Um amor improvável escrita por Tianinha


Capítulo 14
A fotografia




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Fabinho foi à casa de Bárbara Ellen, para colocá-la a par do resultado do plano.

— É impressionante, eu falei pro Natan que você ia fazer o filme do André e ele mordeu a isca na hora.

Bárbara riu.

— Agora ele vai querer você no filme dele de qualquer jeito! Parabéns! — disse Fabinho, batendo sua taça de champanhe na de Bárbara. — Parabéns! Sacada de mestre!

— Eu só fiz uso da minha sagacidade. — disse Bárbara. — E você tem me saído um grandíssimo aliado.

Fabinho sorriu.

— Eu que agradeço a confiança! — disse o rapaz.

— Escuta, eu vou pedir umas pizzas porque a casa está uma bagunça com a saída da Emília. — disse Bárbara. — Senta, fica à vontade!

Emília era a governanta. Havia acabado de ser demitida. 

— Claro! Licença. — disse Fabinho.

Fabinho ficou observando a sala ao lado, onde dona Madá estava jogando pôquer com os filhos adotivos de Bárbara, Kevin e Dorothy.

— Pô, vó, como você sabia que eu tava blefando? — disse Kevin.

— Porque você estava seguro demais! — disse dona Madá. — Uma pessoa só fica 100% segura quando ela tá mentindo!

— Kevin, pro seu blefe colar, você teria que aparentar uns 3% de insegurança. — disse Dorothy, colocando as cartas sobre a mesa.

— Mas o que que é isso? — disse Bárbara, indignada, ao ver a mãe ensinar os netos a jogar pôquer. Dirigiu-se à mãe. — Você está instaurando a jogatina aqui, na minha casa? Eu não acredito, ainda mais pôquer, um jogo que valoriza a mentira! Ah, não! É o fim da picada!

— Ah, garota, até parece que você é um poço de honestidade. — disse dona Madá. — Se as crianças gostam de uma jogatina, é meu dever, como avó, ensinar meus netos a jogar e a mentir direitinho, pronto!

— Escuta! — disse Bárbara aos filhos. — Esqueçam tudo que vocês ouviram dessa velha maluca, hein? E não deixem ela roubar a inocência de vocês!

— Mãe, a inocência, você já roubou há muito tempo! — disse Dorothy.

— Isso é obra tua, hein! — disse Bárbara, apontando para dona Madá. — Seu ser maléfico! Desde que você entrou nessa casa que você instaurou a desunião aqui! Por isso que até a pobre da Emília teve que ir embora por causa das suas mentiras!

Kevin levantou-se da mesa.

— Mas foi você que demitiu ela, mãe! — disse o garoto, indignado, e saiu andando.

— Ô Kevin, Kevin, volta aqui! — chamou Bárbara. — Kevin, volta aqui, que eu vou pedir as pizzas!

— Pizza, não! — disse Dorothy, levantando-se da mesa. — Quero comida tailandesa! — passou por Fabinho e foi subindo as escadas.

Fabinho resolveu falar com dona Madá. Quem sabe ela lhe dava algumas informações sobre o passado da Bárbara, e também sobre seu pai e sua mãe.

— É, parece que rolou uma confusão aí, né? — perguntou Fabinho.

— Ah, não liga não, meu filho, isso é missa, perto do que ela vai aprontar! — disse dona Madá, embaralhando as cartas.

— A Bárbara tem muita história mesmo, né? — disse Fabinho. — Nunca ninguém te ofereceu dinheiro pra fazer uma biografia dela?

Dona Madá riu.

— Se eu fosse botar no papel a história de Bárbara Ellen, ia ser tanta sujeira, mas tanta sujeira, que quem fosse ler ia ter que botar luva cirúrgica e máscara de gás — levantou as mãos nos dois lados da cabeça — pra poder não pegar vírus.

Fabinho riu. Achou dona Madá muito divertida.

— A senhora é muito engraçada, né?

— É, sou mesmo, sou mesmo! — disse dona Madá.

— Um dia desses, eu encontrei o Plínio Campana. — disse Fabinho. — Ele é o pai da Malu, né?

— Plínio Campana, príncipe, olhos verdes, educado. — disse dona Madá. — Eu não entendi até hoje, como ele conseguiu aguentar a minha filha.

— Pois é. E a Irene Fiori, a senhora conheceu? — perguntou Fabinho. — Parece que ela era uma atriz que o Plínio namorou antes de casar com a Bárbara.

