Prelúdio escrita por CamillaVicter


Capítulo 4
Capítulo 4 - Visitas Indesejadas


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo, gente!!! Enjoy it!



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Capítulo IV Visitas Indesejadas

 

— O que está acontecendo comigo?

Ninguém me respondeu. Eles continuaram me olhando assustados.

— Temos que te levar de volta para casa, Chris. Não deve ser nada demais... A Jéssika disse que isso podia acontecer. — Stephanie dizia calmamente, mas eu percebi, pelo seu tom, que ela tentava acalmar a si mesma mais do que a mim.

Antes que eu pudesse responder a ela, Dimitri me puxou para a moto dele e, minutos depois, já estávamos no portão da vila. Ele se virou para trás e, antes de entrarmos, alertou os outros:

— Não quero que o que aconteceu hoje se espalhe pela vila. Já não basta o escândalo da última vez. — sua voz era calma, mas sua autoridade exalava em cada palavra. Ninguém o contestou.

Klauss e Patrícia acenaram com a cabeça e foram para suas casas sem dizer mais nada.

— Eu vou com vocês! — falou Stephanie séria para o meu irmão.

Dimitri não tentou convencê-la do contrário. Apesar das desavenças dos dois, Dimitri sabia que a Stephanie se preocupava comigo tanto quanto ele.

Ninguém falou nada enquanto entrávamos na vila. Eu analisei o lugar na minha frente. Apesar de nós chamarmos de vila, eu sempre achei que parecia mais um condomínio residencial. Era um amplo terreno cercado de muros e seguranças. No centro havia um grande espaço gramado cheio de árvores e flores. E, mais a fundo, bem no fim da vila, havia uma grande cachoeira que fluía magicamente. Ela surgia e acabava no meio do nada. Sem rio. As ninfas da água criaram a cachoeira há alguns anos quando estavam entediadas. Ela mais parecia uma grande piscina. Segundo Stephanie, essa era a intenção.

Ao redor de tudo, ficavam as casas. As ninfas moravam em quatro grandes casas, separadas entre elas. Água, ar, fogo e terra. Era fácil identificar cada uma.

A casa das ninfas da água era ao lado da cachoeira, toda azul e de vez em quando alguma delas entrava ou saía de lá. A varanda da frente era ampla e com colunas e parapeitos de ferro fundido.

A casa das ninfas do fogo era a casa mais distante da cachoeira. Toda de uma madeira em um tom avermelhado. As telhas também eram no mesmo tom. Se eu bem me lembrava, o interior também era todo decorado com cores quentes.

A casa das ninfas da terra era cercada de árvores e flores por todo lado. Era em um estilo colonial. Bem simples. Com portas e janelas centralizadas, sem muito luxo. As ninfas da terra eram conhecidas por negar qualquer apego a bens materiais, preferindo estar sempre em contato com as plantas e os animais.

A casa das ninfas do ar era a mais intrigante. Isso se devia ao fato de que ela não tocava o chão. A casa flutuava pelo menos uns três metros acima do chão. Agora mesmo, eu podia ver uma ninfa do ar criando uma forte rajada de vento abaixo dos seus pés e subindo sem dificuldades até a porta da casa, que era quase tão branca quanto a enfermaria.

Os vampiros por sua vez, moravam cada um com a sua família. Eu morava com meu pai e meu irmão. Só nós. Apesar de que, na maioria das vezes, as família eram bem grandes. Os vampiros estão praticamente todos interligados. Meu pai, por exemplo, é neto de Viktor. Seu pai (meu avô), Marcellus, ainda mora com Viktor e os outros irmãos. Meu pai ganhou a nossa casa quando se casou com a minha mãe, Clarice, e mesmo depois de sua morte ele não quis deixar a casa. Não que fizesse muita diferença... Nossa casa era praticamente ao lado da de Viktor.

A enfermaria e o refeitório eram os únicos lugares comunitários, além, é claro, do jardim. O refeitório era o lugar onde, geralmente, ficávamos todos juntos.

