Café com Aroma de Mulher escrita por Alina Black


Capítulo 14
Renesmee- Superações




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Minha primeira semana na fazenda como Elizabeth foi um verdadeiro teste de resistência e adaptação. Cada dia trouxe novos desafios e momentos que testaram minha habilidade de me manter firme em minha nova identidade. Desde o amanhecer até o cair da noite, a vida na fazenda era intensa e exigente.

A maior dificuldade foi me aproximar de Evelyn e Ephrain. Evelyn, com seu olhar penetrante e desconfiado, parecia sempre à beira de descobrir quem eu realmente era. Cada tentativa de me conectar com ela era recebida com uma barreira de silêncio ou respostas curtas e frias. Ela era uma jovem inteligente e perspicaz, e eu sabia que precisaria de tempo e paciência para ganhar sua confiança.

Ephrain, por outro lado, era mais agressivo e confrontador, mas sua distância emocional era palpável. Eu via nele um reflexo da dor e da perda que a família havia sofrido, e meu coração se apertava cada vez que eu tentava me aproximar e encontrava apenas um muro de indiferença. Ele parecia imerso em seu próprio mundo, lidando com a dor à sua maneira, e minha presença como Elizabeth parecia apenas aumentar sua revolta.

À noite, a casa parecia ainda mais vazia e fria. Saber que Jacob dormia fora todas as noites, deixando-me sozinha, adicionava um peso extra ao meu coração. Cada vez que eu passava pelo seu quarto vazio, sentia uma pontada de tristeza e frustração. Ele se escondia atrás de suas lavouras de café, evitando enfrentar a realidade dentro da casa. Eu entendia que ele estava lidando com sua própria dor, mas sua ausência física e emocional tornava tudo mais difícil para mim.

Houve momentos em que me senti sobrecarregada, momentos em que a solidão e a pressão ameaçavam me esmagar. Mas, mesmo nesses momentos, havia uma determinação dentro de mim para continuar. Eu sabia que precisava ser forte, não apenas por mim, mas também por Eva, ela era tão pequena, Eva era inocente demais para perceber o caos que era a sua família.

As noites eram as mais difíceis, quando o silêncio da casa se tornava ensurdecedor e meus pensamentos corriam soltos. Pensava em Jacob, nas razões para que ele tivesse buscado em um amante conforto diante de seus problemas, me perguntava se era justo quebrar essa barreira invisível que nos separava já que minha passagem por aquela casa seria rápida, assim que Elizabeth assinasse os papéis do divórcio eu estaria livre, Jacob precisava ter alguém, uma mulher que lhe desse o apoio que ele precisava na criação de seus filhos. Por que eu tentaria uma aproximação entre nós se eu em breve partiria? Enquanto isso, havia uma tensão constante entre nós, uma dança cuidadosa de palavras e ações que parecia nunca chegar a uma resolução.

Mais uma noite se aproximava, e eu me preparava para o jantar, como fazia todos os dias naquela primeira semana como Elizabeth. Sentia a tensão no ar cada vez que nos reuníamos à mesa. Evelyn sempre mantinha um olhar vigilante e desconfiado, enquanto Eva, doce e inocente, era a única que parecia verdadeiramente contente com a minha presença. enquanto Sarah mesmo com suas desconfianças, tentava suavizar o ambiente com sua serenidade habitual.

Para minha surpresa, naquele dia Jacob chegou cedo em casa. Vi seu vulto na porta da sala de jantar, e por um momento, meu coração acelerou. Ele entrou, cumprimentando a todos com um aceno de cabeça, antes de se sentar à mesa. Seus olhos encontraram os meus brevemente, e havia algo diferente neles. Uma mistura de cansaço e determinação.

— Chegou cedo querido – Disse Sarah com um sorriso carinhoso para o filho.

— Decidi jantar com vocês hoje- Anunciou, enquanto pegava um prato.

A presença de Jacob à mesa era uma novidade que trouxe um misto de alívio e tensão. Eva sorriu abertamente para ele, enquanto Evelyn parecia estudar cada movimento dele, e de mim, com um interesse quase clínico. Sarah serviu a todos com um sorriso acolhedor, tentando manter a conversa leve e fluida.

O jantar começou tranquilamente, com pequenas conversas sobre o dia e as colheitas de café entre Jacob e Sarah. Eu tentava me concentrar na comida, mas não podia deixar de sentir os olhares que Jacob lançava em minha direção, como se estivesse tentando decifrar algo.

