Siren escrita por llRize San


Capítulo 16
Ganância


Notas iniciais do capítulo

Cheguei. Cheguei.
(「`・ω・)「



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/811956/chapter/16

Rosé abriu os olhos lentamente, sentindo o peso da escuridão que envolvia o lugar onde estava presa. Era um alívio para seus olhos cansados e sensíveis se adaptarem ao ambiente sombrio que a cercava. Envolvida pela confusão e ainda lutando contra o sono, tentou se lembrar do que havia acontecido. A última memória clara que tinha era a de estar à beira da praia à espera de Jisoo, antes de sentir um golpe na cabeça que a fez perder a consciência.

Enquanto tentava focar seus olhos naquele ambiente pouco iluminado, percebeu que estava em um quarto cujas paredes de tijolos cobertas de lodo conferiam uma atmosfera sombria ao local. Rosé notou que suas mãos estavam amarradas e ela estava deitada no chão frio e úmido. Fazendo um esforço para erguer o pescoço, viu que suas pernas também estavam presas por correntes enferrujadas. Embora normalmente conseguisse libertar-se com facilidade, uma fraqueza debilitante dominava seu corpo, como se tivesse sido envenenada. Seu estado letárgico a venceu novamente, e, incapaz de resistir, Rosé sucumbiu ao sono, sua mente turva oscilando entre a realidade e a escuridão.

...

Rosé despertou subitamente, um jato de água fria atingindo seu rosto e quebrando o véu de sono que a envolvia. A sensação gelada fez seu corpo reagir instintivamente, e ela piscou rapidamente, tentando clarear sua visão embaçada enquanto gotas escorriam pelo seu rosto.

— Acorda, aberração! — Ouviu uma voz masculina falar com rispidez.

Lutando contra a névoa do sono que ainda nublava sua mente, Rosé tentou focar na figura que se materializava diante dela. O homem, que parecia estar na casa dos quarenta anos, exibia uma estatura baixa e uma proeminente barriga. Sobre a cabeça, ele usava um chapéu do tipo cartola, que se somava à peculiaridade de seu visual. O bigode espesso e inusitado sobressaía-se acima de uma boca cujos dentes eram uma combinação grotesca de podridão e ouro, refletindo um contraste bizarro.

As roupas dele, coloridas e listradas, pareciam tão exageradas quanto sua aparência, emanando uma sensação de desconforto visual pelo estilo ultrapassado e desajeitado. O cheiro que emanava do homem complementava sua presença desagradável; o hálito fétido misturava-se ao odor corpóreo que sugeria uma rara familiaridade com a água. Rosé reprimiu uma careta, forçando-se a manter a compostura diante dessa figura repulsiva que, sem dúvida, tinha intenções duvidosas.

— Onde estou? Cadê a Jisoo? — Perguntou Rosé, um pouco desnorteada. 

O homem riu e jogou mais água em seu rosto.

— Anda logo, apresse-se. Você precisa trabalhar. Não tem Jisoo aqui não, eu sei lá o que é isso.

— Trabalhar? — Rosé tentava se manter acordada.

— Exatamente, até que sua espécie não é tão ignorante quanto eu pensei. A partir de hoje você irá trabalhar para mim.

— Deve estar havendo algum engano, eu não o conheço e não vou trabalhar para você. Me solte! — Rosé tentou se soltar mas o homem chutou seu estômago, o que a fez vomitar de dor.

— Engano? Não há engano nenhum, minha querida. Você vai trabalhar para mim e isso não é um pedido, é uma ordem.

Rosé tossiu, uma dor aguda se espalhando por seu estômago, além do golpe que havia acabado de receber, também devido ao desconforto exacerbado pelo medo que a situação provocava. Ela encarou o homem desconhecido, tentando compreender o motivo por trás de sua hostilidade. A perplexidade crescia dentro dela — nunca havia visto aquele homem antes, não havia nenhum motivo aparente para que ele desejasse lhe causar mal. 