Só alguns segundos haviam passado enquanto eu analisava a vila. Nós tínhamos acabado de parar na frente da minha casa.

Assim que Dimitri parou a moto, eu desci.

Sacudi a cabeça rapidamente para espantar os pensamentos e me concentrar no que estava por vir. Meu pai com certeza ficaria nervoso.

Amedrontada, olhei para Dimitri e pus a mão em seu ombro. Ele leu em minha mente minha pergunta silenciosa. Meus olhos? Mas Dimitri, quase tão amedrontado quanto eu, balançou tristemente a cabeça sem me olhar diretamente nos olhos.

O medo percorreu a minha espinha. Eu ainda não tinha entendido porque eu tinha ficado tão irritada.

Stephanie caminhou ao meu lado enquanto entrávamos em casa.

— Relaxa, Chris... A Jéssika disse que isso poderia acontecer! — ela tinha percebido o meu medo.

— Eu sei Stephanie, mas meu pai quando souber com certeza vai ter um ataque cardíaco...

— E por que exatamente eu haveria de ter um ataque cardíaco? — eu não tinha percebido que meu pai estava na sala. Ele surgiu sabe-se lá de onde... Encarei os meus pés, sem coragem de olhá-lo nos olhos. Isso me entregaria.

Mas eu já tinha me entregado. Stephanie percebeu o meu nervosismo e intercedeu por mim contando o que tinha acontecido. Mas ela omitiu o final, esperando que eu contasse.

— Ok. O que isso tem demais? A Chris brigou com uns lobisomens, quase expôs o nosso segredo... Isso é errado, mas não é motivo para vocês estarem tão... Meu Deus, o que é isso? — ele deu pelo menos uns três passos para trás quando meus olhos se encontraram com os dele. Mas, depois de um minuto, ele se acalmou. Ele me puxou delicadamente até o sofá e me fez sentar de frente para ele. Ao contrário de Dimitri, ele não ficou amedrontado e me olhou longamente nos olhos. Por fim, ele suspirou pesadamente. — A Dra. Jéssika disse que isso poderia acontecer...

Eu não respondi. Eu estava avaliando suas reações. Meu pai não parecia alarmado, só... Surpreendido.

— Mas... Chris, por que você ficou tão nervosa? Do nada...

Eu abri a boca para responder, mas a Stephanie interveio antes que eu pudesse emitir qualquer som.

— Se me permite, senhor... Eu percebi que a Chris ficou nervosa muito rápido e sem nenhum motivo forte. Eu acho que isso pode ter alguma coisa a ver com os lobisomens. — ela me olhou por uma fração de segundos e, depois, completou sombriamente. — Eu acho que eles estavam controlando-a.

A sentença caiu como uma bomba em mim. Estremeci involuntariamente com o pensamento. Os lobisomens estavam me controlando? Por quê? Por quê? Por quê?

— Por quê? — foi meu pai quem perguntou. Não eu.

Dimitri, quieto até então, se mexeu desconfortavelmente. Ele estava recostado na janela olhando para o lado de fora.

— Klauss tem uma teoria interessante... — ele disse sem se virar para a gente. Klauss?! Eu me perguntei. Mas como? Eles não haviam se falado nem uma vez no caminho para casa.

Ah, é claro! Eu tinha me esquecido que os vampiros podiam conversar mentalmente entre eles. Provavelmente ele e Klauss fizeram especulações silenciosas no caminho do colégio até a vila.

— Ele acha que os lobisomens queriam provar alguma coisa. Que os lobisomens ficaram sabendo sobre o que aconteceu semanas atrás e quiseram provar se era verdade. — Dimitri continuou, ainda fitando o jardim.

— Mas como eles ficariam sabendo? — eu perguntei. — Alguém teria que ter contado a eles...

Dimitri desviou os olhos da janela e me olhou profundamente.

— Aí é que está, Chris. Eles têm um informante.

 

**********

 

Toc, Toc, Toc.

— Posso entrar, Chris?

Klauss? Meu Deus... Com toda aquela confusão, eu tinha me esquecido das minhas aulas particulares de química...

— Só um minutinho...