— Eu conheci, sim. — disse dona Madá, balançando a cabeça positivamente. — Eu conheci a Irene Fiori.

A campanha tocou. Luz foi atender. Era o Bento.

— Oi, Luz! — disse Bento, entrando. — Eu vim falar com a Amora, ela tá aqui?

Fabinho ficou furioso. Como Bento se atrevia a entrar naquela casa? O que ele queria com a Amora? Faria tudo para afastar Bento de Amora, e principalmente, de sua família.

— O que você tá fazendo aqui, Bento? É muita cara de pau sua voltar nessa casa!

Bárbara também não gostou nada de ver Bento ali.

— Mas o que que você está fazendo na minha casa?

— Eu vim falar com a Amora! — disse Bento.

— A Amora não está! — mentiu Bárbara.

— Tá, sim! Vem comigo. — disse Luz, puxando Bento em direção às escadas.

Fabinho jamais permitiria que Bento se aproximasse de Amora novamente.

— Não, não, não! Luz, não faz isso, Luz! Luz! — disse Fabinho, correndo para impedir Luz de levar Bento para dentro. — Não faz isso, que eu conheço esse cara! Ele não presta!

— Que que é, Fabinho, você tá querendo que eu arrebente a tua cara de novo? — disse Bento, furioso.

— Olha aqui, eu não quero violência na minha casa! — disse Bárbara. — Vou chamar a polícia!

— Calma, tá? — disse Luz, procurando apaziguar. — Tá tudo bem! Ninguém vai brigar aqui! Bento, vem comigo.

Luz subiu as escadas com Bento. Fabinho disse:

— Olha aqui, gente, vocês têm que tomar cuidado com o Bento. O Bento é um marginal e tá querendo dar um golpe na Amora.

Fabinho sabia que Bárbara acreditaria nele. Todos sabiam que ele conhecia Bento desde criança. Já percebera que Bárbara não gostava de Bento. Tinha horror a ele. Bento era pobre, Amora era rica e famosa, logo, claro que Bárbara acreditaria que Bento pretendia dar um golpe. Assim, Bárbara o ajudaria a afastar Bento de Amora. Fabinho estava disposto a fazer de tudo para afastar Bento de Amora. Bento não tinha nada a ver com Amora. Eram de mundos completamente diferentes. Amora tinha horror a pobreza. Fabinho acreditava que ele, sim, era o homem certo para Amora. Afinal, ele ia ficar rico.

— Não se preocupe. A Amora não vai se deixar enganar. — disse Bárbara.

Bárbara subiu para o andar de cima. Com certeza a perua foi tentar ouvir a conversa entre Amora e Bento. Fabinho ficou conversando com dona Madá, no sofá da sala.

— Ah, então, quer dizer que você, a Amora e o Bento moraram na mesma casa de adoção? — perguntou dona Madá. — Não era uma agência de modelos?

Dona Madá riu.

— Só que eu e a Amora tivemos a sorte de ser adotados, e o Bento não. — disse Fabinho. — Por isso que ele tem inveja da gente. É por isso que ele tá querendo dar o golpe agora na Amora.

— Não, peraí. — disse dona Madá. — Mas ele ficou amigo da Luz e da Malu.

— Claro, ele tá se garantindo. — disse Fabinho. — Se a Amora não cair na conversa dele, entendeu?

— Mas ele é mais inteligente que você. — disse dona Madá.

— Como assim? — perguntou Fabinho, sem entender nada.

— Porque ele paquera as meninas da casa e você fica aqui, bajulando as coroas. — disse dona Madá.

— Bajulando, dona Madá? — Fabinho se fez de desentendido.

Pelo visto, ela já tinha percebido qual era o jogo dele. A velha era esperta. Já percebeu que ele tinha conseguido ficar amiguinho da Bárbara. E ainda tentou extrair dela, dona Madá, informações sobre Plínio e Irene. Dona Madá podia não saber o que ele pretendia, mas desconfiava que ele estivesse aprontando alguma. Fabinho esperava que dona Madá não se tornasse uma pedra no seu sapato.

— Claro. — disse dona Madá. — Meu bem, eu sou muito vivida. Não tem nada mais parecido com a vida do que uma mesa de pôquer. E quando o jogador é muito certinho, é muito corretinho, você pode apostar dez por um que ele é vigarista. — chegou mais perto, e aproximou o rosto do dele. — E você, bombom, é muito simpatiquinho, é muito bonitinho. 

