Através dos Seus Olhos escrita por ReLane_Cullen


Capítulo 34
Vidros Quebrados


Notas iniciais do capítulo

Demorou mas chegou :) Eu não vou falar muita coisa porque não quero comentar nada sobre o capítulo, mas ficarei ansiosamente aguardando a fanfic de vocês. Muito obrigada por continuarem lendo e esperando. Feliz dia das Mães e até o próximo capítulo!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/82969/chapter/34

Capítulo 34- Vidros Quebrados

[EPOV]

Os dias se arrastavam e uma sequência de eventos parecia se repetir. Eu chegava à escola, os burburinhos começavam, eu participava das aulas, ia almoçar - tudo isso com os olhos de todos cravados em minhas costas. Eu pensava que depois de algum tempo as pessoas perderiam o interesse, mas depois de tanto tempo longe, eu ainda seria assunto por um bom tempo.

Apesar do falatório, o horário do almoço era a hora em que eu me sentia mais a vontade. Angela e Ben passaram a se sentar junto comigo, Emmett e Rose. Angela era a única pessoa na sala que eu costumava cumprimentar e eu não me arrependia disso. Ela era uma ótima pessoa, e seu namorado Ben também não ficava atrás.

Tanya também nos acompanhava na maioria dos dias. Aos poucos eu conseguia ver nela aquela mesma garota de anos atrás - aquela que se tornou minha amiga e por quem depois me apaixonei. Talvez durante todo aquele tempo eu a tivesse julgado mal. Eu não havia sido uma pessoa muito fácil e Tanya sempre foi do tipo sensível; o meu comportamento deve tê-la magoado tremendamente. Ela realmente era uma boa pessoa e ao ver os olhares que ela me lançava todos os dias eu me sentia a pior pessoa do planeta por ser incapaz de corresponder àquela expectativa.

E eu nunca seria. Não mais.

Caminhei pelo corredor, tentando ignorar as vozes e os olhares na minha direção, ao mesmo tempo em que buscava entender como eu conseguia ser assunto por tantas semanas. Eu não sabia o que elas falavam, eu só sabia que falavam. Encostado ao meu armário, lá estava a última pessoa que eu gostaria de ver na face da Terra - e era uma pena que ele fazia parte da minha turma.

“E aí, ceguinho! Até agora nada?” Ele perguntou com um sorriso debochado.

“Com licença.” Pedi, mantendo meu rosto impassível.

“Não acredito que você vai sair sem dizer nada.” Ele provocou ao notar o meu movimento.

“Eu não quero perder o meu tempo.” Respondi como se estivesse dizendo a coisa mais óbvia de todas.

“Falta de argumentos.” Ele acusou. Em seus olhos eu podia ver o desejo que ele tinha de me ver perder o controle. Mas eu não seria uma marionete naquele show.

“Não. Apenas não quero perder meu tempo com você.” Disse decidido.

“Você sabe que ela não vai voltar. Ainda mais agora que seu irmão foi para lá.” Ele sorriu insinuante. "Você sabia que eles se beijaram? Imagine as coisas que eles devem estar fazendo sozinhos naquela casa." Ele deu uma risada e eu tive que respirar fundo para não perder o controle.

Eu não deixaria que ele me descontrolasse; eu precisava manter em mente que o que eu conhecia era realmente a verdade.

"O sinal tocou."

"Você sabe que ela estava com você só por pena, não sabe? Agora que você está curado não tem mais motivo pra ela estar aqui." Ele disse, finalmente liberando o caminho para o meu armário.

"Eu não sou a Alice. Você vai ter que se esforçar um pouco mais nas suas mentiras." Disse antes que ele saísse dali.

Peguei o meu material e fui para a classe. Durante a aula não pude deixar de evitar que minha mente questionasse o que James havia dito. Eu não acreditava no que ele estava dizendo, mas qualquer mortal na minha situação consideraria os 'e se'.

E se... Bella realmente tivesse ficado comigo só por pena? Ela sempre fazia o possível e o impossível para ajudar as pessoas, logo, aquela não era uma ideia tão infundada.

E se... Ela e Jasper tivessem se apaixonado? Sentimentos mudam e estar em um relacionamento não é nenhuma garantia de amor eterno. E se eles se apaixonaram no meio do caminho? Ou quem sabe estivessem se apaixonando naquele exato momento?

