Um amor improvável escrita por Tianinha


Capítulo 15
Demissão de Érico




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Depois de passar no apartamento de Plínio, Fabinho foi direto para a agência. Estava olhando a foto de Plínio e Irene, quando Edu aproximou-se e disse:

— E aí, Fraldinha? Não vai trabalhar hoje não, é?

Ao ouvir Edu chamá-lo pelo apelido, Fabinho ficou furioso. Odiava ser chamado de Fraldinha. Nunca gostou do apelido. As pessoas o chamavam assim para encher o saco, para ofendê-lo, humilhá-lo.

— Você está maluco, moleque?

— Qual foi? Vai encarar? — perguntou Edu. — Já sei! Vai invadir a minha casa igual fez com o cara da floricultura?

— Olha como fala comigo! — disse Fabinho, furioso. — Daqui a pouco eu posso estar por cima.

— Tá bom. — disse Edu. — Mas, enquanto isso, pesquisa aí pra mim todas as campanhas da Scarpe Dolcetto, valeu?

Edu afastou-se de Fabinho. Érico foi falar com Edu:

— E aí, Edu?

— E aí? — disse Edu.

Érico apertou a mão de Edu, dizendo:

— Vem cá, vai ou não vai na minha despedida de solteiro?

— Pô, tem o niver da Camila, cara. Não vai dar. — disse Edu, cruzando os braços.

— Camila? — perguntou Érico. Não sabia de quem Edu estava falando.

— Lancaster, pô. — disse Edu. — A gente ficou ligado depois daquela campanha. Não está lembrado, não? E também, eu não vou dispensar a Camila Lancaster pra ir pra aquele fim de mundo, né? Desculpa aí, cara.

Fabinho estava diante do computador, em sua mesa, observando tudo. Viu quando Wilson Rabello chegou na agência. Érico cumprimentou o tio:

— Ô tio! Tudo bem?

— Oi, Érico, tudo bem? — disse Wilson, apertando a mão de Érico.

— E aí? — disse Érico.

— Hoje é a sua despedida de solteiro, não é? — perguntou Wilson.

— Pois é. — disse Érico. — Vai rolar uma farrinha lá no Cantaí, tá a fim de ir mais tarde?

— Não, eu tô muito velho pra essas coisas. — disse Wilson. — Obrigado. Vem cá, o seu patrão está aí?

— Tá sim. Tá lá em cima. — disse Érico. — Eu te levo lá. Vem comigo.

Érico levou Wilson até a sala de Natan.

— Claro! Óbvio! Fato que eu vou, né? — disse Júlia. — A Camilinha é uma querida, né? Até me ligou: Júlia, vai mesmo? Vou! Confirmei presença.

— Você é muito sem noção, Júlia. — disse Edu. — Ela nem sabe o teu nome.

— Ah, você tá falando o quê? Porque, o seu, ela sabe, né? — disse Júlia. — Você é o quê, agora? Best dela? Até parece, Edu.

— Então tá. Vamos ver. — disse Edu.

— Vamos ver. Vamos ver. — disse Júlia.

Júlia e Edu tinham mania de fazer apostas.

Fabinho ficou muito interessado na festa da Camila Lancaster. Tudo o que ele queria era fazer parte do mundo dos ricos, e seria bom se relacionar com pessoas deste meio. Tinha de dar um jeito de ganhar um convite para o aniversário da Camila. Resolveu falar com Natan. Natan estava comendo na mão dele, quem sabe conseguia de Natan o convite para ir na festa. Afinal, Natan devia estar grato por tudo o que Fabinho havia feito por ele.

Quando Fabinho entrou na sala de Natan, ele estava falando ao telefone:

— Tá bom, Bárbara, eu te pego às 08:30. Ok. Beijo! — colocou o telefone no gancho.

— Hoje tem festa da Camila Lancaster, né? — perguntou Fabinho. 

