Power Rangers: Esquadrão Z escrita por L R Rodrigues


Capítulo 4
Repetente Nunca Mais


Notas iniciais do capítulo

Sinopse:

Damian é chamado pelo diretor Brewster para ajudar um aluno da 5ª série-B que sofre para passar de ano. Mas Lokknon não perde tempo e sequestra o garoto, trocando a mente dele com a de um monstro intelectualmente fraco.


Tenham uma ótima leitura (e que o poder o proteja)!

PS: desculpem o número de palavras que pode ser colossal pra muitos, mas afirmo que podei o máximo possível sem comprometer a coesão da história.



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 Era chegado o temido período do final do primeiro bimestre que trazia as provas iniciais do ano letivo para avaliar o desempenho dos estudantes da Angel Grove High School. Mas para um em particular carregava um peso nas costas além do que qualquer outro estudante estivesse pronto para suportar. Este se chamava Christopher Jones, garoto da quarta série que era repetente, motivo de sobra para ser hostilizado e ridicularizado em outras turmas.

 

 

Estava na arquibancada da quadra esportiva resolvendo problemas simples de matemática durante um jogo de basquete recreativo de sua turma. Em determinados momentos era irresistível olhar as comemorações nas enterradas promovidas pelo seu colega mais próximo, Andrew. Mas logo voltava o foco para a tarefa antes que aquela distração o fizesse cair em tentação. Jessie e Zoe o viram ao passarem por ali com seus copos de suco com canudinhos, ambas parando para observarem-no.

 

 

— Aquele não é o Chris Jones? — indagou Jessie — Nossa, não vejo ele desde a quarta série.

 

 

— É porque... ele não saiu dela. — disse Zoe o fitando com certa pena — Você sabe, os repetentes do último ano do primário são transferidos pra cá, muito já até fizeram exames de anulação e passaram.

 

 

— Exame de anulação? 

 

 

— É, quando se dá uma nova chance pra que o aluno possa subir de série numa prova integral que dizem ser muito difícil. Será que ele tá estudando o suficiente?

 

 

De repente, Andrew veio na direção de Chris a fim de chama-lo para se juntar ao time.

 

 

— Ei, Chris, fala aí! Tá livre pra jogar conosco?

 

 

Chris o encarou por uns segundos, depois olhando para a bola de basquete que ele segurava na mão direita.

 

 

— Agora não vai dar, Andrew. Tô meio ocupado.

 

 

— Você mudou, sabia? Ou tá com medo de perder pra mim? 

 

 

— Eu repeti de ano, esqueceu?

 

 

— E daí? A sua prova é só daqui a uma semana. Um intervalo não vai fazer você ficar burro.

 

 

Um instante de silêncio foi do que Chris precisou para refletir. A relutância foi superada, acabando por ceder ao convite insistente.

 

 

— Mas só hoje hein. Me passa essa bola. — disse Chris, deixando os livros e o caderno onde estava sentado e descendo da arquibancada.

 

 

— Acho que aquilo significa... não. — disse Jessie, os olhos estreitados — Culpa desse Andrew, veio encher o saco pra tirar a concentração dele.

 

 

— Tantos lugares ótimos e mais tranquilos pra estudar e ele escolheu justo a quadra?! — disse Zoe, incomodada — Isso, na situação dele, é praticamente pedir pra ser reprovado de novo. 

 

 

Andrew anunciava a entrada de Chris na equipe.

 

 

— Aí, pessoal, o Chris aceitou jogar com a gente. Vamos nessa! Ele tá com a bola! 

 

 

Porém, Chris foi rapidamente empurrado por trás quando Andrew se virou para ele. Eram Brock e Stuart junto ao grupinho do fundão da 5ª série-A, prontos para assumir o uso da quadra na base da força e do medo. Brock pegara a bola e riu cinicamente com um palito de dente.

 

 

— Ah não, aqueles dois panacas... — disse Jessie, indignada com a agressão contra Chris.

 

 

— Chris, cê tá legal? — indagou Andrew ajudando o amigo a levantar — Ei, quem você pensa que é? A quadra é nossa hoje! — disse aos encrenqueiros.

 

 

— Eu tenho novidade pra vocês: não é mais! — disse Brock que deu uma risada contagiando os outros, sobretudo Stuart — Podem ir vazando que a gente vai dominar o pedaço hoje! E quem reclamar vai sofrer sérias consequências!

 

 

— É, consequências! — disse Stuart com pose marrenta.

 

 

— Nem adianta vir provar que o dia da quadra é todinho da quarta série hoje porque sabemos como tomar nosso lugar de direito! — disse Brock com autoridade na voz.

 

 

— É, nosso lugar de direito! — repetiu Stuart.

 

 

— Aí, dá pra parar? — resmungou Brock se chateando com o parceiro.

 

 

— Ninguém da nossa turma vai abandonar a quadra só porque vocês babacas querem! — disse Chris, afrontando Brock.

 

 

— Ui, vejam como o retardatário tá nervoso! — insultou Brock com deboche, levando os demais a rirem. Se inclinou para Chris — Vai fazer o quê, ô franguinho? Não devia estudar pra sua provinha? Se é que tem chance de passar...

 

 

— Chega, Brock. — disse Austin parando próximo aos valentões com os braços cruzados — Pega sua turma e saiam daqui. Foi o diretor quem decidiu a posse da quadra pra hoje.

 

 

— Pois é, vão questionar uma ordem partida do diretor? — perguntou Damian vindo do outro lado.

 

 

— Olha aqui, se tentarem proteger eles a gente passa por cima. — ameaçou Brock.

 

 

— Até de nós? — indagou Jessie ao lado de Zoe tomando a frente de Andrew e Chris.

 

 

Tim logo viera participar da corrente de defesa.

 

 

— Não esqueçam de mim, se tem uma coisa que eu odeio ver é injustiça!

 

 

O diretor Brewster passava pelo entorno da quadra naquele instante sem notar a confusão, mas bastou a mera presença dele para incutir temor em Brock, Stuart e todo o resto do grupo.

 

 

— Sabem o que é? Vocês venceram. A gente não tava com vontade de jogar hoje mesmo. — disse Brock recuando e jogando a bola de volta para Chris — Vamos circular, galera. Mas outro dia será diferente!

 

 

— É, diferente! — replicou Stuart.

 

 

— Cala a boca! — disse Brock batendo o cotovelo no parceiro pela imitação enquanto saíam da quadra pacificamente.

 

 

— E aí, vamos começar... — disse Chris voltando-se para Andrew que partia junto da turma — O que foi? 

 

 

— Deixa pra lá, a gente perdeu o pique. — disse Andrew, indo embora — Fica com a bola.

 

 

— Você tá legal? — perguntou Damian a um chateado Chris que respondeu com aceno positivo de cabeça.

 

 

— Fugiram com o rabo entre as pernas! Por que será? — quis saber Jessie, as mãos na cintura.

