Sete Vidas escrita por SWD


Capítulo 131
sete vidas epílogo vida 5 prólogo 2




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'Poder, Sam. Só o poder conta. Só ele faz diferença. De nada adianta a revolta se você não tiver forças para realizar a mudança. Revolta sem poder é apenas amargura. É esse o seu destino, Sam? Choramingar amargurado pelos cantos ? Bradar bêbado aos quatro ventos o quanto o mundo pode ser cruel?

'O sacrifício dele foi em vão, Sam. Seu irmão morreu para que você voltasse a viver e você faz o quê? Enche a cara e deixa a vida passar em branco. Acha que morrendo, vocês dois vão se encontrar do outro lado? Acredita mesmo que os desejos se realizam no Inferno, Sam?

'Você matou todos eles, Sam. Não foi só o seu irmão. Você também matou a sua mãe. Não era para Mary interferir. Ela ainda estaria viva hoje. Ela ainda teria você e você ainda teria ela. Tudo teria acabado bem. Naquele dia, ela acordou decidida a cumprir a parte dela do pacto. Ela tinha o John e se conformou com o pensamento de que, mesmo se tudo desse errado, eles poderiam ter outro filho. Mas você chorou, Sam. Você chorou e ela fraquejou. Deixou a emoção falar mais alto que a razão. Ela lembrou de algo que escutou quando ainda era uma menina. Que o dever de uma mãe é proteger o seu filho mesmo que ao preço da própria vida. Quanta baboseira. E pra quê? Ela morreu e não salvou você.'

'A linda Jessica. Todos diziam que ela teria um futuro brilhante. E ela teria mesmo um futuro brilhante se nunca tivesse conhecido você. Ou se tivesse tido bom senso e ficado com o Bart. O belo e promissor Bartholomew Coleman, herdeiro de uma das família mais ricas e tradicionais do país. Ele teria dado a ela uma vida de princesa. A vida que um fracassado como você não conhece nem de ver na TV. Mas você sorriu e ela acreditou que contos de fadas podiam ser reais. Olhou para você e viu o príncipe encantado. Não viu sua forma de sapo. Ela ainda não sabia que você destrói tudo que toca, Sam. Mas ela descobriu. Ela acabou descobrindo da pior maneira e tarde demais. Ela morreu amaldiçoando o dia que conheceu você. Enquanto queimava, ela culpava você por toda a dor que lhe estavam infringindo. Ela desejou que também você queimasse no Inferno, Sam. Você e toda a sua família. Sua família já está toda lá. Mary. John. Adam. Eles estão lá, no Inferno, esperando por você.'

'Não é irônico, Sam? Você chorou e matou Mary. Você sorriu e matou Jessica. Você voltou da morte e matou Adam.'

'Ainda acha que pode fugir ao seu destino, Sam? Corre sangue de demônio em suas veias. Você é cria do demônio Azazel. Você cumpre seu destino a cada homem que mata. Quantos homens inocentes você já matou, Sam? Ou você realmente acreditou que estava matando demônios? Estava matando homens. Estava matando homens inocentes. Quanto aos demônios que os estavam possuindo, estava apenas mandando-os de volta para casa. No Inferno, eles riem da sua ingenuidade. Sabem que um dia vão voltar a encontrá-lo. Mais dia, menos dia, é certo que você vai ao encontro deles lá embaixo. Eles sabem disso e estão esperando você. Você não perde por esperar.'

Há os inocentes que você matou e há os inocentes que você deixou morrer. Difícil é saber qual dos grupos é o maior. Nem é preciso voltar muito no tempo. Lembra do Hospital Distrital de La Grande? Lembra dos gritos dos que você abandonou à própria sorte. É verdade que você avisou para que saíssem. Eles sabem que não saíram porque não quiseram. Porque tiveram medo. Mas eles culpam você por não ter insistido o bastante, por não ter sido convincente o bastante, por não ter voltado para salvá-los. E você sabe que eles estão certos em culpá-lo. A verdade é que você os abandonou porque teve medo. Você não é o herói que quer que os outros acreditem que é. Nunca foi. Você sabe que não passa de um covarde chorão.'

'Você fugiu, Sam. Fugiu porque teve medo. Medo. Sua busca por uma vida normal não passa de medo. Medo do escuro. Medo do que se esconde no escuro. Medo do escuro que se esconde dentro de você. Mas você não vai conseguir esconder o escuro para sempre. Ele vai se mostrar nos seus olhos. Qualquer um que olhe para você vai descobrir. Eles vão descobrir e vão caçar você. Você vai descobrir que seu lugar é lá, onde é mais escuro.'

'O que acha que espera você no Inferno, Sam? Sim, porque não importa o quanto de bem você consiga realizar. Nunca será o bastante. Não há forma possível de redenção. Uma criança de Azazel nunca terá um lugar no Paraíso. O seu destino é o Inferno, Sam. Aquele bebezinho inocente que você foi um dia foi condenado ao Inferno no momento que provou a primeira gota do sangue impuro. Nada que você fizer vai mudar isso. Nada nem ninguém pode salvar você, Sam.'