— Por que? — A voz de Rosé saiu com dificuldade — Por que está fazendo isso? 

O homem gargalhou.

— Por que? Acho que não deveria ter saído do fundo do mar, aberração. Seja como for, tem muita gente que adora ver aberrações como você, e eu ganho dinheiro com isso, simples assim. 

Enquanto Rosé tentava entender a situação, um som estranho começou a preencher o ambiente. Era uma música circense, uma marcha de ritmo acelerado normalmente destinada a evocar alegria e excitação. No entanto, o efeito era exatamente o oposto; cada nota parecia distorcida e carregada de uma melancolia profunda, transformando o que deveria ser empolgante em algo profundamente sinistro e sombrio.

— Que lugar é esse? — Rosé o olhou, temendo receber outro golpe.

— Esse lugar? — O homem sorriu orgulhoso — Esse lugar é onde a magia acontece, onde as crianças dão asas a suas imaginações. Onde tudo é possível! Bem vinda ao Le Cirque. Me chamo Rym Talorrak, sou o seu dono agora. Todos vão adorar a atração principal: uma Sereia de verdade vinda diretamente do fundo do mar. Vou ganhar uma fortuna com você, minha querida aberração. 

— Você é louco! 

Rosé lutou contra as amarras que a prendiam, puxando com o pouco de força que lhe restava, mas seu corpo estava extremamente fraco, cada movimento era uma batalha árdua contra a exaustão e a dor. Consciente de que suas habilidades de sereia poderiam oferecer uma saída, ela tentou canalizar sua energia para usar o canto, sua ferramenta poderosa de hipnose. No entanto, até o simples ato de falar se mostrava um desafio colossal. Sua garganta parecia seca e áspera, e cada palavra exigia um esforço tremendo para sair.

— Duvido que tenha humanos cruéis que paguem para ver outras espécies sofrendo dessa forma. Isso é desumano.

— Você não tem ideia do que o ser humano é capaz. Não estou reclamando, uso isso a meu favor. Eles gostam de ver criaturas místicas, por isso eu as caço e as coloco no picadeiro para virarem meus palhacinhos e, é claro, a minha fonte de renda — Rym pegou algumas moedas de ouro do bolso e mostrou para Rosé — Isso aqui compra qualquer coisa, e eu uso o coração frívolo dos humanos para conseguir essas preciosidades.

— Isso são só objetos que não compram o que mais precisamos.

— E o que seria?

— Amor, amizade, afeto, carinho…

Rym soltou uma gargalhada espalhafatosa.

— Não me faça rir, isso são apenas baboseiras. Ninguém vive disso, minha querida. Ninguém precisa disso. São só ilusões tolas que criaturas inúteis como você criam em suas cabeças vazias.

Enquanto o homem revelava mais sobre suas intenções sombrias, Rosé o escutava com uma mistura de horror e perplexidade. Era assustador perceber quão profundamente corrompido estava seu captor; nunca em sua vida havia encontrado alguém que exalasse tamanha maldade. As palavras dele ecoavam em sua mente, cada frase reforçando o perigo da situação em que se encontrava.

No meio da conversa, um som involuntário surgiu, quebrando brevemente a tensão. Seu estômago roncou alto, um lembrete cruel de sua fome prolongada. Ela não havia comido desde antes de ser capturada, e a falta de alimento começava a afetar sua capacidade de se concentrar e manter-se alerta. Essa fome só adicionava uma camada extra de desespero ao seu já precário estado físico e emocional.

Rym sorriu maldosamente para ela.

— Como você é novata, tenho que recebê-la com boas-vindas amistosas. Não é mesmo? Preparei uma refeição digna para você. Aguarde só um minuto que já vou trazer o seu banquete — Ele saiu do quarto, trancando-a novamente, após alguns minutos, voltou com uma travessa.