— Pois é. E eu já estou atrasadíssimo. — disse Natan, vestindo a jaqueta. — Tenho que trocar de roupa e ainda tenho que pegar a Bárbara.

Fabinho procurou lembrar Natan de tudo o que havia feito por ele. 

— E aí? Vai rolar dela fazer o filme? — perguntou Fabinho.

— Ah, ah! Você acha que ela ia preferir fazer o filme do André? — disse Natan, pegando a bolsa.

— Eu sabia, Natan. Que bom. — disse Fabinho, sorrindo. — Fico muito feliz de ter feito a cabeça da Bárbara. Bacana ter festa hoje! Eu queria também comemorar com vocês.

Natan pendurou a bolsa no ombro.

— Fabinho, eu e a Bárbara seremos eternamente gratos a você. — disse Natan. — Continue assim. Bom menino. Até amanhã. — deu um tapinha no peito do rapaz.

Fabinho ficou chateado por não ter conseguido convite para a festa. Mais tarde, já no quarto, ficou observando, pelo notebook, no site do Luxury, as fotos da festa da Camila Lancaster. Olhou a foto de Amora e Maurício.

— Esse Natan é um babaca! Custava ter me chamado pra essa festa?

Olhou uma foto de Malu ao lado de Bento. Então sua irmã levara Bento para a festa? O que Bento estava fazendo lá? Não era tão famoso, nem rico. Mais uma vez, Bento conseguira o que ele não havia conseguido: entrar na festa. Bateu a mão na cama, furioso.

— Droga! Eu que tinha que estar nessa festa!

Olhou para a foto de Bárbara e Natan, fervendo de raiva por dentro.

— Então é assim? Na hora de se divertir, o estagiário, que juntou o casal, fica aqui? Tudo bem! Não vou sentir a menor culpa na hora de detonar vocês. Babacas!

No dia seguinte, Fabinho foi para a agência, como sempre. Pegou uma caneca de café. Resolveu tirar uma onda com a cara de Cléo e Edu:

— Não tô entendendo. — disse Fabinho, tomando um gole do café. — Trabalhar vocês não querem não, né? Só eu que trabalho aqui?

Cléo, Edu e Sílvia riram. Fabinho era o maior folgado.

— Ai, me poupa! — disse Cléo. — Você trabalha, né, Fraldinha? Só que hoje, por incrível que pareça, não tem trabalho! O chefe tá muito ocupado respondendo entrevista sobre Bárbara Ellen e o filme lá dos dois.

— Muito bom! — disse Edu, rindo.

— Olha aqui, gente, isso não tem a menor graça, não! — disse Sílvia. — O que o Natan está fazendo é muito sério. Dá licença!

— Tá com ciúmes! — disse Cléo, rindo, quando Sílvia saiu andando. Cléo achou que Sílvia estava com ciúmes da Bárbara. 

— Ih, olha lá! Atenção, galera, a Super Sílvia vai entrar em ação, hein! — caçoou Edu.

— Pan pan pan! — disse Cléo.

Sílvia foi para a sala de Natan, falar com ele. Estava furiosa por Natan deixar de trabalhar para ficar atendendo a telefonemas da imprensa. Natan estava mais preocupado em ser cineasta do que trabalhar nas campanhas. Pelo visto, a conversa não dera em nada, pois Sílvia saiu da sala furiosa e pensativa. Fabinho observava tudo, pois estava por perto. Ao ver Sílvia, Érico perguntou:

— Sílvia, tá tudo bem?

— Tô chocada, Érico! — disse Sílvia. — Você acredita que tem gente que é capaz de se desfazer da própria mãe?

