Coração Imortal escrita por isabellatmassei


Capítulo 21
Black magic


Notas iniciais do capítulo

Pessoa, dêem uma olhada em O'shea brothers, minha nova one com a gaby, minha leitora tb.
Vocês quase me mataram com o quantidade de reviews, mas olha, eu gosto de morrer, sério. Bem, hoje tem taaaantas coisas que vocês vão cair duros no chão, ou no sofá, tanto faz. Leiam.



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Deixo ele acalmar a respiração e relaxar o corpo. Sei o quanto é difícil saber que alguém que ama vai embora, mas se pudesse evitar isso sem arriscá-los eu faria. Parece que de todos sou a única que entende minha morte.

- Você não entende minha dor, é insuportável pra mim te ouvir dizer que vai embora e vai me deixar sem teu amparo.

- Eu te entendo, por um momento pensei que seria você a morrer.

Ele se vira para mim e com os cantos da boca repuxados em uma careta diz:

- Quero que me chame, onde quer que esteja, sempre que precisar. Não quero que pense em minha proteção, só quero que pense em nós dois juntos, é o que te peço com todo meu fervor.

- Não te colocarei em perigo, em momento algum.

- Não me colocará em perigo se estiver comigo. Eu sempre vou tentar estar por perto, mas quero que me prometa que chamará por mim.

Fiquei quieta, ciente que seria a pior escolha optar por sofrimento a dois.

- Nada de sofrimento a dois Ash, você sabe que eu nunca nos deixaria sofrer.

Aquiesço de modo bem convincente, mas com a mesma idéia de nunca fazer isso.

- Não me prometa sem que seja do coração!

- Edu, você não me entende... Se você não pode me perder, o que te faz pensar que eu posso?

Ele da de ombros e joga a cabeça pra trás. Percebo seu olhar cansado e passo a mão em seu cabelo desgrenhado.

- Não me faça desperdiçar mais uma vida, por favor? – sussurro

- Não irá...

Deixo escapar um sorriso e lhe dou uma cotovelada.

- Sabe de uma coisa?

- O que? – pergunta ele.

- Agora sim eu acredito em seu destino- e me afundo mais no travesseiro – Acredito que eu esteja do seu lado quando você  estiver casando, tendo filhos e até mesmo trabalhando, mas acho que você não me verá.

Ele me olha com um olhar sombrio.

- Nunca me casarei ou terei filhos com alguém que não seja você!

- Por favor, não jogue no lixo sua vida desse jeito...

- E mesmo que você se for, ou eu irei atrás, ou te verei de qualquer forma- e dá de ombros.

Como se tivesse dito algo de errado tenta pensar em algo pra que possa amenizar a situação. Tarde demais, eu já havia percebido o que ele queria insinuar com aquilo.

- Quais mortos você já viu? – perguntou curiosa

Na mosca! Ele reagiu estranhamente, coçou o queixo e se virou decidido a falar a verdade. Pelo menos é o que eu achava.

- Só a avó de Blair...

Vejo-me levantando do travesseiro e colocando a mão na cabeça.

- Então ela era possuída mesmo?

Por um breve segundo, já me arrependo de ter feito o que fiz- por mais que tenha feito por culpas dos dois feiticeiros-, porque odeio a idéia de maltratar alguém sem o devido motivo.

- Não Ash, ela não era possuída. A avó dela sempre ficava perto dela tentando fazer com que ela não agisse errado, mas Blair por mais que sentisse alguma coisa, não ligava a mínima.

- Então a avó era uma pessoa boa?

- Tenho que admitir que a Senhorita Katheriny é uma verdadeira amiga, sempre nos aconselhando.

- “Nos aconselhando”?

- Eu e Kathy.

- Ela vê fantasmas também?- engoli em seco

Ele diz que sim com a cabeça e pega meu rosto em suas mãos.

- É por isso que te digo que não importa onde for, sempre estarei com você.

Encontro seu olhar com olhos marejados e anseio pela sua boca aconchegante e cálida. A última coisa que preciso agora é distância dele.

Ele aproxima sua boca da minha e nosso beijo é longo e doce, perfeito como sempre foi. Os braços de Edu são como um berço para mim, gosto de ficar ali apertada e segura. É uma tristeza pensar no que pode me acontecer e que vou perder tudo isso que tenho agora. Preciso urgente de uma solução, preciso urgente de ajuda, preciso viver nem que for por mais algum tempo.