— Não tô entendendo é nada. — disse Fabinho, se fazendo de sonso.

Luz e Bárbara desceram as escadas. Bárbara disse à Luz:

— Meu Deus do céu! Para de ficar me dando conselho! Cuida da sua vida! 

Dirigiu-se a Fabinho e dona Madá.

— Bom, finalmente, eu vou pedir as pizzas. Tem alguma favorita sua, Fabinho?

— Ah, não precisa, né Fabinho? — provocou dona Madá. Dirigiu-se à Bárbara. — O sabor que você escolher é o sabor favorito do Fabinho, né, Fabinho?

Foi Dorothy quem acabou pedindo as pizzas. Kevin reclamou:

— Mas por que que você não pediu muçarela de búfala? Você sabe que eu adoro.

— Então, da próxima vez, liga você e pede as pizzas. — disse Dorothy.

— Ah, menino, frescura! — disse dona Madá. — Come a de calabresa, vai estar ótima, tá?

Bento desceu as escadas depressa. Não estava com uma cara muito boa.

— O que que você fez com a minha filhinha? — perguntou Bárbara, acusadora.

— A sua filha está ótima! — disse Bento. — E fique tranquila, que eu não vou mais perturbar a senhora. Com licença.

Bento foi embora.

— Meu Deus do céu! — disse Bárbara.

Fabinho levantou-se. Pelo visto, Bento e Amora brigaram.

— Pelo menos, a Amora não caiu no golpe dele.

— O Bento não é golpista! — defendeu Luz, furiosa. — Não fala assim dele, que ele é meu amigo!

Mais uma para o fã-clube do Bento. Assim pensou Fabinho.

— E olha, forte, viril e sensível. — elogiou Madá, levantando-se do sofá. — Pacote completo, hein?

— Pelo menos, agora, o jardineiro sabe onde é seu lugar. — disse Bárbara.

Fabinho acabou jantando na casa de Bárbara. No dia seguinte, resolveu procurar Plínio. Faria de tudo para afastar Bento de Plínio e de Malu. Não queria Bento perto da sua família, de jeito nenhum. Bento era uma pedra no seu sapato, faria de tudo para atrapalhar seus planos. Naquele dia da briga, Bento o ameaçara. Bento não gostava dele, não confiava nele, e com certeza devia estar fazendo a caveira dele para Plínio e para Malu. Ainda mais depois da história da invasão, da destruição da estufa. Por isso resolveu jogar Plínio contra Bento. Resolveu dizer a Plínio que Bento queria dar um golpe em Malu. Achou que Plínio acreditaria nele. Afinal, Plínio não conhecia Bento. Ele, Fabinho, conhecia Bento desde criança. E que interesse um pobretão tinha em se aproximar de uma garota rica, filha de um cineasta famoso? Claro que Plínio ia pensar que Bento era um interesseiro. Fabinho achou que seu plano tinha tudo para dar certo.

Porém, quando Plínio atendeu, não fez uma cara muito boa. Estava na cara que Plínio não gostou da presença dele no apartamento. Tentou expulsá-lo:

— Você de novo, rapaz?

Plínio não entendia por que o rapaz estava sempre atrás dele. Não conseguia entender qual era o interesse do rapaz nele. Tivera uma péssima impressão do rapaz, desde o início. Estava na cara que era um interesseiro. Estava sempre bajulando pessoas ricas e influentes. Tudo em Fabinho soava falso. Achava Fabinho forçado. Fabinho tentara se aproximar dele só por ser rico e famoso. 

Fabinho havia percebido que Plínio não ia com a cara dele. Mas Plínio ainda não sabia quem ele era. Tudo mudaria de figura quando Plínio ficasse sabendo quem ele era, quando tivesse conhecimento de toda a história. Plínio acabaria entendendo tudo. Nada faria Fabinho desistir de seus planos. Fabinho ainda achava que ia conseguir fazer Plínio gostar dele. Plínio ia gostar de saber que teve um filho com a mulher que sempre amou.

— Tudo bem, Plínio? Eu posso entrar?

— O que você quer? — perguntou Plínio, sem deixá-lo entrar. Será que o rapaz ia tentar de novo bajulá-lo, impressioná-lo? Não queria conversa com o rapaz. Não tinha tempo para isso, precisava trabalhar, tinha coisas a fazer. 

— Bom, eu vou ser claro e direto, então. — disse Fabinho. — Até porque a gente não pode perder tempo quando o assunto é filha, né? A Malu tá correndo perigo.