Tentei arrumar o meu quarto o mais rápido que eu pude, juntando as roupas que estavam jogadas em cima da cama (e jogando-as desastradamente dentro do armário), tirei de cima da mesa uma grande quantidade de coisas desnecessárias e amontoei-as de baixo da cama.

Então eu abri a porta (depois de uma rápida corrida no banheiro) para o Klauss. Ele deu um sorriso radiante e eu não pude deixar de sorrir em troca.

— É bom ver os seus olhos de volta à cor normal! — ele sorria tanto que era difícil duvidar. Já tinha algumas horas que meus olhos tinham voltado ao tom de verde natural.

— Eu concordo plenamente... — respondi tentando reproduzir a satisfação com a mesma intensidade que a dele.

Ele sorriu e entrou no meu quarto. Ele olhou por alguns segundos antes de entrar. Ele com certeza estivera ouvindo a minha tentativa desesperada de arrumar o meu quarto.

Era muito mais fácil aprender química com o Klauss do que com o próprio professor. Até porque, Klauss tinha muito mais experiência do que o professor. Pelo menos uns cento e cinqüenta anos de conhecimento.

Também era mais fácil esquecer os meus problemas com o Klauss por perto. Ele era sempre tão animado. Tão... Otimista!

Eu já tinha entendido quase tudo, quando Dimitri entrou no quarto.

— Você já está pronto, Klauss? Nós vamos sair em quinze minutos.

— Quase, Dimitri. Eu vou terminar de fazer essa atividade com a Chris e depois eu vou.

— Não demore...

Quando Dimitri saiu, eu me virei para o Klauss sem entender.

— Onde é que vocês vão?

Ele olhou para mim com uma expressão intrigada no rosto.

— Em que mundo você está, Chris? Hoje é noite de lua nova.

Nossa! Com tanta confusão, eu tinha me esquecido completamente. Nas noites de lua nova, os vampiros se transformavam. Não era uma transformação muito drástica, eles só ganhavam um par de asas. Não as delicadas asas de borboleta das ninfas, mas monstruosas asas de morcego. Durante a noite, eles tinham que manter uma certa distância da cidade. Ao contrário do que dizem a maioria das lendas, o sangue humano não é atraente para eles. Durante a lua nova eles tinham uma sede de sangue (animal) incontrolável. Nessa época, qualquer coisa é um motivo de irritação. Por isso eles saíam da cidade durante a noite. Para evitar acidentes.

Os lobisomens eram exatamente o oposto. Eles se transformavam em gigantescos lobos na lua cheia. Assim como os vampiros, eles só se alimentavam de animais.

— Vamos terminar a atividade, então? — Klauss sorria para mim.

— Claro! Me empresta aquele lápis... — eu apontei para o lápis do outro lado da mesa, mas, sem que ninguém se mexesse, ele flutuou até a minha mão.

Klauss me encarou com os olhos arregalados.

— Você fez isso?

— Acho que sim... — eu respondi.

— Isso está ficando fora controle! Telecinésia é um poder das ninfas da terra.

Eu o encarei, apavorada. Então eu segurei os braços dele de leve e o sacudi.

— Por favor. Por favor, Klauss! — eu sussurrei tão baixo que mais ninguém poderia ouvir. — Não conte isso para o meu pai, nem pra o meu irmão. Eu imploro!

— Eles me matam se eu não contar...

— Por favor, Klauss! Pelo menos espera acabar a lua nova... Eles não precisam se estressar com isso...

Ele pareceu considerar o meu pedido, enquanto avaliava minha expressão de desespero.

— Tudo bem... Mas só até acabar a lua nova!

Eu sorri agradecida.

— Obrigada! Obrigada! Klauss, eu te amo! — eu falei e abracei ele fortemente.

Ele sorriu marotamente e disse:

— Sabe, se o seu pai ou o seu irmão ouvir isso, eles vão derrubar a parede do seu quarto e me cortar em pedacinhos...

Eu tapei a boca fingindo arrependimento.

— Não está mais aqui quem falou...