- Aprendi a fazer vários feitiços- sussurra ele em meus lábios.

Fingi não ouvir isso, eu quero beijá-lo e não saber de feitiços.

- Pode nos ajudar...

Afasto-me para olhá-lo nos olhos, qualquer ajuda é bem vinda.

- Preciso de umas coisas antes de mais nada, e temos que fazê-lo imediatamente se é isso que quer. Estamos no período da Lua Cheia, temos que correr.

- Tudo bem, o que precisa? – perguntei eufórica, mas com outra pergunta em mente : Adiantaria?

Ele examina bem meu rosto e coça o queixo, parece que não será tão fácil como pensado. Outra coisa também é que estou terrivelmente cansada, faltei dois dias na escola e pretendo faltar mais um. Não vou me deixar vencer pelo cansaço, se esse feitiço pode nos ajudar eu farei. Logo também estaremos nas férias de verão e se eu durar até lá, pretendo curtir bastante.

Ele revira os olhos e volta a pensar.

- Os ingredientes variam de pessoa, motivo, razão e circunstância. E é muito importante se lembrar de coisas que caracterizem a pessoa. Por exemplo, a Kathy seria...

- O livro- sorri lembrando o quão ela gostava daquele  livro. Ela sempre dizia que um Wynthrope não seria nada mal, a não ser que ele tentasse a roubar. Eu gostava de vê-la confabulando que tipo de homem combinaria perfeitamente com ela, e tenho que admitir que ela mataria Wynthrope sem pestanejar.

- O que te caracteriza?

Não queria pensar em coisas como essa que me prenderia, mas com certeza seria difícil achar algo que tão importante para mim, são tantas coisas.

- Devemos saber quais são os ingredientes e eles tem que fazer sentido. Não devemos pegar uma cebola para usar como característica, entende?

Franzi o nariz, odiava cebola.

- Não temos tempo, esse é o problema- reclamei levantando da cama- Nem que corrêssemos contra o tempo, não dá.

Ele me olhou maliciosamente, ele tinha uma idéia.

- Kathy está em casa?- perguntou ele.

- Acredito que esteja dormindo já- falei perdendo a fala quando ela entrou no quarto com o sorriso maldoso de que tanto odiava, lá vinha coisa.

- O que quer Eduardo?

Ele olhou pra ela e levantou uma sobrancelha, vai entender esses dois.

- Pare o tempo.

- Qual o motivo?

- Eu e Ash precisamos de um bom tempo, mais do que um dia talvez.

- Precisa justo dessa noite fria? Não poderia ser amanha, eu vi que vai fazer sol- e vendo a carranca dele ela continuou- Coisa séria?

Ele assentiu com a cabeça.

- Feitiços Edu? Pelo amor de Deus, já conversamos...

- Cale a boca- disse ele trincando os dentes.

O que? Ouvi bem? Ele mandou minha amiga calar a boca? Odiava esse tipo de atitude machista dos homens, sempre querendo mandar nas mulheres.

- O que é isso Eduardo? Não fale assim com ela- e peguei a Kathy pelo braço- O que tem de mal com feitiços?

Ela olhou para o Edu e ele deu de ombros, ele não ligava mais, ela já tinha começado... Que terminasse.

- Eu tentei ver o que nos aguardava e não vejo nenhum de nós usando de magia e essas coisas. Pode ser que não dê certo.

- Vamos tentar- dissemos os dois juntos.

Ela olhou pro teto e murmurou algo inteligível. Era como se ela não quisesse fazer nada pra tentar enganar o destino.

- Preciso de concentração e preciso de alecrim, sândalo e canela... Acho que assim está bem!

- Pra que tudo isso?- levantei uma sobrancelha.

- Adivinhação e proteção.

- Não precisa pedir proteção, você não tem nada a ver, ficará segura aqui.

Ela me olhou com o cenho franzido.

- Vou pedir proteção para os dois, e sim, vou ajudá-los o quanto puder.

Olhei-a de cima à baixo e acabei por concordar. Vê-la tentando nos ajudar era estranho, sempre pensei que ela evitaria problemas.

- Obrigada- sussurramos eu e Edu juntos mais uma vez.

- Sem problemas pessoal.

Fui até minha cama e abracei o travesseiro, tentando me reconfortar. Uma coisa era correr riscos e outra totalmente diferente era envolver pessoas a qual eu amo. Tudo bem que eles nunca se convenceriam do contrario, então o jeito era aceitar a situação temporariamente e quem sabe no fim, ajudá-los. Apalpei o travesseiro como um gato pronto para dormir, foi então que senti algo.