Fabinho entendeu que Bárbara e Natan pretendiam se livrar de dona Madá. Certamente, estavam planejando interná-la em outro manicômio. Não que morresse de amores pela dona Madá. Mas achava Bárbara pior que ele. Nem ele era assim tão ruim para pensar em se livrar da mãe. Internar a própria mãe em um manicômio era demais até para ele. Tudo o que pretendia fazer era para defender sua mãe de verdade, Irene. E não pretendia abandonar dona Margot. Pretendia bancá-la. Visitá-la. Mas ela tinha de ficar lá em Ribeirão Bonito, para que ninguém ali em São Paulo descobrisse que ele deixou a mãe adotiva pagar pelo roubo em seu lugar.

— Mas o quê que foi que aconteceu? — perguntou Érico, sem entender nada.

— Promete que você me leva junto quando você tiver sua própria agência? — disse Sílvia, estendendo as mãos e pegando-as do Érico.

Fabinho observava tudo. Então Sílvia estava pensando em deixar a agência e abrir uma outra em sociedade com o Érico!

— Que história é essa de agência, Sílvia? — perguntou Érico. — Você sabe que eu não sou da criação.

— Você é muito mais criativo e talentoso do que você pensa! — elogiou Sílvia. — E a Class Mídia está fazendo água.

— Peraí! Então, você já ficou sabendo do rombo no caixa? — perguntou Érico.

— Que rombo?! — perguntou Sílvia.

— O Kléber, do financeiro, ele me disse que alguém enxugou a conta da agência! — disse Érico.

— Como? O único que tem acesso total às contas da agência, é o Natan! Por quê que ele poria em risco a própria empresa? — perguntou Sílvia.

— Sei lá! — disse Érico. — Talvez pra investir nesse filme, ou então pra não ter que dividir com a esposa, na hora do divórcio, não sei. Bom, o fato é que o dinheiro sumiu, tá? É. Eu até pensei em falar com o Natan. Mas o meu receio é falar com ele e descobrir que talvez seja ele o responsável, entendeu?

— Que loucura, Érico! — disse Sílvia, chocada. — Mas isso só confirma a minha intuição. Vai por mim, se organiza pra fazer tua própria agência porque eu vou colocar meu colete salva-vidas.

Fabinho resolveu fazer a cabeça de Natan para que ele demitisse Érico. Natan não gostava de Érico, então seria fácil. Érico merecia levar o troco, pois foi ele o responsável por sua humilhação pública. Fora Érico que trouxera Bento e Giane ali na agência. Fabinho não sentia a menor culpa por fazer Érico ser mandado embora. Érico seria demitido de qualquer jeito. Ele, Fabinho, só daria um empurrãozinho. Érico era bonzinho demais, qualquer pessoa o fazia de idiota. Ele não tinha como sobreviver na agência, que era um ninho de cobras. Para sobreviver ali tinha de ser esperto, como ele, Fabinho, era. Sem falar que Érico estava se metendo aonde não devia. Além do mais, a agência ia afundar de qualquer maneira. Natan agora só pensava em fazer o filme e estava deixando de trabalhar nos comerciais. Fabinho não pretendia ficar na agência muito tempo. Assim que conseguisse tudo o que era dele por direito, sairia da agência, daria uma banana para aquele pessoal. Eram todos idiotas. Era uma gente micha, puxa-saco, sem criatividade, sem o menor talento. Além disso, o Érico não ficaria na pior. A Sílvia pretendia montar uma outra agência em sociedade com ele. Claro que Érico ficaria chateado, mas quem sabe um dia entenderia. Quem sabe um dia até o agradeceria por isso.

Fabinho foi até à sala de Natan falar com ele.

— Como é que é? — perguntou Natan.

Claro que Fabinho achou necessário distorcer um pouco a história.

— É isso que você ouviu, Natan. — disse Fabinho. — O Érico tá falando pra todo mundo que tem um rombo no caixa e a Class Midia vai falir. Parece que foi o Kléber do financeiro que falou pra ele.

— Mas que irresponsável! — disse Natan. — E pra quem que ele falou isso?

