Sete Vidas escrita por SWD


Capítulo 114
sete vidas prólogo capítulo 2




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DEZ ANOS DEPOIS


Quantas realidades tinha visitado? Duas mil? Mais? Ou pouco menos? Gabriel perdera a conta antes de mesmo de perder as esperanças. Era o mesmo cenário em todas as realidades que, apenas uma década antes, transbordavam de vida. Destruição global. Parecia que, para o mundo, e para seus infelizes habitantes, humanos ou não, não tinha muita importância qual dos lados vencera a guerra final entre o Bem e o Mal. Muito poucos ou nenhum sobreviveu para ver o desfecho.

Era triste constatar que, em todas as realidades em que os anjos venceram, a vida na Terra, em todas as suas formas, estava extinta. O fogo purificador varrera a superfície do planeta, fervera seus mares e queimara o ar. As hordas de demônios e criaturas das sombras foram detidas a um custo alto demais. O Inferno e o Purgatório estavam superlotados e assim permaneceriam. Almas humanas foram julgadas com um rigor nunca antes praticado e bilhões delas foram condenadas à danação. Anjos que não compactuaram com os novos senhores do Paraíso se juntaram a Lúcifer em jaulas no Inferno. Mesmo o Paraíso não era mais um lugar tão acolhedor assim.

Na maioria das realidades em que os demônios venceram, parecia que o Inferno se mudara de mala e cuia para a Terra. O caos se instalara e demônios e todo tipo de criaturas infernais se digladiavam e faziam valer a lei do mais forte. As pavorosas torturas das fossas infernais agora aconteciam à luz do dia e as vítimas eram os anjos vencidos. Também humanos, mas estes não resistiam mais que algumas horas. O portal do Paraíso fora lacrado e não receberia novos moradores. Os que morriam no plano material eram enviados diretamente para o Inferno, onde as torturas prosseguiam. Os que, por sua natureza, sentiam-se confortáveis no papel de torturadores, podiam ser moldados no Inferno em formas ainda mais brutais. Um ciclo interminável de brutalidade e dor se instalara e todos se alternariam nos papéis de vítima e algoz.

Numas poucas realidades, Lúcifer fora o grande vencedor e implantara um regime de opressão que esmagava qualquer coisa que respirasse. Nem mesmo os demônios tinham motivos para comemorar a vitória. Nestas realidades, algumas comunidades de homens subsistiam. Era o que de pior podia ter lhes acontecido. Se ao menos tivessem morrido antes do Paraíso se fechar, alguns poderiam ter escapado. Agora não existia esperança e mesmo morrer não era uma solução, já que Lúcifer os aguardava do outro lado. E, uma vez lá, o tormento era eterno.

Em um número pequeno de realidades, o conflito terminara em um equilíbrio instável. Um empate. Os contendores se entrincheiraram no Inferno e no Paraíso se preparando para a batalha definitiva. Na Terra, a destruição era completa. Não era mais adequada nem como campo da futura batalha.

Em outros panteões também existiam profecias de destruição. O Ragnarök acontece nas realidades dominadas pelos deuses nórdicos. A serpente Jormungand se ergue do oceano e seu hálito venenoso traz uma morte lenta e dolorosa a todos os habitantes do norte da Europa. O deus Baldur morre ao deter o avanço do lobo Fenris sobre o território americano. Seu irmão gêmeo Hodur derrota o demônio de fogo Surtur, mas é mortalmente ferido na batalha. O terremoto que se seguiu à morte de Hodur afundou a Groenlândia. O sacrifício dos deuses da luz e da escuridão não foi suficiente para evitar que a destruição se espalhasse, com bilhões de mortos.

Gabriel descobriu, desanimado, que as simetrias do multiverso acabariam condenando também as realidades onde o sobrenatural não existia. O destino de um indivíduo em uma realidade influenciava seu destino em outras. O que acontecia em numa realidade, reforçava a probabilidade daquilo acontecer também nas realidades vizinhas de uma forma semelhante. Se acontecesse em um número suficientemente grande de realidades, tornava inevitável que acabasse acontecendo em todas.

A maioria das realidades onde o Inferno e o Paraíso não existiam se viu vítima de desastres naturais em ritmo crescente e poder destrutivo cada vez maior; ou mesmo de um único desastre de proporções catastróficas.

Em uma destas realidades, o asteróide Anúbis, ao atingir a costa da Índia, promoveu uma destruição somente comparável à que se seguiu ao impacto do meteoro que causou a extinção dos dinossauros. Mais de 70% de todas as espécies existentes estava extinta menos de 24 horas depois do momento do impacto. Decorridas 72 horas, a extinção atingira 95% das espécies. Foi terrível, mas as mortes foram quase instantâneas. E foram definitivas, o que não deixa de ser uma benção. Não havia surpresas desagradáveis os esperando do outro lado.

Mas todas as realidades, em maior ou menor extensão, sofreram as conseqüências do súbito surgimento e da rápida expansão de, pelo menos, uma de duas novas e terríveis pandemias. Vírus que transformavam as vítimas em agentes ativos de propagação da infecção. O Croatoan, chamado apropriadamente de vírus demoníaco, e o mortal vírus Z, Z de zombie.


Gabriel sabia o quão difícil era mudar o destino de um único indivíduo. O que se dispunha a fazer era algo em uma escala inimaginavelmente maior. Mudar o destino de todos os seres vivos – e de outras criaturas – de todas as realidades. Mas não descansaria enquanto não tivesse sucesso, mesmo que passasse toda a eternidade tentando.


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Notas finais do capítulo

14.08.2011



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