Tudo era uma questão de tempo até tudo ser resolvido. James era perito em plantar dúvidas plausíveis na mente das pessoas e, enquanto eu não pudesse voar até Phoenix, eu precisaria manter minha mente livre de suas influências.

"Oi." Tanya me cumprimentou assim que sentei em nossa habitual mesa de almoço.

"Como foi a aula?" Perguntei educadamente.

"Foi legal. E a sua?" Ela sorriu, fazendo-me sorrir de volta.

"Também."

"Você já sabe quando vai voltar ao médico?" Ela perguntou.

"Daqui a duas semanas. Finalmente é a última consulta." Bem, aquela não seria minha última consulta, pois precisaria fazer exames periódicos a cada seis meses. Mas aquela etapa de cicatrização dos transplantes estava chegando ao fim.

"Fico feliz."

"Quando eu voltar, serei apenas um nerd de óculos." Tanya sorriu. Anos atrás aquele era seu apelido preferido para me provocar.

"Nerds são legais." Ela tentou amenizar. "Você vai fazer alguma coisa hoje à noite?"

"Não."

"Que tal irmos ao cinema?" Ela perguntou e eu estanquei por um momento, incerto de que resposta dar. Se Rosalie estivesse ali com certeza me daria um soco apenas por estar cogitando aquele programa, por outro lado, eu precisava recomeçar minha vida social. E porque não com Tanya?

"Parece ser uma boa ideia. Algum filme em mente?" Perguntei.

"Nenhum. Desde que não seja nenhum filme do Tarantinino ou do Alley, não tenho nenhuma objeção." Ela declarou. Tentei não pensar em uma determinada morena que havia largado seu encontro e assistira Pulp Fiction comigo sem qualquer objeção.

"Que eu saiba não está passando nenhum filme do Tarantino ou do Allen nos cinemas." Usei o meu melhor sorriso enquanto corrigia aqueles erros.

"Menos mal." Ela sorriu sem graça. "Passo na sua casa as oito?"

"Perfeito." Concordei, ao mesmo momento em que Rose e Emmett chegavam à mesa. Emmett nos cumprimentou entusiasticamente, enquanto Rosalie murmurou um cumprimento por entre os dentes. Ainda era difícil para ela aceitar essa minha reaproximação com a Tanya. De todas as pessoas, ela era a que havia ficado mais magoada com a atitude que Tanya teve anos atrás. E para a Rose, segundas chances eram quase impossíveis. Ela não destratava Tanya, mas também não fazia qualquer movimento para uma reaproximação. Rose era assim e eu não a julgava. Ela sabia o que era melhor para ela.

Depois da aula, tive que ficar perambulando pelos corredores da escola esperando por Emmett, que estava ensaiando para alguma peça. Ele havia pedido para esperá-lo na sala de música, mas aquela sala estava carregada de lembranças demais para que eu ficasse ali sozinho. Explorar corredores vazios era bem mais saudável. Eu sabia aquela planta de cor e literalmente podia andar por ali de olhos fechados. Resolvi explorar os outros andares, coisa que eu não fazia havia muito tempo. O silêncio poderia parecer amedrontador para alguns, mas depois de tanto falatório, para mim seria reconfortante.

"O que é isso?" Uma voz conhecida se fez ouvir e eu parei de caminhar. "Por que você ainda tem essa foto no seu celular?" James perguntou indignado.

"James, me devolve isso!" Alice pediu.

"Você é idiota ou o quê?" Ele vociferou. "O cara está lá comendo a sua ex- melhor amiga e você ainda tem uma foto dele no celular? Eu tentei ser paciente, mas..." Tentei me aproximar mais da porta, mas eu tinha receio de que aquilo pudesse denunciar a minha presença.

"James?"

"Eu não aguento mais. Já esperei muito tempo." A voz dele ficava cada vez mais baixa, mas ainda era possível ouvir.

"James, me solta." Alice implorou. "O que você vai fazer?"

"Pegar o que deveria ter sido meu há muito tempo." Ele ameaçou. Fiquei ali parado sem saber o que fazer. Eu precisava impedir aquilo. Mas se eu entrasse ali e brigasse com o James os danos ao meu transplante poderiam ser irreversíveis. Eu ainda estava no meu período de cicatrização, eu não podia jogar tudo aquilo fora... Mas ao mesmo tempo aquela era a Alice. E ela estava em uma situação pela qual ninguém deveria ter que passar.