— Pra Sílvia. — disse Fabinho. — Ah, e o Érico tá falando também que quer abrir a própria agência, e vai chamar a Sílvia e todo mundo pra trabalhar.

Natan bateu a mão na mesa, furioso.

— Mau-caráter! —  disse Natan. — Eu sempre desconfiei desse jeitinho de bom moço! Agora tudo faz sentido. Faz sentido a forma como ele sempre interferiu na apresentação das campanhas. Sempre muito solícito, muito simpático, tentando cativar os clientes. — Natan fechou a mão e levou-a ao rosto.

— Natan, eu nunca falei, mas o Érico não presta. — disse Fabinho. — A verdade, é que o Érico nunca prestou! Eu cresci no lar dos pais dele, você sabe. E ele sempre quis ver o circo pegar fogo! Tanto que ele trouxe aqueles dois marginais aqui pra me bater. Você viu!

— Bem lembrado, Fabinho! — disse Natan, estalando o dedo. — Bem lembrado!

— Natan, eu só tô falando porque eu acho uma sacanagem uma pessoa querer prejudicar logo quem ajudou a vida inteira! — disse Fabinho.

— Quem sempre vive ajudando as pessoas, como nós, recebe sempre ingratidão como recompensa. — disse Natan. — Pessoas generosas e brilhantes, como nós, estão sempre cercadas de ressentidos e sanguessugas. Droga!

Natan pegou o telefone.

— Alô, Carol! Manda o Érico vir pra minha sala já! Ah, foi almoçar? Então, assim que ele voltar.

Desligou o telefone e disse para Fabinho:

— Eu vou dar uma lição nesse filho da mãe. E vai ser hoje mesmo!

Fabinho saiu da sala de Natan. Ficou brincando com o cubo mágico. Carol estava fuçando o site do Luxury em computador. Cléo estava atrás dela, e Edu ao lado. Fabinho estava ao lado da mesa de Carol. Edu disse:

 — Vai, Carol! Clica aí! Eu apostei com a Júlia! A Amora me filmou no níver da Camila! Está aí!

Edu deu um tapa no braço de Fabinho e disse:

— Aí! Perdeu um festão, cara!

— Folgadinho, você! — disse Carol, referindo-se a Fabinho, abanando a cabeça. Dirigiu-se a Edu. — Mas olha, sem som. Senão vai pegar mal pra mim.

Carol e Edu ficaram olhando o vídeo no computador. Carol disse:

— Fabinho! Não é aquele cara que bateu em você, aquele dia?

Fabinho deu uma olhada no computador. Viu Lara entrevistando Bento e Malu, que estavam no meio de um jardim. Cléo disse:

— Nossa! Que gato, né? Garota de sorte, essa aí!

Fabinho não gostou nada de ver Bento novamente ao lado de sua irmã. E também estava de saco cheio de ver toda mulher elogiar o Bento.

— Isso não é sorte, não. Esse cara está querendo dar o golpe nela!

— É, então, pelo visto o golpe está surtindo efeito, né? — disse Edu. — Se o cara já virou estrela da Luxury, mais esperto que você, ele está sendo.

Para Fabinho, Bento não era mais esperto do que ele. Era um otário.

— Eu vou falar pra Malu tudo o que eu sei sobre esse cara. — disse Fabinho.

— Cuidado pra não apanhar de novo, hein? — provocou Edu.

Céo deu risada. Fabinho passou por Érico, que acabara de chegar do almoço e ouvira a conversa. Érico disse:

— Mas você não desiste, hein, Fabinho? Deixa o Bento em paz, cara!

Fabinho ficou com raiva. Érico sempre tomava partido do Bento. E Fabinho bem que queria deixar Bento em paz, mas Bento sempre se metia no caminho dele.

— Érico, Érico! — Fabinho deu um tapinha no peito dele. — Que pena que você escolheu o lado errado. Falta de aviso não foi, né? — deu outro tapinha no peito de Érico, e saiu andando.


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