 

 

— Sem dúvida que foi toda a minha masculinidade bruta que fez eles amarelarem! — disse Tim, exibindo seu bíceps esquerdo.

 

 

— Ou o seu mau hálito. — disse Zoe, tirando onda com o Ranger Azul.

 

 

— Ei, não fala tão alto. — disse Tim que tapou a boca, depois baforando na mão para ver se estava com hálito ruim — Ainda tá com cheiro da pastilha de menta.

 

 

— Eu... — disse Chris ganhando a atenção dos Rangers — Eu só queria agradecer a vocês pela força, vocês apareceram numa boa hora.

 

 

— Não foi nada. Sempre que virmos a gangue do Brock importunando você e seus amigos a gente vai dar cobertura. — disse Austin.

 

 

— Eu lembro de vocês... No último ano lá na escola primária. Me sinto péssimo em não acompanha-los.

 

 

— Relaxa, você vai se sair bem nessa prova. — disse Jessie.

 

 

— Tudo o que você precisa é dedicar o maior tempo possível pra estudar. — disse Zoe. 

 

 

— Talvez eu precise mesmo é de um milagre. — disse Chris, claramente desalentado, largando a bola de basquete.

 

 

Os Rangers sentiram a tristeza saltar do rosto do garoto e se dispuseram a apoia-lo.

 

 

—  Estamos com você, Chris. – disse Austin tocando-o no ombro — Todos nós. 

 

 

— Isso aí, não deixa a sua energia cair assim. — disse Tim — É difícil pra nós também, muitos deveres ao mesmo tempo, muitas batalhas contra o mal...

 

 

Os outros Rangers viraram o rosto para ele com olhares de reprovação. Austin pôs o indicador esquerdo na frente da boca pedindo silêncio. Jessie batia de leve a mão no pescoço num gesto para que ele cortasse aquela fala quase imprudente.

 

 

— Ahn... Você sabe, as batalhas que todo estudante luta nessa vida. — disse Tim, tenso, corrigindo-se antes que falasse demais.

 

 

— Eu não sei, acho que tenho algum problema sério de concentração. — disse Chris.

 

 

— Galera, se importam de me deixar a sós com ele? — perguntou Damian, interessado em ajudar o desesperado repetente. 

 

 

— Não, claro que não. — disse Austin — Na verdade, você é a melhor pessoa pra lidar com o caso dele. 

 

 

— Mas vamos ficar na torcida. — garantiu Zoe com Jessie e Tim concordando com meneios de cabeça.

 

 

— Obrigado, valeu mesmo. — disse Chris.

 

 

Damian o fitou por um breve momento, sentindo que possuía uma missão honrosa a cumprir.

 

 

***

 

 

Na sua nave orbitando o planeta como um enorme satélite, Lokknon se enojava com a gentileza prestada pelos Rangers ao garoto nada estudioso que tentavam ajudar.

 

 

— Me dá ânsia de vômito em ver toda essa demonstração ridícula de compaixão. Que falta de amor próprio se preocupar com problemas que nem são seus. 

 

 

— Os terráqueos têm muita dessa característica virtuosa, me parece que é inato. — disse Aracna partilhando da ojeriza de seu imperador.

 

 

— Não acredito que a verdadeira natureza humana seja tão estúpida a ponto de sacrificar seu bem-estar em prol de ajudar os outros. — comentou Mudok — Pra mim é só mais uma das convenções interpessoais deles.

 

 

— Então na sua opinião eles são inerentemente maus? — indagou Aracna ao colega.

 

 

— Isso envolve uma série de questões antropológicas... 

 

 

— Em vez de perdermos tempo discutindo o moralismo repugnante dos terráqueos, por que não me ajudam a pensar num monstro que faça dos Rangers poeira cósmica? — perguntou Lokknon, interrompendo Mudok.

 

 

— Que tal atrapalharmos essa empreitada deles? Eles querem muito ajudar esse garoto que tem dificuldades cognitivas. — disse Mudok de aproximando do visualizador.

 

 

— Um monstro com baixo intelecto que possa trocar a sua mente com a desse pirralho! — idealizou Barooma. 

 

 

— Perfeito! Podemos usar a minha máquina de transferência mental. — disse Mudok – Vou pega-la agora mesmo.

 

 

— Excelente, Barooma. Desta forma, os Rangers se sentirão frustrados por verem que o pobre garoto fracassou na prova e que o esforço e a esperança que depositaram de nada serviu! — disse Lokknon, levantando do trono, empolgado.

 

 

— Mas é bom que não seja outro fiasco como o

 

Desidratador, senão faço questão de acompanha-lo até a solitária. — disse Aracna lançando um olhar malgino e intimidador.

 

 

— Eu lhes asseguro que minha nova criação irá atender à todas as demandas e expectativas! — reforçou o chefe operacional — Vejam, este é o boneco que será remodelado na máquina. Agora... — abriu a cabeça do boneco, retirando o cérebro — Basta eu remover uma pequena parte do seu cérebro e ele agirá de acordo com o plano! O que está esperando? Pegue-o e ponha na máquina! — entregou o boneco a um Psycho-Bot que em seguida o colocou no interior da máquina que parecia uma robusta cabine telefônica — Nasça meu glorioso filho! — bradou, erguendo a alavanca. 

 

 

A máquina liberou mais fumaça branca durante a formação do monstro, um efeito dito ser normal no processo, segundo o próprio Barooma, já que uma parte foi subtraída. A criatura saíra da máquina andando devagar em meio a fumaça que Lokknon e Aracna dissipavam com as mãos. Possuía a aparência que remetia a um molusco, mais precisamente um caracol de corpo esverdeado, tendo uma concha cinza com protuberâncias espinhosas. 

 

 

— Espero que ele fale nossa língua. — disse Lokknon.

 

 

— Ou ao menos fale. — disse Aracna o avaliando da cima a baixo.

 

 

O monstro os encarava, parecendo um tanto perdido. 

 

 

— Hum... É aqui que vende sorvete? Hum, eu gosto de sorvete! Que sabor tem?

 

 

— Acho que foi uma boa amostra. — declarou Lokknon — Mas preciso testa-lo. Vejamos... Quanto é um mais um? 

 

 

— Deixa eu ver... É um sorvete de choconilha! Baunilha com chocolate! — respondeu ele, dando uma risada.

 

 

— Talvez algo mais complexo. — disse Aracna, disposta a tentar — Imagine um shopping center lotado de pessoas, com muitas delas usando a escada rolante e de repente a energia elétrica cai, fazendo a escada parar. O que elas devem fazer? 

 

 

— Hum... Já sei! Elas devem sentar e esperar!

 

 

— Maravilha! Perfeitamente adequado ao meu plano. — disse Lokknon, sorrindo. 

 

 

— É, com toda essa inteligência você ganharia um prêmio de mente mais brilhante do universo. — disse Aracna.