Klauss riu gostosamente por uns segundos, mas logo ele ficou sério de novo.

— Eu tenho que ir, Chris! Daqui a pouco vai escurecer e eles vão acabar me deixando para trás...

Eu o acompanhei até a sala, onde meu pai e Dimitri estavam esperando por ele. Stephanie estava parada, sorridente, na porta da sala me olhando de um jeito... Alegre demais.

— O que você já está fazendo aqui, Stephanie? Você não tem casa, não?

— Credo, Chris! Quem vê até pensa que você não gosta de mim... — ela fingiu que estava chateada, mas não agüentou por muito tempo e sorriu para mim de novo. — E, para que você saiba, eu não estou aqui de penetra. Seu pai me chamou! Quem você acha que vai cuidar de você esta noite?

Eu deixei o meu queixo cair. Olhei para o meu pai com a melhor expressão sofredora que eu consegui fazer.

— Pai... — eu gemi. — Como você pôde fazer isso comigo?

Ele sorriu para mim. Mas ao invés de me responder, ele se dirigiu à Stephanie.

— Vocês vão ficar aqui ou vão para lá?

— Aqui, é claro! — respondeu Stephanie sem hesitar. — Meu quarto não tem uma incrível televisão de quarenta e cinco polegadas...

O comentário da Stephanie puxou um coro de gargalhadas na sala, mas não durou muito. Logo meu pai estava de pé.

— Vamos?

Dimitri e Klauss se levantaram rapidamente. Stephanie e eu os acompanhamos até a porta da casa. Meu pai me deu um beijo na testa e depois saiu silenciosamente. Klauss acenou para mim e murmurou um tchau baixinho. Dimitri parou de frente para mim e me olhou nos olhos.

— Se cuida, Chris! Promete? — eu olhei para ele sem entender. — Eu estou com um... Pressentimento ruim... Promete que vai tomar cuidado?

— Relaxa, Di! O que pode acontecer? No máximo a Stephanie vai me matar de tédio... — eu sorri para ele, mas ele continuou sério.

— Promete...

Eu olhei fundo nos olhos esmeraldas dele tentando entender o motivo da sua angústia. Não encontrei nada.

— Se isso fizer você se sentir melhor... Eu prometo, sim!

Ele sorriu. Com esse sorriso desanimado, ele me abraçou forte. Foi um abraço esquisito. Parecia um abraço de despedida. Eu sabia que ele estaria de volta pela manhã, mas eu senti uma necessidade urgente de me segurar no meu irmão. De não deixá-lo partir. Era como se eu não fosse mais vê-lo por um longo tempo.

Ele percebeu também, porque ele demorou a me soltar. Talvez eu tivesse deixado escapar alguns pensamentos e ele percebeu que eu não queria soltá-lo.

Depois do que pareceu um milésimo de segundo, ele se separou de mim delicadamente e saiu sem dizer mais nada.

Quando eu entrei de novo, Stephanie estava olhando para mim intrigada, mas ela não teceu nenhum tipo de comentário. Eu sabia que ela tinha sentido o mesmo que eu quando meu irmão saiu.

 

**********

 

Devido à grande empolgação da Stephanie com a minha televisão, nós acabamos indo dormir muito tarde e muito cansadas. O que resultou em uma noite turbulenta.

Eu tive um sonho muito perturbador. No meu sonho, eu estava presa em uma sala escura sem janelas. Eu podia ouvir meu irmão falando através da porta. Ele parecia acreditar que eu estava morta. Eu escutava Stephanie chorando. Meu pai consolando o meu irmão. Klauss falando sobre um informante.

Eu tentei, de todas as maneiras, passar pela porta. Eu queria dizer a eles que eu estava viva, mas eu não conseguia. Desesperada, eu esmurrava a porta. Batia. Chutava. Arranhava. Mas nada dava certo.

Eu acabei sentada no canto, ouvindo a tristeza dos meus parentes com a minha morte.

Eu acordei com a Stephanie sacudindo o meu ombro.

— O que dia...? — não consegui terminar a pergunta, ela tapou a minha boca.