"Não, James." Alice pediu; a voz dela saía com dificuldade.

"Você nunca deveria ter vindo para Chicago. Nós éramos perfeitos juntos."

"Por favor..." O pedido dela foi abafado pelo arrastar das mesas.

"Eu deveria ter sido o primeiro... O único." Eu não podia ver o rosto dele, mas a sua voz deixava transparecer uma dose de ódio e até mesmo de desespero.

"Não, James." Alice reclamou novamente. Eu precisava fazer alguma coisa. Eu nunca me perdoaria se algo acontecesse à Alice. Ela não vinha agindo da melhor forma comigo, mas foi ela quem ficou do meu lado quando eu mais precisei. Foi ela quem não desistiu de mim. Foi ela, que de certa forma, colocou Bella no meu caminho.

"Você é minha, Alice, e é hora de você entender isso."

"Me solta." Ela tentava se esquivar, desesperada. Ouvi mais uma vez o arrastar de mesas e o barulho de alguém se debatendo. Eu precisava entrar. Alice valia o risco. Peguei meu celular e mandei uma mensagem para Emmett.

Sala 216. Urgente.

Só esperava que ele lesse a mensagem e chegasse ali antes que eu acabasse brigando com James.

"Você ouviu a Alice." Esbravejei, entrando na sala. Ela estava deitada em uma das mesas, se debatendo, enquanto James tentava imobilizá-la. A blusa que ela usava já estava num estado deplorável, mas mesmo assim ela persistia em resistir.

"Olha só quem resolveu aparecer." James sorriu para mim. Um sorriso que eu só podia descrever como doentio.

"Deixa a Alice em paz." Ordenei. O susto estampado no rosto de Alice estava acabando comigo.

"Se manda daqui, isso não tem nada a ver com você." Ele avisou.

"Tem mais a ver comigo do que você imagina." Rebati. James havia arruinado a vida de pessoas importantes para mim, e se a minha visão era o preço que eu teria que pagar para me livrar dele, eu não hesitaria mais nem um momento.

"Vai ser um prazer te dar uma surra e depois voltar para a Alice." Ele sorriu, se distanciando dela e vindo em minha direção.

"Espero que eu não tenha chegado tarde demais para a festa." Emmett falou atrás de mim.

"Não se garante?" James perguntou para mim.

"Eu me garanto. Só não quis estragar uma coisa importante na minha vida por sua causa." Olhei-o com desprezo.

"Edward, tira a Alice daqui." Emmett pediu, enquanto ele segurava James pela camisa.

"Vem, Ali." Cheguei até ela que ainda permanecia paralisada em cima da mesa. Peguei Alice no colo e levei-a para fora da sala. "Você está bem?" Perguntei para ela, que apenas assentiu com a cabeça. A essa altura as lágrimas já rolavam soltas. "Shh, está tudo bem agora." Tentei acalmá-la, afagando seus cabelos. "Nós vamos levar você para casa, está bem?" Novamente, ela apenas assentiu.

Retirei o meu casaco e coloquei em volta dela, para esconder o estrago em sua blusa. Durante todo o caminho até o estacionamento, Alice permanecia grudada a mim, com seu rosto enterrado em minha camisa. Ficamos parados em silêncio, aguardando Emmett aparecer. Cerca de meia hora depois, ele reaparece sem nenhum arranhão.

"O... O... O q-que aconteceu com ele?" Alice perguntou baixinho, mal olhando na direção do Emmett.

"Eu contei o caso para o diretor. Eles vão chamar a polícia. É provável que eles te procurem mais tarde." Ele avisou, tentando ser o mais dócil possível. Só quem realmente o conhecia podia ver o esforço que Emmett estava fazendo para não demonstrar toda a sua raiva.

"Vamos embora." Decidi.

"Eu posso ficar na sua casa?" Alice pediu, olhando-me por baixo das pálpebras. Diferente de outras garotas aquilo não era um truque. Era apenas o gesto de uma garota fragilizada que não conseguia me encarar diretamente.

"Claro que pode." Sorri reconfortante. "O seu quarto continua do mesmo jeito."

O trajeto até em casa ocorreu no mais absoluto silêncio, ninguém ousou dizer uma palavra. Diziam que o silêncio valia ouro, naquele momento esse ditado se fazia verdade.

