- Não - sussurrou ele se levantando e me segurando pelo braço

- Me solta, você não me contou que podia fazer isso- digo me desvencilhando de seu aperto forte em meu braço. Sem sucesso.

- Você não sabe de nada...

- Claro que não, você esconde tudo de mim. O que foi hein?- pergunto mais uma vez puxando meu braço, e dessa vez me soltando dele.

- Não posso- disse ele indo em direção da porta

- Não pode o que?

- Não posso falar. Simplesmente não posso.

- Não vai, eu não vou te pressionar, por favor- digo sentando no chão

- Estou cansado demais, não podemos conversar agora- ele diz saindo do quarto

E foi isso. Ele conseguiu descobrir o que eu estava pensando e ainda por cima não me contou como fez isso. Agora não sei quem é mais estranho. Se é a maluca da Blair ou meu namorado. Eu saberia entende-lo. Não julgaria ele mal. Mas não vou pressioná-lo a nada, eu não quero perde-lo fazendo isso.

- Tudo bem, vamos conversar- disse ele entrando em meu quarto e se deparando comigo às lagrimas- Ash, não chore...

- Eu to bem, só achei que... Bem, eu achei que iríamos terminar de uma vez- digo apoiando a cabeça no ombro dele.

Ele fica quieto durante bastante tempo. Provavelmente é isso mesmo. Eu preciso me situar. Chorar que nem uma retardada não vai ajudar nada. Eu passei por coisas piores e estou viva, não vou lamentar perda de uma homem. O meu homem.

- Edu, eu me entreguei pra você.

- Eu não vou terminar com você Ash, eu só estou pensando em como te contar uma coisa aí.

- Não precisa, eu vou te entender- digo acariciando-o

- Eu preciso te contar – mas de súbito olhou para o lado assustado.

- O que foi?- pergunto tentando olhar no escuro

- Tem alguém batendo na porta- disse ele saindo do quarto

Sai do quarto tateando a parede até que chego na sala iluminada pelo fim do dia.

- Olá diretor Mathew- diz o Edu olhando pra trás e me encontrando com uma cara de assustada.

- O que o Senhor faz aqui?- pergunta o diretor

- Vim visitar a Ashley.

- Acabo de falar com a colega de vocês, a Blair. Não acredito no que a senhorita Weber tentou fazer- diz ele entrado e me vendo ali estática- Que vergonha Ashley. Você se prepare, porque isso resultará em expulsão!

Fico olhando pra cara dele sem saber exatamente o que dizer. A Blair jurou não dizer nada e agora ele vem aqui sabendo de tudo.

Senti o corpo de Edu tremer e derrepente o diretor já não estava mais ligado no que estava fazendo aqui.

- Então você faz feitiço?- sussurro já arrependida de tê-lo pressionado.

- Não, é mais do que isso- ele disse levando o diretor até a porta- Até mais diretor, obrigado por ter deixado faltarmos.

- Irado- digo sem querer

- Nem um pouco- diz ele indo até o sofá e ligando a TV

Sento na outra ponta do sofá e estico as pernas tentando dormir mais um pouco. Sinto-me fraca agora, e um pouco trêmula. A Blair não é quem parece, disso eu tenho que concordar com o Edu.

- Eu não sei o que sou, só sei o que posso fazer- disse ele me fazendo abrir os olhos pra acompanhá-lo na conversa- Eu mexo com as pessoas, as faço esquecerem o que se passava, faço o clima ficar mais calmo. E de uns dias pra cá estou ouvindo o pensamento das pessoas, não é assustador?- pergunta ele virando pra mim

- Não, nem um pouco. Você continua o mesmo Edu- digo voltando a fechar os olhos

- Você não se importa?

Não, nem um pouco. Eu gosto de você sendo esquisito ou não. Você me ajudou demais hoje, nem sei por onde começar a agradecer. Eu te amo Edu.

- Não gosto desse tipo de comunicação, mas eu também te amo- disse ele indo até o quarto

- Edu, espera ai- digo indo atrás dele- Você não acha o máximo poder mexer com a cabeça das pessoas? Hoje eu ia ser expulsa e agora posso até faltar na escola!

- Fico feliz de ter te ajudado, mas é que as vezes é um fardo.

- Ta tudo bem... vamos só descansar um pouco mais e tudo ficará bem.

(...)

Sonhei que estava num campo correndo em direção ao Edu e quando vou tocá-lo aparece a Blair e diz que se ele me ajudou eu tenho que tentar ajudá-lo também. Ela o pega pelo pescoço e o sufoca. Eu grito desesperada e aonde eu estava a um minuto aparece a Ka e o Beto olhando pra um caixão e chorando. Quando chego lá vejo o Edu repleto de rosas brancas e vermelhas sobre o corpo e com um leve sorriso no rosto. Ele morreu. Eu corro de volta até a Blair e me atiro contra ela. Rolamos morro a baixo e quando chego la em baixo faço exatamente o que ela fez com meu namorado. A sufoco até a morte!

