Na Ponta dos Pés escrita por Maybe Shine, Bibiana CD


Capítulo 2
Uma ruiva no telhado


Notas iniciais do capítulo

Esperamos que tenha ficado legal, e engraçadinho, rs. :B



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Toda a manha acordo e vou como um zumbi até o banheiro, escovo os dentes que nem um zumbi escovaria caso os zumbis escovassem os dentes, ou tivessem dentes para escovar. Tento lavar o rosto para desgrudas os olhos e forçá-los a olhar para o espelho. Mas ou menos depois disse vou até a cozinha, como se fosse sonâmbulo. Pego a caixa de cereais e os derramo na xícara cheia de leite que meu pai deixa sobre a mesa. Depois disse vem a pescaria. As vezes a pescaria me acorda, mas só quando fica difícil puxar do mar de leite as bolinhas de chocolate, ou os flocos de milho, porque as vezes meu pai erra e compra flocos de milho. Eu não gosto de flocos de milho. Gosto de bolinhas de chocolate. Mas como ainda estou meio dormindo não reparo nessas coisas  desnecessárias.

- Isso é tão desnecessário – pai meu disse naquela manha chuvosa de sábado, olhando carrancudo para mim.

- É tipo um esporte.

- Um esporte?

- É – levantei a colher – isso é uma colher. É super fácil, você mergulha a colher  e tenta pegar apenas uma bolinha. Se vierem duas já era, perdeu. Tem que ser só uma. Por isso não gosto de flocos de milho, eles não são bolinhas. São flocos.

Eu estava dizendo, mas meu pai já havia saído. Normalmente ele faz isso. Me ignora, quero dizer. E por mim tudo bem, não é todo tipo de pessoa que tem uma mente aberta para cereais e todas as suas vantagens.

 

Quando sai não estava mais chovendo, o que era muito bom, pois meu pai já disse que não leva filho dele para aula de ballet.

- Coisa de menina.

Isso é mais ou menos o que ele sempre fala, mas mesmo que fale essas coisas sempre vai nas apresentações de fim de ano me ver dançar. E ele fica com a maior cara de orgulho.

- É meu filho, é meu filho.

Mas é claro que quando chega alguém e diz algo como “ seu filho parece um pássaro voando de tão suave que se movimenta pelo palco, é tão delicado, tão delicado!” daí ele fica roxo. Ou meio avermelhado se não for verão. Ele faz umas caretas e resmunga baixinho.

- Não é meu filho, não é meu filho. Não pode ser!

Mas já superei legal tudo isso. Não tem nada a ver, no fundo sei que ele me ama. Pode ser bem no fundo, assim, mais pra baixo, bem lá no cantinho, mais, mais, isso, lá... enfim, de qualquer modo ele me ama.

Pelo menos é o que minha mãe diz.

Mas onde eu estava? Certo, estava falando de ir para a aula.

Lá estava eu. Saltitando para a aula de ballet. Sei que isso soa muito gay, mas eu estava saltitando mesmo. Qual é? Só quem é gay pode saltitar agora? Nada disso, eu saltito.

Mas então, estava  lá saltitando. Eu tinha que aprender a fazer o maldito saltinho antes de chegar na academia de dança. E pode acreditar, o salto não era nada fácil.

 

Já era bem de tardezinha. Lembro que o céu estava todo laranja, e que parecia que não iria chover mais. Eu estava saindo da aula de dança cansado, uma mochila pendurada em um ombro e o cabelo insistindo em grudar na testa. Depois da aula sempre vou até o prédio baixinho que é o escritório da Academia de Artes. Minha mãe quase sempre esta por lá, conversando com os outros professores.

Quando me aproximei vi uma sombra estranha em cima do escritório. E quando eu digo em cima quer dizer no telhado.

Apertei os olhos. O sol estava bem atrás, despejando tanta luz que até doía olhar. Mas de repente o borrão escuro começou a se mexer.

Pensei em um monte de coisa na hora.

Coisas que pensei:

- É o monstro do Lago Ness!

- Chamem o Dean e o Sam!

- Só pode ser um buraco negro surgindo bem encima do escritório.

