Coração Imortal escrita por isabellatmassei


Capítulo 18
Memories


Notas iniciais do capítulo

Meu Deus, estão vendo, postei rapidinho o outro. Tenham uma boa leitura. O cap é pequeno. Beijos



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/82139/chapter/18

Tudo bem lá vai. Lembro-me de morar em Delaware, onde eu era muito feliz, mas nada comparado com agora. Mamãe e papai estavam indo me buscar na escola e sofreram um acidente feio. O carro perdeu a direção, pelo menos é isso o que dizem, e bateu na parede de um túnel. Mamãe morreu na hora, mas papai ficou um longo tempo em coma induzido, até que desligaram os aparelhos.  Eu tinha dez anos quando isso aconteceu, mas me lembro de ter chorado muito, e pedido que ele continuasse a viver comigo.

No outro dia mesmo, o conselho tutelar entrou em contato com minha tia e por mais estranho que pareça agora, ela não pensou duas vezes e me acolheu como “filha”. Fiquei na casa dela durante duas semanas no máximo e em todos esses dias, aprendi o que era viver sozinha. Acho que aquilo era um treino pra o que seria da minha vida a partir daquilo.

Respirei fundo e tentei evitar as lagrimas que viriam à tona. Continuei:

Nesse tempo ela estava à procura de uma escola interna para mim. Cheguei a ver freiras indo até o apartamento dela, oferecendo um ótimo modo de pagamento e dizendo que eu seria uma freira e tanto.

Ouvi o Edu rir, e sorri pensando em que freira me tornaria. Ainda bem que...

- Não é freira- Edu completou rindo um pouco.

Fiz que sim com a cabeça e voltei a relembrar tudo.

Ela não aceitou nenhuma das ofertas e continuou a procura. Ela foi até Nova York atrás de um ótimo internato, o quanto mais longe melhor. Certo dia veio com um papel até mim e no papel estava escrito: Purnell School- Internato de Harrison. Sorri por saber que iria voltar a estudar, mas chorei por dentro sabendo que era tão longe. Minha tia nunca mentiu pra mim, ou me enganou com carinhos e demonstrações de amor. Sempre foi bem clara quando se afastava e me deixava sozinha no apartamento.

Quando cheguei à escola você nem estava aqui ainda. Colocaram-me no dormitório infantil, em que tínhamos duas colegas de quarto e uma estagiaria em cada apartamento. Lembro que de cara fiquei amiga da Kathy, que por acaso também era nova na escola.  Eva, a outra menina, era muito quieta e sempre ficava lendo no quarto, então eu passava a maior parte do tempo fofocando sobre ela com a Kathy. A estagiaria não era muito legal, sempre nos botava cedo na cama e nos obrigava a fazer todas as lições, deve ser por isso que não lembro o nome dela.

 Na minha sala eu tinha poucos amigos, mas eles eram muito legais. Um deles era o Junior, o menino capeta da escola. Ele era tão legal comigo que eu cheguei a gostar dele, aquela paixonite de criança. O dormitório dele era de frente para o nosso e sempre que a estagiaria saia, ele corria para o nosso apartamento para brincarmos de verdade ou desafio. A Kathy sempre discutia comigo e dizia que era ela quem casaria com ele, eu dizia que tudo bem, mas no fundo sabia que seria eu a casar com ele. Um dia a estagiaria saiu e em minutos voltou e pegou o Ju no quarto com a gente. É claro, nos dedurou ao diretor Thales, o antigo diretor, e ele além de nos advertir, nos trocou de dormitório. O Ju continuou nos visitando por mais distante que estivesse, e sempre nos contava ótimas piadas e coisas sobre meninos. A Kathy se desencantou dele e aos doze anos se apaixonou pelo professor Moura, que nunca sequer a notou. Queria chacoalhá-la e dizer que ela era apenas mais uma aluna pirralha que se apaixonava por aquele monumento de gente. Meu Deus que homem era aquele, consigo me lembrar direitinho daqueles olhos azuis...

- Ei, meu olho também é azul Ash- sussurrou o Edu com uma voz de sono.

-Você está morrendo de sono, quer que continue?- perguntei pedindo mentalmente que a resposta fosse não. Eu gostava de me lembrar das coisas.

- Pode continuar, estarei ouvindo.

Então ela desencanou do professor Moura e começou a gostar de um tal de Paulo, um menino da nossa sala que era amigo do Ju. Aquele menino era um barato, sempre nos fazia rir. Eles nunca conseguiam ficar, sempre um amarelava na hora H. O Ju e eu riamos toda vez que ela voltava dizendo que ao havia ficado com ele. Mas ela fez treze anos e o corpo se desenvolveu, o que o atraiu denovo. O garoto não pensou duas vezes e a pediu em namoro, eles ficaram um tempo até que a mãe da Kathy descobriu. Ele concordou que não deviam namora ainda por serem jovens demais e tudo acabou. A Kathy não sofreu por muito tempo, logo o poderoso Tyler apareceu e a fez esquecer o Paulo. Ela fez quatorze anos e lá pro meio do ano decidiu tomar coragem para ir chamá-lo para sair. Ele era filho de atriz e era modelo desde criança, seria muita sorte conseguir algo com ele, o que ela teve de sorte. Eles namoraram até que ela descobriu que ele a traia, terminou com ele e começou a procurar outro para atazanar a vida.