 

 

— Acha mesmo? Oh, eu fico tão amolecido... Digo, agradecido! — disse o monstro sem a menor compreensão de uma ironia.

 

 

— Uma aulinha de sarcasmo cairia bem pra ele. — disse Aracna para Lokknon franzindo a testa — Cérebro de Lesma é um nome condizente.

 

 

Mudok vinha trazendo sua máquina de transferência mental.

 

 

— Aqui está, milorde. Já podemos começar.

 

 

— Você não sabe o que perdeu, Mudok. Fizemos um teste com o Cérebro de Lesma e descobrimos que o Q.I dele supera o seu em vários pontos. — disse Aracna, insultando-o. 

 

 

— Cuidado para não ficar com inveja quando ele estiver em ação na Terra. — rebateu Mudok a fazendo expressar nojo misturado a raiva. Deixou a máquina no chão. 

 

 

— Agora resta capturarmos o garoto obtuso que os Rangers tanto querem salvar. No momento certo, atacaremos. — disse Lokknon com um sorriso maléfico seguido de uma risadinha.

 

 

***

 

 

No principal corredor da escola, Damian e Chris andavan juntos e interagiam tratando do problema de repetência.

 

 

— Em qual matéria você geralmente tem mais dificuldade? — indagou Damian a direita dele.

 

 

— Ah, são tantas, praticamente todas. — disse Chris, mantendo sua postura frustrada — Mas... Se for pra dizer uma, a matemática é um inferno na minha vida.

 

 

— Foi o que eu pensei. Mas você nunca antes procurou aulas suplementares?

 

 

— Ahn, como assim? — perguntou Chris, expressando confusão.

 

 

— Um reforço pros estudos. Há pessoas na biblioteca que exercem essa função durante a tarde, só que cobram por isso.

 

 

— Não sei... Já é difícil lidar com meus pais me cobrando boas notas, imagina com alguém cobrando dinheiro pra me salvar de outra reprovação.

 

 

O diretor Brewster, um coroa de cabelo calvo e grisalho assim como o bigode, olhava-os atrás da porta de sua sala, escondido e atento à conversa. Os via passar pelos armários à direita, adiante da sua sala. Tivera uma ideia excelente, pondo a mão direita no queixo.

 

 

— Meninos, podem me dar um minuto da atenção de vocês? 

 

 

— Diretor Brewster, o que o senhor quer? — perguntou Damian virando-se junto a Chris para o diretor de terno azul marinho que se aproximava — Olha, nós só estávamos conversando, o sinal tocou faz um tempo, a gente já tá indo...

 

 

— Tudo bem, não há pressa. Eu não vou demorar. Não pude deixar de ouvi-los. Tenho a solução ideal para o problema do Chris.

 

 

— Deixa eu adivinhar: aulas suplementares? — disse Chris.

 

 

— Sim, porém não com os professores da biblioteca. — disse Brewster que logo o voltou seu olhar esperançoso para Damian — Mas sim com ele.

 

 

— O Damian? Mas ele já não é ocupado demais com as tarefas dele? 

 

 

— Se o senhor tá propondo com tanto otimismo... Eu topo. — disse Damian, solidário — A diferença é que será gratuito.

 

 

— Cara, nem sei como te agradecer. Faria isso mesmo por mim?

 

 

— Claro, é pra isso que servem os amigos. A gente se encontra na biblioteca mais tarde. Que tal as duas?

 

 

— Fechado. Não vai ficar bravo se eu me atrasar um pouquinho, né?

 

 

— Não, fica tranquilo. Prometo ser um professor bem paciente e didático, modéstia à parte. Obrigado, diretor.

 

 

— Eu que sou grato por aceitar o favor tanto quanto o Chris. Agora voltem pras suas salas imediatamente. — disse ele com seriedade, mas logo deu um sorriso amigável.

 

 

***

 

 

Pouco depois do sinal bater indicando o término daquele dia de aula, Chris saía sozinho rumo à sua casa, segurando as alças da sua mochila. Porém, viu numa rua à direita algo que lhe despertou alerta máximo.

 

 

— Essa não, aqueles caras de novo não. — disse ele, estacando ao ver Brock, Stuart e o resto da gangue de encrenqueiros que tentou reivindicar a quadra esportiva. O grupo de valentões preparava uma quantidade considerável de bexigas coloridas d'água para arremessar em potenciais alvos que avistassem. Pegara um atalho por uma rua meio estreita, deserta e ladeada por muros e árvores — Indo por aqui eles não vão me pegar.

 

 

Mas foi logo após dizer isso que um punhado de Psycho-Bots surgiu em teletransporte, cercando-o. 

 

 

— Quem são vocês? — indagou ele, acuado. Dois dos soldados robóticos de um olho só o pegaram pelos braços — O que estão fazendo? Me larga! — gritou Chis que em seguida teve suas pernas seguradas e levantadas — Ei, o que vocês querem de mim?

 

 

Os robôs teleportaram-se de volta à nave de Lokknon trazendo Chris como prisioneiro. O jogaram no chão sem piedade.

 

 

— Aí está ele. — disse Lokknon vendo o garoto rolar no piso após ser jogado — Finalmente daremos início a nossa segunda etapa.

 

 

— Onde é que eu vim parar? — perguntou Chris, levantando-se enquanto olhava em volta — E quem é você, afinal? 

 

 

— Ora, aquiete-se meu jovem terráqueo. Tudo que faremos não será nada menos que uma singela experiência. — disse Lokknon — Cérebro de Lesma, aproxime-se!

 

 

O monstro veio até o imperador, estando frente a frente com aquele que ocuparia seu corpo.

 

 

— Às suas ordens, mestre! Trouxe alguém pra brincar comigo?! Oba! 

 

 

— Eu não tô nem um pouco afim de brincar com um monstrão horroroso feito você. Me tirem daqui agora! — disse Chris, aborrecido. 

 

 

— Devo dizer que não está em posição de fazer exigências. — disse Mudok com uma espada negra de metal, erguendo-a perto de Chris.

 

 

— Mudok, faça a inspeção na garganta dele. — disse Lokknon. Mudok se pôs diante de Chris, segurando firme a espada.

 

 

— Abra bem a boca. — disse o subordinado cibernético.

 

 

— Ele não, seu paspalho! — advertiu Lokknon — Nele! — apontou para Cérebro de Lesma. 

 

 

— Ah, perdão, mestre. — disse Mudok, voltando-se ao monstro. Aracna revirou os olhos com a estupidez.

 

 

— Acho que vou sair daqui, essa burrice deve ser contagiosa. — resmungou ela.

 

 

— Abra bem essa boca! — ordenou Mudok ao monstro que logo o fizera. O androide recuou sentido um hálito fétido e tossiu — Que fedor... Agora mostre a língua! 

 

 

A língua comprida e amarelada da criatura se esticou quase que até o chão. Mudok a agarrou, brandindo a espada, logo a cortando brutalmente. O monstro soltava grunhidos quase inaudíveis de dor.

