Sete Vidas escrita por SWD


Capítulo 54
vida 5 capítulo 3




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Dean puxou pela memória para tentar entender sua reação ao ver Adam Winchester entrando no quarto 212 do Blue Mountains Motel. Reconhecera de cara o meio-irmão Adam MILLIGAN. Estranhara o fato dele estar vivo. Lembrava de ter preparado o corpo e depois ter acendido a pira fúnebre do meio-irmão, num bosque próximo à cidade de Windom, em Minnesota. Lembrava de si mesmo, ao lado de Sam, em frente à pira, rezando pela alma do rapaz de 18 anos morto por ghouls. Acontecera 3 semanas antes de virem para o Oregon.

ACONTECERA? Lembrava claramente da cena e até de detalhes da cena, mas nada daquilo tinha acontecido. NUNCA. Nunca tivera nenhum meio-irmão chamado Adam. De onde vieram aquelas memórias? Aquelas memórias não eram realmente SUAS. Eram memórias de QUEM?

O ponto em comum entre essas memórias e sua atual realidade, além de Adam, fosse ele MILLIGAN ou WINCHESTER, eram os ghouls. Ghouls tinham matado Adam em alguma realidade e, agora, esse outro Adam e Sam acreditavam que ele, Dean MILLIGAN, era um ghoul.

O Trickster o alertara que os irmãos encontrariam os restos mortais do verdadeiro Dean Milligan. Se existia um Dean Milligan morto, o que ele era? Um ghoul? Era Dean Winchester e estava preso no corpo de um ghoul? Era um ghoul que passara a acreditar ser o humano que devorara? O Trickster usara seus poderes para criar falsos restos mortais para enganar os Winchester e jogá-los contra ele? Aquilo era de enlouquecer qualquer um.

Não bastava ter sido transformado num garoto. De ter deixado de ser um Winchester. Agora não tinha mais certeza nem mesmo de ser humano. Podia ter sido transformado num monstro que precisava ser caçado e exterminado. Percebeu que estava chorando. Chorando como uma menininha. A tortura a que o Trickster o estava submetendo parecia não ter fim.

Ghouls eram mortos-vivos e como tal eram afetados por prata. Não estava com o seu amuleto. Com ele podia ter certeza do que era. Mas não era só isso. Precisava do OUTRO amuleto para sair daquela realidade. Não fora isso que o Trickster dissera antes de terem sido soterrados no terremoto? Com quem estaria o outro amuleto? A lógica dizia que estava com Adam. Fugir não era a solução. A única fuga viável era através do amuleto. Para obtê-lo, precisava voltar e enfrentar os irmãos. Precisava enfrentá-los e vencê-los.

A primeira coisa a fazer era descobrir mais sobre o caso Dean Milligan. A melhor fonte de informações era o laptop de Sam. Era bem possível que os irmãos tivessem saído para beber e só voltassem depois das 2:00 da manhã. Teria que se arriscar com o Impala. A pior coisa que podia acontecer era ser pego pela polícia rodoviária. A sorte é que já era tarde da noite. Salvo alguma operação especial de repressão, o que era pouco provável, não teria problemas.

Estacionou num beco a cerca de 200 metros do motel. Fez o reconhecimento de área. Confirmou que o quarto estava às escuras e que não estava sendo observado, antes de subir as escadas e testar a maçaneta. Abrir a fechadura com um grampo era um truque que aprendera quando realmente tinha a idade que agora aparentava. Ninguém. Melhor assim. Mesmo que os irmãos estivessem dispostos a matá-lo, não podia responder da mesma maneira. Eram seus irmãos, mesmo que não acreditassem nisto.

A senha do laptop era a mesma que o seu Sam usava. Era desconcertante como algumas coisas se repetiam nos universos alternativos. E como outras coisas podiam mudar tão completamente. Ele, um estranho. Sam disposto a caçá-lo. CHEGA. Foco, Dean. Já estava naquela realidade há quase cinco horas. Podia começar a esquecer quem realmente era. Se isso acontecesse, se passasse a se reconhecer como Dean Milligan, estava perdido. Precisava de toda a sua experiência de caçador para sobreviver.

Já sentia diferenças na forma de pensar e sentir. A sua reação quando Sam falara em arranjar um lar adotivo para ele fora a reação que Dean Milligan, um garoto de 14 anos, teria. O medo que sentira quando Adam avançara armado de faca, uma situação pela qual já passara mil vezes, também fora desproporcional. A terrível sensação de desamparo - e seu choro - após o encontro com o Trickster. Emocionalmente, ele já não era mais ele mesmo.

