Sete Vidas escrita por SWD


Capítulo 47
vida 4.1 capítulo final


Notas iniciais do capítulo

Este capítulo é a seqüência imediata de vida 4.1 capítulo 3 e precede vida 4.1 capítulo 4.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/81878/chapter/47

02 DE MAIO DE 1989

Benjamim enxuga as lágrimas e inspira o ar fresco da manhã. Nunca se sentira tão senhor do seu destino como naquele momento. Ia fazer o que era CERTO e porque era CERTO.

Sua mente não estava nublada por dúvidas nem por medo.

Provocar uma explosão de gás era simples. Bastava inundar o ambiente com gás e provocar uma centelha. E, para isso, bastava acionar o interruptor de luz. Mas assim não escaparia da explosão. Se pudesse provocar a centelha usando um controle remoto eliminava esse inconveniente. O controle remoto da TV. Podia colocar a TV na cozinha. Não, não ia funcionar. O alcance era muito restrito, não dava para acionar de fora da casa. Não um controle de 1989.

O que mais? Um interruptor atuava fechando um contato elétrico. Podia fechar o circuito usando um arame. Um arame comprido. Mas a janela tinha que estar fechada para o gás não dispersar. E ele teria que estar olhando. Novamente teria que estar dentro da casa. Novamente não escaparia da explosão.

Tinha que voltar e analisar bem o lugar. Ver o que tinha nas mãos para agir.

Precisava também afastar vó Mary e Sam da casa. O melhor era não arriscar. Quanto mais cedo fizesse acontecer, menos arriscava que acontecesse como da primeira vez.

Ou será que não?

Existia ainda a hipótese - terrivelmente incômoda - de ter sido ele o causador da explosão original, a que matou Mary e Sam. Um daqueles paradoxos temporais. O risco da explosão só ter existido porque ele interviu. Sua presença no passado poderia ser a causa dos fatos que teve conhecimento no futuro. Neste caso, salvá-los seria não agir para salvá-los.

Não, não podia ficar paralisado por dúvidas. Tocou a campainha da casa.

- Benjamim, que bom que voltou. Estávamos aqui preocupados. Vou ligar para o John para contar que você está de volta.

Benjamim aproveita a saída de Mary para analisar com cuidado a cozinha.

Primeiro, o fogão. Gás de botijão. A mangueira estava bem conectada e em bom estado. Nenhum cheiro. Aparentemente, nenhum vazamento.

Uma grande janela dupla. A externa, tipo veneziana, de abrir e a interna, de levantar, com vidro. Abertas, ótimo. A cozinha era bem ventilada. Alguém teria que fechar a janela para haver a explosão. Teria que ficar atento a isso.

Havia um interruptor próximo à porta que dava para a sala e outro próximo à porta dos fundos, que dava para o quintal atrás da casa. Testou a porta dos fundos. Trancada. A chave não estava à vista. Precisava da chave da porta. Da porta, tinha acesso ao interruptor e estaria razoavelmente protegido da explosão. Precisava desmontar o interruptor. Uma chave de fenda. Um arame fino e comprido. Fita isolante, talvez.

A inspeção é interrompida pela volta de Mary.

- Está melhor, Benjamim? Foi bom que tenha chorado. A aceitação é o primeiro passo para a superação.

- Não queria trazer problemas, DONA Mary. Hoje é o aniversário do Sam. É para ser um dia feliz. Planejaram a festa para que horas?

- Depois do jantar. John vai fechar a oficina mais cedo. Dean e Lisa também vão ajudar nos preparativos. Eles foram comprar coisas para enfeitar a casa, mas logo logo estão de volta. Hoje à tarde a casa vai estar bastante movimentada.

‘Droga. Isso significa que deve acontecer de manhã, ou seja: pode acontecer a qualquer momento.’ Benjamim sente a urgência de tirar os dois de casa e fazer o que é necessário.

- O Sam está no quarto dele?

- Está. Pode subir para falar com ele.

Benjamim encontra Sam estudando no quarto.

- Não teve escola hoje?

- Eu estudo à tarde.

- Sabe do Dean? Vai dar a corrente de presente, como falei? Gostaria muito de vê-lo com ela antes de ir embora.

- Vou, só estou esperando ele voltar.

- Sam, sei que você vai estranhar o que vou dizer, mas não deixe que o Dean descuide da forma física. Insista que se alimente de forma saudável. Sedentarismo e má alimentação matam.

- Benjamim, parece que você está falando de outra pessoa. Você viu o Dean. Está com um corpo ótimo. Faz exercícios. Come a comidinha da mãe. Acho impossível que um dia ele fique gordo.

- Só me promete que vai tomar conta, tá bom.

- Tá, prometo. Foi assim com o seu pai, não foi?

Benjamim confirma com a cabeça e a lembrança do pai faz com que escorra uma lágrima. Se ele sobreviver vai fazer o possível e o impossível para que o pai não acabe morto aos 36 anos de enfarte.

Um chamado de Mary tira Benjamim de seu devaneio e o coloca em estado de alerta.

- Sam, vou colocar o bolo no forno. A forma está aqui, esperando você.

