Sete Vidas escrita por SWD


Capítulo 124
Sete vidas epílogo vida 2 capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

ANTES:
Sam Winchester, imobilizado, observa a irmã Diana Winchester enfrentar o Trickster num mortal jogo de dardos, que resulta nas mortes do ghostfacer Harry Spangler e da promotora Jessica Moore (vida 2).
Sam Winchester tem freqüentes pesadelos, nos quais revê a cena da morte da promotora Jessica Moore (vida 2).
Diana Winchester descobre que está grávida e volta para o marido e o filho (vida 2 epílogo).
Sam Winchester aceita o ghostfacer Ed Zeddmore como seu novo parceiro (vida 2 epílogo).



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REALIDADE #2

Fazia uma semana que o agente Jenson Ross circulava com desenvoltura pelo edifício-sede do escritório de Los Angeles do FBI. Oficialmente, o agente texano viera participar de um curso de técnicas avançadas de combate ao cibercrime, com duração prevista de duas semanas. Um misto de curso de aperfeiçoamento e workshop para troca de experiências entre agentes. Um motivo perfeitamente plausível para a presença de Jenson Ross ali. Não precisava se reportar a ninguém especificamente e, uma vez dentro do prédio, poderia circular sem suscitar suspeitas.

Era para o curso ser apenas uma fachada, já que seu real objetivo era desvendar as circunstâncias da morte da promotora Jessica Moore. Mas, Sam estava verdadeiramente empolgado com tudo que estava aprendendo. Ele, que sempre se considerara um hacker habilidoso, estava descobrindo que, se comparado aos instrutores, ou mesmo a alguns de seus colegas de curso, mal podia ser classificado como aprendiz de hacker.

Os instrutores eram, em sua maioria, jovens hackers que foram apanhados e tiveram as penas convertidas em um trabalho que acabaria por levar outros como eles próprios para atrás das grades ou para a frente de uma platéia de federais como aquela.

Ou seja, por mais que fossem bons, não eram tão bons quanto os que os rastrearam. Sempre havia alguém melhor. Sam lembrou como fora facilmente rastreado por Ed Zeddmore e pensou no quanto estava arriscando só pelo fato de estar ali.

Um instrutor em especial chamou a atenção de Sam. Gostou dele pelos mesmos motivos que fizeram com que a maioria dos agentes antipatizasse com ele logo de cara. O garoto era sarcástico, irreverente e parecia ter dificuldade de aceitar qualquer tipo de autoridade. Seu verdadeiro nome era Brock Kelly, mas ele preferia ser chamado pelo seu codinome na comunidade hacker: Ash. Não era o mesmo Ash que conhecera no Roadhouse e que já o ajudara no passado. Nem seria possível. Aquele Ash estava morto e esse era um garoto de menos de 18 anos.

Ao final da primeira das cinco aulas que daria no curso, Ash propôs um desafio à platéia de agentes. Que três deles apresentassem algo que representasse um desafio às suas habilidades de hacker. Ele daria a solução antes do final da quinta aula. Podia ser algo pessoal ou ligado a algum caso que tenham ou estivessem trabalhando. E, alfinetou ao final, dizendo que se fosse um agente nenhum caso ficaria sem solução por mais de uma semana.

Ash pediu que os interessados digitassem o desafio diretamente no seu laptop, um equipamento sem portas de entrada e que, portanto, não podia ser acessado remotamente.

Ash olhou interrogativamente para o agente que formulara o terceiro desafio. Uma frase curta que trazia uma questão que podia ser interpretada de um milhão de formas diferentes. ‘QUEM SOU EU NA VERDADE?’. O agente o encarava com um sorriso desafiador.

Ash tinha o hábito de dar apelidos para todo mundo e batizara Sam de Sasquatch assim que batera os olhos nele, ou melhor, assim que batera os olhos no imenso par de sapatos que exibia ao sentar esticando as pernas à frente do corpo. O agente se identificara como agente Ross, de Dallas. Ash tinha memória fotográfica e lembrava do nome completo de todos os inscritos no curso. O único Ross da lista era Jenson Dean Ross. Lembrava também que já escutara aquele nome antes.

