EU TE VEJO - Um romance com o Coringa. escrita por Eurus


Capítulo 2
Apartamento 1503.


Notas iniciais do capítulo

Pra quem ainda não entendeu a pronúncia do nome da nossa protagonista - porque não assistiu Community - Britta se pronuncia: Bruí ra, bem americanizada a gatinha .- Melhor colocar no google translate e ouvir no inglês, é aquilo ali .-



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‘’São necessários dois para provocar um acidente.’’

Scott Fitzgerald  

O Grande Gatsby

 

O complexo de prédios do Asilo Arkham estava passando por uma reforma, no entanto as mudanças não eram apenas na estrutura dos prédios. Desde a invasão de Bane, quando diversos prisioneiros e pacientes fugiram, muitas coisas mudaram internamente, longe dos olhos de todos. Representantes do asilo conseguiram um acordo com a prefeitura evitando fiscalizações surpresas e visitas públicas. Tudo muito conveniente para o novo homem à frente da instituição. 

O homem pálido de longos cabelos lisos escuros, apesar da pele perfeitamente lisa e limpa aparentava ser muito mais velho por conta de sua postura séria e imponente, sentado à mesa no escritório da diretoria a posição de poder lhe caia tão quanto o terno preto que vestia. Os traços marcados de seu rosto, sobretudo sua mandíbula quadrada e larga tornavam espontânea a expressão dura e fria. Relaxado com os calcanhares cruzados à mesa, tinha os olhos puxados focados em seu caderno de anotações enquanto escrevia um cálculo de física. Ouviu a porta ser aberta e espiou por cima do caderninho para ver Coringa olhando todo o ambiente com olhos curiosos. 

— Eu esperava encontrá-lo em algum tipo de laboratório químico — o Palhaço falou casualmente olhando o conhecido escritório.  

De forma discreta e quase inaudível o moreno respirou fundo pousando o caderno de anotações sobre a mesa. Coringa claramente mais velho, robusto, de dorso largo, com sua característica maquiagem no rosto que dava ainda mais vida a aparência chamativa de sua roupa colorida que muito combinava com sua linguagem corporal de movimentos levemente teatrais e por vezes agitados, enquanto que o outro era mais novo, esguio, alto de pernas longas, pouco se movia com sua energia elegante mas melancólica. Externamente os dois eram extremos opostos, no entanto, os olhos de ambos continham um abismo semelhante. A perfeita demonstração de como a insanidade tem diferentes faces, formas e cores.  

— Lhe peço desculpas pela mudança do local da entrega em cima da hora — o jovem falou analisando-o cuidadosamente. 

— Eu admito que fiquei bem… — o Palhaço cessou o sorriso buscando uma palavra. — ...contrariado! — falou de súbito — Eu esperava pela polícia mas o imprevisto revelou algo verdadeiramente esplêndido! — era óbvia sua excitação.

— O retorno do Batman — o outro falou entediado.

— Eu não sabia que havia me tornado tão previsível assim — Coringa o olhou com o que pareceu um olhar de desaprovação. 

— Mas por causa dele você perdeu alguns dos seus homens…

— Não — sibilou perigoso — Isso foi culpa sua. — Apontou-lhe o dedo o olhando seriamente, o olhar sombrio. — Mas já estamos quites. — Lhe deu as costas de repente para olhar a vista de uma janela ali.

O outro não se abalou já imaginando que Coringa lhe aprontou algo. Conhecia o criminoso o suficiente para saber que nem sempre era necessário estar alerta quando ele estivesse agitado ou baixar a guarda quando ele parecia estar relaxado. 

— Quantos dos meus homens você matou? — imaginou o prejuízo que o instável lhe causara.  

— Não pretendo estragar a surpresa! — Cessou o sorriso quando se virou novamente para o mais novo. — Vamos ao que interessa. A última parte do trato. A garota. 

Dessa vez quem sorriu, minimamente, foi o moreno que já destrancava uma gaveta em sua mesa. Alcançou um envelope pardo de tamanho médio e pouco volumoso. 