- O que é isso?- perguntei tirando de dentro da fronha do travesseiro um saquinho de algodão com algum tipo de erva.

- Nada- respondeu imediatamente Edu. Vendo minha cara de indagação continuou- Nada importante, é só algo para te livrar de tristeza e melancolia. Restauração de espírito Kathy?

- Isso- assentiu ela.

Fiquei olhando as ervas dentro do pequeno saquinho, queria muito saber o nome.

- Como chama?

- Como chama o que Ash?

- Essa erva aqui amiga... – e peguei ela e coloquei em minha palma.

- Acho que é bétula seca.

- Cheira bem.

Ela me deu um sorriso tranqüilizador e voltou a dizer:

- Guarde de volta em seu lugar, deixe que ela te acalme.

Soltei um gargalhada histérica. Eu me acalmar? Eles que precisavam de um calmante, e urgente.

Vislumbrei um sorriso acanhado de Edu e fiquei ali me perguntando se existiam mais do que um simples saquinho de algodão dentro desse apartamento.

- Tem mais sim Ash, mas são basicamente com as mesmas finalidades- respondeu Edu

- Podem me contar?

- Claro, temos na porta de entrada o Dill, ele protege contra bruxarias. E temos aqui no quarto mais dois tipos de ervas.

Balancei a cabeça em concordância e pedi que prosseguissem, estava terrivelmente curiosa.

- Deixamos um cristal com você. Sempre anda com ele, por mais que não perceba!

- Está na costura da bolsa Ash, idéia minha.

 Pisquei tentando clarear as idéias, isso me fazia lembrar um loucura deles.

Teve um dia em que havia trocado de bolsa e o Edu ficou totalmente estranho, perguntando o porque de trocar de bolsa, e criticando ela. Mas no outro dia estava melhor... Explicado!

- Sabe como é, não podemos descartar a idéia de que existe alguém parecido conosco atrás de você, mas só não sabemos porque- disse o Edu dando de ombros

- Dinheiro?

- Kathy, que dinheiro que eu tenho?- lembrei-a

Ela revirou os olhos e bufou.

- Herança, sua tia tem algo a ver com isso. Eu sempre vejo deslumbres dela em minha visões.

- Não sabe o que exatamente ela faz em suas visões?

- Ela fica parada olhando e dando ordens a alguma pessoa.

-Ah – disse com uma cara de total lesada.

Eles ficaram conversando sobre alguma coisa a ver com feitiços, poções e algo a ver com... Wicca?

Fingi não ouvir toda aquela conversa furada e fiquei pensando em que feitiço o Edu tinha em mente.

- Ah Ash, não posso obrigar sua amiga a parar o tempo em nosso favor.

Ela se virou para ele e balançou a cabeça discordando.

- Vou ajudar sim, que conversa é essa? Só não vou fazer isso por você, seu grande imbecil, tapado e retardado.

Tentei deixar de lado os elogios e me foquei no feitiço.

- Então tudo bem, o que faremos e o que precisamos?

Ela se levantou e pegou um bloco de notas. Estava a ponto de começar a anotar quando o Edu a interrompeu denovo.

- Não, esse feitiço não.

- Qual então?

- Vou pegar meu notebook no meu apartamento, já venho- disse ele me dando um beijo rápido e indo até a porta- Ah, enquanto isso peguem uma vela, uma agulha e um fósforo.

Comecei a rir, e sem motivo algum. Pensei em todos os motivos que ele tinha para querer uma vela ou uma agulha, e só me vinha coisas como me queimar ou me furar. Daria certo?

- Sério que vai dar certo?- perguntou Kathy

- Não, não acredito que dê muito certo, mas vamos tentar.

- Tudo bem então Eduardo, você me fura e me queima mas no fim pode não dar certo?

Agora foi a vez dele dar risada, parecia estar se divertindo com minha preocupação.

- Não vamos encostar um dedo em você Ash, confie em mim! – disse ele saindo do quarto.

Fiquei olhando a porta até que senti o peso de um olhar em mim e me virei para olhar nos olhos de Kathy. Parece que de um momento para outro não se sentia confortável com o silêncio do mesmo jeito que eu. Ela estava ligeiramente desconfortável na cama, sentando cada hora de um jeito.