Jenson Dean Ross era um nome conhecido e respeitado no FBI, uma verdadeira lenda viva. Como era um agente de campo, e muitas vezes trabalhava infiltrado, tinha sua imagem preservada pela organização. Só quem já trabalhara diretamente com ele conhecia sua aparência. Fora exatamente por isso que fora escolhido para ser personificado por Sam. Por ser respeitado e praticamente desconhecido. Corporativamente, havia poucos dados divulgados sobre ele. Fora do FBI, praticamente nada.

Sam se dedicara a descobrir o máximo possível sobre Jenson Ross nas duas semanas anteriores, com muito pouco sucesso. Suspeitava que as informações sobre os agentes fossem sistematicamente removidas da rede.

Teria que compor o personagem com base na visão que os outros faziam dele: um tipo obcecado pelo trabalho que vinha ganhando destaque pela seriedade e eficiência na resolução das tarefas a que era designado.

Agentes não costumam conversar sobre aspectos de suas vidas pessoais com estranhos, mesmo quando estes estranhos também são agentes, e, muito menos, expor detalhes dos casos que estavam trabalhando, geralmente envolvidos por todo tipo de sigilo. Isso estava sendo bastante conveniente para Sam desempenhar seu papel sem levantar suspeitas.

Sam já tentara três vezes invadir a rede interna nível 4, onde estavam os arquivos sigilosos ligados às 10 linhas de ação prioritárias do FBI. Tinha até instalado dispositivos espiões em três diferentes PC’s para capturar senhas que lhe permitissem acesso ao nível 4. Mas os usuários daquelas máquinas que invadira não tinham autorização para acesso àquele nível de informação. Provavelmente ninguém daquele setor tinha.

Estava chegando à conclusão que, sozinho, não conseguiria quebrar as barreiras de segurança no tempo que dispunha. Precisava de ajuda especializada. O desafio lançado por Ash lhe pareceu a oportunidade perfeita para cooptar um aliado. Mas agira por impulso. É claro que sabia que se desse errado, isso podia levá-lo para atrás das grades por muito muito tempo.

Ash estava curioso sobre o terceiro desafio, mas, ao contrário do que aparentava, era disciplinado e metódico na abordagem de um problema. Antes de se concentrar no desafio #3, se empenharia em resolver os desafios #1 e #2.

O desafio #1 era descobrir o paradeiro de um homem, tendo apenas o nome. O agente não revelara, mas a verdade é que ele perdera o rastro de um suspeito de espionagem industrial em uma empresa que tinha um grande contrato com o Ministério da Defesa.

Era uma corrida contra o tempo, pois o espião podia até já ter deixado o país. O agente queria poder estar se dedicando ao caso, mas fora mandado para aquele curso para escutar um pirralho arrogante contar vantagem. Adoraria tirar o ar de superioridade da cara daquele idiotazinho metido. Mostrar a ele que no mundo real as coisas eram bem mais difíceis. Acha tão fácil assim? Então me diga aonde está o maldito espião.

O agente que propusera o desafio não ficou mais de um minuto no curso após Ash lhe entregar um papel com o endereço do suspeito. Não quis saber qual foi a linha de raciocínio nem o método usado para chegar ao suspeito. Tudo o que lhe interessava era que, se capturasse o sujeito, voltaria a ser respeitado na organização. Queria capitalizar a prisão do espião para impulsionar sua carreira. Não tinha a mínima intenção de dividir o crédito pela captura com quem quer que fosse.

Após a saída do agente, enquanto apresentava a solução do primeiro desafio, detalhando o método e a linha de raciocínio, Ash se pegou diversas vezes observando as reações do agente que lançara o terceiro desafio. Notou que ele mantinha uma expressão séria, profissional, mas que aquele comportamento parecia forçado demais. Ele parecia estar representando. Decifra-me ou te devoro.

‘- Foi você mesmo quem pediu, Sasquatch. Mais dois dias e sua vida vai ser um livro aberto para mim. Se eu quiser, descubro até a cor da cueca que você está usando. Ou o desafio é descobrir que você faz essa cara de mau, mas, na verdade, prefere usar calcinhas?’

Sam ficou encabulado sem nem saber bem o porquê, com o riso debochado que Ash lhe dirigiu.

O segundo desafio equivalia a encontrar uma agulha num palheiro. Mas é fácil encontrar a agulha quando se dispõe de um ímã. Fazer chegar a você. E foi assim que Ash chegou à identidade de um estelionatário operava no mercado secundário de títulos do tesouro americano e que já tinha lesado investidores em mais de trinta milhões de dólares.