— Aqui… — o jovem ligeiramente mais alto se aproximou lhe entregando o envelope. — …Tem tudo o que precisa saber sobre ela. Nome, onde mora, hábitos, onde trabalha…Faça como achar melhor, mas preciso dela viva —  pela primeira vez, Coringa viu seus olhos brilharem e foi ele quem revirou os olhos, entediado.

— Estou com um número reduzido do meu pessoal — o Palhaço falou casualmente bisbilhotando o interior do envelope por alguns segundos vendo de relance a foto da mulher em questão. — Eu sou um homem ocupado! Isso vai levar algum tempo, não fique esperando. — Deu as costas saindo do escritório.

— Eu espero por isso há anos. Alguns a mais não farão diferença para mim…

— Gostei do que fez com o lugar — ouviu Coringa gritar ao longe.

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Dois anos depois - 2011.

Era inverno em Gotham mas a moça estava longe de ter algumas semanas de férias. Estava tão sobrecarregada com o trabalho que mesmo em casa tinha que trabalhar. Com todas as luzes do apartamento apagadas, a luminária da escrivaninha e laptop a permitiam ver seu caderno para anotações e os documentos em que estava trabalhando. Ora digitava, ora lia, ora escrevia. O exaustivo trabalho de uma advogada que fazia o papel de paralegal. 

Recém formada, a morena fazia de tudo pra dar o seu melhor, ainda que seu desejo fosse estar em um tribunal e não em um escritório. Estava frustrada porém se sentia culpada por sua própria insatisfação, afinal, teve muita sorte de conseguir um trabalho efetivo depois dos dois anos de estágio nas Empresas Wayne. 

Apesar do atraso que a invasão sofrida pela cidade causou em seu estágio, e portanto carreira, ela sabia que podia se considerar sortuda por tudo o que conquistou, mas ainda não conseguia deixar de se sentir uma parte insignificante da grande equipe de advogados das Empresas Wayne. Apesar de não admitir grande parte de sua ansiedade se devia por estar a um ano de completar 30 anos de idade.

— Eu não estudei tanto pra fazer trabalho de paralegal… — resmungou enquanto desligava o laptop.

Um baque alto vindo da sala a fez olhar imediatamente para a porta do quarto à sua esquerda. O pequeno corredor que conecta o quarto à sala estava escuro então não viu nada, o que a fez se levantar preocupada. Outro baque ainda mais alto confirmou que se tratava mesmo de sua porta. Entendeu que era alguém tentando invadir, então correu para trancar a porta do seu quarto.

Por instinto olhou para trás vendo a janela acima da cama no fundo do cômodo, mas o que fazer? Seu apartamento estava no 15º andar. Ainda incerta do que de fato estava acontecendo pegou seu celular em cima da escrivaninha e se escorou na parede ao lado da janela. Ofegante e desesperada, ela discou o número da polícia quando ouviu passos pesados vindo da sala. Ciente de que estava prestes a entrar em pânico tentou controlar sua respiração e se jogou debaixo da cama.

Quando ia retornar a discar o número da polícia recebeu uma ligação, por sorte o celular apenas vibrou e nervosa aceitou a ligação. 

— Bri Bri…

— Jocelyn, acabaram de invadir meu apê — tentou falar o mais baixo possível — Não sei quem são ou o que querem, tô escondida debaixo da cama, preciso de ajuda!

Meu Deus, você tá bem? Vou avisar a polícia pelo meu outro celular, mas tô aqui contigo, tenta ver algo deles, alguma característica e manda pra mim.

Àquela altura, ficou claro para Britta que eles não tinham pressa e não estavam revirando o apartamento. Tinha certeza que se tratava de mais de uma pessoa e que provavelmente sabiam muito bem o que estavam procurando e logo iriam achar, afinal, o apartamento não é nada grande.

— Como assim? Por que eu iria querer observar alguma característica deles? Eles provavelmente estão aqui por documentos legais das Empresas Wayne. Não é como se fossem me sequestrar.