 

 

— O que você fez? Isso deve ter doído pra caramba! — disse Chris, atemorizado.

 

 

— Antes ele do que você. Ligando a máquina de transferência mental! — disse Mudok sacando um controle com o qual ligara o aparelho no toque de um botão. Os dois lados do objeto responsáveis para efetuar o processo emitiam feixes de luz azul que pareciam escanear os dois da cabeça aos pés. Chris tremia assim como o monstro, ambos trocando de mentes.

 

 

As luzes cessaram, sinalizando o fim do procedimento. 

 

 

— Façamos uma checagem. — disse Mudok — Você, diga alguma coisa! — apontou para o monstro no corpo de Chris.

 

 

— Eu tô me sentindo meio esquisito. O que eu tô fazendo aí? — indagou Cérebro de Lesma apontando para seu corpo no qual estava Chris — Mas eu estou bem aqui... Ai, minha cabeça dói!

 

 

— Um enorme sucesso, mestre! Barooma, o dispositivo. — disse Mudok.

 

 

— É pra já! — disse Barooma implantando o minúsculo objeto eletrônico no casco do monstro molusco.

 

 

— Ótimo, está inteiramente sob meu domínio a partir de agora. Cada movimento contra os Rangers será controlado remotamente por mim!

 

 

— Parabéns, Mudok. E a você também, Barooma, por ter sugerido a genial ideia de cortar a língua do monstro de modo que ele não fale aos Rangers que é o garoto em outro corpo.

 

 

— E eu não recebo nenhum crédito por ter dado um nome legal?! — disse Aracna, encostada na parede de braços cruzados, bufando em raiva.

 

 

***

 

 

Na biblioteca, Damian estava sentado à mesa retangular de madeira na sala de estudos reservada para apenas ele e Chris naquele horário oportuno. O Ranger Preto, contudo, se forçava a aguardar pacientemente quando já haviam se passado dez minutos da hora marcada. Olhava para o relógio de pulso em curtos intervalos, preocupando-se com a demora.

 

 

Quando cogitava cancelar a maratona de estudos para toda aquela tarde, eis que Damian via Chris chegar timidamente na sala olhando em volta.

 

 

— Nossa, até que enfim! — disse Damian, levantando-se de tão aliviado que sentia-se — Cheguei a pensar que tinha desistido da nossa parceria. Bem que você avisou que podia se atrasar, mas... é que eu sou bem pontual e acabo exigindo isso dos outros também, desculpa. Vamos começar? Se senta aí. 

 

 

Damian puxou uma cadeira para seu aluno que sentou-se ainda muito retraído.

 

 

— Do que vamos brincar? — perguntou o falso Chris. Mas logo veio o puxão de orelha de Mudok via comunicador no ouvido.

 

 

— Imbecil, você está num encontro para estudar para uma prova, tente agir como um estudante normal! 

 

 

— Sim, eu ouvi. Não sou surdo, tá?

 

 

— O quê? — indagou Damian fazendo cara de quem estava confuso — Com quem você tá falando?

 

 

— Ahn... Não é ninguém, não. Às vezes eu falo sozinho. O que vamos estudar? 

 

 

— O que acha de começarmos com matemática? A disciplina que você diz não entrar na sua cabeça. — disse Damian, abrindo um livro com conteúdos da quarta série.

 

 

O falso Chris tomou o livro de inesperado, pondo-o na cabeça e forçando para baixo como se quisesse fazer entrar, levando Damian a encara-lo desconcertado. 

 

 

— Peraí, o que você tá fazendo?

 

 

— Fazer... a matemática... entrar... na minha cabeça! — disse o parvo monstro fazendo grunhidos nas pausas entre as palavras.

 

 

— Pare com isso já! — gritava a voz grave e robótica de Mudok no comunicador — Eu disse pra você agir como um estudante, não como um desmiolado que entende tudo ao pé da letra! E não me responda, só ouça o que vou manda-lo dizer! Agora pare já com essa idiotice!

 

 

— Não deu muito certo. — disse o falso Chris, devolvendo o livro — Mas faltou pouco, eu acho.

 

 

— Tá tudo bem mesmo, Chris? Você me parece... não estar no seu juízo perfeito.

 

 

— Diga que se sente ótimo. — instruiu Mudok.

 

 

— Diga que se sente ótimo. — disse Chris imitando o tom de voz do androide, provocando ainda mais estranheza em Damian.

 

 

— OK, Chris, o que tá acontecendo? — indagou Damian dando um sorriso nervoso — Alguém te ofereceu uma substância estranha ou o quê?

 

 

Mudok orientou pela escuta:

 

 

— Eu estou perfeitamente bem. Vamos logo começar nossos estudos.

 

 

— Eu estou perfeitamente bem. Vamos logo começar nossos estudos. — repetiu o falso 

 

 

— Oh, que alívio. — disse Mudok em tom baixo, mas ouvido pelo monstro.

 

 

— Oh, que alívio. — repetiu o farsante.

 

 

— Eu... digo o mesmo. — disse Damian olhando-o enquanto folheava o livro.

 

 

— Não é pra você me repetir! — repreendeu Mudok. 

 

 

— Não é pra você me repetir! — disse o monstro dando um susto em Damian. 

 

 

— OK, eu... compreendi. — disse o Ranger Preto, franzindo a testa.

 

 

Na nave de Lokknon, Mudok arrancava sua escuta do ouvido.

 

 

— Chega! Ele que faça o que der na telha! — reclamou ele, revoltado, esmagando o comunicador.

 

 

— Se eu não soubesse que ele fosse tão burro, diria que estava sacaneando você. — disse Aracna.

 

 

— Mestre, o plano não está indo nos conformes. O que faremos? — perguntou Mudok.

 

 

— Contanto que os Rangers destruam o garoto naquele corpo abominável a tempo, eu não me preocuparia com o desempenho do Cérebro de Lesma. — disse Lokknon.

 

 

— Mas o Ranger Preto é o membro com a mente mais aguçada da equipe. Logo mais ele vai desconfiar de que há algo incomum no seu pupilo, se é que já não está. — disse Mudok.

 

 

— Barooma, mostre-me onde está o garoto lesma. — ordenou Lokknon ao que o subordinado logo acatou — Aí está. Esperem só, ele chamará atenção em breve dos terráqueos. Mudok, prepare o controle do dispositivo.

 

 

Chris no corpo do monstro vagava perdido por uma área um tanto movimentada perto do centro da Alameda dos Anjos. Um carro vermelho quase o atropelou.

 

 

"Me desculpe! Ops, não posso falar com minha voz!", pensou ele que gesticulava um pedido de desculpas. A moça loira de óculos escuros e vestido rosa choque que dirigia se pós para fora da janela para esbravejar:

 

 

— Aí, seu maluco fantasiado, olha por onde anda! Quase arranhou meu capô! 

