Acordei sentindo meu corpo elétrico.

Tomei um rápido banho, o despertador não fizera sua lição de casa.

Agora estava atrasada.

Peguei uma roupa que nem prestei atenção de estava combinando.

Burrice.

Prestei atenção sim, não iria sair parecendo uma desleixada.

Mandei pra dentro uma panqueca de chocolate, lastima não poder saborear as outras, tomei o suco de laranja.

Dei um rápido beijo em meus pais e segui para fora.

Justin já me esperava no banco do motorista.

Oh, serzinho apressado.

Me lancei pra dentro e logo os pneus cantaram no asfalto.

Caminho rápido, poucas palavras trocadas com Justin.

Tava concentrada demais para prestar muita atenção no que ele dizia.

Hoje eu enquadrava Hisaki e não passava!

Chegamos no colégio nos deparando com todos no estacionamento na maior conversa sobre a próxima festa do colégio que seria dentro de uma semana.

Eba! Até que fim algo para agitar mais.

Troquei palavras com todos, estava tentando repassar tudo que iria fazer.

Iria chamar Hisaki para uma conversinha á dois, longe de olhos fofoqueiros.

Deixaria que meu charme assumisse as rédeas, ganhando sua confiança para então perguntar sobre o assassinato.

Com certeza ele cairia como um patinho, daí então era apenas fazer teatro enquanto gravava tudinho.

Meu celular estava dentro do meu blazer.

Nessas horas agradeço pela tecnologia ser tão avançada o suficiente para que eu pudesse gravar perfeitamente bem, sem ter que ficar perto o bastante de Hisaki.

Tudo tinha que funcionar teria que sair tudo perfeito.

Respirei fundo enquanto vi Justin bagunçar o cabelo de Rosana levemente.

Fazendo os outros rirem.

Notei então que Oliver e Giovanni conversavam quase aos sussurros, como se tramassem algo.

Seja lá o que for, espero apenas que não me atrapalhem.

-Lily – me chamou Lise mais à frente – Caminha mais rápido pra variar.

Fiz uma careta pra ela enquanto me aproximava.

Ela sorriu sem humor e depois se voltou pra frente, pensativa.

Odeio ela sim, juro.

É simplesmente assustador.

Primeira aula, Geometria quase nem dava muita bola, a conversa com Martha estava bem melhor.

Soube que Dakan terminou com Patty por conta do barraco que ela fizera, também já não era sem tempo.

Ficar sendo corno, por incrível que possa parecer não era o estilo de Dakan, não mesmo.

Esperava que tudo corresse bem, mas tinha minhas duvidas se Hisaki toparia falar assim tão abertamente.

Só que vendo pelo lado otimista, ele é bem exibido em relação á isso.

Já contara pros quatro ventos que fora ele que fizera tudo.

Então pensando nisso, acho que será fácil fazer ele confessar tudo pra mim.

Tinha apenas que fazer o dever direito.

E nisso eu me garantia.

As aulas se passaram normais ao meu ver, mas queria que tivessem passado mais rápido.

-Tchau, galera – disse saindo da sala.

Ouvi eles retribuírem por minhas costas.

Queria ter tido a chance de falar com Hisaki no tempo livre, mas uns amiguinhos queridos meus me impediram de fazer isso.

A hora era agora e nem ousava deixar ela passar.

Me encaminhei então para sua sala, mas o encontrei na metade do caminho.

-Lily – disse ele com um leve sorriso

-Oi, amore – o cumprimentei dando ênfase na ultima palavra – Podemos conversar?

-Claro – concordou ele hesitante – O que foi?

-Vem comigo – disse o puxando pelo pulso

O levei então para a quadra que a essa altura não deveria ter mais ninguém.

Respirei fundo, sentindo a agitação do meu corpo.

Tinha que sair tudo perfeito odeio a palavra, mas ela servia.

Parei, soltando sua mão.

Ele me olhou confuso enquanto cruzava os braços.

Respira, Lily. Aos poucos.

-Sei sobre a Evelyn – contei pausadamente

-O que você sabe sobre ela? – perguntou ele serio, quase frio.

