Sete Vidas escrita por SWD


Capítulo 123
Sete vidas epílogo vida 6 capítulo final




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– BENJAMIN! AQUI. AGORA.

Benjamin estava tão distraído, olhando para o azul intenso do céu sem nuvens e sentindo a brisa suave contra a pele, que se sobressaltou ao escutar seu nome sendo chamado num tom tão imperativo.

– Está falando comigo?

– Não, desculpe. Com o rapazinho aqui.

Então, um verdadeiro susto. Benjamin podia esperar tudo, menos que, repentinamente, um garotinho louro, aparecesse do nada, agarrasse sua perna e ficasse abraçado a ela.

– Ben, que modos são esses? O que o homem vai pensar? Mil desculpas. Ele não costuma ser assim. Ele, normalmente, é até muito retraído com estranhos. Venha aqui, Ben. Mais uma vez, me desculpe.

– Não precisa se desculpar. Adoro crianças. Seu filho é um garoto muito bonito. Parabéns.

– Obrigado, ele é. É a cara do pai. Não, não adianta procurar. Não vai encontrar qualquer semelhança comigo. Eu adoraria ser, mas .. não sou o pai do Ben. Sou só o padrinho coruja.

– Prazer, Benjamin .. Campbell.

– Chad Murray. Mas, pela sua expressão, vejo que não faz a menor idéia de quem eu seja.

– Devia? Já nos conhecemos?

– Não, não nos conhecemos. É que sou ator, e mesmo quando usamos óculos escuros para não sermos reconhecidos, ficamos frustrados quando não somos. Não tente entender.

Benjamin achou inútil explicar que dificilmente o reconheceria mesmo que ele fosse o ator mais famoso do mundo. Já percebera, vendo TV e trailers de lançamentos de cinema, que não eram os mesmos nomes que conhecia da sua realidade. Era bom em reconhecer padrões ocultos. Havia uma estranha inversão entre quem era real e quem era personagem de ficção entre essa e a sua realidade.

– Vamos, Ben. Sua mãe já deve estar chegando e nós vamos almoçar. Se despeça de seu novo amigo, o Sr. Campbell, que está sendo muito muuuito paciente com você. .. Vamos. .. Vamos, Ben. Não quero ter que repetir.

Ben larga a perna, mas segura a mão de Benjamin com sua mãozinha, num gesto claro que queria que ele os acompanhasse.

– Ele gostou mesmo de você. Mas, a mãe dele já está vindo e ..

– Uau, como ela é linda!

– Ei! Você é bem direto, não. Deu sorte que fui com a sua cara. Vem com a gente, que vou dar uma de cupido. Vou apresentar vocês dois.

Benjamin não conseguia desviar os olhos da mulher que vinha em sua direção. Tudo nela era perfeito. Estava fascinado com cada detalhe que descobria naquele rosto e naquele corpo. Tudo nela parecia único. A forma como andava, o jeito displicente como prendera uma mecha de cabelo atrás da orelha, mas, principalmente, o sorriso. Ela tinha o sorriso mais bonito que ele já tinha visto.

Mais do que nunca, estava contente por Gabriel ter atendido seu pedido de lhe restituir sua aparência original. Uma mulher como Dannielle não daria bola para um garoto como Mark Lawson. Ela já tinha um filho. Ia preferir ter ao seu lado alguém experiente, que transmitisse segurança. Alguém como Benjamin Campbell.

– Dani. Esse é o Sr. Benjamin Campbell. O Ben parece ter gostado dele, de cara.

– Então ganhou muitos pontos com a mãe dele, pode ter certeza.

Benjamin dá um sorriso bobo. Naquele momento, era como se voltasse a ser novamente o nerd inexperiente que deixara de ser a mais de vinte e cinco anos. Até gaguejara ao se apresentar. Sentira a boca seca, as mãos suadas e um vazio no estômago. Nem parecia o empresário decidido que tivera dezenas de mulheres na cama.

Dani percebeu seu embaraço e achou engraçado que um homem tão interessante e com uma aparência tão descolada reagisse como um garoto virgem à sua presença. Um pensamento bobo lhe passou pela mente. Gostaria muito que ele fosse realmente virgem. Gostaria de poder ser a primeira e única para ele. Riu de si mesma. Tinha que deixar de ser tão romântica.