 

 

Mudok apertou o botão do controle para iniciar os movimentos involuntários. Chris sentiu seus braços moverem contra o carro, levando-o a ergue-lo agressivamente. A mulher gritara e todos em volta reagiam apavorados com a aparência da criatura.

 

 

"Meus braços... Não tenho controle sobre eles! Alguém me faz parar!", dizia Chris na sua mente enquanto batia o veículo contra o chão repetidas vezes.

 

 

O alerta soava na Central de Comando. Dickerson estava tomando um café num copo térmico preto e veio até a tecnóloga que colocava na tela as imagens do monstro sacudindo o carro. 

 

 

— O dia estava calmo demais pra não acontecer nada minimamente problemático. — disse ela — Outra criatura alienígena do Lokknon causando tumulto na cidade. Mas isso me parece... fora do padrão.

 

 

— O quê exatamente? — indagou Dickerson atrás dela inclinado assistindo ao vídeo.

 

 

— O modo como está agindo. Ele se concentrou num único alvo e não está atacando mais ninguém usando algum poder especial ou habilidade natural. Supondo que os monstros que Lokknon envia sejam experiências de laboratório com uma padronização interna pré-definida. O monstro anterior provocava sede excessiva nas pessoas. O que esse faz?

 

 

— Aposto que muito mais do que levantar e quebrar coisas pesadas. Contate os Rangers.

 

 

— É pra já. — disse Karen acionando o sistema de comunicação digitando veloz no teclado.

 

 

Na biblioteca, Damian iniciava sua aula para quem ele pensava ser Chris.

 

 

— E então? Qual conteúdo você quer pra dar o pontapé inicial da nossa aula? Porcentagens ou denominadores comuns? — perguntou mostrando o livro aberto na página com os tópicos citados. Porém, o toque característico do comunicador na pulseira do Ranger Preto sinalizava interrupção urgente.

 

 

— Que barulhinho legal. De onde tá vindo? — disse o falso Chris procurando a origem do som.

 

 

— Droga, logo agora... — resmungou Damian tapando o comunicador para abafar o toque — Ahn, Chris... Será que pode me dar um minuto? Meu celular tá tocando, preciso atender no corredor já que aqui o sinal não é muito bom.

 

 

Damian saiu da sala com a mão sobre o comunicador que tocava sem parar. Olhou em volta e logo apertou o botão de transmissão 

 

 

— Pode falar, foi mal pela demora.

 

 

— Lokknon deixou um presentinho bem desagradável na Terra. Os outros estão te esperando numa área próxima ao ataque. — avisou Karen.

 

 

— É uma péssima hora pra lutar quando eu tô dando aula de reforço pra um aluno repetente. Eu não sei se posso deixa-lo aqui porque...

 

 

— Damian, diga a ele para esperar, seus amigos precisam de você lá agorinha mesmo. — disse Dickerson.

 

 

— Tudo bem, já tô a caminho. — disse o Ranger Preto, desligando em seguida. Abriu a porta para avisar Chris ficando entre a sala e o corredor — Chris, tenho que dar uma saída agora, é uma emergência. Promete que fica aí me esperando voltar? Chris?

 

 

Percebeu que ele havia adormecido por ter ficado entediado com a espera.

 

 

— Bom, acho que ele tem o hábito de dormir nas aulas. Isso é bem conveniente nesse momento. — disse Damian entrando na sala. Apertou o botão de teletransporte na pulseira, transformando-se num pilar de luz preto-arroxeada e desaparecendo.

 

 

Chegou ao ponto onde os Rangers o esperavam que era um beco sem ninguém por perto.

 

 

— Galera, desculpa demorar. Eu tava quase dando início a minha aula com o Chris. Na verdade, tive receio de deixa-lo lá pois ele vem agindo estranho, não parece o mesmo de quando o vimos lá na quadra.

 

 

— Agindo estranho? Estranho como? — indagou Zoe.

 

 

— Ele... tá se comportando feito alguém de intelecto totalmente baixo.

 

 

— Um debiloide? Encontrou alguém mais terrível nos estudos que eu? — quis saber Tim.

 

 

— Eu não ia usar esse termo. — disse Damian, pensando preocupado.

 

 

— Não vamos perder mais tempo, podem ter pessoas se ferindo. — disse Austin, pegando sua célula e morfador e se colocando entre Zoe e Damian a sua esquerda e Tim e Jessie a sua direita, esticando os braços junto a eles — É hora de morfar!

 

 

Os Rangers já morfados prontamente se dirigiram ao local onde o molusco alienígena ainda sacudia o carro e causava pânico geral.

 

 

— Pare agora mesmo! Largue esse carro! — mandou Austin apontando para ele. 

 

 

Mudok preparava para um novo movimento remotamente controlado para subjugar Chris.

 

 

— Seu pedido é uma ordem, Ranger Vermelho. — disse ele com uma risadinha, apertando uns botões.

 

 

O monstro baixou o veículo ao chão, mas pusera seu pé direito na parte frontal, o empurrando fortemente. O carro ia de ré para bater numa bomba de combustível no posto de gasolina.

 

 

— Essa não! — disse Austin, ouvindo os gritos da moça loira — Tim, vem comigo! Vocês, contenham ele!

 

 

— Certo! — disseram Damian, Jessie e Zoe em uníssono, sacando suas pistolas Z.

 

 

Os Rangers Vermelho e Azul saltaram, caindo sobre o carro. Ambos se colocaram na parte traseira num esforço hercúleo para fazer o veículo parar antes que colidisse. As botas dos dois geravam atritos se arrastando no asfalto durante a tentativa de freiar o carro.

 

 

— Mais força! — disse Austin quase chegando a fazer seus pés se enterrarem no asfalto. Tim grunhia ao forçar mais. A mulher gritava mais alto à medida que a bomba de propano se aproximava. Por sorte, o veículo foi perdendo velocidade com a força empreendida pelos Rangers Vermelho e Azul, ficando a poucos centímetros do combustível. 

 

 

— Nossa, foi por muito pouco! — disse Tim, cansado — Mais uns palmos e era kabum!

 

 

— Você está bem? — perguntou Austin para a motorista que respondeu que sim com a cabeça — Nenhum ferimento? — indagou, ela logo respondendo que não — Ah que ótimo. Seria melhor se afastar daqui.

 

 

— Eu já estava de saída, tinha acabado de abastecer. — disse ela tirando os óculos escuros — Obrigada.

 

 

— Disponha. — disse Austin, acenando positivo com a cabeça e dando um joinha com o polegar direito, voltando em seguida correndo para o campo de batalha. 

 

 

Damian, Jessie e Zoe se atribulavam contra o Cérebro de Lesma... aliás, o corpo dele movido sob controle. O Ranger Preto disparava quase saindo do chão com sua pistola Z, mas os tiros não produziam mais que faíscas no corpo. As meninas tentaram um salto em dupla para chuta-lo no rosto, o derrubando. Mas logo o monstro levantou-se, lançando dois tentáculos para prender Jessie e Damian, os erguendo.