No meio de uma conversa sobre os novos bezerros nascidos naquela semana, o clima tranquilo foi abruptamente interrompido. Uma das empregadas desceu as escadas correndo, chorando e completamente encharcada. Todos se voltaram para ela, surpresos e preocupados.

— O que aconteceu?" Sarah perguntou, levantando-se imediatamente para ajudá-la.

— Ephraim -  a jovem soluçou- Ele jogou a sopa em mim. Não sei o que fiz de errado.

O ambiente mudou instantaneamente. Jacob levantou-se com uma expressão dura no rosto, os punhos cerrados. Evelyn também se levantou, os olhos arregalados de preocupação e raiva. Eva, assustada, agarrou minha mão, buscando conforto.

A revolta queimava dentro de mim após o incidente no jantar. A visão da empregada chorando e molhada, humilhada por Ephraim, fazia meu sangue ferver. Não podia aceitar tal comportamento, e algo dentro de mim me impulsionou a agir. Antes que Jacob subisse as escadas, decidi que eu mesma lidaria com a situação.

Subi rapidamente, os passos firmes e determinados. Quando cheguei ao quarto de Ephraim, o som alto da música escapava pelas frestas da porta, uma barreira sonora que ele usava para se isolar do mundo. Sem hesitar, abri a porta com um movimento brusco e entrei.

Ephraim estava em sua cadeira de rodas, olhos fechados, ignorando tudo ao seu redor. A música alta fazia o chão vibrar, mas eu não me deixei intimidar. Caminhei até o aparelho de som e, sem dizer uma palavra, desliguei-o. O silêncio que se seguiu foi quase palpável.

Ephraim abriu os olhos, surpreso e irritado. - O que você está fazendo?"- ele gritou, tentando ligar o som novamente, mas eu fui mais rápida. Puxei os fios da tomada, desconectando tudo.

— Isso é inaceitável, Ephraim- Disse eu, minha voz firme e cheia de indignação. - O que você fez foi cruel e desrespeitoso. Não vou permitir que trate as pessoas dessa maneira.

Ele me encarou, a surpresa dando lugar a uma raiva mal contida. - Você não tem direito de entrar aqui e me dar lição de moral- retrucou, os olhos faiscando. - Você nem deveria ter retornado a essa família.

— Não justifique seus erros com os meus, eu posso ter estado ausente, mas estou aqui agora, e me importo com o que acontece nesta casa- respondi, não recuando diante de sua ira. - Não se trata apenas de hierarquia, trata-se de respeito humano básico. Ninguém merece ser tratado como você tratou a empregada hoje.

Ephraim olhou em meus olhos tentando me intimidar, mas eu mantive minha posição. - Você não entende nada sobre o que estou passando- ele disse, sua voz agora mais baixa, mas carregada de dor.

— Então me faça entender- Insisti, suavizando meu tom. - Se há algo que está te machucando, há maneiras melhores de lidar com isso. Descontar em outros não vai aliviar sua dor, só vai piorar as coisas para todos.

Houve um momento de silêncio tenso entre nós. Vi a batalha interna em seus olhos, o conflito entre a raiva e a vulnerabilidade. Ele virou sua cadeira de rodas, passeando pelo quarto, antes de parar, com a cabeça baixa.

— É tudo tão difícil- Ele admitiu finalmente, a voz quebrando. - Desde que... desde que tudo mudou, parece que estou afundando, e não sei como parar isso.

A raiva que eu sentia começou a se dissipar, substituída por uma empatia profunda. Dei um passo à frente, tentando alcançá-lo emocionalmente. - Ephraim, sei que está sofrendo. Todos estamos. Mas machucar os outros não vai curar sua dor. Vamos encontrar uma maneira de passar por isso juntos. Há pessoas aqui que se importam com você, mesmo que você não perceba.

Ele ficou em silêncio por um longo tempo, e eu esperei, dando-lhe espaço para processar. Finalmente, ele assentiu levemente, sem me olhar. - Vou pedir desculpas- Murmurou, mais para si mesmo do que para mim.

— Isso é um começo- Respondi, sentindo um fio de esperança - Ephraim, todos nós estamos aqui para ajudar, se você permitir. Não precisa enfrentar tudo sozinho.

Jacob apareceu na porta, observando a cena com uma expressão indecifrável. Havia um entendimento silencioso entre nós. Eu havia dado o primeiro passo para romper a barreira que isolava Ephraim.

