Um amor improvável escrita por Tianinha


Capítulo 4
O Roubo




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Dona Margot estava na cozinha, decorando um bolo, quando Fabinho passou e disse:

— Estou saindo e não demoro.

— Filho, espera, espera, vem cá, chega um pouquinho aqui. — disse dona Margot.

Ele se aproximou.

— Você não tem nada mesmo pra me contar? — ela perguntou.

— Meu Deus do céu, mãe. O que tanto você quer que eu te conte? — perguntou o garoto, enfiando o dedo na cobertura no bolo e levando-o à boca.

— Eu vi no seu quarto uns papéis sobre o Plínio Campana.

De fato, o garoto havia montado um verdadeiro dossiê sobre Plínio e Irene.

— Ah, você está mexendo no meu quarto agora? Tchau! — ele disse, procurando fugir do assunto, e ia saindo. Dona Margot foi atrás.

— Não, agora que eu entendi por que que você ficou dando corda pra Santa. Eu estranhei. Você nunca ligou pra gente famosa. — disse dona Margot.

Dona Margot conhecia bem o filho, sabia dos hábitos e interesses dele. Fabinho não ligava para artistas de televisão, de teatro, nada. Não gostava de novela. Nunca se interessou em fuçar a vida dos famosos. Por isso ela estranhou o súbito interesse do rapaz pelas celebridades.

Realmente, Fabinho só havia levado aquela revista para casa porque falava de Amora. E foi por acaso que ele ficou sabendo de Irene Fiori. 

— Do que você está falando? — Fabinho se fez de desentendido.

— Eu vi na revista a Irene Fiori com um anel igual ao seu.

Uma vez que a mãe havia entendido quais eram as intenções dele, resolveu falar tudo. Não havia mais como esconder. 

— Então você está percebendo que as peças se encaixam, né?

— O que você vai fazer? Você vai chegar em São Paulo e se apresentar como filho do Plínio Campana? — perguntou dona Margot.

— Qual o problema? Eu peço um exame de DNA, comprovo a paternidade, tô rico. — disse Fabinho. Tinha direito de saber sua origem e conseguir o que queria, não tinha? Como a mãe podia não entender isso?

— Mesmo que o Plínio Campana seja seu pai, ele não vai te dar nada se ele desconfiar que está procurando ele por interesse, né? — disse dona Margot. Queria ajuda-lo, aconselhá-lo, mas o garoto não interpretou desta maneira.

Fabinho tinha certeza que a mãe adotiva ia julgá-lo um interesseiro por querer ter direito à herança. E com certeza ela devia pensar que ele era um ingrato por querer procurar os pais biológicos. Assim, é claro que ela iria tentar impedi-lo de ir atrás de sua história, e conseguir tudo o que era dele por direito. Por ela, ele permaneceria do lado dela, vivendo na pobreza. Mas se dona Margot se conformara com a vida de pobreza, ele não. 

— Você está vendo por que é que eu não te falei nada? Porque você é egoísta. Você pensa em você, você torce contra, você quer que eu morra aqui, pobre, ferrado, mas aqui, do seu lado. — disse, colocando a mão no ombro da mãe. — Só que eu sou filho da Irene Fiori e do Plínio Campana. E eu vou atrás do que é meu.

— Um filho só tem direito depois da morte do pai. — disse dona Margot.

— Mas eu não vou esperar o Plínio morrer pra montar na grana dele. Eu vou fazer esse cara gostar de mim. Ele vai me dar a vida que eu sempre quis. Você vai ver. — garantiu o garoto.

Uma cliente de dona Margot apareceu batendo na porta:

— Margot? Dá licença! Oi, querida!

— Entra! — disse dona Margot.

— Tudo bem? — disse a cliente, entrando e dando um beijo na dona Margot. — E o meu bolo? Está pronto?

— Quase pronto. Vem cá. — disse dona Margot, indo à cozinha.

— Oi, tudo bem? — disse a cliente, cumprimentando Fabinho e deixando a bolsa que trazia consigo sobre o sofá.

— Oi! — disse Fabinho.

A cliente foi para a cozinha. Fabinho aproveitou-se do momento em que a cliente estava na cozinha para mexer em sua bolsa. Pegou a carteira e retirou de lá dinheiro, cartão, um talão de cheques e o documento de identidade dela. Colocou a carteira de volta na bolsa e saiu.

Precisava comprar roupas novas, de marca. Estava sem dinheiro, por isso roubou a cliente da mãe. Não podia se apresentar para o Plínio com roupa de pobre. Seu genitor não podia nem desconfiar que ele era pobre. Se Plínio soubesse que ele, Fabinho, era pobre, que sua família perdera a fortuna há muito tempo e que sua mãe dava duro para sobreviver, iria pensar mal dele. Plínio iria achar que ele estava apenas de olho na herança. E Amora não iria querer saber de um pobretão. Melhor que todos pensassem que ele continuava rico. Com sorte, a cliente demoraria para descobrir quem a roubou. Se é que descobriria.

No dia seguinte, nem bem ele acordou e a cliente de dona Margot apareceu em sua casa em companha do delegado. Ela havia descoberto o roubo. Apontou para Fabinho:

— Eu tenho certeza que foi ele que me roubou. — acusou.

— Que isso, senhora? Tá doida? — disse Fabinho.

— Baixa a crista, rapaz e vai te vestir, vai, que eu vou te levar pra delegacia. — disse o delegado.