Benjamin sentiu o pequeno Ben puxando sua mão, como que pedindo atenção. Olhou com carinho para o garotinho louro, que sabia ser o filho acidental do homem que, por um minuto, acreditou ser seu próprio pai, e gostou da idéia de tê-lo como filho. Dani ficou contente de ver que o homem que se mostrava interessado nela parecia aceitar tão bem a presença do filho. Por experiência própria, sabia o quanto aquilo era raro.

.

Eles se sentiriam daquela maneira mesmo que o kherubim não os tivesse alvejado, unindo seus destinos para sempre. Gabriel, no entanto, não quis deixar as coisas ao acaso. Tinha pressa. Aquele garoto, Ben, e seu irmão ainda nem mesmo gerado, eram sua nova grande aposta. O mundo estava momentaneamente a salvo, mas ainda guardava outras ameaças. O mundo sempre precisaria de alguém para confrontar as forças da escuridão. Além disso, seu amigo Benjamin merecia viver um grande amor.

.

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EM UMA REALIDADE DISTANTE

Jansen acorda sobressaltado de um sonho ruim.

– JEROD!

– Aai, que susto! Garoto, é normal os candidatos ficarem nervosos antes de um teste. Mas, você é o primeiro que eu vejo dormir profundamente e ter um pesadelo enquanto aguarda sua vez. E olha que você sentou aí nesta cadeira há menos de quinze minutos.

– Você disse .. teste? Aonde é que eu estou?

– Não sabe onde está? Meu Deus, não estou dizendo que só me aparece maluco.

Era final de tarde e a assistente de produção do estúdio, depois de mais um dia de cão, estava sem nenhuma paciência para esquisitices de aspirantes ao estrelato. Já estava dando um desconto para aquele rapaz porque o achou escandalosamente bonito, mas ele que não abusasse.

Homens bonitos. Era a única compensação que enxergava em trabalhar naquele lugar. Volta e meia aparecia um mais galanteador ou um menos exigente. Ou mesmo algum querendo desesperadamente ser apresentado a um diretor de elenco, e, bem, .. digamos que ela não era de ferro. Uma simples troca de favores. Que mal havia?

Mas sabia que com não ia rolar com aquele garoto. Reparou bem quando ele chegou. Eu se achava. Também, era quase um menino. Ele devia ter o quê? Vinte e dois anos? Nesta idade, com aqueles olhos verdes e uma boca como aquela, tinha mais é que se achar mesmo. Que boca! Era sua tara. Devia ter se aproveitado e tirado uma lasquinha enquanto ele estava adormecido, com a cabeça para trás, expondo aquela boca tentadora.

– O que disse?

– Deixa pra lá, garoto. .. Acredita que eu nunca tinha notado antes que havia um relógio nesta parede? Esse emprego está me deixando tão maluca quanto vocês, atores. A diferença é que meu salário vai continuar sendo o de simples assistente, enquanto o de vocês ..

Balançou a cabeça, desconsolada pela injustiça de tudo aquilo, e saiu.

Jansen olha em torno, completamente desorientado. Onde estava? Então, se lembra: a ameaça zumbi! Entrou imediatamente em estado de alerta. Os demônios! Estava na Niveus. Estava na Niveus com o Trickster. Não, com GABRIEL. Difícil acreditar que o Trickster fosse um arcanjo. Só podia ser outra mentira dele. Maldito.

Ele, Jansen, estava com o Jerod. Jerod, o único que o fazia sentir-se realmente vivo. Que o estimulava a dar o melhor de si. Um dia inteiro, os dois lutando lado a lado contra demônios. Até que finalmente acabou. Eles venceram. O mundo estava salvo. Tudo ia ficar bem. Houve um momento, em que ele realmente acreditou que tudo ia ficar bem. Idiota. Quando ia deixar de ser tão idiota? Quando ia finalmente aprender?

Não era para ter acontecido. Não com ele. Não era para o Jerod ter morrido. Uma lágrima escorreu sem que ele nem ao menos percebesse. Ele não ia aceitar aquilo nunca. Ia encontrar uma maneira de obrigar o maldito a trazer o Jerod de volta. Mas, quando tentou, se sentiu sendo arrancado de lá. Sendo levado para longe. Acordara naquela .. sala de espera? Como acontecera? Fora o Trickster que o mandara para lá?