Foi então que te conheci...

- Agora começou a parte que me interessa- sussurrou ele.

Assenti com a cabeça e continuei:

A Kathy procurava em tanto lugar que era impossível um menino passar despercebido. Foi nessa época também que nos mudamos pra cá, e ela usava nossa recente mudança para sair por ai, no dormitório masculino, perguntando se era bom ali mesmo, ou se havia outro lugar mais perto. Ela queria dizer: “Se não estiver bom lá, fique sabendo que vou para sua casa, ok?”

Numa dessas desesperadas procuras ela conheceu você. Lembro que estávamos no campus aproveitando um pouco do sol e ela me cutucou e disse:

- Ta vendo aquele gato ali? Vou conhecê-lo hoje, acha que faríamos um belo casal?

- Nunca o vi por aqui- sussurrei olhando direto em seus olhos, e que olhos.

Ela revirou os olhos.

- Dãr, lógico que não, ele é novíssimo Ash.

- Acho que ele é muito pra você- disse pegando meus livros e indo até a escola. O sinal acabara de tocar e tínhamos aula de física agora.

- Gosto dos mais difíceis- e deu de ombros.

- Então porque não tenta com o Junior?

- Claro Ash, vou tentar com ele também.

- Também? O Ju ta bom demais pra você Kathy- disse entrando no pátio da escola.

Ela me barrou no portão e me segurou pelo braço enquanto voltávamos a andar.

- Você curtiu o gato pôr-do-sol?

Franzi a testa, de quem ela estava falando?

- Quem?

- Ash, o carinha do campus.

- Ah, esse é o apelido dele agora?- perguntei sorrindo. Que apelido mais idiota.

- Não sei se vai pegar, acabei de inventar- disse ela a saltitar do meu lado.

Continuei a andar e agradeci a Deus por ela ter se esquecido da pergunta.

- Então, você o curtiu?- repetiu ela.

Droga!               

- Ele é bonito, ta na cara, mas eu nem conheço ele Kathy.

- Isso não é problema amiga. Você sabe que eu posso...

- Não Kathy, pelo amor de Deus! – gritei para que ela entendesse bem. Eu nem conseguia imaginar como seria se ela o fizesse.

Ela levantou as mãos se rendendo e voltou a andar do meu lado.

- Aula de física também Kathy?

- Não, matemática- respondeu ela mexendo na bolsa- É a sala do lado.

Vi que ela pegava vários papéis, olhava e depois os jogava denovo na bolsa.

- O que esta procurando?

- Uma carta que recebi, não sei de quem é, mas é linda Ash. Você tem que ler!- Ela olhou mais um papel e sorriu, devia ser aquele. Entregou-o para mim e acenou entrando na sala ao lado.

Aquele papel eu conhecia de algum lugar. Abri o papel e descobri de onde era que o conhecia, era do caderno do Ju e por acaso tinha a letra dele. Na carta estava escrito:

“Procurei por você durante toda minha vida, mas a única coisa que encontrei foram migalhas de um amor que não era verdadeiro. Sonho com você todos os dias e todas as noites, preciso de você aqui e agora. Não tive coragem pra lhe dizer quem sou, mas no fundo sei que você descobrirá. Quando ouço sua voz meu corpo estremece, sua voz é como melodia para mim. Você é minha sereia, que me encanta e me faz feliz a cada dia que passa. Sim, você me conhece, mas sei que vai imaginar milhares de pessoas menos a mim. Uma dica: Eu daria tudo pra te ter agora, então olhe ao seu redor e veja quem mais fica feliz em sua presença, essa pessoa sou eu.”

Guardei a carta correndo e voltei a prestar atenção na aula. As coisas que o Ju havia escrito eram tão lindas que eu quase vomitei. Quando foi que aquele menino aprendeu a amar alguém? Iria falar com ela na próxima aula.

Foi então que me lembrei de você ali, brilhando como um diamante no sol. Branco como a neve e com os olhos mais lindos desse mundo. Eu sabia que nunca conseguiria falar com você, era demais pra mim. Eu era bonita, mas não tão bonita como tantas outras na escola. Eu tinha o cabelo preto e liso jogado nos ombros e a minha maquiagem se resumia em delineador preto. A Kathy realmente teria mais chances, por culpa daquele visual incrível de menina loira e cabelo ondulado até a cintura. Eu tinha que tentar me aproximar de você, mas como fazer isso, eu não sabia ao certo.

Na aula seguinte cheguei à sala e sorri ao constatar que o Ju estava ali. Sentei-me do lado dele e tirei a carta da bolsa. Coloquei-a em cima da mesa e voltei o olhar para ele. Ele estava bastante surpreso de ver a carta ali comigo, e devia estar imaginando tantas coisas que logo decidi ajudá-lo a entender.