 

 

"O que eu tô fazendo? Como eu paro isso? Eu não quis...", pensou Chris, sentindo-se mal.

 

 

— Ferrão de Arraia! — bradou Zoe evocando sua arma pontiaguda, logo saltando para cortar os tentáculos. Jessie e Damian foram libertos do aperto — Estão bem? — indagou a Ranger Rosa.

 

 

O monstro levava mais tiros de lasers que fizeram estouros de faíscas. Eram Austin e Tim em retorno, juntando-se aos companheiros.

 

 

— Hora de se esconder, mas não de fugir! — disse Mudok apertando um botão do controle.

 

 

Cérebro de Lesma se recolheu depressa na sua concha, intrigando os Rangers.

 

 

— Ué, ele arregou pra gente? — questionou Tim.

 

 

— Não é o que tá parecendo. — disse Jessie.

 

 

— Deve ser uma habilidade defensiva! — especulou Damian 

 

 

— Vamos aproveitar e destruir a casinha dele! — decretou Austin — Detonador Max! — invocou sua pistola exclusiva, praticamente toda em vermelho. 

 

 

— Pistolas Z! — disseram os outros quatro.

 

 

— Disparar! — falaram os cinco em uníssono.

 

 

— Como são ingênuos, Power Fedelhos. — disse Mudok, clicando num botão específico.

 

 

Os lasers mal haviam atingido a carapaça do molusco alienígena pois a mesma saiu em disparada girando e batendo em cada um dos Rangers para derruba-los feito bonecos. 

 

 

— Perfeito! — comemorou Mudok. O monstro saiu da concha com outro movimento do controle.

 

 

Karen olhava estreitamente para o comportamento daquele peculiar monstro. Dickerson, porém, achava que não havia mais dúvidas.

 

 

— Bem, acho que isso foi uma prova de que ele tem talentos naturais.

 

 

— Não, ainda continua suspeito. — contrariou Karen — O ataque com os tentáculos pode ter sido instintivo, um mecanismo de defesa. Mas você não reparou que esse monstro... não disse uma palavra até agora?

 

 

O explorador a olhou meio surpreso, se pondo a pensar no que haveria de errado. Os Rangers tornaram a disparar com as pistolas, mas a criatura abriu sua boca engolindo cada tiro.

 

 

— Oh, que pena, você teve uma indigestão. Vomite! — determinou Mudok, apertando o comando de cuspir. O monstro expulsou o conteúdo brilhante envolto de uma gosta pegajosa esverdeada, lançando direto aos Rangers que foram pegos com uma explosão moderada que os tirou do chão.

 

 

— Rangers, talvez seja o momento de chamarem por suas armas! — disse Dickerson.

 

 

— Boa ideia, Sr. Dickerson! — disse Austin — Punhos Leoninos!

 

 

— Barbatanas Cortantes! — disse Tim ostentando suas lâminas.

 

 

— Garras Raptoras! — falou Jessie.

 

 

— Ferrão de Arraia! — chamou Zoe novamente por sua arma.

 

 

— Marreta Avalanche! — disse Damian evocando sua pesada arma.

 

 

Despercebido, o monstro no corpo de Chris chegava próximo ao campo de batalha, assistindo à luta se escondendo num arbusto alto. Reconheceu seu corpo levando golpes das armas dos Rangers.

 

 

— Ah, mas aquele ali sou eu... Não, espera... Eu tô bem aqui... Eu não entendi isso ainda!

 

 

Na nave de Lokknon, Aracna captou a presença indesejada no local. 

 

 

— O que o pirralho idiota faz ali? Digo, o que o Cérebro de Lesma faz ali? Era pra estar esperando o Ranger Preto voltar no lugar onde estavam! 

 

 

— Esse tolo miserável vai pôr tudo a perder se metendo onde não é chamado! — disse Mudok, aborrecido.

 

 

— Não estou com um bom pressentimento. Faça alguma coisa pra contornar isso, Mudok! — esbravejou Lokknon em seu trono.

 

 

— Vou ter de tomar medidas radicais. — disse Mudok, apertando os botões do controle.

 

 

O monstro no corpo de Chris se expunha aos Rangers com o sorriso bobalhão.

 

 

— Ei, por que estão brincando comigo sem mim? — perguntou ele.

 

 

— Chris?! O que ele faz aqui? — disse Damian.

 

 

"O meu corpo! Esse é a minha chance!", pensou Chris com esperanças de desfazer a troca. No entanto, suas pernas e braços novamente se moviam contra sua vontade, desta vez para atacar o seu corpo "Não, não vou machucar a mim mesmo! Para! Eu mandei parar..."

 

 

— É inútil resistir. O dispositivo pode estar fixo na carapaça, mas o alcance de sua frequência chega ao cerebelo com facilidade. — disse Mudok — Agora cuspa! 

 

 

Chris foi forçado regurgitar uma bola gosmenta ácida contra o seu corpo. Mas Damian se colocou na frente batendo sua marreta no solo, assim levantando o concreto para criar uma barreira contra a gosma que atingiu-a.

 

 

— Foge daqui! É perigoso! — ordenou o Ranger Preto ao seu pupilo. 

 

 

— Não é justo! Eu também quero brincar! — reclamou Cerebro de Lesma.

 

 

— Boa, Damian! — disse Austin.

 

 

— Viram aquilo? O garoto quase virou panqueca derretida! — disse Tim, abismado com o efeito da gosma ácida.

 

 

— Acabou a brincadeira, seu nojento! Bombas Ferozes! — declarou Austin, disparando lasers dos canhões dos punhos leoninos.

 

 

O monstro acionou quatro tentáculos para se equilibrar com as pontas no chão e se afastar dos tiros que explodiram faíscas. Aquilo ajudou Chris a ter a compreensão que necessitava.

 

 

"Espera... Eu mostrei os tentáculos de novo, mas não foi eu exatamente... Foi esse corpo, ele agiu por instinto sem depender da coisa que me controla! Agora entendi! Sempre que estou pra levar um ataque mais forte, o corpo reage de instantâneo e a mente fica em segundo plano como se trocasse se lugar! Nunca pensei que seria inteligente a ponto de perceber isso!"; pensou Chris "Agora só preciso usa-los outra vez pra fazer com que ataquem minhas costas!"

 

 

Tim e Zoe vinham correndo ao ataque, mas Mudok fizera Chris cuspir mais gosma, mas diferente da que foi lançada antes. Esta era pegajosa e escorregadia, fazendo ambos caírem. Jessie veio num salto com suas garras raptoras girando enquanto atacava. Os tentáculos do Cérebro de Lesma foram liberados, se equilibrando nas pontas. Neste instante, Chris pode se mover através deles para virar de costas permitindo que as garras destruíssem o aparelho controlador.

 

 

— Não! Maldição! — disse Mudok jogando o controle no chão e pisando para quebra-lo. 