A sala lembrava as muitas que freqüentou no seu início de carreira, quando ainda era um ator estreante, sem saber se conseguiria dar o salto de promessa adolescente para ator profissional. Quando ter uma carreira regular, bons papéis e muito dinheiro eram ainda sonhos a serem realizados. Quando ainda se angustiava por não saber se a profissão de ator lhe garantiria o sustento; e se, algum dia, alcançaria o reconhecimento profissional pelo qual ansiava.

Uma outra pessoa - que não ele - talvez acreditasse que apenas adormecera e tivera um pesadelo. Que não existiam monstros, nem anjos, nem demônios. Que tudo fora apenas um sonho. Um longo sonho ruim, do qual finalmente despertara. Que estava de volta à única realidade que existia. Mas, ele já passara por muita coisa estranha antes. Alguma coisa estava errada. Um sonho, mesmo um sonho ruim, não justificava toda a angústia que estava sentindo.

Deu-se conta que segurava firmemente algo em sua mão direita. Somente agora percebera que mantinha o punho fechado a ponto de doer. Ao abrir a mão, descobre que está com o amuleto que lembrava ter visto no pescoço do tal Benjamin. O cordão estava partido. Era a prova que não fora um sonho, afinal. Sua vida de caçador e a batalha contra os demônios não fora um sonho. Mas, isso o trazia de volta à questão inicial. Aonde estava?

Aproximou-se da janela. Podia ver-se refletido no vidro. Voltara a ser como era antes. Era novamente apenas o Jansen. Parecia mais jovem. Bem mais jovem, na verdade. Muito mais jovem do que quando se descobrira com a aparência de Clint Eastwood, cinco anos antes.

Clint East .. East .. East o quê?

Começou a se sentir estranho. Confuso. Suas memórias pareciam estar sendo embaralhadas. Lembrava que alguém muito importante para ele tinha morrido. Mas, por mais que puxasse pela memória, não conseguia mais lembrar quem é que tinha morrido, nem quando.

Estava tentando segurar o que restava daquela lembrança, mas mesmo a lembrança de que havia algo a ser lembrado começava a se apagar.

E, quando a porta que dava para a rua se abre, e um rapaz entra todo esbaforido, o vínculo que ainda tinha com o homem que fora um dia, em uma realidade distante, é quebrado.

Quebrado para sempre.

.

– Oi! Estou muito atrasado? Já começou? Sai do aeroporto, deixei minhas coisas lá mesmo, num guarda-volumes, e vim direto para cá.

– Aeroporto?

– É. Eu sou de San Antonio. Frio aqui, não? Não sei se um dia vou me acostumar com o frio de Vancouver.

Jansen deve ter feito uma cara de abobalhado, pois a verdade é que ainda estava tonto e só podia ser por causa da chegada intempestiva do rapaz moreno. Achou-o extremamente familiar, mas não conseguia lembrar de onde o conhecia ou mesmo SE o conhecia. Mas, gostara do jeito dele. Ele tinha um jeito engraçado. Parecia ser um figuraça.

– Desculpe. Creio que o assustei. Sempre falo sem parar quando estou ansioso. E eu estou ansioso porque quero muito ser escolhido para esse papel. Estava morrendo de medo de ser cortado do teste de elenco por chegar atrasado. Não foi minha culpa do vôo chegar atrasado. A culpa é desse tempo horrível que está fazendo lá fora.

Jored percebera que passara para o outro uma atitude bem pouco profissional. Acertou a postura, estufou o peito e tentou consertar as coisas, mas percebia que, quanto mais falava, menos profissional parecia. Desistiu de tentar explicar-se. Era sempre assim. Quando mais tentava, mais se enrolava. O melhor era não falar e usar logo a sua arma secreta. A que nunca falhava. Simplesmente .. sorriu.

Ao ver aquele sorriso de criança grande, Jansen sente o coração leve. A angústia, que havia se instalado muito fundo em seu peito sem que ele nem ao menos lembrasse a causa, desaparece. Parecia que tiraram toneladas de cima de seus ombros. Jansen sentiu sua própria alma se iluminar.

Jored sorriu mais ainda quando viu que dera certo e o outro também abrira um sorriso. Os segundos passavam e eles, olhos nos olhos, continuavam sorrindo.

A assistente quebra completamente o clima, ao abrir a porta com uma prancheta na mão. Eles lembram do porque estarem ali e baixam os olhos, constrangidos.

– Ron Ackles, sua vez.