- Então... Como vai o Beto? – falei junto a ela.

- Você primeiro- dissemos juntas mais uma vez.

Ela concordou com a cabeça e se abraçou fortemente. Era impressão minha ou ela estava querendo desparecer? Ela estava nervosa, muito nervosa.

- Qual é a sensação de saber que vai morrer?

Encarei aquela pergunta como uma qualquer, do tipo: “Como foi seu dia?” Por mais que aquela pergunta fosse inesperada e meio confusa. O que poderia dizer? ‘Ah, estou muito feliz, obrigada’, mas ao invés disso, preferi dizer:

- No começo foi horrível, mas depois aceitei meu destino.

Ela balançou a cabeça e baixou os olhos para os pés descalços. Eu acho que acabei descobrindo o porque daquela inquietação.

- E qual é a sensação de saber que perderá sua melhor amiga?

Ela levantou os olhos até os meus.

- Uma das piores.

- Não quero que fique mal por mim- sussurrei indo até sua cama e me sentando ao seu lado.

- Fico mal por mim.

- Ahn? Por você?- perguntei confusa fazendo uma careta.

- Porque minha vida vai ser uma bosta quando você não estiver aqui, será deprimente, triste demais.

Dei um sorriso feliz por saber que faria falta, mas o certo era chorar e não rir, o que está erva estava fazendo comigo? Porque se era essa erva, eu teria de me lembrar de jogá-la no lixo depois dessa conversa.

- Você vai se virar sem mim, você tem que se virar sem mim- sussurrei pegando em sua mão e desejando ter mais do que essas palavras inúteis como conforto.

- Não consigo dar um passo sem pedir sua opinião, acredita mesmo nisso?

Cheguei a soltar uma risada histérica pensando na resposta idiota que estava a ponto de dar.

- Você é uma feiticeira e com um simples estalar de dedos esquece a dor rapidinho – ou pelo menos é o que espero.

- Eu nunca vou conseguir amenizar essa dor e não quero. É o que me fará saber que você não foi minha imaginação.

Encarei-a boquiaberta. Da onde veio tantas palavras bonitas? Não que ela fosse burra, mas o máximo de coisas sensatas que ela dizia – e com sensata eu quero dizer palavras ditas corretamente, ou frases das quais olhamos e chegamos a bater palma de tanta surpresa -, era ‘Irei ver meu príncipe’.

Ela não sabia o tamanho da saudade que já me corrompia, era como se meus dias ao lado deles estivessem contados e eu tivesse a sorte de me despedir, mas ao invés disso, fico tentando remediar algo que é impossível de se fazer.

- Quando você morrer, acredito eu que o Edu morre em seguida, o que me resta o Beto.

Parei de pensar no uso correto de palavras e me foquei no assunto principal.

- O que te leva a pensar que ele faria isso?

- Ele não viveria sem você- respondeu ela mexendo em meus dedos.

O máximo que eu podia suportar era eles tentarem mudar meu destino, mas aceitar que morressem logo após, mudando a vida deles. Não, definitivamente não!

- Vocês não sabem o que é viver sem mim porque nunca tentaram!

- Acha mesmo que é preciso uma prova de que é isso mesmo que vai acontecer? Ash, nossa amizade é a base de tudo. Eu sou mais você do que a mim mesma, entende?

É claro que entendia. Eu era assim também, sempre pensando por ela e ajudando-a enquanto ela tomava conta da minha vida. Mas tudo isso iria acabar e ela teria de tomar conta de si própria, o que não era tão diferente de cuidar de mim. Éramos absolutamente iguais, mesmo não sendo fisicamente.

Houve vezes em que eu colocava uma peruca loira e ela uma preta. Saíamos no campus imitando uma à outra e sempre roubando risos de nossos colegas. O mais legal de ser amiga dela, era calçarmos o mesmo numero e eu sempre usar daquelas lindas sandálias que ela ganhava. Não. O mais legal de ser amiga dela era ter com quem conversar, com quem fofocar horas e horas. Não. O mais legal era saber exatamente o que ela iria dizer antes mesmo de ela pensar em falar.

Definitivamente era legal ser amiga dela, mas mais legal ainda seria eu saber que ela estaria bem na minha ausência. E se eu tinha a noção de que morreria logo, eu tinha sim que fazer coisas que outras pessoas geralmente não podem fazer. Ajeitar as coisas e dizer adeus a tudo e todos.

