Destinys Play escrita por Bella P


Capítulo 2
Capítulo 1




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Capítulo 1

 

Kaylee abriu os olhos com dificuldade, sendo cumprimentada pela fraca claridade que passava pelas janelas da enfermaria naquele início de manhã. Franziu as sobrancelhas escuras, sentindo a cabeça latejar somente com este gesto. Um bipe chamou a sua atenção e ela mirou os olhos castanhos claros no aparelho ao lado de sua cama que media a frequência dos batimentos de seu coração, junto com o balão de oxigênio que mandava ar puro para os seus pulmões. Com isto inspirou profundamente tentando compreender porque estava em um hospital.

Inspirou mais uma vez, buscando forças dentro do seu corpo e apoiou as palmas na beirada do colchão, erguendo-se lentamente no mesmo e pondo-se sentada. Com cuidado retirou o tubo de oxigênio preso ao seu nariz e depois desligou o balão no qual o mesmo estava conectado. Ainda com gestos vagarosos girou sobre a cama e com as pernas trêmulas pisou com os pés descalços no chão frio, abrindo levemente a cortina divisória entre as camas e avaliando o ambiente ao seu redor.

Estava em uma enfermaria infantil, o que a ajudava e muito.

Na cama ao lado da sua havia um garoto dormindo conectado a aparelhos e sobre um banco perto do leito dele estava uma mochila. Sorte. Sem hesitar pegou a mochila e a revirou, retirando de dentro da mesma um par de calças, camisa, casaco e meias. As jogou sobre a sua cama e depois viu que havia um par de tênis perto da mesma cadeira. Furtiva o recolheu enquanto deixava a mochila no mesmo local que a encontrou.

Em gestos lentos por causa da dor que se espalhava em seu corpo, Kaylee vestiu as calças que ficavam compridas em suas pernas e largas na cintura, caindo de seus quadris. A camisa também dançava em seu corpo assim como o casaco com capuz, o qual usou para esconder os cabelos escuros e cacheados. Os tênis sobravam nos pés e ela teve que ajustá-los apertando bem os cadarços e quando deu-se por satisfeita em seu disfarce, colocou a última parte do plano em prática.

Metódica e sem hesitar desligou os aparelhos de monitoramento, arrancou todos os fios que estavam conectados em seu corpo e desenterrou a seringa do IV de sua veia. Depois disto foi até a cama do seu “companheiro” de enfermaria e embrenhou-se no pouco espaço sob a mesma que esta oferecia segundos antes das enfermeiras, afoitas por causa do alarme que deve ter soado em sua estação, entrar na mesma.

- Avise ao Dr. Cabot e a segurança! - ordenou uma delas enquanto saiam às pressas do local a procura da paciente fugitiva. Kaylee esperou o som dos passos sumirem ao final do corredor para assim sair de seu esconderijo e foi até a janela da enfermaria, abrindo a mesma. Mais uma vez estava com sorte. A ala onde estava localizava-se no térreo. Com um simples sentar no parapeito e girar de pernas colocou-se fora do hospital.

Quando pisou nas ruas de Chicago prontamente o vento frio da manhã a cumprimentou, o que a fez fechar mais o casaco em torno de seu corpo magro e encolher-se sob o tecido, enfiando as mãos no bolso do mesmo. O seu estômago roncou de fome e a ferida em seu pescoço latejou, o que a fez levar uma das mãos a ela, franzindo as sobrancelhas ao tentar se recordar melhor do que acontecera.

Era tarde, tinha saído da loja tarde e assim que girara a chave na porta o que sentiu foi um tranco contra o seu corpo e algo a derrubando no chão lhe tirando todo o ar. E então veio a dor. Algo a mordera e em seguida uma queimação horrível se fez presente. Lembrava de ter, em meio a confusão, ouvido algo semelhante a rosnados e talvez ter visto uma briga entre alguma coisa enorme e peluda e outra extremamente pálida, mas talvez fosse a dor lancinante que tivesse lhe causando ilusões. E então veio um turbilhão de incompreensão e quando acordou estava no hospital.

