Continuei forçando o skate a avançar. A chuva vinha daquele céu cinzento com tanta força que pensei que fosse cair no chão ali mesmo. Mas estava decidida. Continuei a empurrar o skate, continuei a avançar por aquela rua, continuei porque a Usina do Gasômetro estava cada vez mais próxima. Agora só faltava um pouquinho, bem pouquinho.

Minhas lágrimas se confundiam com as gotas de chuva. Meu rosto estava encharcado. Meu peito estava tão apertado que não sei como ainda conseguia seguir em frente.

Tudo não passava de borrões. Manchas grotescas e escuras. A minha frente, as minhas costas. E meu coração continuava a tamborilar. Doía. E quanto mais doía mais  lágrimas queriam sair ao mesmo tempo, mais e mais  eu queria chegar logo.

Atirei o skate contra a parede. Subi correndo todas aquelas escadas.

 Agora tudo estava quebrado. Haviam pisoteado em todas as coisas que tive e que ainda queria ter. Existiam tantas manchas, tantas manchas! Todas eram de um vermelho vivo e por mais que eu tentasse, jamais conseguiria apagá-las.

Quando cheguei lá em cima ri. Ri de um jeito que soou tão nervoso que me perguntei se não estaria enlouquecendo.

Dei mais um passo, mais um passo, outro. Passei minhas pernas por cima da grade, fiquei de costas para ela. De frente para a paisagem lá fora. As mãos doíam, por aguentarem todo meu peso. Meu coração doía, por aguentar tudo.

Abri os olhos e o vi. Correndo lá em baixo. O único que não era apenas um borrão.

Não consegui distinguir, pois meus olhos estavam embaçados e ele longe. Mas soube que seus olhos de prata liquida estavam fitando os meus.

Pisquei, e foi o suficiente para ele sumir.

Olhei lá para baixo. Deixei o vento secar as lágrimas. Só mais um passinho, só um impulso, só mais um segundo e tudo vai acabar. E a dor no peito vai ter que ir embora.

Fiquei na ponta dos pés.