- Você não acha que vamos conseguir alguma coisa com esse feitiço, acha?- perguntei sabendo exatamente a resposta.

Ela balançou a cabeça confirmando o que eu já sabia.

- Não é porque você não viu uma coisa acontecendo, que ela não vai fazer diferença- tornei a falar de modo a acalmá-la.

- Mas é justamente isso, eu sei o que vai acontecer e sei que nada vai mudar.

Ela tinha acabado com o pouco que me restava de esperança, mas não deixaria ela saber disso. Provavelmente saber que me desanimou a deixaria triste.

- Eu vi nitidamente você amarrada em uma cama, justamente como eu estava quando a Blair me amarrou. - ela pausou e fechou os olhos se concentrando- Tinha alguém amarrada junto com você, mas o rosto dela me foge...

- Você disse ‘dela’?

Ela aquiesceu com a cabeça e tudo em minha mente se clareou como num passe de mágica.

- É você amarrada na cama comigo!

- Não Ash, impossível. Se fosse eu ali eu veria a cena daquele ângulo, mas eu vejo a cena de outro lugar. Eu vejo sua tia, você, o Junior e....

E nada. Ela não lembrava e quanto mais forçava mais indignada eu ficava. Tinha alguém correndo riscos igual a mim e eu não sabia e não tinha idéia de quem poderia ser.

- Tem certeza de que era uma mulher?

- Sim, o cabelo escuro jogado nas costas. O rosto é indefinido.

Quem eu conhecia que tinha cabelos escuros? A Kathy era loira, assim a idéia de ser ela já estava fora de cogitação. Respirei fundo e tentei clarear minha mente. Tinha várias meninas com cabelos escuros que eram conhecidas minhas, mas nenhum fazia sentido.

- Não pense nisso, primeiro ajudar à você e depois, se possível, ajudar essa menina.

- Isso não é justo, essa pessoa merece ajuda tanto quanto eu.

- Não vamos pensar nela por enquanto, o Edu quando dividiu a visão comigo deixou bem claro que não é conhecida nossa. Ele meio que... Meio que não sentiu a presença da pessoa.

Arregalei meus olhos me perguntando o quão assustador isso poderia ser. Se ele não sentia uma pessoa e a pessoa estava definitivamente ali, o que significava? Fantasma?

- Ash, ela é a pessoa que supostamente deve ser como nós. Não como nós na realidade, mas que é não-humana.

- O que minha tia iria querer com alguém não-humano?

Kathy deu de ombros e se ajeitou na cama de modo que apoiou a cabeça na parede. Olhei pra ela cheia de perguntas vindo à tona, mas preferi deixar para outra hora.

Foi então que o Edu entrou no quarto com uns três fios e o notebook.

- Desculpe a demora, não estava achando os fios do computador- disse ele respirando com dificuldade - Vim correndo de lá até aqui.

Soltei uma risada histérica e me foquei no que iríamos fazer agora. Se ele estava aqui, significava que nada poderia pensar. Nada que me comprometesse pelo menos. Minha missão ia ter que ser planejada mais tarde.

- Estou terrivelmente cansada e parar o tempo me deixará pior- rosnou Kathy para o Edu

- Não te obriguei a fazer nada, se faz é por livre e espontânea vontade minha querida amiga.

Ela fulminou-o com o olhar e fez um gesto para que ele passasse o computador para ela.

- Vou procurar aqui Kathy, espere um pouco só.

- Me dê, você não sabe nem o que está procurando.

Ok, aquelas farpas entre meus amigos não estava ajudando muito a ter aquela coisa chamada esperança. Se continuasse desse jeito eu mesma teria de fazer o tal feitiço.

- Dê agora- sussurrou ela

Ele passou rapidamente o computador para ela e veio se sentar do meu lado. Apoiou a mão em minha perna e com a outra apoiou todo seu peso, se curvando para ver o que a Kathy procuraria exatamente.

- Largue de ser xereta Eduardo- murmurei batendo de leve na mão dele.

Ele parou de olhar para o computador e olhou pra mim com olhos assustadores.

- O que? – perguntei olhando aterrorizada para aquela cara fingida de monstro.

- Você ousa bater em um bruxo como eu?

Olhei para Kathy e sorri ao ver ela revirar os olhos.

- Desculpe-me senhor, não foi minha intenção.

- Como desculpar-te depois de um insulto desses?

