Coração de Sombra escrita por llRize San


Capítulo 12
Awaken


Notas iniciais do capítulo

Olá meu amor :3

Para o capítulo de hoje, escolhi a música Awaken (Stray Kids) como tema, para representar toda a confusão que se passa na cabeça do Lino.

Boa leitura :)



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Lee Min Ho deu um passo para trás, chocado com o que via. Era a primeira vez que se deparava com alguém cujo coração estava tão saturado de sombras. A maldade emanando do Senhor Yang era tão intensa que densificava o ar ao redor. Para aqueles com sensibilidade especial, como Min Ho, as sombras eram nitidamente perceptíveis, escurecendo a sala apesar da luz solar que entrava pelas enormes janelas de vidro. Jeongin e seu pai, confusos, observavam Min Ho, incapazes de entender o motivo de seu evidente desconforto.

Min Ho compreendia o que aconteceria a seguir e, embora soubesse que era o correto, relutava em prosseguir, especialmente na presença de Jeongin. O que estava prestes a acontecer poderia ser profundamente traumático.

— Saiam daqui — Disse Min Ho com dificuldade, sua visão ficando turva. 

— Sr. Lee, está tudo bem? — Jeongin se aproximou. 

— Tire seu pai daqui — Min Ho cambaleou, seu corpo cada vez mais fraco conforme lutava contra seus poderes. 

— O que houve? — Perguntou o Sr. Yang. 

Quando o pai de Jeongin se aproximou e tocou seu ombro, Min Ho ficou imóvel por alguns instantes. Tanto Jeongin quanto seu pai olhavam para Min Ho, confusos e assustados com sua reação. Recuperando-se e parecendo uma pessoa completamente diferente de um segundo atrás, Min Ho ajustou sua postura e alisou a gravata. Ao erguer o olhar e fixá-lo no pai de Jeongin, este instintivamente recuou, tomado por um súbito temor, como se inconscientemente percebesse que sua vida estava em perigo.

À medida que o pai de Jeongin recuava, Lee Min Ho avançava com passos lentos e firmes, exalando uma autoridade que intensificava o medo do Sr. Yang. Jeongin, confuso e preocupado, posicionou-se entre os dois, tentando intermediar a situação. No entanto, Min Ho, focado e resoluto, o empurrou suavemente para o lado.

Encurralado e sem saída, o Sr. Yang sentiu o medo tomar conta de seu ser quando suas costas atingiram a parede. Suas pernas falharam, e ele desabou no chão, tomado por um terror avassalador de morte iminente. De repente, uma dor aguda atravessou seu coração, fazendo-o contorcer-se em agonia.

Min Ho, sem encostar um dedo nele, observava calmamente a cena, sua expressão impassível enquanto o poder que emanava dele enchia a sala. Ao lado, Jeongin estava paralisado pelo desespero, suas pernas incapazes de se mover. Intuitivamente, ele sabia que era Min Ho quem estava causando o sofrimento de seu pai. Aquilo não era um simples ataque cardíaco; era o poder de Min Ho que dominava o ambiente.

A situação se tornou ainda mais tensa com os gritos angustiados de Jeongin, que implorava a Min Ho para que cessasse o ataque. A sala ecoava com o desespero de Jeongin, criando uma atmosfera de terror e dor.

Min Ho, o Anjo da Justiça, se viu incapaz de controlar seus poderes, que agiam quase como uma entidade própria. O que se desenrolou em apenas alguns minutos pareceu durar uma eternidade para os três presentes na sala. Sob a influência avassaladora de Min Ho, o Senhor Yang finalmente sucumbiu, exalando seu último suspiro em meio a uma agonia visível.

Min Ho permaneceu completamente imóvel, a expressão no rosto inalterada, mesmo diante da gravidade do momento. Apesar de suas convicções de que eliminar um homem tão corrupto era justificável dentro dos seus critérios de justiça, ele jamais desejara que tal ato ocorresse diante dos olhos do filho do homem. A consciência desse fato pesava sobre ele, deixando-o mergulhado em um profundo conflito interno entre sua missão e as implicações morais de suas ações, especialmente diante do olhar atônito e desolado de Jeongin.

Ainda abalado pela intensa descarga de energia que havia emanado, Min Ho sentia seu corpo trêmulo e exaurido. Lentamente, ele virou-se para encarar Jeongin. O jovem estava petrificado, seu olhar refletindo uma tempestade de emoções: confusão, ódio e uma profunda tristeza. Algo dentro dele claramente havia se estilhaçado naquele momento devastador.