— Shh!! Nós temos que sair daqui... — ela sussurrou tão baixo que eu quase não podia ouvir a sua voz. — Tem alguém na vila que não deveria estar aqui...

— Quem?

— Eu não sei...

Ela levantou rapidamente e mexeu, sem fazer nenhum ruído, no meu armário até encontrar um casaco. Ela me deu e eu o coloquei por cima do pijama rapidamente.

— Vamos...

— Você quer me explicar...? — eu tentei perguntar, mas ela pôs a mão na minha boca.

— Shh! Anda logo... — ela disse e me puxou para fora do quarto violentamente. Pisquei os olhos tentando enxergar o corredor, mas a minha visão estava embaçada. Lembrei vagamente, com o cérebro ainda anestesiado de sono, que os meus óculos estavam no banheiro, junto com a caixinha das lentes de contato.

Pensei em voltar, mas logo descartei essa hipótese. A Stephanie não deixaria. O que ela tinha dito mesmo? Tem alguém na vila que não deveria estar aqui... Quem? Lobisomens? Ogros? Quem mais seria indesejado na vila? Mas não tinha como eles entrarem... Pelo menos umas vinte ninfas estavam de vigília hoje!

Mas por outro lado, hoje é lua nova. Em que outra ocasião a vila estaria tão livre de vampiros?

— Droga! — exclamou Stephanie. Sua voz estava apavorada. Foi então que eu vi, com a vista turva, o motivo do espanto dela. Cinco vultos encapuzados estavam parados no meio da nossa sala. Vestidos com capas pretas, seus rostos permaneciam nas sombras. Eu pude vislumbrar brevemente alguns pares de olhos negros brilharem na minha direção.

Um deles deu dois passos na nossa direção. A Stephanie colocou-se, protetoramente, na minha frente. Olhei brevemente para ela. Sua expressão era séria, quase ameaçadora. Ela já não parecia a mesma Stephanie brincalhona de algumas horas atrás.

— Boa noite, Chris! Stephanie... — a voz de Mark, falsamente educada, preencheu a sala. Ele acenou levemente com a cabeça enquanto nos cumprimentava.

Mark retirou o capuz da cabeça e, automaticamente, os outros também o fizeram. O grandalhão do lado direito de Mark era, obviamente, Josh. E ao lado dele estava, é claro, sua esposa, Carmem. Do lado esquerdo de Mark estava uma moça baixinha muito bonita. Seu nome era Rayanna. Os cabelos curtos e ruivos pareciam línguas de fogo. O aspecto frágil da garota não me enganou. Ela era uma ogra. Por baixo da aparência delicada residia uma força jamais vista por olhos humanos. — Existiam relatos de um ogro que arrancou uma casa inteira do chão. — E, por último, ao lado da ruiva estava o que parecia ser o seu parceiro, o ogro Vinnícius. Seus cabelos loiros espetados e os olhos azuis o faziam parecer um galã de Hollywood.

— Como vocês entraram aqui? — perguntou Stephanie entredentes. A tensão na sala era quase palpável.

Mark sorriu traiçoeiramente.

— Nós temos os nossos meios...

— E nós temos um traidor, estou certa? — falou Stephanie de modo sarcástico.

Mark levantou os ombros como se o assunto fosse entediante.

— Vocês chamam de traidor e nós, de espião... — ele sorriu deliciado quando percebeu o efeito de suas palavras em Stephanie e eu. — Mas, isso não vem ao caso, não é mesmo? Acho que vocês não estão interessadas em saber como eu entrei aqui, mas por que eu entrei...

Stephanie deu alguns passos para trás me empurrando junto dela. Eu senti a parede nas minhas costas. Estávamos encurraladas.

O medo invadiu minhas veias como um veneno. A sensação de frio na espinha provocou um calafrio. Minha respiração tornou-se ofegante e falha.

Minhas reações não foram ignoradas.

— Eu vim convidá-la a passar um magnífico fim de semana com seu irmão... — disse Mark.

— Eu irei passar o fim de semana com o meu irmão Dimitri! — eu respondi secamente.