"Oi meninos." Minha mãe cumprimentou com um sorriso assim que Emmett entrou, mas sua feição logo mudou quando me viu entrar com Alice. "Meu Deus, Alice o que aconteceu?"

"Depois eu explico, mãe." Sorri para ela.

"Eu vou ligar para a Rose." Emmett sussurrou para mim.

"Pede para ela não aparecer por aqui agora" Eu não sabia qual seria a reação de Rosalie ao acontecido, e Alice precisava evitar qualquer estresse emocional naquele momento.

"Pode deixar."

Deixei Emmett encarregado de contar tudo a minha mãe e de avisar Rose do acontecido, enquanto eu levava Alice para o seu quarto. Ela sentou-se na cama e ficou olhando tudo ao redor. Fazia tanto tempo que eu não a via ali.

Alice precisava ouvir algumas verdades, isso eu não tinha dúvidas. Mas aquela não era a hora. Ela já estava tendo sua cota de sofrimento por suas decisões tolas.

"Você precisa de alguma coisa?" Perguntei.

"Eu estou bem. Você pode ligar para os meus pais?" Ela pediu.

"Claro."

"Obrigada." Alice sorriu e eu saí do quarto.

Quando cheguei até a sala, o rosto da minha mãe denunciava que ela já sabia de tudo.

"A polícia ligou, vão querer um depoimento da Alice pela manhã." Emmett informou. "James vai permanecer em custódia até que os fatos sejam apurados."

"Eu vou ligar para o seu pai; Alice vai precisar de um calmante essa noite." Minha mãe ponderou, levantando-se do sofá. "E depois eu vou ligar para o Charlie e ver se os policiais não podem interrogá-la aqui em casa, não tem necessidade de a arrastarem para a delegacia no estado em que ela se encontra."

"É uma boa ideia." Emmett concordou.

"Eu vou ver se ela precisa de alguma coisa." Minha mãe avisou, saindo da sala.

"Droga," Exclamei ao olhar o relógio. "Tanya vai chegar aqui em uma hora."

"Tanya?" Emmett arqueou uma sobrancelha.

"Nós marcamos de ir ao cinema." Respondi naturalmente.

"Então você já decidiu?" Ele perguntou, referindo-se à carta que Bella havia deixado.

"Não é nada disso. Não é questão de decisão." Respondi. "Apenas vou ao cinema com uma amiga."

"Então você continua namorando a Bella?" Ele perguntou, fazendo questão de enfatizar seu ponto por fazer aspas no ar.

"Estou." Respondi sem vacilar.

"E o que você acha que a Bella acharia desse encontro?" Emmett cruzou os braços e me encarou.

"Isso não é um encontro." Revirei os olhos. Eu esperaria aquele interrogatório vindo da Rose, mas não dele. "Ela é só minha amiga."

"Do seu ponto de vista ela é só sua amiga. Mas e do dela?" Ele perguntou. "Eu não morro de amores pela Tanya, mas se você continuar aceitando os convites, ela vai achar que você quer algo mais." Revirei os olhos mais uma vez. "Se ela disse para a Bella que ainda ama você, eu não duvidaria disso. Eu acho até legal que você tenha perdoado o que a Tanya aprontou e esteja querendo reviver a amizade, mas eu aposto o meu cofrinho do Flash - que eu tenho desde os doze anos - que ela espera de você algo muito além da amizade." Suspirei. No fundo eu sabia que Emmett estava certo. Às vezes Tanya me lançava uns olhares, uns sorrisos e se portava de uma maneira que transcendia a amizade.

"Você pode estar certo." Admiti meio contrariado. Eu estava tão focado em retomar minha boa relação com a Tanya, que acabei me esquecendo do que Bella tinha me dito meses atrás. "Você não vai contar isso para a Rose, vai?"

"Não."

"Obrigado." Sorri para ele. Emmett era o melhor amigo que alguém poderia ter.

Tanya chegou às oito horas em ponto. Eu havia pensado em desmarcar o encontro devido ao acontecimento com a Alice, mas Emmett me convenceu do contrário. Quando antes eu acabasse com isso seria melhor. Palavras dele.

O filme escolhido por ela havia sido uma comédia romântica, leve o suficiente para me fazer esquecer o drama daquela tarde. Durante o filme, Tanya se aconchegou em mim e sorriu sedutoramente, esperando que eu fizesse o próximo movimento. Emmett estava certo, eu precisava acabar com aquilo.

Após o filme, resolvemos ir para uma lanchonete próxima ao cinema.

