Ratchet saiu do outro lado do portal se colocando em alerta. Não era a primeira, nem segunda, muito menos a terceira vez que recebia aquele tipo de chamado, então, óbvio que já sabia muito bem de quem se tratava.

Juntou toda sua ética e coragem, e começou a procurar pelo remetente da mensagem. Parou e olhou em volta. Pela localização, era para ele estar ali, bem a sua frente. Ficou preocupado. Talvez não devesse ter vindo sozinho.

Escutou um cantarolar vindo bem do centro da floresta.

Entrar em uma área desconhecida, apenas na companhia de um decepticon, era praticamente suicídio. Mas conhecia bem o mecanismo que encontraria ali e sabia que o bot só solicitaria sua presença em último caso, quando estivesse completamente abatido. Talvez fosse até mesmo uma armadilha, como da última vez, onde acabou sendo capturado. Mesmo correndo riscos, Ratchet se aproximou. Starscream estava acomodado em uma pequena clareira, próximo a uma fogueira, deitado em uma posição pra lá de suspeita. O decepticon sorriu assim que notou sua presença ali. Ratchet soltou seu kit médico no chão e cruzou os braços, parecendo irritado.

— Ratchet, você veio. Não sabe o quanto estou feliz em vê-lo – o decepticon piscou, tentando parecer ao menos um pouco adorável.

— Starscream – Ratchet olhou em volta. Havia uma garrafa de algo parecido com engex e duas taças, muito semelhantes aquelas que humanos usavam em celebrações espaciais – Você não me parece nada mal.

— Ah, obrigado, eu poli toda a minha armadura hoje cedo – o decepticon ficou admirando as próprias unhas.

— Mas que ótimo. Nesse caso eu vou embora.

Ratchet tentou se virar e sair dali. Mas Starscream se jogou em seus pedestais, o detendo.

— Espere, eu disse que tinha algo muito importante para propor a você.

Ratchet voltou a encarar o decepticon, cruzando os braços, na defensiva.

— Se não for a coisa mais importante que você já me disse até hoje, eu nunca mais apareço pra te ajudar, quando você precisar de mim.

— É importante, muito importante mesmo. Ratchet, por favor – Starscream se ajoelhou em frente ao médico e juntou as garras, como se orasse – Torne-se meu conjunx – O decepticon ficou de cabeça baixa, torcendo para não ser degolado pelo médico autobot. Mas como nada aconteceu, talvez fosse um bom sinal.

Starscream deu uma espiada. O corpo do médico ainda estava ali, mas sua centelha parecia ter se perdido.

Starscream entrou em desespero.

— Pelo Allspark, eu desativei o Ratchet! – o decepticon começou a pular no mesmo lugar – E agora, o que eu faço? Não tem jeito, vou ter que enviar outra mensagem aos autobots e pedir ajuda.

Starscream ligou seu comunicador, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, Ratchet pulou sobre ele, o derrubando. Ambos foram ao chão, Ratchet caindo sobre Starscream, que corou fortemente.

— Uhm, não podemos deixar isso para depois da cerimônia de junção?

— Que cerimônia o quê – Ratchet tratou logo de desligar o comunicador do decepticon e se levantar, o mais rápido possível – Não pode chamar ninguém. Quer me humilhar ainda mais?

— Humilhar? – Starscream pareceu super ofendido – Está dizendo que meus sentimentos ofendem você?

— Que sentimentos que nada, você nem gosta de mim. Vamos, diga logo o que está planejando de verdade?

— Não estou planejando nada, aliás, eu até estava, mas você estragou tudo – Starscream voltou a se sentar, cruzando os braços – Vai morrer velho e solteiro.

— Ora seu… você disse que era importante.

— A culpa é toda do Nocaute. Ele quem disse que ser o conjunx de alguém era a coisa mais importante que um bot poderia fazer na vida. Outro médico idiota – Starscream começou a soluçar, como se chorasse – E eu que confisquei uma caverna super linda, cheia de belas rochas de energon puríssimo, só pra gente realizar o nosso Conjunx Ritus.

Ratchet pensou. Starscream era ambicioso e, com toda certeza, havia reservado uma mina de energon de alto valor sem o conhecimento de Megatron. Isso seria ótimo, porque estaria segura. Pensou nos autobots e o quanto estavam tendo dificuldade para encontrarem energon ultimamente. Aquela mina poderia ser a salvação de todos.

Ratchet soltou os ombros em rendição. Se sentou no chão ao lado de Starscream e pegou uma das taças. Starscream praticamente se jogou ao seu lado, lhe servindo uma generosa dose de engex.

Ambos beberam em silêncio, até Starscream ficar entediado com a falta de interação o médico autobot.

— Então – Starscream se arrastou para mais perto de Ratchet, se encostando na lateral de seu corpo – Aquilo que eu disse sobre esperar até depois da cerimônia, eu não estava falando sério, não sou tão antiquado assim.