- Ei! - perdida em pensamentos, não percebeu quando ao passar pela entrada de um beco alguém a segurou pelo braço e isto a fez soltar um grito que prontamente foi abafado por uma mão grande sobre a sua boca. Seus olhos claros ficaram largos ao mirarem o homem enorme na sua frente e um arrepio desceu pela sua espinha. - Deveria estar no hospital. - os olhos escuros do estranho emitiam um brilho nada feliz e a expressão dele era de repreensão.

Kaylee sugou o ar pelo nariz, empalidecendo pouco a pouco. O sujeito era praticamente um armário e não parecia nada contente. O aperto em seu braço era firme e a mão sobre a sua boca era quente, mesmo que o vento frio da manhã não fosse nada caridoso e o desconhecido estivesse usando uma camisa sem mangas como se vivesse no verão da Califórnia.

- Me desculpe. - pediu o estranho depois de alguns segundos ao ver que a garota em seus braços parecia aterrorizada. - Vou soltá-la, mas não grite. - Kaylee franziu as sobrancelhas. Não gritar. Isso ela até não faria porque era inútil. Gritar nunca surtia efeito, sempre assustava as pessoas em vez de conseguir ajuda. Mas ao menos ela poderia sair correndo. Com um aceno positivo de cabeça a jovem concordou com ele e o homem a soltou lentamente. Assim que se viu livre a garota recuou um passo e antes que ele pudesse dizer alguma coisa virou sobre os pés pronta para dar o fora dali.

No entanto, não foi muito longe, pois um braço forte a envolveu pela barriga e a manteve estática no lugar. Ele a puxou em um único gesto contra o corpo maior, como se ela fosse uma simples boneca de pano que não pesasse nada, e a adolescente retesou-se toda.

- Também não é para fugir. - falou em um tom baixo perto do ouvido dela.

- Então é para fazer o quê? - finalmente conseguiu fazer a sua voz funcionar.

- Ficar parada seria uma boa pedida.

- Eu estou parada. Não nota? - uma risada rouca soou perto de sua orelha.

- Vamos tentar de novo. Vou te soltar e você não vai tentar nada. Certo? - segundos de hesitação vieram da parte de Kaylee.

- Certo. - respondeu por fim e pouco a pouco o braço foi afrouxando em torno da cintura dela, a soltando em seguida. Quando a garota viu-se livre, afastou-se alguns passos do desconhecido mas desta vez não bateu em retirada, apenas recostou-se na parede oposta do beco e o ficou mirando com curiosidade.

- Melhor assim. Agora podemos começar de novo. Por que não está no hospital?

- Do que está falando?

- Do hospital. De onde você veio.

- Como sabe que vim de lá?

- Acabou de confirmar.

- Grande coisa. Eu recebi alta.

- Não recebeu. Acabou de amanhecer, deu entrada ontem à noite com hemorragia intensa. Sofreu transfusão. O médico disse que ficaria ao menos umas quarenta e oito horas em observação. Então o que faz aqui?

- Como sabe disso tudo? Trabalha no hospital?

- Não.

- Então? - o homem rolou os olhos escuros.

- Fui eu que a socorri noite passada. - Kaylee estreitou os olhos.

- Me socorreu?

- Não, eu não te ataquei e não, não vi o que te atacou. Mas a polícia está investigando. - por alguma razão ela tinha a sensação de que ele estava mentindo.

- E quem é você?

- Um amigo. - a menina rolou os olhos.

- Não acha que está faltando... sei lá, o uniforme azul e vermelho de aranha ou a capa vermelha e a cueca por cima das calças? - zombou e ele riu.

- Deveria voltar para o hospital.

- E você deveria voltar para o buraco de onde surgiu. - deu meia volta para partir e desta vez não foi impedida por ele, pelo contrário, o sujeito resolveu segui-la em vez de segurá-la. - Isso é crime caso não saiba! - alertou em um tom contrariado.

- O que é crime?

- Seguir os outros.