 

 

— Mas o que deu em você, Mudok? O que houve? — perguntou Lokknon.

 

 

— Ele descobriu uma maneira de usar os tentáculos a seu favor para a Ranger Amarela destruir o dispositivo! 

 

 

— Oh não... — disse Lokknon tristemente se recostando no trono com a mão esquerda na cabeça.

 

 

Chris correu em direção ao seu corpo, mas os Rangers vinham atrás com seus aparatos.

 

 

— Ele vai atacar o garoto! — disse Zoe, aflita.

 

 

— E aí, meu lindo corpinho! Você desistiu daqueles estraga-prazeres pra vir brincar comigo? 

 

 

Bastando um toque de Chris no ombro do seu corpo, as duas mentes ejetaram e voltaram aos seus recipientes devidos.

 

 

— Parado! Se afaste dele! — mandou Austin.

 

 

Chris tateava seu corpo, impressionado com a troca desfeita. Logo, ele olhou para Cérebro de Lesma. O pupilo de Damian correu de volta aos arbustos e o monstro voltou sua atenção aos Rangers.

 

Lokknon parecia perdido com o que havia ocorrido.

 

 

— Mas o que se passou ali? Ele apenas tocou no corpo do garoto e...

 

 

— Reverteu a troca. — disse Mudok, frustrado — Isso acontece quando há contato físico entre as duas partes. Sinto muito, mestre.

 

 

— O quê? Era por isso que ambos deviam estar longe um do outro caso o garoto se libertasse do controle, não é? Mudok, essa decepção não passará impune! Por que não foi lá dar um jeito no garoto... quer dizer, no Cérebro de Lesma enquanto ele estava com o Ranger Preto? 

 

 

— Mas eu estava ocupado controlando os movimentos do corpo do monstro, não posso estar em dois lugares ao mesmo tempo! Se tinha que mandar alguém, que fosse a Aracna!

 

— Só esqueceu que foi você quem assumiu inteiramente a responsabilidade! Portanto, o sucesso do plano dependia única e exclusivamente de você! — vociferou o imperador, logo lançando sua onda cerebral provinda do capacete contra Mudok que se curvou atordoado com a dor mental que sofria.

 

 

Aracna ria com escárnio do parceiro com os braços cruzados, regozijando-se por não estar dividindo a culpa por um erro.

 

 

— E caso se dirija a mim com esse atrevimento novamente, vou interditar sua sala de invenções... pra sempre! — ameaçou Lokknon, altamente carrasco.

 

 

— Mudok, você foi vergonhoso! Como pôde permitir uma limitação tão simples pra sua máquina? Que desastre! — lamentou Barooma — Mestre, com sua licença, faço questão de ir até lá e reparar o estrago!

 

 

— Faça o que achar melhor, Barooma.

 

 

O subordinado se teletransportou a Terra direto ao local do confronto. Parou no alto de um prédio de 6 andares, invocando seu cajado. Com o artefato, lançou um raio púrpura contra o Cérebro de Lesma que reagiu como se estivesse sendo eletrocutado, os raios o envolvendo.

 

 

— Receba toda a inteligência e maldade que você merece! — disse ele, empolgado.

 

 

— Barooma! — disse Austin, olhando para o topo do prédio. 

— O que ele tá fazendo? Atacando o próprio aliado? — indagou Zoe.

 

 

O raio cessou e Cérebro de Lesma mudara sua postura diante dos Rangers, chegando até a recuperar sua fala.

 

 

— Aja impiedosamente! — disse Barooma, logo teleportando de volta a nave de Lokknon.

 

 

— Que truque os Power Bobos tem pra me mostrar agora? Vamos, estou morrendo de curiosidade! Se não fizerem isso, vou preencher essa cidade inteira com meu fluido e devorar todos os terráqueos!

 

 

— Pode ter certeza que não! — disse Austin — Rangers, atacar! 

 

 

— Não cruzem a linha! — disse o monstro, logo lançando raios laranjas dos seus olhos. O ataque provocou duas explosões, uma atingindo Jessie e Tim e a outra Austin, Damian e Zoe, todos voando e em seguida caindo fragilizados.

 

 

— Galera, todo mundo bem? — perguntou Austin, levantando-se e tocando no ombro direito ferido.

 

 

— Sim. O que rolou? Parece que ele ficou ainda mais forte! — disse Tim, levantando com dor.

 

 

— A gente enrolou muito até agora. Hora de combinarmos nossas armas! — determinou o Ranger Vermelho. Os Rangers conectaram seus equipamentos formando o Abatedor Selvagem. Apontaram o canhão duplo contra o monstro, travando a mira — Fica bem paradinho aí, só vamos tirar uma foto!

— Pensam que sou idiota? Eu não tenho medo desse brinquedinho patético! Podem vir!

 

 

— Você que pediu! Disparar! — bradou Austin.

 

 

O laser duplo foi atirado, atravessando o monstro que não resistiu e tombou explodindo intensamente. Chris foi correndo até os Rangers.

 

 

— Vocês foram fantásticos, deram uma baita lição nele! 

 

 

— Chris... Digo, o que ainda faz aqui, rapaz? — perguntou Damian — Fui bem claro com você.

 

 

— Não seria bobo de perder a oportunidade de ver uma luta ao vivo dos Power Rangers. — disse Chris, contente — E muito menos de contar o que realmente estava acontecendo.

 

 

— Tem algo a nos dizer? Então, fale, somos todo ouvidos. — disse Austin.

 

 

— Aquele monstro e eu... trocamos de corpo.

 

 

— Trocaram de corpo?! — disse Jessie, espantada.

 

 

"É claro! Isso explica a atitude estranha do Chris na biblioteca. Era aquele monstro usurpando seu corpo.", pensou Damian.

— Fui sequestrado por uns robôs esquisitos e fui parar numa nave espacial onde caras ainda mais malvados usaram um troço pra transferir minha mente para aquele monstrengo, ainda por cima colocando um dispositivo para controlar minhas ações. Acreditam que cortaram a língua dele? Foi bizarro!

 

 

— Agora faz sentido ele não ter falado nada antes de tomar aquele raio. — disse Zoe.

 

 

— Olha, valeu mesmo por esclarecer isso pra gente. E não precisa pedir desculpas, afinal não tinha controle dos seus atos. — disse Austin o tocando no ombro.

 

 

— Mas como conseguiu se livrar? — perguntou Jessie.

 

 

De repente, o laser regenerador descia do espaço para a Terra, reconstituindo o Cérebro de Lesma átomo por átomo e o agigantando. 

 

 

— Acho que não saberemos a resposta! — disse Austin que virou-se para Chris — Dessa vez não é hora de ficar assistindo.

 

 

— Pensando bem, tem razão! Vou nessa! — disse Chris, amedrontado com o tamanho colossal do monstro, saindo correndo dali.

 

 

— Ah, poxa, logo quando ele ia contar! — reclamou Tim. 