Ratchet quase engasgou com aquilo.

— Bom, mas eu sou; antiquadíssimo – Ratchet virou a taça – Gosto das coisas mais tradicionais, se é que você me entende.

— Ah, por isso prefiro bots mais jovens, velhos não fazem nada.

— Ei, velha é sua mãe. E eu não disse que eu não faço nada, só disse que gosto das coisas certas.

— E o que exatamente seriam “coisas certas” para alguém da sua idade? Segurar a minha mão?

— Ei, vai com calma. Segurar a mão de alguém pode ser bastante constrangedor.

— Arg, eu sabia! – Starscream voltou a ficar emburrado.

— Calma, Starscream, eu estava só brincando – Ratchet pegou a mão de Starscream – Viu, era só brincadeira.

Em um primeiro momento, Starscream ficou só o encarando, desconfiado. Mas logo o buscador começou a se animar, imaginando que, talvez, pudesse ganhar um pouco mais do que apenas curativos, recomendações médicas e uma pegada na mão estúpida.

Starscream se segurou no braço de Ratchet, aconchegando-se ainda mais sobre o corpo mais forte que o seu. Aquilo deixou Ratchet preocupado. Não estava nem um pouco a fim de compartilhar nenhum tipo de intimidade com o decepticon.

— Sabe de uma coisa, não é justo que apenas eu recebe atenção privilegiada e você não – Ratchet encheu a outra taça com engex – Aqui, você também tem o direito de se divertir um pouco.

— Poxa, obrigado, nunca me ofereceram nada antes, sou sempre eu que tenho que pegar minha própria bebida, ou servir – Starscream virou o copo de uma vez, parecendo emocionado.

Ratchet continuou a beber, bem devagar. Quase cuspiu tudo, ao sentir um servo muito ousado descer por suas costas, indo em direção a sua popa. Mas piorou quando ouve um desvio e o servo foi parar na parte interna da sua coxa.

— Aqui, você precisa de mais – Ratchet voltou a encher a taça de Starscream, quase a transbordando – Starscream pegou um pouco contrariado, por ter que parar com as carícias. Tomou rápido e continuou a tocá-lo. Ratchet, mais uma vez, encheu a taça do decepticon – Aqui, mais uma e você vai ficar mais solto.

— Ratchet, por um acaso está tentando me embebedar para que eu fique mais fácil?

— Não, óbvio que não – até que aquilo era verdade, de certa forma.

— Que bom, porque saiba que não precisa – Starscream esticou a perna, colocando-a sobre o colo de Ratchet – Não pretendo dificultar nada pra você.

— Sei disso, mas – Ratchet encheu outro copo e entregou a Starscream – Eu posso ser meio bruto às vezes, e isso vai te ajudar a relaxar bastante.

— Bom, você é o médico, então, se você diz…

Starscream virou a taça inteira de uma vez, a arremessando longe logo em seguida. Sorriu de forma sacana e engatinhou por cima do corpo de Ratchet que começou a entrar em pânico. O buscador ainda parecia bem o suficiente para aguentar uma leve sobrecarga, e isso não seria nada bom.

— Aqui, um último gole, para fechar com classe esse nosso momento – Ratchet pegou a garrafa e a sacudiu.

— Nha, nada disso, já cheguei ao meu limite – Starscream soluçou – Além do mais, eu joguei o copo fora.

— E quem disse que será no copo.

Com muita coragem, Ratchet tomou um generoso gole, segurando o líquido na boca. Starscream sorriu travesso, adorando a ideia. Ratchet deixou que o decepticon colasse seus lábios nos dele, fazendo todo o engex fluir de uma boca para a outra. Sentiu Starscream tentar aprofundar aquele contato, mas se separou do decepticon, antes que ele apagasse por completo.

— Acho que isso foi demais pra mim – Starscream parecia bastante grogue.

— Me passe as coordenadas da mina, eu te levo – Ratchet pegou Starscream no colo, deixando o decepticon animado, ainda que meio apagado.

Com muita dificuldade, Starscream digitou as coordenadas no braço de Ratchet.

— Quando chegarmos, você me acorda?

— Claro.

Ratchet mal terminou de falar e Starscream desmaiou, ficando totalmente inerte. Ratchet colocou o decepticon no chão e verificou rapidamente seus sinais vitais antes de sair, só para ter certeza de que não havia matado o decepticon, ao invés de apenas embebedá-lo de propósito.

— Ratchet – Starscream ainda conseguiu forças para uma última frase, fazendo com que Ratchet ficasse em alerta – Obrigado por sempre cuidar de mim – Starscream deixou a fala quase desaparecer – Você é mesmo demais.

Starscream apagou por completo depois disso, deixando Ratchet se sentindo horrivelmente culpado.