Mark continuou sorrindo.

— Eu quis dizer comigo.

Me esforcei ao máximo para controlar a minha voz e tentei não deixar transparecer o meu medo.

— Eu acho que eu terei que recusar o convite...

O sorriso de Mark cresceu ainda mais, sendo acompanhado por uma gargalhada diabólica de Josh. Eles avançaram devagar até nós.

— É realmente uma pena, Chris! Eu não acho que você vai gostar da sua segunda opção. — ele fez um sinal para Vinnícius. — Pegue a ninfa.

— Não! — eu gritei. Mas antes que o ogro pudesse fazer alguma coisa, Stephanie criou uma parede de água entre nós e eles.

— Vamos, Chris! Pela porta dos...

Ela foi interrompida quando um grande lobo cinza-claro atravessou sua barreira caindo a poucos metros de nós. Josh gania molhado no chão. Antes que nós pudéssemos tecer qualquer reação, ele ficou de quatro novamente e sacudiu o pêlo levemente antes de avançar para nós.

— Corre, Chris! — Stephanie gritou antes de avançar para cima do lobo. Eu fiquei paralisada vendo-a rolar no chão com Josh.

Minhas pernas se recusaram a se mexer. A sempre tão delicada Stephanie avançava furiosamente contra o gigantesco lobo lançando feitiços enquanto Josh tentava atacá-la. Eu me senti inútil parada ali.

Um outro som me sobressaltou. Os outros também haviam conseguido passar pela barreira da Stephanie. Eles avançaram para ela em uma fração de segundo.

— Não! — eu gritei instintivamente, mas me arrependi prontamente. O grande lobo preto, que eu imaginei ser Mark, virou-se para mim quando eu gritei. Seus olhos faiscaram de êxtase.

Obriguei minhas pernas a me obedecerem e corri em direção aos fundos da casa. Eu podia ouvir os passos pesados de Mark atrás de mim.

Atravessei a porta em um piscar de olhos. A única coisa em que eu pensava era em pedir ajuda. Eu tinha certeza de que se eu chegasse até o meio da vila, as outras ninfas poderiam me ouvir e eu gritaria o máximo possível para que alguém viesse ajudar a Stephanie.

Quando eu dei a volta na casa eu pude ver o jardim no meio da vila a pelo menos uns dez metros de distância. Esforcei minhas pernas a correr mais rápido ainda enquanto rezava mentalmente para que alguém estivesse acordado.

Eu mal percebi a aproximação. Quando eu vi, Mark já havia batido contra mim e nós dois estávamos caindo no chão. Estiquei o braço para amortecer a queda, mas me arrependi logo depois. Eu pude ouvir o estalo do osso do meu braço se partindo. A força do impacto fez com que nós dois rolássemos pelo jardim.

Eu olhei para ele enquanto ele se transformava de volta em humano. A dor no meu braço crescia gradativamente. Tentei me arrastar para trás, mas Mark me puxou pelo braço quebrado. O meu grito foi inconsciente, mas surtiu efeito. Mark me soltou.

Eu caí de costas no chão novamente. Só quando eu senti uma dor aguda foi que eu percebi que tinha batido a cabeça em uma pedra.

Mark me pegou no colo e correu em direção à porta da minha casa.

— Vamos embora! — gritou ele para os outros. Eu não vi onde eles estavam, mas eu consegui perceber que a Stephanie não estava junto deles. — Acho que nos ouviram...

Ele correu comigo no colo para o lado de fora da vila com os outros em seus calcanhares. Minha visão estava escurecendo e a dor parecia desaparecer. Eu olhei para as estrelas e implorei mentalmente que nem meu pai, nem meu irmão tentassem vingar a minha morte. Implorei que alguém tivesse ouvido a briga. Que a Stephanie estivesse bem...

A última coisa que eu percebi — antes da dor ceder por completo e antes dos lobisomens me colocarem dentro de um carro — foi que um líquido quente e viscoso escorria pela minha nuca.

Depois eu afundei completamente na escuridão.

 


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Notas finais do capítulo

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