Me levantei da cama e fui até o outro canto do quarto andando para trás como uma zebra fugiria de um leão. Passos demorados e silenciosos para trás, mas o que eu não contava era que logo chegasse ao outro lado do quarto.

- Sabe como me chamam?- perguntou-me ele carregando no sotaque Londrino.

- Não senhor- respondi tentando encenar perfeitamente.

- Me chamam de Senhor Cócegas Ryland.

Ri ao ver a frustração de Kathy. Ela não gostava quando ele fazia graça de seu livro favorito.

- E você, sabe quem sou?

- Claro que sim.

- Então me diga Cócegas.

Ele parou pensando em qual nome me dar e tentando esconder o sorriso zombeteiro disse:

- Você é a agente funerária da nossa cidade, Senhorita Morra!

Caímos na risada enquanto Kathy nos ignorava totalmente e se focava no que era realmente importante. Edu parou de rir e se aproximou de mim, mudando de Eduardo para Cócegas.

- Você não se pergunta o porque desse meu nome?

Aimeudeus não! Cócegas agora não, por favor, por favor, por favor.

- Não adianta suplicar minha Lady Morra, isso é o que geralmente faço.

Gritei e saí correndo pro banheiro, eu trancaria ele pra fora e queria ver que cócegas ele ia me dar.

- Nem adianta ir pro banheiro- murmurou ele de modo que só entendi porque ele apontou para lá.

- Não faça isso, eu vou mijar nas calças de tanto rir.

- Sem súplicas, esse é o meu trabalho.

Em um segundo ele estava em cima de mim mexendo os dedos freneticamente na minha cintura, no meu pescoço, embaixo do braço...

- Ah... Chega- gritei entre risos desesperados e tremeliques excessivos.

 - Encenação ridícula- sussurrou Kathy

- Não critique bruxa- gritou Edu me soltando aos poucos

Levantei-me ajeitando a roupa e me recompondo, cócegas não eram nada legais.

- Não a chame de bruxa!

Ela olhou pra ele e caiu na risada.

- Perdendo campo, namorado?

- Não estou perdendo campo nenhum, estou Ash?

Olhei pra Kathy rindo e ele com um olhar de súplica me pedindo que eu dissesse que ele era mais do que ela.

Ao invés de responder, peguei meu celular desejando poder falar com Cintia o quanto antes. Eu queria dar uma ultima olhada na casa e vê-la novamente. Algo sobre aquela família me fazia muito bem.

- Deixe ela em paz, ela não quer escolher a mim pra você não ficar com ciúmes- Kathy disse digitando rapidamente.

Edu bufou e se sentou ao lado dela e começou a prestar bastante atenção no que ela tinha ali.

Parei de prestar atenção neles e apertei o botão de desbloqueio do celular. Havia cinco chamadas não atendidas e duas mensagens.

- Alguém tentou falar comigo- sussurrei

Olhei as ligação e era um número que eu não tinha salvo na agenda. Fui até as mensagens desejando que as mensagens seja da pessoa que ligou. Abri a primeira mensagem.

Ash? É o Ju, me desculpe  ter ligados tantas vezes, mas queria falar com você. Que tal sairmos nesse final de semana? Beijo

Sem pensar muito apaguei a mensagem e quando estava pronta para ler a outra Edu falou:

- Quem ligou amor?

- Ahn, ninguém. Desconhecido- odiei como minha voz saiu nervosa.

- Ah... Ok!

Ufa, assim era melhor. Ele sem duvidar de mim era bem melhor. Ah, tinha me esquecido de deletar da minha mente também essas coisas, as vezes me esquecia da leitura mental de Edu.

Fui até a segunda mensagem e abri para ler.

Não respondeu porque? Me liga quando puder. Estou morrendo de saudades. Junior!

Mais uma vez apaguei a mensagem e olhei para o Edu e Kathy. Eles estavam prestando bastante atenção na tela do computador pra se preocuparem comigo.

- Pessoal, eu vou lá embaixo. - falei um pouco temerosa de que eles desconfiassem, então acrescentei- Preciso ligar pra uma amiga, a nova moradora da minha antiga casa. Eu fiz amizade com ela da vez que fui lá e...

- Tá Ash, tanto faz- disse Kathy apontando pra uma coisa no monitor.

- Ok- murmurei baixinho.


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Notas finais do capítulo

PESSOAAAAAAL, gostaram? Faltam apenas 9 caps... (chorando). Aproveitem enquanto há tempo. Bjs