- Se fosse o mostro do Lago Ness, então eu deveria estar perto do Lago Ness.

Mas era apenas uma garota, super sem graça. Ela se sentou no telhado, as pernas balançando quase me chutaram no meio da testa.

E vou te contar, dei um pulo para trás quando aquele all star imundo veio se aproximando dos meus olhos.

Sério, quase gritei.

Mas depois gritei mesmo. Foi quando uma coisa dura bateu com força no meu ombro, depois outra no meio da minha barriga, na minha testa. Eu estava sendo baleado!

Tá, não é pra tanto. Eram apenas cascalhos que a garota ruiva estava jogando em mim. Pois é, e ela ainda era ruiva, com uma cara de poucos amigos e um sorrisinho diabólico.

Daí ela me encarou e jogou de novo um daqueles malditos cascalhos. Comecei a olhar em volta, a procura de qualquer coisa que pudesse jogar de volta na garota. Mas parecia que todas-as-coisas-que-podem-ser-jogadas-em-uma-pirralha-ruiva-irritante estavam se escondendo de mim. Ela riu ao perceber isto. Fiquei furioso e lhe joguei a primeira coisa que encontrei. Quase gritei ao ver minha sapatilha voando pelo ar e se debatendo contra ela.

-Ai! Me joga de volta! É a minha sapatilha, vai, joga. –  implorei, gesticulando com  mão para o caso dela não entender o que eu dizia.

-Por que eu devolveria? – ela perguntou, enquanto jogava minha sapatilha de uma mão para a outra.

-Por que ela é minha?

-Quê? A sapatilha é sua? Ah, para! você dança ballet... – ela ria da minha cara.

-Da para devolver logo? – ela balançou a cabeça negativamente, enquanto parecia segurar o riso.

-Se quer tanto, vem pegar, bailarina. – ela falou no intuito de me provocar, e conseguiu .

-Diferente de você não sou um delinquente juvenil, que fica subindo em telhados!

-Que foi, a bailarina está com medo de cair do telhado? Tá com medinho, né?

-Não estou não.

-Então prove!

Sai andando pesado enquanto ela ria mais e mais, peguei impulso na janela e subi no telhado.

 As telhas rangiam com o meu peso somado com o dela. A garota se levantou num salto e começou a andar para longe de mim. A segui, mas parei assim que os vi do outro lado do telhado. Só que eles não estavam em cima do telhado. Estavam no chão. Entenderam, né? Acho que sim.

-O que está acontecendo? – Perguntei confuso. Lá em baixo, do outro lado do telhado, você sabe, não no telhado, lá em baixo. Dois caras grandalhões estavam de costas para nós, enquanto conversavam com a vice diretora da Academia, a Sra. Anderson com aquela sua juba de leão, que a fazia parecer a Marilyn Monroe idosa. Vocês sabem quem é a Marilyn Monroe, né? É aquela loira oxigenada que... que... ah, vocês sabem.

-Vocês dois tem que parecerem bem convincentes. – ela dizia, enquanto os grandalhões assentiam. – Agora vão, rápido, enquanto ainda tem bastante gente por aqui!

A vice diretora falava enquanto batia palmas, como se estivesse falando com cachorros.

Os dois que tinham toucas pretas nas cabeças entraram em um carro preto e saíram cantando pneu. Não que os pneus cantassem alguma coisa, eles faziam aquele barulho irritante. Nunca entendi porque está expressão, por que cantando? Tem gente que canta bem melhor e os carinhas do Ídolos acabam com eles, não que eu assista Ídolos... Mas acho que eu estava contando algo mas importante mesmo.

Eles saíram no carro preto, deram a volta na Academia de Artes. Do mesmo modo bruto que aceleraram o carro o pararam, os dois de touca preta saíram e pegaram a diretora Marple que estava por ali, bem em frente a porta da Academia de Artes com mais um monte de alunos, a jogaram para dentro do veiculo e antes que qualquer um pudesse tentar impedi-los foram embora.

A Sra. Marple havia sido sequestrada.


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Notas finais do capítulo

Merecemos Reviews?