Dannielle estava nas nuvens.

A ligação de Jansen havia sido completamente inesperada. Já não se falavam há quase um ano, embora ela tivesse diversas vezes ensaiado ligar. Por duas vezes, por pura insegurança, desligara logo após escutar, do outro lado da linha, aquela voz deliciosamente rouca.

Não queria parecer oferecida. As amigas diziam que ela precisava deixar de agir como uma caipirona da Louisiana. Estava em Washington. Século XXI. Mas fazer o quê, ela era assim. Romântica.

Mas o tempo passava e suas chances pareciam cada vez menores. O tempo continuou passando e ela finalmente deixou de alimentar esperanças. Sabia que o melhor a fazer era deixar a fila andar. Mas a fila teimava em continuar parada. Ela ainda não tinha virado de vez a página onde o nome de Jan aparecia cercado de coraçõeszinhos.

As amigas diziam que ela não tinha mais idade para alimentar ilusões de adolescente, que tinha que ser prática. E que, principalmente, não devia alimentar ilusões sobre Jan Ackles. Já seria difícil conciliar os horários se os dois vivessem na mesma cidade, quanto mais ela morando em Washington e ele em Vancouver.

As amigas lembravam o problema da distância, mas a verdade é que todas já tinham ouvido falar das recentes mudanças na vida de Jan Ackles. E das maledicências que essas mudanças trouxeram à tona. Sabiam que Jan estava morando com Jay Padalecki. E por mais que soubessem como são os tablóides, sempre inventando histórias que alavancassem as vendas, também sabiam que onde há fumaça, há fogo.

Nenhuma esquecera que, durante as três semanas de gravação de Ten Inch Hero, ninguém soube de nenhum envolvimento de Jan Ackles com quem quer que fosse, apesar dele estar solteiro e de todo o assédio que sofreu das garotas locais. Fez muito jogo de cena, lançou muitos olhares sedutores, mas nada de concreto acontecera até onde sabiam. Dani estava se enganando. As evidências estavam todas ali, para quem quisesse ver.

– Está mesmo disposta a ir? Tenho medo que você volte a se machucar, amiga.

– Mas pelo menos resolvo essa história de vez na minha cabeça. Ele não me deu esperanças, não disse que me amava, mas foi sempre tão atencioso, tão preocupado comigo, tão gentil. Ele me convidou diversas vezes para jantar e, depois, andávamos de mãos dadas na orla, conversando. Rindo. Sei que gostou de mim. Pelo menos um pouco ele gostou.

– E é isso que quer de um homem? Que goste UM POUCO de você? Vocês mal se tocaram. Não aconteceu um único beijo longe das câmeras.

– Talvez ele só estivesse sendo prático. Teve medo de se envolver demais. Sabia que eram só três semanas.

– Não conheço nenhum homem que pense desta maneira quando está interessado. Eles só vão se preocupar com isso depois. E só se estiverem interessados em uma segunda vez.

– O Jan não é assim.

– É exatamente esse o problema. Ele não ser assim deve significar alguma coisa.

Dani percebeu logo nos primeiros minutos a diferença entre o Jansen que conhecia e esse novo Jansen que fora esperá-la no aeroporto. O novo tinha o olhar cafajeste que ela reconhecia da interpretação que ele fazia de Dean Winchester. Aquilo a deixou apreensiva de início. Jan Ackles parecia ter incorporado Dean Winchester.

Ela passara a acompanhar a série somente depois que o conhecera. Era uma forma de vê-lo toda semana, de tê-lo perto de si, mesmo que à distância. Com o tempo, Dean e Jan começaram a se misturar em suas fantasias. O homem ideal teria a sensibilidade de Jan e a pegada de Dean. Esse novo Jan, se não era o homem ideal, parecia muito com a imagem que fazia de um.

Ele a apanhara no aeroporto, a deixara no hotel e voltara para o estúdio. Mas chegara pontualmente no horário que marcaram para o jantar. Achou Jan um pouco mais formal, agindo como se tivessem se conhecido naquele momento. Mas, não tinha do que reclamar. Ele estava mais sedutor do nunca. E ela viera disposta a agarrar aquela oportunidade com unhas e dentes.

A prova dos nove seria ao final do jantar, quando ele a acompanhasse até o quarto. Tinha receio que fosse como em San Pedro, onde, ao final de cada noite aparentemente perfeita, ele a deixava na porta de seu quarto de hotel e se despedia com um beijo de amigo. E ela dormia chorando abraçada ao travesseiro.

Ela adorou descobrir que desta vez não foi um beijo de amigo. Ainda estavam se beijando com sofreguidão quando ele envolveu com os braços sua cintura, a levantou do chão e caminhou com ela para o interior do quarto. E, num toque Dean Winchester, fechou a porta com o pé.

No dia seguinte, seria cobrada uma diária de Jan Ackles.

No dia seguinte, Jansen entrou no estúdio com um sorriso luminoso. O sorriso que estava ausente da face de Jay Padalecki. Dean ainda não sabia, mas isso não era nada bom.