Os olhares de Min Ho e Jeongin se encontraram, um instante que se estendeu por uma eternidade condensada em poucos minutos. Jeongin buscava desesperadamente por respostas, uma compreensão que pudesse dar sentido ao ato incompreensível que acabara de testemunhar. No entanto, a dor que o invadia era avassaladora, demasiado intensa para que seu corpo pudesse suportar.

Talvez como um mecanismo de defesa contra o sofrimento iminente, Jeongin sentiu uma pesada exaustão dominar seus sentidos. Seu coração desacelerou, batendo num ritmo lento e sem esperança. Rendendo-se à escuridão que se fechava ao seu redor, Jeongin fechou os olhos e permitiu que a inércia o levasse, desmaiando e escapando momentaneamente da realidade cruel que o cercava.

Min Ho agiu rapidamente, correndo até Jeongin para socorrê-lo. Segurando o jovem em seus braços, Min Ho não conseguia derramar uma única lágrima pela perda sofrida pelo rapaz, mas sentia o peso em seu coração. O papel de julgar as pessoas e determinar seus destinos era um fardo extremamente cruel.

Seungmin tomou todas as providências necessárias para garantir a recuperação de Jeongin. Embora o jovem ainda não tivesse recobrado a consciência, seu estado era estável. Jeongin foi encaminhado para sua casa, onde Hyunjin assumiu a responsabilidade por todos os cuidados necessários, incluindo a organização do funeral de seu pai. A causa da morte do Sr. Yang foi assumida como natural por todos, exceto por Hyunjin, que conhecia a verdadeira razão por trás de sua morte súbita.

Após uma semana do trágico incidente, Jeongin ainda permanecia inconsciente, e Lee Min Ho encontrava-se atormentado pela insônia. A imagem do olhar desolado de Jeongin, testemunhando a morte de seu pai, o perseguia cada vez que tentava dormir. Embora soubesse que o Sr. Yang fosse um homem cruel, ele também era um pai, e Min Ho lutava com a ideia de que a morte talvez não fosse a solução justa, mesmo sendo incapaz de controlar seus poderes. Detestava sentir-se como uma arma programada para executar sem questionar.

Durante aquela semana, Min Ho não visitou Jisung, mas manteve-se informado sobre seu estado através de Seungmin. Numa noite particularmente fria e solitária, sentou-se diante da lareira com uma taça de vinho na mão, suspirando profundamente. Desejava ardentemente algo que pudesse distraí-lo dos pensamentos que o consumiam.

— Ser o Anjo da Justiça é um fardo pesado demais para se carregar sozinho — Disse Seungmin ao entrar na sala, indo até a mesinha e se servindo de uma taça de vinho. 

— Meus ombros doem — Min Ho suspirou profundamente, seus olhos fixados nas chamas bruxuleantes da lareira, refletindo a tormenta interna que o consumia. A luz do fogo dançava em seu olhar, revelando a batalha emocional que enfrentava. Seungmin, sentado à sua frente, observava com preocupação o amigo. Ele notava a agitação crescente em Min Ho e sentia-se impotente, desejando oferecer algum consolo ou solução, mas sabendo que as questões que Min Ho enfrentava eram profundamente complexas e pessoais — Seungmin, eu... eu não queria fazer aquilo. Não era meu desejo tirar a vida dele daquela maneira.

— Seu poder é uma extensão da justiça que você representa. É um caminho difícil e, muitas vezes, tortuoso, difícil de compreender, mas é necessário.

— Mas não era assim que eu queria que isso acontecesse. Ele deveria ter enfrentado as consequências dos seus atos em vida, perante a justiça dos homens. Se ele não tivesse aparecido diante de mim nada disso teria acontecido. 

— Às vezes, a justiça dos homens falha, e é aí que entramos. Você não pode carregar o peso de todas as escolhas que o mundo faz.

— E o filho dele… — Min Ho carregava tristeza em seus olhos — Eu tirei o pai dele daquela maneira horrível.

— Min Ho, o que você fez não foi para causar sofrimento, mas para pôr um fim em mais sofrimento. A verdadeira tragédia seria deixar esse homem continuar a espalhar dor e crueldade.

— Eu sei, mas... — Min Ho faz uma pausa, sua voz trêmula —, eu queria que houvesse uma maneira de proteger o filho dele dessa dor. Eu queria que houvesse justiça sem sacrifícios tão dolorosos.

— A justiça nos coloca em encruzilhadas difíceis. Mas lembre-se, Min Ho, você não está sozinho. Estamos aqui para nos apoiarmos mutuamente, para dividir o peso da responsabilidade.

— Obrigado Minnie — Min Ho sorriu para ele — Eu só espero que o rapaz encontre força para superar isso. Não quero ser a causa do sofrimento dele.

