Francamente... Tudo que eu quero é sair daqui... - ele disse enquanto sentava-se novamente no seu cantinho...



Nessa hora, um dos ratos levantou suas orelhas. Ele parecia um rato normal, mas ele sempre foi um rato diferente, especial. Não se contentava em apenas roer umas roupas aqui, uns livros ali e uns restos de comida acolá, vivendo uma vida de medo e fuga. Não, ele precisava de mais, muito mais. Ele queria aventuras e um objetivo e um papel principal num filme de animação qualquer em que ratos são extremamente mais fofos do que jamais foram na vida real.



E, portanto, Raul, o rato, aceitou o desafio e partiu da sala onde todos os ratos estavam para o andar de cima. Ignorando os avisos do rato sábio velho, ele tomou um caminho perigoso através dos canos de água aquecida, afastou a temida aranha caolha com seu palito de dente sagrado e finalmente chegou à sala principal da casa, onde já podia ver a porta de metal emperrada.



Disseram para ele que era impossível abrir a porta. Quem disse? Ora, a Física. Acredite em mim, um rato de não mais que alguns centímetros de altura não ia ter sucesso onde basicamente qualquer ser humano falhou. Mas ele tentou. E perdeu um pedaço do dente nessa. Com suas últimas forças, Raul mordeu, gritando “Se a porta não vai se mover, então A PAREDE vai!!!!”. E então descobriu que a parede era bem dura.



É, parece que Teioh não vai sair de lá tão cedo...





Ao mesmo tempo, na AVE.



Os poucos alunos ainda presentes sentiram medo. Uma pessoa famosa estava visitando a Academia: um mago, meio que necromante, meio que do bem, Rallen. Amaldiçoado como uma das pessoas com inteligência e bom senso em Cilindra, onde isso não é exatamente a coisa mais comum do mundo...



O medo vinha da aparência dele, roupas pretas de necromante, e da aura de poder que ele emanava. Na verdade, a aura estava ali apenas porque ele achava divertido assustar os alunos...



De qualquer jeito, depois de um tempo desnecessariamente longo, ele chegou no seu objetivo: a sala do diretor.



- Zuuz? - ele perguntou enquanto entrava. Normalmente, o zumbi/diretor/professor (sim, ele tinha bastante trabalho, só não cumpria tudo mesmo...) deixava fácil de saber se ele estava presente, tocando ou ouvindo música num volume monstruoso para pessoas vivas. Dessa vez, estava quieto.



- Pode entrar, Rallen. - Zuuz parou de comer, justificando o porquê do silêncio. - Eu agradeço por você vir visitar numa hora dessas.

- Não se preocupe - o mago disse enquanto se sentava - É um assunto importante afinal. - ele tomou uma pausa e cruzou as mãos na frente do rosto, um gesto que costumava fazer quando pensava ou falava de coisas mais sérias. - É ele, não? Aquele que o oráculo previu que chegaria.

- Sim. - o zumbi respondeu simplesmente.

- E você quer que eu dê uma olhada nele? Para ter certeza? - Zuuz apenas ficou quieto, como se estivesse ponderando o curso de ação - Ou talvez você prefira que eu adote a ideia do elfo?

- Você acha que funcionaria?

- Por que não? Aqui é Cilindra, meu amigo. Coisas estranhas acontecem todos os dias, todo o tempo. É só dar uma olhada no espelho se você precisa de um exemplo. Ou você sai pra caçar pessoas e falar “cééérebrosss” quando não estamos olhando? Apenas deixe o curso seguir. - Rallen sorriu - ou então...

- Ou então?

- Ou então, eu tenho uma ideia. Uma ótima ideia, mas que vai causar muita revolta entre algumas pessoas...

- O quê, exatamente?

- Ora, Zuuz, apenas reativar uma antiga atividade extra curricular da AVE... Mas para tanto, a classe U onde nosso pequeno protegido está precisará de mais membros.

- Mais membros? - o zumbi arregalou os olhos (ele tem pálpebras, ok) - Hahaahaha! Saquei meu colega, saquei. É uma ótima ideia mesmo! Só espero que ninguém chore...


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