- Não a estou seguindo. Acontece de estarmos indo para o mesmo lado. - disse displicente, dando de ombros e Kaylee rolou os olhos, tomando o caminho do metrô que ainda não estava abarrotado com a usual movimentação matinal e passou direto pelas cabines de venda de passagens, indo até as catracas e pulando as mesmas, sendo imitada pelo rapaz.

- O que você está fazendo?

- Garantindo que você não vá desmaiar por anemia aguda. Você perdeu sangue demais e eu me surpreendo de ainda não ter tido um troço no meio da rua.

- Você mesmo disse que eu sofri uma transfusão. Acho que é para isso que serve este maravilhoso procedimento inventado pelos humanos, para garantir que eu não tenha um troço.

- Mesmo assim... - as sobrancelhas negras ficaram franzidas. Mesmo assim era tudo muito estranho. Aquela garota era muito estranha. Nada no histórico dela batia.

- O quê? - a pergunta foi abafada pela chegada escandalosa do trem e o sibilo das portas automáticas se abrindo.

Ambos entraram na locomotiva em silêncio, com a garota acomodando-se em um assento e o homem parando em frente a ela, apoiando-se em uma barra de metal com os braços cruzados sobre o peito de maneira displicente. Somente nesta hora que Kaylee permitiu que seus olhos amendoados avaliassem melhor o sujeito na sua frente, começando desde os tênis gastos e subindo pelas pernas grossas, passando pela bermuda com a bainha desfiada e chegando a camisa justa sobre o torso largo e de músculos definidos e que eram marcados pelo tecido fino. Engoliu em seco, observando a pele morena que combinava com os cabelos negros e curtos e os olhos intensos e de mesma cor.

- Sabe... Eu nunca captei o seu nome. - ele perguntou.

- Talvez porque eu nunca disse? - um sorriso largo surgiu no rosto bonito, o que fez Kaylee reparar que o desconhecido possuía uma fileira de dentes brancos perfeitos, além de lábios bem convidativos. Piscou, sacudindo de leve a cabeça. O sujeito aparentava ter mais de vinte e um anos, o que em todos os estados do país e internacionalmente era completamente ilegal qualquer envolvimento ou pensamento de envolvimento entre os dois.

- E então? Qual o seu nome?

- Kaylee Whitaker.

- Jacob Black. - Jacob estendeu uma mão para ela que hesitou, olhando para o membro oferecido por alguns segundos antes de recebê-lo e surpreender-se mais uma vez em como a pele era estranhamente quente mesmo sob o clima ameno de Chicago.

- Então... Jacob. Agora que nos conhecemos... Talvez eu devesse agradecer por ter me salvado.

- Seria um bom começo.

- Obrigada.

- E agora que nos conhecemos eu tenho que insistir que volte ao hospital. - Kaylee rolou os olhos.

- Eu sei que você tem que bancar o adulto maduro e coisa e tal, mas eu pediria que parasse com isso. Não tem tamanha autoridade para fazer isto com a minha vida visto que nos conhecemos apenas há uns vinte minutos.

- Eu diria umas dezoito horas.

- O tempo que passei apagada não conta.

- E o que quer dizer com adulto?

- Você e toda a sua pose de “me ouça porque eu tenho idade para entrar em um bar e ficar doidão e você não” não cola e não me convence. - resmungou e Jacob piscou os olhos antes de começar a gargalhar. - Qual a graça? Não lembro de ter contado nenhuma piada.

- Você acha que sou maior de vinte um. - Kaylee somente percorreu os olhos de cima a baixo pelo corpo dele, indicando que com aquele tamanho, não dava menos para ele. - Eu tenho dezessete anos. - o queixo da menina caiu.

- Você está de sacanagem comigo.

- Não.

- Se é menor de idade por que insiste que eu volte àquele maldito hospital? Sabe o rolo burocrático que aquilo vai dar? E além do mais eu estou legal! - o alto falante do metrô soou anunciando a próxima estação e Kaylee ergueu-se em um pulo, sentindo a cabeça ficar mais leve e a visão escurecer por breves segundos, a fazendo cambalear sobre as pernas.