"O que você achou do filme?" Ela perguntou.

"Interessante."

"Sabe, semana que vem vai ter uma festa lá na casa da Ashley e eu queria muito que você fosse." Tanya convidou. Aquela era a deixa que eu precisava.

"Tanya..."

"Por favor, eu quero muito que você vá." Ela insistiu.

"Tanya, não me leve a mal, mas eu não posso dar o que você quer." Disse seriamente.

"Eu não estou pedindo nada." Ela sorriu.

"Eu amo outra pessoa."

"Ela foi embora." Tanya acusou e eu a encarei, incrédulo.

"Assim como você anos atrás." Devolvi a acusação.

"Eu era imatura. Você não pode me condenar por um erro do passado."

"E você também não pode esperar que eu não leve em conta o que aconteceu nos últimos quatro anos." Suspirei. Eu não podia perder o controle. "Você me deixou quando eu estava mais vulnerável. Bella foi embora quando ela estava mais vulnerável. Consegue perceber a diferença?"

"Edward, eu já te pedi desculpas." Ela insistiu. Eu já podia ver o brilho de lágrimas se acumulando em seus olhos.

"E eu te desculpei." Garanti. "Eu entendo que você era muito jovem, mas o nosso tempo passou. Eu amo a Bella e eu não vou desistir tão facilmente."

"Ela é uma garota de sorte." Ela sorriu fracamente.

"Não, eu que sou um cara de sorte."

[BPOV]

Eu já estava lendo a mesma página pela décima quinta vez. Ultimamente, meus tempos livres eram raros e muito mal aproveitados. Enquanto Jasper não estava trabalhando na cafeteria ao final da rua, eu dividia meu tempo entre ele e minha mãe. Enquanto ele estava no trabalho, eu tentava fazer as minhas coisas, mas tudo o que eu fazia era relembrar alguma conversar anterior que havíamos tido. Parecia que havíamos feito um acordo tácito de convencer um ao outro a voltar para Chicago, mas sem pronunciar as palavras exatas.

"Um segundo." Gritei ao ouvir a campainha. Larguei o livro e nem me preocupei em marcar a página. Teria que reler tudo mesmo. "Jake." Disse surpresa, ele era a última pessoa que eu esperava ver ali.

"Você ainda lembra o meu nome?" Ele sorriu sarcástico.

"Claro." Respondi sem graça.

"Você sabe que eu ainda moro no fim dessa rua, né?" Pelo visto hoje seria o dia das indiretas bem diretas dele.

"Jake, o que é isso?" Perguntei, sem paciência para qualquer outra piadinha.

"Eu que pergunto. Era mais fácil falar com você quando você estava em Chicago do que agora que moramos na mesma rua." Ele apontou.

"Eu ando meio ocupada." Menti, mesmo sabendo que ele podia enxergar o óbvio.

"Você está me evitando." Ele me acusou.

"Eu não..."

"Você vai mentir para mim?" Jacob arqueou uma sobrancelha. "Você acha que eu não sei o que está acontecendo? Que você não vai mais voltar para Chicago?"

"Como você sabe?" Perguntei. Embora tivesse uma ligeira ideia de onde tinha sido.

"Ao contrário de você, eu ligo para as pessoas." Ele atacou. "Bella, o que deu em você para fugir da felicidade?"

"Eu tenho meus motivos." E não estava disposta a revelá-los para ele naquele momento. Jacob não tinha o direito de bater à minha porta e querer saber os motivos das minhas ações.

"Seus medos e inseguranças infundados?"

"Resolveu bancar a minha consciência?" Cruzei os braços, desafiando-o.

"Não. Só estou bancando o amigo." Ele sorriu um meio sorriso triste.

"Desculpa." Pedi num sussurro.

"Bella, você precisa parar de se esconder. Eu sei que sua mãe precisa de você, mas você usou a doença dela como a desculpa perfeita para deixar que seus medos tomassem conta de você." Ele suspirou e continuou com o seu discurso. "E daí se tem uma garota a fim do seu namorado? Isso não é o fim do mundo."

"Mas, a questão é se ele ficar com ela."

"Se ele ficar, é porque ele nunca te amou de verdade e é um verdadeiro merda que nunca mereceu você."

"Não fala assim dele!" Defendi. Jacob não tinha o direito de falar assim com o Edward.