Quando o homem se aproximou de Rosé, que permanecia sentada no chão frio e úmido, ele exibiu um sorriso sinistro, segurando um prato que supostamente continha sua refeição. Com um gesto quase teatral, ele apresentou o conteúdo do prato a Rosé, esperando gratidão da parte dela.

No entanto, ao olhar para o prato, o estômago de Rosé se revirou em desgosto instantâneo. O que foi oferecido não era uma refeição, mas algo repulsivo que ela não pôde conter uma reação visceral. Com um soluço abrupto, ela vomitou. A ação não apenas destacou o estado deplorável em que ela se encontrava, mas também a crueldade daquele homem, que parecia deleitar-se com seu sofrimento.

— Por que essa atitude tão desrespeitosa para com seu anfitrião? — Perguntou Rym, rindo maldosamente enquanto observava a reação de Rosé. Na travessa que ele havia trazido, havia uma seleção de peixes, alguns assados, outros crus ou marinados. Para qualquer outra pessoa, aquela poderia ser uma refeição deliciosa, mas para uma sereia, era um vislumbre horrível de crueldade, uma vez que peixes eram seus companheiros no mar, não comida. Rosé cobriu a boca com a mão, tentando suprimir a náusea que ameaçava superá-la novamente. Lágrimas começaram a se formar em seus olhos, não apenas pela repugnância da situação, mas também pelo tratamento desumano de Rym. 

— Você é doente.

— Ah! Perdoe-me. Você não come a sua espécie. Hum… deixe-me ver… tenho algo que você vai adorar comer, talvez proteína. Quem sabe um suculento humano, é isso o que quer comer? Tudo bem, seu desejo é uma ordem. Preciso alimentar bem a minha atração principal, não é mesmo?

Enquanto Rym deixava o quarto, Rosé aproveitou cada segundo de sua ausência para tentar se libertar. A despeito de seu esforço desesperado, seu corpo parecia não responder como deveria. Suas pernas tremiam, frágeis e inseguras, e seus braços mal conseguiam sustentar qualquer esforço, enfraquecidos por alguma substância que Rym devia ter administrado. Ela se sentia impotente, como se cada fibra de seu ser estivesse subjugada por aquele sedativo poderoso.

Depois de um tempo que pareceu uma eternidade para Rosé, a porta se abriu abruptamente com um estrondo, anunciando o retorno de Rym. O som da porta se abrindo fez o coração de Rosé disparar, a mistura de medo e antecipação fazendo com que até o ar parecesse mais pesado. Com um olhar cauteloso e uma sensação de temor renovado, ela observou enquanto ele entrava, tentando adivinhar qual seria seu próximo passo nesta tortura psicológica que ele parecia desfrutar.

— Precisa das suas mãos para comer, vou soltá-la, porém, desista de tentar algo, pois o veneno que lhe dei é fortíssimo.

— Não estou com fome, não vou comer nada! — Rosé cuspiu nas botas do homem, que chutou novamente seu estômago.

— Vagabunda! — Rym pegou um lenço e limpou a bota, seu olhar demonstrando desprezo e ódio.

Rym agiu com brutalidade ao desamarrar Rosé, seus movimentos grosseiros arranhando e machucando seus braços delicados. De pé diante dela, ele fixou o olhar de maneira severa, como se estivesse prestes a comandar algo impensável. Rosé mal teve tempo de processar a dor física quando ele fez um anúncio perturbador.

— Sei que está faminta, trouxe sua refeição, ainda está fresco, alimente-se! — Ele declarou, e com uma ação horripilante, jogou uma criança assustada para dentro do quarto, trancando a porta em seguida.

A menina, pequena e visivelmente aterrorizada, correu para um canto do quarto, encolhendo-se contra a parede fria e úmida. Seus olhos grandes fixaram-se em Rosé, cheios de medo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Esses humanos...



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Siren" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.