-Sei o que você fez com ela, você a matou, não é mesmo? – indaguei olhando em seus olhos

Ele ficou suspirou, relaxando seus ombros.

-Sim, e daí? – indagou ele me fitando

-E daí! – exclamei incrédula com sua calma – Você matou ela, apenas porque não queria aquele menino!

-Exatamente – confirmou ele sem mudar sua expressão – Agora me diz o que você tem haver com isso?

-Você matou uma pessoa, tem que ser detido – disse controlando minha perplexidade.

Sim, ele não mudara nem por um instante sua expressão, ainda bem que estava gravando tudo.

Ele sorriu sem humor.

-E por pensar desse modo – disse ele caminhando até mim – Resolveu que daria uma de cumpridora da justiça. Realmente admiro sua coragem, Lily.

Recuei um pouco, nada de contatos.

-Só estou querendo fazer o que é certo – retorqui por entre os dentes – Você não é alguém que deveria sequer estar solto.

-Ah, claro – disse ele junto á um sorriso – Muito bem, o que você pensa em fazer então para me deter?

-Te entregarei a policia – disse convicta

-Sem provas? – indagou ele estreitando as sobrancelhas

-As arranjarei – retorqui, já tinha a prova seu imbecil.

-Já se passaram mais de dois anos – disse ele suavemente – Nem que você quisesse encontrar essas provas, não as acharia. Crime perfeito.

-Se esqueceu que não rola esse papo de crime perfeito? – rebati deixando um sorriso desdenhoso escapar.

-Tem sempre uma primeira vez pra tudo – disse ele serio

Sorri sem humor.

Como era convencido.

-Mesmo que diga isso, encontrarei uma prova – rebati seria.

-Como você pensa em fazer isso? – perguntou ele se aproximando mais de mim

Recuei mais, só que vi que estava então de contra a parede.

Olhei nos olhos de Hisaki.

Havia nele uma frieza e prazer estranhos.

Perturbadores.

-Acharei um modo – respondi meio hesitante.

Encenação total.

Ele colocou suas mãos na parede, me prendendo.

-Vou adorar ver que modo será esse.

-Acho que você não curti-lo – retorqui azeda

Sua mão deslizou por meu rosto.

-Veremos – decretou ele se afastando de mim

Trinquei os dentes.

Ele sorriu com escárnio.

-Nos vemos depois, Lily – disse ele indo embora – Eu acho.

Deixei que aquelas palavras morressem no ar.

Tinha conseguido o que eu queria, bastava agora ir á uma delegacia e tudo estaria acabado.

Realmente tinha sido fácil arrancar dele uma confissão.

Parei de gravar e coloquei o celular no bolso.

Não me cabia de felicidade, fora tão simples.

Tive apenas que machucar seu ego, sua convicção.

Fantástico.

Caminhei rumo ao estacionamento. Euforia total.

-Cuidado! – exclamou alguém me puxando para perto de si enquanto um carro passava.

Salva de um atropelamento.

Voltei meu olhar para o salvador do dia.

Um garoto qualquer.

-Você está bem? – indagou ele me olhando preocupado

-Estou bem graças á você – disse com um sorriso nervoso.

-Que bom – disse ele aliviado com um sorriso

-Lily! – gritou Rosana vindo ao meu encontro com toda a tropa atrás

Fui então enchida de perguntas e sermões.

É bom saber que eles me amam.

-Tem certeza que está tudo bem? – indagou Justin pela enésima vez enquanto seguíamos para o seu carro.

-Me pergunta isso de novo e te amasso os dentes – ameacei

-Ela está ótima pelo visto – satirizou Lise por minhas costas

Fiz uma careta pra ela.

-É bom saber que nada de ruim acontecerá com você – disse Oliver com um sorriso rápido

Assenti de cabeça.

-Consegui, Oliver – contei pra ele com um sorriso de triunfo no rosto.

Ele me olhou por um instante confuso, depois me olhou surpreso.

-Impossível! – exclamou Lise

Sorri ainda mais e levei minha mão ao bolso para mostrar a prova.

Empalideci.

O celular tinha sumido e com ele, a única prova que tinha.

Maldição.

- Hisaki. – concluiu Oliver passando a mão no cabelo.