'Não foi nada prudente da sua parte fazer tantos inimigos, Sam. Inimigos poderosos. Impiedosos. Você pode ter esquecido de muitos. Eles não esqueceram de você. Sabe o que é voltar para o Inferno depois de relembrar o quanto é bom ver a luz do sol e sentir ar puro percorrendo seus pulmões? O que você faria com quem o tirou da luz e lançou novamente nas trevas? Eles, cada um deles, vão querer cobrar essa fatura multiplicada por mil. Há uma fila enorme de cobradores a sua espera.'

'No Inferno, conta a Lei do Mais Forte. Ou você ter poder, ou você não é nada. Você sabe como é. Você teve uma pequena prévia de como é o Inferno na escola secundária. Você e todo mundo. Sabe a turma de valentões que esbarra em você e te joga contra o armário? Que derrama refresco na sua calça nova? Que te chama de viadinho frouxo na frente da garota que você sonhava conquistar? Que te cerca e te dá uma surra porque sentiu o cheiro de medo em você? Eles estão todos lá. E vão continuar lá para sempre. Junto com você. Não vai ter mais mudança de cidade com o papai. Não vai ter férias ao fim do semestre. Não vai ter graduação. Vai ser para sempre. Você vai descobrir que PARA SEMPRE é MUITO tempo.'

.

'Poder, Sam. Só o poder conta. Só ele faz diferença. Você sabe disso, Sam. Você não é inocente.'

'Você vai precisar de poder se quiser sobreviver ao Inferno. Vai precisar ser o mais forte, o mais duro, o mais cruel.'

'Lembre-se, Sam, que, no Inferno, vale a Lei do Mais Forte.'

Desde que Adam se fora, esses pensamentos apareciam na mente de Sam. Inesperadamente. Chegavam em seus momentos de dor e quando se deixava consumir pela culpa. Dor e culpa que o acompanhavam a todos os lugares, estavam presentes em todos os momentos e que ele acreditava que nunca o abandonariam.

Pensamentos sombrios o bombardiavam enquanto não estava complemente bêbado, e, naquela primeira semana, houve poucas ocasiões em que ele estava razoavelmente sóbrio. Era natural, ou parecera natural, ter pensamentos assim. Havia lógica e havia verdade neles. Desde que nascera, só trouxera ruína para todos em sua volta.

Aqueles pensamentos também apareciam, traduzidos em terríveis imagens, nos pesadelos que tinha todas as vezes que o cansaço o derrubava. Via Jessica queimando no teto e gritando impropérios e acusações. Maldizendo cada momento feliz que tiveram. Seu pai John gritando que deveriam tê-lo matado no momento que nasceu. Que devia ter obrigado Mary a abortar a cria do Diabo. Mary, com os olhos tristes, sua expressão mostrando toda a decepção que sentia, vindo ao seu encontro quando já era adulto e o renegando. Renegando o filho que nunca deveria ter parido. O inspetor Robinson e os mortos do Hospital Distrital de La Grande o cercando e gritando acusações, enquanto ele, se encolhia, tentando inutilmente tapar os ouvidos.

Pior que os pesadelos, eram os sonhos ruins. Eram elaborados e perturbadores. Pareciam mais reais que a própria realidade. Suas imagens o acompanhavam mesmo depois de acordado. Era um sonho recorrente que ganhava mais detalhes e se alongava um pouco mais a cada repetição. No sonho, revia a cena em que Adam era atacado pelos Cães do Inferno. Mas no sonho, podia enxergá-los. Podia ver cada detalhe de seus corpos monstruosos. Suas bocas anti-naturais. O brilho maligno de seus olhos totalmente vermelhos. Via Adam sendo torturado barbaramente por Azazel em pessoa. Azazel tenta arrancar de Adam a súplica para que o libertasse e deixasse Sam sendo torturado em seu lugar. Adam sempre recusava e a tortura era retomada de forma ainda mais cruel. Adam gritava de dor, mas não o acusava nem o maldizia. Mesmo em seus pesadelos, Adam o protegia. Mas, isso não o confortava. Só o fazia se sentir mais culpado e mais indigno.

.

Chega de auto-piedade. Sua prioridade era tirar Adam do Inferno. Mas não fazendo barganhas com demônios menores. Para negociar em seus termos, precisava estar em uma posição de força. Precisava de poder.

.

No Inferno, Lúcifer acompanhava satisfeito à derrocada de Samuel Winchester.

Ele já estava quase no ponto.

Lúcifer já se via caminhando novamente na superfície do mundo, vestindo o corpo de Samuel Winchester.


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Notas finais do capítulo

14.01.2012