— Não se apegue a esse pensamento. O caminho da justiça é traiçoeiro, mas não podemos desistir de tentar tornar o mundo um lugar melhor.

— Não sei se estou conseguindo tornar o mundo um lugar melhor. Não acho que apenas a justiça seja necessária para isso. 

— E o que mais você julga ser necessário? 

— O perdão, a redenção, a fé nas pessoas. Mas isso está longe das minhas forças. Está longe da minha natureza. Não quero mais carregar o fardo de decidir o destino das pessoas. Mas não tenho escolha quanto a isso. 

Seungmin segurou a mão de Min Ho e ofereceu-lhe um sorriso compreensivo, consciente da confusão e da turbulência emocional que Min Ho estava enfrentando. Embora preocupado, Seungmin sentia-se impotente para aliviar a dor de seu amigo, mas esperava que sua presença e apoio pudessem oferecer algum conforto.

— Não vou sair do seu lado, vou te ajudar a carregar esse fardo. 

— Sou muito grato por ter você comigo — Min Ho sorriu, mesmo se sentindo vazio — As vezes eu acho que já fomos casados em vidas passadas. 

— Com toda certeza nos divorciamos — Disse Seungmin, arrancando uma risada sincera de Min Ho. 

Após compartilhar uma garrafa de vinho com Seungmin, Min Ho saiu para arejar a mente. Passeou pelos extensos jardins do palácio, caminhou pelos pátios e contemplou os quadros no grande salão. Contudo, nenhuma dessas atividades conseguiu preencher o vazio que sentia em seu peito. Foi então que uma melodia inesperada ecoou pelo ar. Alguém cantava — um som raro no palácio, onde Min Ho geralmente exigia silêncio absoluto. As notas de um violão e uma voz suave invadiram o ambiente, capturando completamente sua atenção.

Intrigado, Min Ho seguiu a fonte daquela música envolvente. Era Han Jisung, o jovem que continuava a intrigá-lo. A voz melodiosa do rapaz parecia tocar diretamente seu coração, preenchendo o vazio solitário com uma sensação de calor e conforto. A doce voz de Jisung agia como um bálsamo sobre suas feridas internas, suavizando as dores que não eram físicas.

Ao parar na porta do quarto de Jisung, Min Ho ouviu claramente cada palavra da música. As letras pareciam falar diretamente com ele, tocando-o profundamente, como se cada linha fosse um reflexo de seus próprios sentimentos. A identificação era tão intensa que, sem que Min Ho notasse, uma lágrima escapou de seus olhos — os mesmos que nunca haviam chorado antes.

Com delicadeza e uma melodia triste, Han continuava a cantar em seu quarto, alheio à presença emocionada de Min Ho que, do corredor, se deixava envolver completamente pela música que Han cantava:

 

Não me sinto bem, tem algo errado

Eu me vi pela primeira vez

Quem é você? Eu joguei a pergunta lá fora

 

Eu acordo, esse momento estranho

Onde estou? Quem sou eu?

Desperte, lágrimas estão caindo

Quem eu era por todo esse tempo?

 

Estremece por todo o meu corpo como se eu fosse atingido por um raio

Sentimentos estranhos passa por mim um por um, eu não sabia até agora

Eu sou eu, qual é o problema?

Eu não deveria, não deveria fazer isso

O que é isso? Quem é?

Onde quer que eu vá, você só se esconde

 

Eu sigo você, mas você foge ainda mais rápido

Não sei como descobrir isso, a confusão está crescendo

Eu percebi que não estava sendo eu mesmo

Uma revolta está acontecendo dentro de mim

 

Vezes que passei sem saber nada

Eu tenho medo, há uma voz tocando na minha cabeça…

Eu não sou eu

Eu preciso acordar…

 

Encostado no corredor, Min Ho se sentou no chão, ao lado da porta do quarto de Han. A voz do jovem era viciante, emanando uma paz que preenchia seu coração com sentimentos calorosos e um conforto estranhamente familiar. Era como se, em outras vidas, a voz de Han tivesse sido sua cura. Além da voz, a letra da música provocava reflexões profundas. Seungmin já havia mencionado que Han era um compositor e escritor talentoso, não apenas um simples ladrão. No entanto, Min Ho não estava preparado para o poder envolvente que emanava da voz de Han, e agora encontrava-se completamente cativado.


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Notas finais do capítulo

O Lino finalmente encontrou algo que aqueça seu coração, a voz do Han.

Tanto o Lino quanto o Innie são vitimas de algo maior, a pergunta é: O que seria?



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