Em ambos os casos, Ash fez grande alarde de sua vitória. Sam começava a temer ser desmascarado em grande estilo. Seu destino estava nas mãos de Ash. Bem, restava uma alternativa. Mas, se era para matar o garoto, tinha poucas horas para agir. Claro que não cogitava aquilo, nem mesmo para se salvar. Tinha que confiar em seus instintos. Ash não o denunciaria.

Mas era inevitável que a ansiedade quanto à possibilidade de ser desmascarado e preso tirasse o sono de Sam. Insone, ele resolveu fazer o que costumava fazer em ocasiões assim: buscar indícios de ocorrência de atividade sobrenatural em território americano. Os assassinatos rituais em Iron, uma cidadezinha do Meio-Oeste, não pareciam envolver aspectos sobrenaturais. Apenas mais um caso de crimes de ódio. Atividade poltergeist em Harveyville, no Kansas. Um universitário atacado e semidevorado, supostamente por um grande animal, próximo a Portland, no Oregon. Possessão demoníaca em Miami. Como sempre, muitas possibilidades.

Um caso em especial chamou sua atenção: um assassino serial que removia a pele do rosto de suas vítimas e desenhava com faca um pentagrama em suas palmas das mãos e dos pés. Quatro mortes num intervalo de seis semanas na área rural de Cedar City, no Utah. A região tinha forte influência mórmon e os assassinatos estavam levando pânico a uma comunidade normalmente pacata. Milícias armadas estavam sendo organizadas para caçar o assassino.

Se perguntou se não devia esquecer o mistério em torno da morte de Jessica Moore e se concentrar em salvar inocentes de um monstro assassino. Como que em resposta, o celular de Sam toca.

– Oi, Sam.

– Ed? Como vai o treinamento?

– Perdi três quilos e estou todo dolorido. Mas não foi por isso que liguei. Acabei de localizar Jenson Ross. Foi designado para investigar as mortes em Cedar City. Sabe do que estou falando?

– Estava pesquisando exatamente isso, mas não sabia do envolvimento de Jenson Ross. Ed, quero que siga para Cedar City. Vou fazer com que chegue a você credenciais falsas de repórter. Descubra o que puder sobre as mortes e fique de olho em Jenson Ross. Mas não se arrisque. Ter alguém cuidando do caso me dá o tempo que preciso para fechar as coisas por aqui. Jenson Ross terá uma semana de vantagem. Se ele não der conta do recado, sigo para Cedar City daqui a oito dias. Nos encontramos no hotel em que estiver hospedado. E mais uma coisa, Ed. Mais urgente ainda. Apague da internet qualquer referência a meu respeito. Acho que fiz uma besteira e um hacker, codinome Ash, pode estar neste exato momento na minha cola.

– Ash? Conheço de nome. O sujeito foi pego pelo FBI há cerca de um ano atrás.

– Agora ele é instrutor no FBI. E eu desafiei o sujeito. Ele é bom. Vai descobrir fácil que não sou Jenson Ross. Mas não pode chegar a Samuel Winchester.

– Obrigado pela confiança, Sam. Mas eu não sou páreo pro Ash. Uma ponta solta, por menor que seja, e ele chega a você. Sinto dizer, mas acho que você está ferrado.

– Obrigado, Ed. Conseguiu me tranqüilizar bastante.

– Se for pego, negue que me conhece.

Sam desliga o celular, mas se mantém pensativo, ainda empunhando o celular.

– É, Jenson. Parece que de uma maneira ou de outra nossos caminhos vão acabar se cruzando.

Na manhã seguinte, ao entrar na sala do curso, Sam é surpreendido com um chamado de Ash. Com um grande sorriso, ele entrega uma foto impressa a Sam. A foto mostrava um sorridente garoto de quatro anos, cabelos cor de trigo e olhos de um tom impressionante de verde.

– Você foi um garoto muito bonito. Mas é impressionante como ficou diferente depois que cresceu.


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Notas finais do capítulo

23.10.2011
ESCLARECIMENTO: Para quem não está entendendo os rumos que esse capítulo está tomando, Sam estava destinado a morrer investigando os crimes em Cedar City. Os interessados devem reler o parágrafo relativo ao destino final da REALIDADE #2, no capítulo 117 / sete vidas prólogo capítulo 5.