Saí do quarto, deixando-os sozinhos para que tivessem sua conversa. Ao descer as escadas, senti que, apesar de todas as dificuldades, talvez houvesse uma chance de cura para aquela família, se todos estivéssemos dispostos a enfrentar nossos demônios juntos.

A tensão na casa era quase palpável. Eu sabia que havia muito mais em jogo do que apenas um incidente com uma sopa. Era o reflexo das feridas e das tensões não resolvidas que permeavam a família e a fazenda. Eu queria ajudar, mas também sabia que minha posição era delicada. Qualquer passo em falso poderia complicar ainda mais a situação.

Depois de deixar Ephraim com Jacob no quarto, desci as escadas com o coração ainda acelerado. Quando cheguei à sala, encontrei Eva e Evelyn esperando, a ansiedade evidente em seus rostos. Evelyn estava sentada rigidamente no sofá, enquanto Eva, com os olhos grandes e cheios de preocupação, olhava em minha direção.

— Tudo vai ficar bem-disse eu, tentando tranquilizar Eva. Sentei-me ao lado dela e peguei sua pequena mão na minha. - Seu irmão está apenas passando por um momento difícil. Seu pai está com ele agora, conversando.

Eva se aproximou mais, procurando conforto no meu abraço. Evelyn observava em silêncio, seus olhos fixos em mim. Havia uma mistura de desconfiança e curiosidade em seu olhar, como se estivesse tentando entender quem eu realmente era.

— O que aconteceu com Ephraim? Perguntou Evelyn finalmente, sua voz controlada, mas carregada de emoção.

Suspirei, escolhendo cuidadosamente minhas palavras. - Ele está lidando com muita dor, Evelyn. E, às vezes, essa dor se manifesta de maneiras erradas. Mas o pai de vocês está conversando com ele. Vamos encontrar uma maneira de ajudá-lo.

Evelyn assentiu, mas não disse mais nada. O silêncio se instalou na sala, interrompido apenas pelo som suave da respiração de Eva, que parecia estar começando a se acalmar em meus braços. Eu acariciava seus cabelos, tentando transmitir uma sensação de segurança.

Após alguns minutos, Jacob desceu as escadas. Sua expressão estava mais suave, embora ainda houvesse uma sombra de preocupação em seus olhos. Ele se aproximou de nós, seus olhos passando de Evelyn para Eva, e depois para mim.

— Obrigado- Disse ele, a voz sincera. - Foi a primeira vez que você teve uma atitude de mãe com Ephraim desde o acidente. Sempre fugiu quando as coisas ficaram difíceis.

Seus olhos encontraram os meus, e por um momento, vi uma vulnerabilidade que ele raramente deixava transparecer. Ele acreditava que eu era Elizabeth, e estava claro que meu comportamento daquela noite havia tocado uma corda sensível nele.

— Eu... estou tentando mudar- Respondi, a voz firme, mas gentil. - Ephraim precisa de todos nós. Não podemos continuar evitando os problemas.

Jacob assentiu lentamente, parecendo absorver minhas palavras. - Ele pediu desculpas à empregada, - Acrescentou, com um tom de alívio em sua voz. - Foi um passo importante.

Senti um alívio inundar meu coração ao ouvir isso. - Isso é um bom começo- Disse eu, olhando para Jacob com uma sinceridade que esperava que ele entendesse. - Precisamos continuar apoiando uns aos outros, especialmente agora.

Evelyn observava a interação entre nós com um olhar avaliador, como se estivesse tentando reconciliar essa nova versão de mim com a imagem que tinha de sua mãe. Eva, ainda aninhada ao meu lado, finalmente relaxou completamente, fechando os olhos.

Jacob se sentou na cadeira ao lado do sofá, o peso da responsabilidade evidente em seus ombros. - Precisamos continuar conversando, enfrentando esses problemas juntos- Disse ele, olhando para todos nós. - E não apenas com Ephraim. Todos nós temos nossas cicatrizes.

Concordei, sentindo uma nova determinação crescer dentro de mim. - Sim, juntos podemos superar isso.

Naquela noite, na sala silenciosa, houve um sentimento de unidade emergindo entre nós. Apesar de todas as dificuldades e mal-entendidos, havia uma esperança renovada de que poderíamos encontrar um caminho para a cura. E, pela primeira vez, senti que estava começando a fazer parte dessa família de verdade, mesmo que sob a identidade de Elizabeth.


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