"Bella, se você recua na batalha o adversário avança. Se você se retira, ele ganha."

"Eu não quero mais lutar." Suspirei. Eu já não tinha mais forças.

"Então deixe que lutem por você."

"O que você quer dizer com isso?" Perguntei confusa.

"Você vai saber." Ele respondeu sorrindo de uma forma que deixava óbvio que ele havia pensado em algo.

Agora que minha leitura havia sido arruinada de vez, decidi sair um pouco de casa. Minha mãe estava dormindo e se eu ficasse em casa minha mente ia começar a questionar certas coisas, e eu não estava com humor para qualquer introspecção.

Decidi ir para o café onde Jasper trabalhava. Ele estava no balcão atendendo uma cliente e eu fiquei observando por um momento. Seria tão fácil, pensei. Eu poderia me apaixonar por ele sem muito esforço. Nós tínhamos muita coisa em comum e obviamente existia alguma química entre nós. Poderíamos ficar aqui e construir nossas vidas em Phoenix. Seria tão fácil. E então, quando ele finalmente me pedisse em casamento, e ambos fôssemos obrigados a encarar o que deixamos para trás, tudo desmoronaria. Porque eu tinha certeza que tudo o que eu sinto pelo Edward afloraria no instante que eu o visse.

Uma vida em Phoenix até poderia ser fácil, mas nunca seria a ideal para mim. Disso eu tinha certeza.

"Hey" Sorri, assim que Jasper me viu.

"Hey, qual o seu pedido senhorita?" Ele perguntou, forçando um tom formal.

"O de sempre." Sorri. "É hora do seu intervalo?" Jasper apenas meneou a cabeça em resposta. Assim que ele terminou de preparar meu Cappuccino, fomos para o pequeno parque que tinha ali perto.

"O que aconteceu?" Ele perguntou. Eu já não me surpreendia mais com aquilo, ele e Edward tinham o poder de ir além do óbvio, quando se tratava de mim.

"Jacob apareceu lá em casa e me disse algumas coisas." Encolhi os ombros.

"Ele te chateou?" Jasper, perguntou preocupado.

"Não, só disse coisas que eu precisava ouvir." Desviei o meu olhar do dele. “Como era o namoro do Edward com a Tanya?"

"Como o de qualquer adolescente de catorze anos." Ele respondeu.

"Eu não namorei quando tinha essa idade então eu não sei." Senti o meu rosto corar. Admitir minha falta de experiência não era das melhores.

"Eles ficavam em casa, às vezes iam ao shopping ou a alguma lanchonete. Outas vezes ao cinema. Coisas normais."

"Hum." Murmurei. "Isso parece divertido." Sorri. "Acho que desde que eu conheci o seu irmão parece que o peso do mundo está nas minhas costas."

"Você não precisa carregar tudo sozinha." Ele me encorajou. "Eu estou pensando em voltar para Chicago. Que tal você vir comigo?" Arregalei os meus olhos ao ouvir aquele convite. Eu esperava algo daquele tipo, mas não tão cedo.

"A minha mãe..." Tentei arranjar uma desculpa, mas ele me cortou.

"Eu sei, eu iria esperar até ela ter o bebê."

"E-Eu não sei." Respondi. Voltar? Será que eu já estaria preparada?

"O meu intervalo acabou. Até mais." Jasper se levantou do banco. "Pense sobre o assunto," Ele beijou minha testa e saiu.

Fui caminhando para casa. As falas de Jacob e Jasper se misturavam na minha cabeça. Jacob dizia para eu lutar, ou permitir que alguém lutasse por mim. E Jasper me pedia para voltar. Será que era isso que ele queria dizer? Que eu fosse com Jasper de volta para Chicago?

Entrei em casa e constatei que estava no mesmo silêncio de quando eu saí. Aquilo não era muito normal. Minha mãe não dormia tanto assim.

"Mãe, cheguei." Gritei, mas ela não respondeu. "Mãe?" Fui chamando, enquanto caminhava para seu quarto. "Mãe?" Chamei mais uma vez antes de abria a porta. "Oh, meu Deus!" Foi tudo o que eu consegui dizer diante a cena que eu via. Minha mãe estava deitada, e havia uma gigante poça de sangue embaixo dela. Olhei para o rosto pálido dela, mas não conseguia agir. Eu parecia ter ficado estancada ali na porta. Tudo o que eu consegui fazer foi pegar meu celular e discar alguns números. "Jasper, minha mãe. Tem muito sangue aqui. Vem rápido." Minha voz saiu mais desesperada do que eu achei que fosse. Menos de cinco minutos ele já estava ali ao meu lado.