Afinal, o delegado conhecia o rapaz. Sabia de seu histórico. Não era a primeira vez que Fabinho aprontava. Não era réu primário. O rapaz já havia passado por sua delegacia várias vezes. Viviam em Ribeirão Bonito, uma cidade pequena, onde todos se conheciam. Mas claro que Fabinho negaria até a morte.

— O que essa louca tá falando? Que história de roubo é essa?

— Eu tenho certeza que eu fui roubada nesta casa, doutor. — a cliente disse ao delegado. Dirigiu-se a Fabinho. — Você pegou meu dinheiro, meu talão de cheque, um cartão e ainda levou meu RG pra falsificar a minha assinatura. Eu peguei dois cheques que você tentou passar na loja de roupa, tá legal?

— A senhora tem prova disso? — perguntou Fabinho.

— Olha aqui a prova! — disse a cliente, apontando para umas sacolas que estavam sobre o sofá. — Foi nessa loja, doutor.

— Mas isso não é meu. — mentiu Fabinho. — E mesmo que fosse também, isso não prova nada, doutor!

— Escuta aqui, rapaz. — disse o delegado. — Você não é mais réu primário. Então é melhor você confessar e devolver o roubo, senão vai mofar na cadeia.

E agora? Não queria ir para a cadeia. Se for preso, não poderá ir a São Paulo atrás do pai. Estava ferrado. Assim pensou o rapaz.

— Mãe, a senhora sabe que eu sou inocente. Fala pra ele que eu sou inocente, mãe — implorou.

— Tá, tá. Chega, chega. Vai. Vai se vestir, vai, que eu vou te levar. — disse o delegado. — E olha, não apronta nenhuma gracinha não, viu? Eu estou com uma viatura aí na frente.

— Não foi ele, não, seu delegado — disse dona Margot.

Dona Margot não queria ver o filho ser preso novamente. 

— Claro que foi! — disse a cliente. — A única vez em que eu me separei da minha bolsa foi aqui nesta sala, e ele estava aqui.

— Ele não estava aqui quando a senhora foi ao banheiro, lembra? — disse dona Margot. — Quem roubou a senhora dona Dulce, fui eu.

Fabinho ficou surpreso. Não esperava que a mãe assumisse a culpa pelo roubo em seu lugar. 

— Como é que é? Por que, Margot? — espantou-se a cliente.

— Pra pagar dívidas! — disse dona Margot. — Eu usei seu cheque, seu dinheiro pra pagar o que eu devo. Fui nessa loja, comprei umas roupas pro meu filho... Mas ele não sabia de nada, eu juro.

O rapaz resolveu deixar a mãe assumir o roubo em seu lugar. Afinal, ele não podia ser preso. Tinha de ir a São Paulo, saber mais sobre sua história. 

—  Por que você não me procurou e me pediu? Eu tinha emprestado. — disse dona Dulce.

— O senhor pode me levar pra cadeia. — disse dona Margot ao delegado.

— Não, isso não. Peraí, calma. — disse dona Dulce. — Você me devolve o meu documento e eu retiro a queixa. Tudo bem.

— O documento... O documento eu joguei fora. — disse dona Margot.

— Mas assim você não está me deixando alternativa! — disse dona Dulce. — Então eu vou ter que fazer o B.O e dar queixa.

Na delegacia, dona Margot confirmou que foi a responsável pelo roubo.

— Como a senhora é ré primária e tem residência fixa, a senhora não vai ficar detida. — avisou o delegado. — Mas não pode sair da cidade antes do julgamento. — entregou um papel. — A senhora assina aqui, por favor.

Dona Margot sentiu-se humilhada. Fabinho, sentado ao lado da mãe, fez o bom moço:

— Não assina nada antes de falar com advogado.

— E eu lá tenho dinheiro pra advogado, menino? — replicou dona Margot.

— Não se preocupe. Eu conheço um muito bom da Defensoria Pública. — disse o delegado.

— Eu vou ficar, tá? Vou cuidar de você. Nada de mal vai te acontecer. — prometeu Fabinho.

— Oh rapaz, tudo de pior que podia acontecer com a sua mãe já aconteceu — rebateu o delegado.

— Mãe, eu vou... — Fabinho levantou-se. — Eu vou conseguir um bom advogado pra você, tá?

— Mas peraí, Fabinho! Peraí! — pediu dona Margot.

— A gente se vê em casa. — disse Fabinho, saindo da sala.

— Dona Margot, a senhora tem certeza do que está fazendo? — perguntou o delegado.

— Tenho. — disse dona Margot, assinando o documento. — A culpa é minha. A culpa é toda minha.

Fabinho foi direto para casa. Arrumou suas coisas, levou o que restava do dinheiro da cliente e mais algumas coisas de valor que havia na casa e saiu. Acabou deixado cair um porta retrato, onde havia uma foto sua com a mãe, mas não se importou. Na rua, olhou uma motocicleta. Não havia nenhuma chave na ignição. Fez uma ligação direta, montou e saiu em disparada. Primeiro passou em um chaveiro, para conseguir uma cópia das chaves da moto. Em seguida passou em um posto para botar gasolina.

— Enche! — disse ao frentista, ao descer da moto.

Aproximou-se dos expositores. Pegou um pacote de salgadinhos e uma revista com a foto de Amora na capa.

— Amorinha... Tô chegando, viu? Me espera.


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