- Claro, está ótima. - Jacob a segurou pelos ombros antes que ela fosse de cara no chão.

- Eu só levantei rápido demais.

- Ou ainda não tem sangue o suficiente para ir para o cérebro e oxigená-lo da maneira correta. Pois se tivesse não estaria fazendo esta burrada.

- Estou rolando de rir. - resmungou enquanto era amparada pelo rapaz e guiada ao longo da estação até chegar as ruas de Chicago.

- Pra que lado? - Kaylee apontou para a esquerda e eles seguiram caminho em silêncio, virando esquinas, passando por cruzamentos, até saírem da balbúrdia da zona urbana e chegarem a áreas mais residenciais e encontrarem-se em uma larga rua com casas germinadas de pequenos jardins e cercas de ferro.

- É aqui. - a jovem falou, indicando uma casa cujo jardim era enfeitado por gnomos coloridos e a varanda possuía vários amuletos, guizos e outros enfeites diretamente saídos dos anos setenta. - A minha tia... Er... Ela é meio... Você vai ver. - deu de ombros, recolhendo de sob o tapete de boas vindas uma pequena chave e abrindo a porta, adentrando a casa e convidando Jacob para segui-la. O normal era não convidar um estranho para o lar, mas o rapaz, curiosamente, lhe inspirava confiança. Sem contar que estava devendo a ele.

- Interessante. - comentou o nativo ao olhar ao seu redor e reparar toda a decoração exotérica que o ambiente possuía. Cristais, tecidos coloridos, velas aromáticas, pirâmides e outros badulaques estavam espalhados ao longo da sala, corredor e outros cômodos.

- Tia Winifred? - a menina chamou e um grito veio de dentro da casa.

- Na cozinha querida! - Kaylee seguiu em direção à cozinha com Jacob a acompanhando de perto e lá ambos encontraram uma mulher de longos cabelos castanhos com uma mecha branca na franja, olhos amendoados, que usava uma longa saia colorida e bata igualmente estampada enquanto possuía vários livros abertos sobre a mesa e uma panela fervendo sobre o fogão.

- Tia Winnie... O que a senhora está fazendo? - Kaylee perguntou com um tom hesitante quando reconheceu um grande tomo sobre a velha mesa da cozinha.

- Oh querida. Achei que você iria precisar de uma infusão depois de tudo o que aconteceu.

- Tudo o que aconteceu?

- Os velhos espíritos me disseram querida.

- Tia Winnie. - Kaylee rolou os olhos, indo até a geladeira da cozinha e vendo que na mesma havia um cartão preso. - Os espíritos ou a polícia te disse?

- Ambos. - a mulher ergueu os olhos de um dos livros e os mesmos repousaram em Jacob. - Oh... eles também disseram sobre isto. - ela deu um sorriso misterioso para ele. - Bem vindo rapaz. - estendeu uma mão para ele. - Winifred Whitaker.

- Jacob Black. - apresentou-se, apertando a mão da mulher e surpreendeu-se quando a mesma o puxou com força para perto de dela e virou a sua palma para cima, traçando com a ponta de um dedo as linhas na mesma.

- Oh... Sim Sr. Black, eu vejo. O toque do destino. - o mirou com uma expressão enigmática e depois lançou um olhar para Kaylee que agora tinha aberto a geladeira e procurava algo para comer dentro dela.

- O quê?

- Não ligue para as sandices de uma velha doida. - Winifred fechou os dedos dele em um punho e lhe devolveu a mão. - Agora! Estou fazendo meu famoso mingau de baunilha e chocolate. Quem vai querer?

- Opa! - Kaylee saiu de dentro da geladeira.

- Lee querida, ponha a mesa! Jacob, espero que goste de mingau.

- Hã? Mas... Eu não quero incomodar.

- Bobagem querido. Incomodo algum! - e deu as costas para ele, indo mexer o mingau e encerrando o assunto, deixando Jacob ainda mais confuso. Se Kaylee era estranha, a tia dela era mais esquisita ainda.


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