Era o que mais fazia sentido pra jovem naquele momento. Por qual outro motivo criminosos subiriam até o 15º andar de um prédio residencial? A não ser que estivessem roubando outros apartamentos, estavam ali atrás de documentos jurídicos de Bruce Wayne. Mesmo a forma como eles estavam agindo, fazia parecer se tratar de um roubo organizado.  

— Eles estão fazendo uma busca minuciosa, com certeza estão buscando meu laptop e algumas pastas… —  se interrompeu ao ouvir batidas na porta — Eles estão entrando…

— Estou gravando essa chamada, assim se houver alguma voz...enfim, a gente assistiu Busca Implacável, você já sabe o que pode acontecer, qualquer coisa você grita…

Enquanto Jocelyn falava, o que parecia ser uma eternidade, Britta apertava o próprio corpo contra o chão tentando se manter imóvel. Manteve a respiração o mais baixa possível e enquanto sentia o frio emanando do chão, ela também podia sentir as batidas fortes do seu coração. Naquele momento ela só queria que os invasores pegassem o que quisessem e fossem embora. Se sentiu frustrada ao não ouvir nenhuma sirene da polícia por perto. 

— Vai ficar tudo bem…

Irritada com a voz de Jocelyn, Britta sentiu um certo constrangimento por não ter simplesmente desligado a chamada em vez de se expor de tal forma a ex-colega de faculdade. Britta não diria que sua relação com Jocelyn era uma amizade embora estivesse ciente que era assim que Jocelyn considerava a relação. Apesar de extremamente brincalhona e distraída, ela sempre tinha bons conselhos sobre aspectos técnicos e referências de contratos e casos criminais, era essa sua justificativa pelo contato que ainda tinham.

Ao ouvir os passos pesados vindo em sua direção tentou manter a calma e entender o que estava acontecendo ao seu redor, mas seu coração batia tão alto e forte, a ponto de acreditar que os intrusos também estavam ouvindo. Num susto o lençol foi arrancado pra cima e um rosto esquisito apareceu em sua frente.

O grito escapou de sua boca ao ver a máscara de feição distorcida e o solavanco que seu corpo deu a fez bater a cabeça na estrutura inferior da cama. Se afastou ao máximo para longe do homem e viu que o homem usava uma máscara de palhaço. Talvez pela dor que sentia no topo da cabeça, a confusão mental se fundiu ao pavor e Britta sentiu que estava vivendo um pesadelo. 

— Ela está aqui! — o intruso gritou, ainda ajoelhado, olhando para ela através dos buracos da máscara.

A morena não conseguia olhar em seus olhos, olhava histérica para os outros lados da cama tentando não perdê-lo de vista, toda a calma e coragem que buscou manter segundos atrás fugiram de si. Todo e qualquer raciocínio lógico foram inibidos e substituídos pelo desespero. Naquele momento, Britta imaginou que sofreria todo tipo de violência. 

O tal homem se levantou e logo dois outros se aproximaram. Não teve tempo de pensar pois logo sua cama foi empurrada para a parede atrás de si, o que quase a fez ser esmagada pelo móvel. Agora completamente exposta, também pode ver todos os quatro homens que usavam máscaras diferentes de palhaço.

De uma só vez, todos vieram em cima de si a fazendo gritar por socorro, dois agarraram violentamente pelos braços usando uma força completamente desnecessária. Apesar de não ser magra, Britta estava completamente inerte ao desespero e confusa demais para resistir. A agitação dos criminosos ao tê-la em mãos deixou claro que era ela que eles estavam procurando. 

— Eles estão usando roupas pretas e máscaras de palhaço! — gritou para Jocelyn enquanto se balançava inutilmente para se soltar dos dois criminosos. 

— A vadia ligou pra alguém...

— Ei!

Um deles lhe chamou e quando olhou para sua direção o viu prestes a lhe dar um soco no rosto e Britta caiu na escuridão da inconsciência. 


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