- Ash?- grita o Edu me chacoalhando

- O que?- digo esfregando os olhos

- Pesadelo, e que pesadelo- diz ele se sentando na cama

- Você consegue ver meus sonhos também?

- Pesadelo- corrigiu ele- E sim, eu consigo porque você pensa nele. Dãr

- Foi horrível, parecia muito real Edu.

- Eu sei, também senti a mesma coisa- ele para um instante, mas continua- Eu estava bonito no caixão não estava?

- Lindo, mas podia estar fora dele- e olhando a reação dele reformulo a frase- Podia ser eu ali.

- Não, isso não!

- Podia- repito em voz alta

- Não, não podia- disse ele balançando a cabeça- Por mais que tivesse de ser você eu daria um jeito de reverter a situação. Eu daria minha vida por você.

Fico remoendo as informações novas e então me dou conta de que ele acha que o sonho pode ser real.

- Sim- responde ele ao meu pensamento

- E a Blair?- pergunto fazendo uma careta

- Eu vou tentar confundi-la, depois dou um jeito de tira-la do mapa- diz ele traçando vários tipos de desenho em meu braço.

- Nervoso?

- Muito- responde ele suspirando

- Tudo bem, nós quatro estamos juntos nessa- explico tentando acalmá-lo

- Não, nem nós quatro nem nós dois. Só eu e pronto.

- O que? Ficou maluco?- digo levantando e dando um peteleco no braço dele- Você não vai fazer nada sozinho!

- Se tentar me contrariar eu te deixo confusa e eu só quero ver.

- Não Eduardo, você não vai mexer comigo assim. O que é? Sempre me persuadiu desse jeito?- pergunto

- Nunca fiz isso com você Ash- respondeu ele balançando a cabeça

- Pois então me deixe te ajudar sem interferências- digo saindo do quarto - Preciso planejar um jeito de resolver isso!

O Edu é um super-homem, literalmente. Mas eu fico pensando se ele nunca usou de seus poderes pra me persuadir. Com certeza já. Ele pode ter tudo o que quer e como quer. Ele esta lendo meus pensamentos agora, é melhor eu calar a boca. Não, eu posso dizer coisas que façam ele se tocar e parar de mexer com a minha cabeça. Posso falar mal dele a todo o momento e ele vai ouvir. É claro. É isso que tenho que fazer.

- Você esta me deixando louco com essas idéias- diz ele levantando a cabeça do travesseiro

Meu deus, ele ouviu tudo. O que fazer, o que fazer? Direi você ta louco? Não! Ele ouve pensamentos, ele esta ouvindo. Estou cansada disso tudo.

- To vendo que não sou só eu que fico louco desse jeito. Você me ama?

Fico quieta. Tá bom que vou dar o braço a torcer.

Ele revira os olhos.

- Eu sei que me ama porque eu vi na sua cabeça. Ash, não dá pra mentir pra mim.

Injustiça, injustiça, injustiça!

- Também acho, mas o que posso fazer? Não consigo não ler sua cabecinha- explica ele pousando a boca em meu pescoço

- Tudo bem, não estou mais cansada. Vamos resolver aquele probleminha?- pergunto mudando de assunto. Ok, ele não consegue evitar, mas se fazer maior por isso já é demais.

- Não, ela já esta em casa- responde ele ao se espreguiçar- Vou embora agora, boa noite amor.

- Não! Vamos lá falar com ela.

Ele parece indeciso por um segundo, mas depois clareia a mente.

- Não existe conversa, quando houver alguma discussão será definitiva- responde ele botando o tênis.

- Definitiva? Você quer fazer o que? Matar ela?- pergunto levantando da cama- Ela só tem 16 anos!

Ele revira os olhos e responde:

- Ela parece ter 16 anos? Olha Ash, aja normalmente. Não mude seu comportamento, isso é importante!

Pensando no que ele falou me lembra de que a Kathy vai pegar os diários na manhã seguinte.

- Edu- sussurro- A Kathy e eu vamos pegar os diários da avó dela, quem sabe não descobrimos alguma coisa.

- Claro, seria uma boa ajuda se ela estivesse possuída por alguém. Ela se faz de possuída!- explica ele levantando e ajeitando a roupa

- Mas deve ter alguma coisa que possamos usar em prol da gente. Não custa tentar Edu.

- Ta Ash. Boa noite e nem tente ir falar com ela- ele me dá um beijo e sai pela porta