 

 

— Oh, formigas! — disse Cérebro de Lesma — Minha comida favorita! Mas são mais saborosas esmagadas! — levantou o pé direito para pisar sobre os Rangers que pularam em diferentes lados antes dele fazê-lo, causando um tremor.

— Rangers, estou enviando os zords! — disse Dickerson.

 

 

Os zords animais eram liberados de seus hangares rumando para a batalha decisiva. Assim que chegaram, os Rangers saltaram para adentrar neles e pilota-los. 

 

 

— Chave de comando inserida e ativada! — disse Austin, girando a chave — Iniciar sequência Megazord!

 

 

A ligação dos zords uns aos outros transcorreu sem interferências. O robô gigante estava mais do que preparado pada o duelo. Cérebro de Lesma despejou sua gosma pegajosa.

 

 

— Escudo Selvagem! — disseram os Rangers. Porém, a arma foi atingida severamente pela gosma, dificultando a mobilidade do braço esquerdo.

 

 

— Zord Arraia não responde aos comandos! — disse Zoe.

 

 

— Essa gosma é capaz de paralisar o Megazord! — disse Austin.

 

 

— Ai dele se sujar meu Tubarão Cobalto com essa meleca! — disse Tim com indignação.

 

 

— Querem mais? Aqui vai! — disse Cérebro de Lesma expelindo mais volume de gosma que cobriu praticamente todo o Megazord. O monstro disparou seus raios oculares. No cockpit, os Rangers se perturbavam com o balançar trêmulo após o golpe que provocava explosões de faíscas no corpo do robô.

 

 

— Crianças, eu não gostaria de aconselhar isso, mas não vejo outra saída. — disse Dickerson.

— O quê? Se render? — perguntou Jessie.

 

 

— Muito pelo contrário. Pode parecer sem escapatória, mas há uma forma de saírem dessa. Arriscada, mas há. O Megazord possui um sistema pré-determinado em casos de movimentos limitados. Um protocolo de superaquecimento, pra ser mais preciso. Podem ativa-lo oralmente.

 

 

— Brilhante! Mas quais são as consequências? — questionou Damian.

 

 

— Se a gosma não evaporar em até 10 segundos, o Megazord desmonta. — informou o mentor — A sorte foi lançada.

 

 

— Teremos que apostar tudo nisso, galera! Vamos lá! — disse Austin.

 

 

— Sequência de superaquecimento iniciar! — disseram os cinco. O Megazord teve seus controles inativos enquanto o recurso era aplicado, elevando a temperatura do robô.

 

 

— Subindo para 400° Fahrenheit. — disse Karen — Sete segundos...

 

 

A gosma entrava em ebulição, evaporando e reduzindo sua concentração. O Megazord rapidamente recuperava sua flexibilidade.

 

 

— Tá funcionando! Os controles estão operantes! — disse Jessie.

 

— Não, minha gosma! Eu tava quase pronto pra lançar meu ataque definitivo! — disse Cérebro de Lesma, irritado.

 

 

— Abortar superaquecimento! — falaram os Rangers em uníssono. O Megazord retornava a sua temperatura normal instantaneamente — Sabre Selvagem! 

 

 

A espada foi evocada, surgindo na mão direita. 

 

 

— Insígnia Feroz! 

 

 

O robô logo fizera o círculo em sentido horário, preparando o golpe final. 

 

 

— Partir! — falaram os Rangers realizando com a mão direita o gesto de imitar o corte diagonal do Megazord. O robô baixou a espada sobre a insígnia, lançando o ataque final. Cérebro de Lesma não teve tempo de dizer suas últimas palavras, caindo envolto de raios e explodindo fatalmente. O Megazord virou de costas, a explosão prosseguindo implacável.

 

 

Lokknon se agoniava largado no trono com sua dor de cabeça ao testemunhar a derrota para os Rangers.

 

 

— Eu não sei se aguento mais um fracasso humilhante desses... Mudok, o que está fazendo aí no chão? Vá agora pegar meu remédio! 

 

 

— Prontamente, mestre. — disse o androide de maneira fria, levantando-se e indo buscar a aspirina do imperador. Aracna o olhou com interesse e decidiu segui-lo pelo corredor.

 

 

Mudok parou na metade do caminho e socou na parede 

— Acho que devia canalizar essa fúria em outro lugar. — disse Aracna — Vai quebrar a nave toda?

 

 

— Não me aborreça, Aracna. 

 

 

— Eu só quis ver como se sentia. Da depressão você foi para a raiva em segundos.

 

 

— Por que ele tem que ser tão condescendente com Barooma se a ideia foi dele? Sou um robô, mas isso não me priva de cometer erros. Não é sensato! Um líder de verdade não tem favoritos, não é seletivo. Se eu pudesse... 

 

 

— Continue. — disse Aracna, inclinando-se.

 

 

— Não é nada. Apesar dos defeitos, ele é meu imperador, me deu um propósito e jurei servi-lo até o fim dos tempos. — declarou Mudok, logo retomando sua andança.

 

 

— Até o fim dos tempos... Quero só ver. — disse Aracna, duvidando de tal juramento.

 

 

***

 

 

Na escola, uma semana depois, os Rangers estavam na porta da sala da diretoria que foi usada excepcionalmente naquele dia para a aplicação das provas de anulação de repetência. Chris olhou para eles que deram joinhas desejando sorte. Ele retribuiu igualmente. Mais tarde, na quadra, foi visto de cara nos livros junto com Damian estudando.

 

 

— E aí, já saiu o resultado? — perguntou Austin vindo com Tim, Jessie e Zoe, ansiosos.

 

 Chris e Damian se entreolharam sérios em suspense.

 

 

— Eu odeio esse mistério todo, pra ser bem sincera. — disse Jessie, apreensiva — Digam logo ou vou explodir de ansiedade.

 

 

Um sorriso se desenhou na face de Chris.

 

 

— Eu passei! — revelou ele, animado.

 

 

— Nossa, parabéns! A gente confiou que você ia mandar super bem. — disse Austin.

 

 

Os Rangers deram tapinhas nas costas junto a palavras de felicitação e palmas. Andrew e os garotos da 4ª série vieram até ele.

 

 

— Ei, Chris, ficamos sabendo que foi aprovado. A gente quer te dar os parabéns, você merece.

 

 

— Valeu, Andrew. Vou sentir falta de estar com vocês lá.

 

 

— Tá afim de bater uma bolinha pra comemorar? — convidou Andrew com uma bola de futebol.

 

 

Um instante de silêncio se passou com Chris ponderando sua escolha. Ele sorriu tranquilo.

 

 

— Hoje não. Tenho muito o que estudar. — disse ele arrancando aplausos dos Rangers.

 

 

— Um viva para nosso mais novo colega de classe! — disse Tim levantando Chris pela perna esquerda enquanto Austin o fazia pela direita.

 — Viva! — disseram todos eles com Chris erguendo os braços com a felicidade de um vencedor. 

                                         XXXX

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


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