— A Malu, correndo perigo? — Plínio não estava entendendo nada.

— Não só a Malu. A Amora e a Luz também. — disse Fabinho. — Plínio, esse Bento é um marginal. Eu conheço esse cara desde criança. Ele tá querendo desesperadamente dar o golpe na sua família. Você tem que fazer alguma coisa pra defender as suas filhas.

Perplexo, Plínio acabou deixando Fabinho entrar. O rapaz continuou:

— Plínio, eu conheço esse marginal do Bento desde que eu sou criança. Eu, ele e a Amora crescemos juntos no lar do tio Gilson. — disse Fabinho. — Acontece que eu tive a sorte de ser adotado por uma família bacana, estudei. E hoje, sou publicitário. A Amora também se deu bem. Mas o Bento...

— Você acha que a Amora se deu bem? — perguntou Plínio.

Para Plínio, estava na cara que o rapaz achava que ser rico era se dar bem. Ele parecia dar importância demais ao dinheiro. Isso confirmava o que ele pensava: Fabinho andava atrás dele porque era rico e famoso. Só não sabia qual era o interesse de Fabinho nele. O que Fabinho esperava conseguir dele? Fama, talvez? Sim, porque o rapaz era rico, não devia estar atrás do dinheiro dele. 

— Acho. — disse Fabinho.

Plínio balançou a cabeça positivamente. Fabinho disse:

— E é por isso que o Bento morre de inveja da gente. E desde que eu me aproximei da Bárbara, ele começou a cercar a Amora e a Luz. E o pior é que agora a Malu também está deixando se envolver por esse dissimulado.

— Escuta aqui! Você não está sendo um tanto paranoico, não, hein? — perguntou Plínio. Achou que Fabinho estava exagerando.

— Não, Plínio. O Bento é perigoso. — disse Fabinho.

Plínio não podia acreditar. Conheceu Bento, e ele não pareceu ser nem um pouco perigoso. Pelo contrário, parecia ser um bom rapaz, honesto, trabalhador, idealista. Simpatizou com Bento logo de cara. Ao contrário de Fabinho, Bento jamais o bajulara, nem tentara impressioná-lo. Bento não parecia ser um marginal. Não seria capaz de dar golpes. Ou seria? Precisaria tirar essa história a limpo. Falaria com Emília. Até pouco tempo, Emília trabalhava na casa da Bárbara, devia saber de tudo. Certamente, Emília conhecia Bento e Fabinho. Alguma coisa lhe dizia que havia algo errado com Fabinho, por isso não acreditava nele. Fabinho continuava:

— Tanto que ontem, ele foi na agência do Natan pra me agredir. Ele inventou uma história maluca de que eu quebrei a casa dele, não sei. Plínio, você tem que abrir o olho. As meninas precisam ficar longe desse cara.

Plínio não acreditou. Bento não parecia ser um rapaz violento.

— Eu agradeço a sua preocupação. — disse Plínio. — Agora, se era só isso, me dê licença porque eu tenho que terminar o artigo do jornal.

Fabinho ficou perplexo. Achou que Plínio acreditaria nele, mas o pai não dera a menor bola.

— Não, Plínio, eu queria falar mais...

Não viera apenas para fazer a caveira do Bento. Pretendia passar mais tempo com o pai, conversar mais com o pai. Mas Plínio nem deu chance. 

— Passar bem. — disse Plínio, indo para o escritório. Tinha mais o que fazer, não tinha tempo a perder com o rapaz. 

— Até mais. — disse Fabinho, despedindo-se, com a cara no chão.

Ao caminhar em direção à saída, olhou para uma mesa, cheia de porta-retratos. Olhou uma fotografia de Plínio com Irene. Isso só vinha confirmar o que ele já sabia: Plínio ainda amava Irene. Devia estar procurando por ela até hoje. Se ainda amava Irene, não poderia ter traído ela com a Bárbara. Fabinho tinha certeza de que o pai era inocente. A megera da Bárbara devia ter aprontado alguma para separar seus pais. Mas ele ainda se vingaria da Bárbara e juntaria os pais. Resolveu levar a fotografia. Enfiou a fotografia dentro da jaqueta. Queria ter sempre uma foto dos pais consigo.

A secretária de Plínio, Celinha, apareceu.

— Oi. Está precisando de alguma coisa?

— Não, querida, estou de saída. Obrigado! — disse Fabinho.

Abriu a porta e fechou-a atrás de si.


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