– Ron Ackles? Foi você quem fez a temporada passada de Smalltown? Claro! Agora estou reconhecendo você.

– EU me chamo Ron Ackles? RON?

– É o nome aqui na ficha de inscrição. Não é esse o seu nome? Jenson Ronald Ackles, a.k.a. Ron Ackles?

– Sou, sou eu mesmo .. acho. Quero dizer, .. claro! Claro que sou. Eu mesmo .. Ron Ackles. Aqui. Estou pronto. Mas, posso pedir uma coisa? Estou mudando meu nome artístico neste minuto. Prefiro passar a ser chamado de Jansen. Jansen Ackles.

– E você, garoto? Também veio para o teste de elenco? Qual é o seu nome?

– Jored Timothy Padalecki, a.k.a. Tim Padalecki.

– Ok. Está aqui. Pada .. Pada-qualquer-coisa. Você entra logo depois do Ron. Desculpe, já sei que prefere ser chamado de Jansen, não é mesmo? Isso lá é nome de homem? Jansen?, sei muito bem.

– Gosto mais de Jored.

– Perdão, o que disse?

– Nada, besteira minha. Só acho que Jored Padalecki soa melhor. Por um minuto, achei estranho ouvir você sendo chamado de Tim. Esquece, besteira minha.

– Rapazes, deixem as sociais para depois. Agora tudo são sorrisos. Mas, nada garante que daqui a uma hora um não esteja querendo pular no pescoço do outro para esganá-lo. Afinal, são vários candidatos e apenas dois protagonistas fixos no seriado. E, então, Jansen? Pronto?

– Peraí, cadê meu texto?

– Parece estar ali, caído no chão. Se apresse. Tem só mais três minutos. O McG não é nada paciente.

– Vejamos, .. Supernatural? Sim, mas .. episódio-piloto?

– Jansen! Saiba que .. mesmo sabendo que você é um concorrente forte, .. desejo-lhe sorte. De coração.

– Jored, .. posso chamá-lo assim? .. Não esquenta. Os papéis de Sam e Dean já são nossos.

– Steve e Damon.

– O quê?

– Os personagens se chamam Steve e Damon Wesson.

– Tem certeza?

– Claro. Leu mesmo o roteiro?

– Eu .. dou conta em um minuto.

– Jansen. Espera. Eu peço para ir na frente. Enquanto isso, você dá outra passada no texto.

– Já disse, .. eu só preciso de um minuto. Eu vou entrar lá e arrasar.

– É bom ver que está confiante.

– Eu acredito em destino. E o meu .. o nosso destino, é trabalharmos aqui, juntos, por muitos anos. Escreve o que eu estou dizendo. O seriado vai ser um sucesso e vai ser renovado por muitas temporadas. Vai por mim.

Jansen coloca o amuleto no bolso e lança o seu melhor sorriso na direção do concorrente que - realmente acreditava nisso - seria seu futuro colega de elenco. “O” sorriso. Aquele que usava quando queria seduzir alguém. Não conhecia o outro, mas não pode evitar o pensamento de que gostaria - E MUITO - de conhecer. Mas, primeiro, precisava ganhar o papel.

Jored sorri ao imaginar como seria bom se os dois viessem a trabalhar juntos. Fechou os olhos. Visualizou mentalmente o sorriso que o outro acabara de lhe dar e se imaginou agarrando Jansen por trás num abraço bem apertado. Realmente, não poderia pensar em um futuro mais perfeito.

‘- Se eu tiver uma chance, por menor que seja, juro que você não me escapa.’


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Notas finais do capítulo

19.11.2011
1) A Smith & Wesson, da mesma forma que a Winchester, é uma fabricante de armas mundialmente conhecida. Os rapazes são Smith Wesson
2) Steve (de Stefan) e Damon são os nomes dos protagonistas de The Vampire Diaries. Lembrando que seus intérpretes Paul Wesley e Ian Sommerhalder se tornaram os substitutos de Jansen e Jerod no seriado Supernatural da realidade #6, quando Jan supostamente matou Jay e acabou morto pela SWAT. Naquela realidade The Vampire Diaries nunca foi transformada em série.
3) Tanto Jensen quanto Jansen são nomes que também podem ser atribuídos tanto a meninos (mais frequente) quanto a meninas.
4) O nome Jored não precisa existir em inglês, já que estão em uma distante realidade alternativa.



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