- Foi você não foi?

Ele olhou pra mim, voltou a olhar pra carta, fechou os olhos e assentiu.

- Eu sabia! Como a Kathy é boba de não desconfiar de você- disse pulando de alegria em minha cadeira.

- Ela nem me nota, não é?

- Ela nunca iria imaginar que é você porque você não demonstra interesse. Deve ser que eu tenha percebido por estar de fora- expliquei pegando a mão dele- Porque não fala logo que é você? Aquela carta esta linda, sério mesmo.

Ele iluminou o rosto e voltou o olhar para mim.

- Você acha que ela gostou?

- Ela amou com certeza Ju, quem não amaria?

Ele voltou os olhos para a lousa rindo a toa. Aqueles dois ficariam juntos, disso eu sabia, mas será que ele não iria iludir minha amiga também?

- Ju, posso te perguntar uma coisa?

Sem tirar os olhos do caderno e da lousa respondeu:

- Qualquer coisa.

- Você não magoaria a Kathy, não é?

Agora ele voltou os olhos para mim e negou com a cabeça.

- Eu vi o que ela se tornou por culpa de uma traição, nunca a magoaria- mentiu ele. Depois de eles terem perdido a virgindade, ele saiu da escola e terminou tudo, mesmo eu implorando que não o fizesse.

Depois daquela conversa decidi ajudar os dois, mas só quando eles estivessem prontos para serem ajudados. O que descobri depois de uma ou duas semanas, eles estavam ficando as escondidas e quando perguntei o porquê de ela não ter me contado, ela disse que achava que eu gostava dele, vê se pode... Mesmo porque eu estava agora apaixonada por um Eduardo aí que nunca havia notado minha presença. Ele era paquerado por toda a escola e muita gente saía contando que já o tinha pegado. Eu não acreditava em fofocas, mas falando daquele gato do Eduardo já era outra coisa. Ele devia ser daqueles que dá bola pra todas as meninas mesmo, bonito daquele jeito...

A Kathy sempre dizia: ”Ash, vai atrás do gato, não o deixa fugir”. E eu fingia não ouvir e continuava com minha rotina chata e perturbadora. Perturbadora porque tinha que ouvir todo santo dia a Kathy dizendo que o Ju estava passando a mão nela, que o Ju isso, que o Ju aquilo, e o que eu dizia? Eu falava: “Cuidado com essas liberdades, mas se acha que é o que quer, faça com segurança”. Ela sempre saia mais confusa do que quando entrava na conversa, e sempre a culpa era minha. Mas um santo dia ela chegou com a grande noticia:

- Dormi no apartamento do Ju.

- Ta, eu sei- respondi com um tédio indescritível.

Ela revirou os olhos.

- Sabe o que mais fiz além de dormir?

Olhei assustada pra ela.

- Não!

- Sim!

- Sério? Oh Meu Deus, que legal amiga- disse abraçando-a- Como foi, sente dor?

- Foi um pouquinho doloroso, mas agora ta tudo bem. Eu não sou mais virgem!              

- É eu sei- disse rindo como uma idiota- E eu nem tenho namorado.

Ela mudou a expressão feliz e passou pra uma inquisitiva.

- Você é tão linda amiga, porque não cria coragem de uma vez e fala com o gato pôr-do-sol?- ri por saber que ela ainda o chamava assim.

- Não consigo, eu me travo toda na hora.

- Você nunca tentou Ash- comentou ela- Lembra que você é boca virgem?

Fuzilei-a com o olhar e voltei os olhos para o chão. Odiava quando ela me lembrava que era aos quatorze anos, quase quinze, uma boca virgem inexperiente.

- Eu vou te ajudar, eu prometo não fazer bobagem. Se liga, agora sou uma mulher! – disse ela mexendo nos peitos. Que maluca!

- Não fale com ele, imagina o que irá pensar de mim!

Ela eu de ombros e se sentou no tapete do quarto.

- Acho que anjos não julgam as pessoas...

- Anjos?- perguntei curiosa- Você o considera um anjo?

Ela soltou uma gargalhada.

- Ah para amiga, aqueles olhos azuis e cachinhos loiros não são angelicais?

Queria dizer que SIM, ele era um anjo em forma de gente, mas só balancei a cabeça concordando. Eu tinha que falar com ele antes que ela se manifestasse.

- Escute aqui mocinha, te dou dois dias pra falar com ele. Antes dos quinze quero você namorando ouviu bem?

- Dois dias? É muito pouco Kathy...

- Na-na-ni-na-não!

- Tudo bem então, eu falo com ele, mas namorar? Você bota tanta fé em mim?

Ela só deu um sorriso e saiu do quarto. Aquilo seria um sim?

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Ei, não ficou tão grande, certo? Ok, a mesma coisa denovo: No décimo review eu posto. Obg por eles e pelas recomedações, eu simplesmente amo vocês. Beijos ♥