De acordo com as anotações no laptop, Sam e Adam haviam chegado a La Grande há sete dias atrás. Vieram investigar a notícia de que um corpo semi-devorado fora encontrado. À primeira vista, seria a vítima do ataque de algum animal, mas uma testemunha afirmava teria visto a criatura e que ela teria características humanas. Além disso, especialistas não identificaram o tipo de animal pelas marcas de dentes e garras encontradas.

Pesquisaram na internet fatos estranhos ocorridos na região de La Grande nos últimos seis meses. Um outro caso de morte por ataque de animal com características parecidas acontecera quatro meses antes. Uma menina e um adolescente estavam desaparecidos há mais de um mês.

Ao chegarem, se identificaram junto à polícia local como agentes federais, com Bobby confirmando as credenciais e pedindo a colaboração do delegado Hayden. O delegado designou o policial Levine para trabalhar com os federais.

O delegado franqueou a eles os arquivos sobre o caso. As investigações em curso pela polícia apontavam desaparecimentos misteriosos nos subúrbios de La Grande próximos ao cemitério local no último ano. Sete desaparecidos. Duas vítimas do que parecia ser um animal de grande porte.

Investigando no cemitério à noite, tiveram o primeiro avistamento das criaturas. Dois deles. Mas estavam distantes e desapareceram sem deixar rastros.

Depois de duas noites de vigília no cemitério, voltaram a avistar uma das criaturas, desta vez perto o bastante para identificarem-na como um ghoul. Seguindo a criatura, chegaram à casa dos Milligan. Restava muito pouco do homem. A mulher estava morta há mais de 12 horas, mas o corpo ainda estava intacto.

Adam explodiu a cabeça do primeiro ghoul com um tiro de rifle a curta distância, na cozinha da casa. O segundo tentou fugir, mas Adam o perseguiu e o alcançou antes que entrasse num bosque a cerca de um quilômetro da casa. Deu cabo dele com um único tiro certeiro dado de mais de 50 metros.

Sam encontrou Dean Milligan quando revistava o sótão da casa. O garoto o olhara apavorado quando forçara a entrada do alçapão. O garoto vira os pais serem mortos e estava traumatizado. Os ghouls aparentemente sabiam que estava escondido no sótão. Provavelmente o matariam após devorarem seus pais.

Sam conseguiu acalmar o garoto e o retirou da casa antes da chegada da polícia, sem deixar que visse a cena traumática dos cadáveres dos pais, principalmente o do pai. Tivera que brigar muito, mas conseguira com o delegado que o garoto ficasse sob sua guarda até que a chegada da assistente social designada para o caso.

O policial Levine providenciou a remoção dos corpos das vítimas e das criaturas. Sam ressaltou no texto o fato do policial não ter demonstrado a estranheza esperada ao ver que as criaturas eram inumanas, mas que tampouco eram animais. O fato também não foi divulgado nem vazou para a imprensa, apesar do envolvimento de, pelo menos, mais três policiais e do legista.

Os Milligan eram conhecidos e queridos na cidade e suas mortes causaram comoção. Como não foi divulgado que os assassinos foram mortos, o clima de apreensão na cidade persistia.

Uma reunião entre a polícia local e os federais estava marcada para o dia seguinte à tarde. Os Winchester pretendiam trazer estas questões à tona.

O arquivo do caso se limitava aos aspectos policiais, sem fazer nenhuma consideração mais pessoal sobre o garoto. Mas, conhecendo Sam como conhecia, Dean buscou seguir sua linha de raciocínio e seus próximos passos no histórico do computador.

Sam consultara as páginas dos sites dos governos estadual e distrital sobre adoção. Será que Sam cogitou, mesmo que por um minuto, a hipótese de adotá-lo? Lembrou da forma afetuosa com que Sam o tratara. Será que pressentira que tinham uma ligação, mesmo não sendo irmãos nesta realidade? Sentiu-se emocionado e, por um momento, feliz.

Ao terminar a leitura dos arquivos, Dean se deu conta que estava faminto. Havia uma fatia de pizza numa embalagem deixada sobre uma cadeira. Mas não chegou a morder a fatia. Sabia que não ia conseguir engolir aquilo. Estava faminto. Mas não queria pizza. Queria CARNE.


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