"Eu liguei para a emergência. Eles já estão a caminho." Ele informou. Fomos instruídos a não mexer na minha mãe até que a equipe de médicos chegasse, já que não sabíamos ao certo o que estava acontecendo. Eu sabia que eles estavam certos, mas ficar ali sentada, com aquele sentimento de impotência não fazia bem a ninguém.

Os paramédicos não demoraram a chegar, mas nem por isso a espera foi menos excruciante. Eles colocaram minha mãe em uma ambulância e a levaram para o hospital mais próximo. Jasper e eu seguimos de carro.

A espera em casa não foi nada se comparada àquela que enfrentei no hospital. Eu já havia perdido a conta de quanto tempo eu estava ali sentada, olhando para o nada. Os médicos entraram com a minha mãe no pronto socorro, e apenas pediram que eu aguardasse. E era isso o que eu estava fazendo... Por incontáveis horas.

"Quando eu era pequena eu costumava ir para o meu quarto e chorar quietinha quando alguma coisa me aborrecia." Resolvi quebrar o silêncio entre mim e Jasper. "Até mesmo na adolescência eu fazia isso. Eu achava que assim eu estava poupando minha mãe de um sofrimento desnecessário. Eu achava que eu tinha que ser a forte e encarar tudo sozinha, mas..." Uma lágrima teimosa rolou o meu rosto. "... Eu não sou forte." Admiti, sentindo outras lágrimas caindo. "Eu estou com medo."

"Vai ficar tudo bem, você vai ver." Jasper me abraçou, fazendo com que meu choro aumentasse ainda mais.

"Eu não posso perdê-la." Disse, enfiando meu rosto em sua camisa.

"Você não vai. Confia em mim." Ele garantiu, apertando ainda mais seu braço ao meu redor.

De alguma forma, eu acabei adormecendo. Acho que estava tão cansada mentalmente, que nem mesmo a minha preocupação e desespero me fizeram ficar acordada. Alguém me sacudiu lentamente e então abri os olhos. Pisquei algumas vezes para ajustar minha visão à luz e então eu pude perceber que uma pessoa de jaleco branco estava a minha frente.

"Oi." Disse para o médico, ainda desconcertada com o meu sono.

"A cirurgia já acabou. Parabéns, você ganhou uma irmãzinha muito linda." Ele sorriu, positivo.

"E a minha mãe?" Eu não conseguiria ficar feliz pela minha irmã, enquanto eu não soubesse que minha mãe estava fora de perigo.

"Está estável, mas ainda não sabemos as condições dela." Aquela era a única explicação que ele me deu. Pensei em exigir mais respostas, mas estava claro que aquele médico não iria me falar nada além do que tinha sido dito.

"Onde fica o berçário?" Perguntei.

"Logo ali." O médico apontou o corredor.

No berçário havia quatro bebês, mas eu não conseguia identificar qual deles era a minha irmã. Eles pareciam tão iguais para mim.

"Qual dessas é ela?" Jasper perguntou.

"É aquela ali." Apontei para o bebê na incubadora, depois de ler a identificação. "Ela é linda."

"Tem o seu nariz." Ele sorriu.

Fiquei algum momento olhando para aquele bebê. Ela parecia tão pequena, e ao mesmo tempo tão forte para um bebê que nasceu com apenas oito meses de gestação.

"Vamos comer alguma coisa." Jasper sugeriu.

"Eu não quero."

"Você precisa," Ele insistiu.

A lanchonete estava relativamente vazia devido ao horário. Já passavam das dez da noite, constatei ao olhar o relógio na parede. Fiquei sentada a uma mesa, enquanto Jasper se encarregou de comprar os lanches. Assim que ele voltou à mesa, o cheiro embrulhou o meu estômago e tive que correr até o banheiro.

"Tudo ok?" Jasper, perguntou assim que voltei.

"Sim." Jasper ficou me encarando por um momento. "O que foi?"

"Acho melhor você se consultar com um médico." Ele decidiu.

"Não foi nada." Desde quando um simples mal-estar era motivo para consultar um médico? "Deve ter sido minhas longas horas sem comer." Justifiquei, antes de beber um pouco do suco que estava no meu copo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!