‘Mary e Sam juntos na cozinha acendendo o forno. Vai acontecer.’

Benjamim se prepara para segurar Sam e impedi-lo de descer, mas Sam, eufórico com a perspectiva de lamber a forma de bolo, passa por ele antes que esboce uma reação.

Sam desce correndo a escada, de dois em dois degraus, e no último lance da escada, tropeça e cai. Mary, que estava agachada em frente à porta do forno, tinha, naquele momento, aberto o gás e se preparava para acender o fósforo. Ao ver Sam cair da escada e gritar, corre para socorrê-lo, esquecendo o gás aberto.

Uma repentina ventania, bate com força uma das folhas da janela de abrir e a trepidação faz cair a janela de vidro. O gás começa a se acumular na cozinha.

Benjamim passa por Mary e Sam, vê a janela fechada e sente o cheiro de gás. Mary também sente o cheiro de gás e faz menção de voltar à cozinha, para desligar o gás. Sam ainda está sentado no chão, na base da escada, massageando o joelho doído.

Benjamim se interpõe, impedindo Mary de entrar na cozinha. Como ela insiste em entrar, ele grita, colocando na voz uma autoridade que ele nem sabia que tinha.

- Eu preciso entrar para fechar o gás.

- NÃO. NÃO VOU DEIXAR QUE ENTRE. É PERIGOSO. SAIA DA CASA E LEVE O SAM. SAIA. RÁPIDO.

Benjamim meio que empurra Mary e Sam na direção da porta da rua. Para impedir que voltem, tranca a porta por dentro. Corre, então, para ele mesmo desligar o gás e abrir a janela.

Irrefletidamente, Mary toca a campainha para que Benjamim abra a porta. A sirene da campainha, instalada na cozinha, gera uma centelha. A centelha causa a ignição do gás. A explosão acontece.

Benjamim sente acontecer em câmara super lenta. Ele vê a bola de fogo se expandir na sua direção. Vê o deslocamento do ar derrubar objetos no caminho. Sente a suave brisa da frente de ar aquecido que precede o fogo. E, então, começa a desvanecer.

Ao ser envolvido pela explosão, ele apenas se sente em meio a um magnífico espetáculo de fogo e de ar em movimento. Já não estava mais sólido o bastante para sentir a onda de pressão e o calor do fogo. Já não sente dor, calor ou desconforto.

A última coisa que viu foi a janela explodir projetando brilhantes cacos de vidro para fora. Benjamim desaparece, como se nunca estivesse estado lá. Isso porque, na verdade, ele nunca esteve.

A explosão, ao acontecer sem vitimar nem Mary nem Sam, mudou completamente o destino de Dean.

Na linha de tempo original, a forte chuva que começou às 20:24 de 13 de junho de 1990 manteve Dean e Lisa, já casados, entretidos no quarto do casal. Benjamim foi gerado às 23:02 daquela noite.

Na linha de tempo modificada, a forte chuva que começou às 20:24 de 13 de junho de 1990 fez com que Dean, ainda solteiro, adiasse o encontro com Lisa para o dia seguinte. A filha única do casal, Sarah, foi gerada exatos 94 dias depois desta data.

O Benjamim que era filho de Dean e Lisa nunca chegou a existir. Não foi gerado, não nasceu, não viveu o terrível terremoto, não voltou ao passado, não interagiu com o pai nem com ninguém da família. Os Winchester não lembram dele. Ele nunca esteve lá.

Todo o fluxo do tempo se reordenou e uma nova realidade foi criada. Uma realidade em que Benjamim Braeden Winchester nunca existiu.

Paradoxalmente, no entanto, Benjamim Braeden Winchester, um rapaz que nunca existiu, se materializa do outro lado da rua, a tempo de ver a espetacular explosão destruir o andar de baixo e iniciar o fogo que terminaria por destruir toda a casa.

Uma voz ressoa em sua mente. Uma voz maravilhosamente musical, embora indubitavelmente masculina. Benjamim não reconhece a voz, mas sabe ser do estranho que o enviou ao passado para mudar o destino do pai e salvar o tio.

- Fez um ótimo trabalho, Benjamim. O Céu lhe deve muito. Você fez o CERTO. Provou ser digno de carregar o nome Winchester. Voltaremos a nos encontrar daqui a alguns anos, no dia em que você iniciou essa viagem. Até lá, viva intensamente sua vida.

Benjamim vê de longe um preocupado Dean correr para abraçar um assustado Sam. Vê quando Sam tira do bolso a corrente com o amuleto e presenteia o irmão com ela. E sorri, quando Dean a coloca no próprio pescoço e dá um segundo abraço no irmão. É quando tem realmente certeza que as coisas tomaram o rumo certo e sua missão estava cumprida.

- Seja muito feliz, meu pai. Adeus.

Sozinho no mundo, Benjamim só conseguiu lembrar de uma pessoa que poderia procurar naquele momento: Matthew Logan, que em 1989 teria mais ou menos a sua idade.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

ESCLARECIMENTO: Todos os acontecimentos mostrados em vida 4 e nos 3 primeiros capítulos de vida 4.1 foram apagados. Só continuam existindo na memória do Benjamim e na dos LEITORES.