Conjunx Endura. escrita por Takkano


Capítulo 6
Confronto.




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Dentro dos corredores vazios da Nemesis, Megatron caminhava meio sem rumo. Observou se estava mesmo sozinho e se esgueirou por uma passagem extremamente estreita, sentindo as paredes esmagá-lo, como se estivesse em uma armadilha. Saiu do outro lado, sentindo uma forte corrente de ar gelado bater contra o calor de sua centelha. Olhou para o céu e rapidamente e se arrependeu. Estava tão azul. Azul como aquelas óticas. Automaticamente fechou suas óticas e se sentou na beirada da nave, pendendo os pedestais a quase dez mil metros do solo. Precisava sentir um pouco desse ar puro da Terra. Não gostava de admitir, mas o fazia esquecer um certo mech. Um maldito mech que conseguia deixar a sua já caótica existência ainda mais difícil. Voltou a abrir as óticas, porém, tudo o que viu foi todo aquele imenso azul de novo.

— Parece que não sou o único.

Megatron se assustou um pouco. Nem havia notado o pequeno mech vermelho chamativo, bem ali, ao seu lado. Megatron chegou a cogitar o porquê de Nocaute estar ali, em seu lugar secreto, ou até mesmo socá-lo, por elogiar Optimus mais cedo. Mas a resposta estava refletida na face desolada do mech menor. Megatron decidiu apenas ignorá-lo, e foi ainda mais gentil, permitindo que o outro desfrutasse um pouco da sua companhia.

— Desculpe, senhor, só venho aqui quando minha centelha está prestes a se partir. Toda aquela conversa sobre conjunx me deixou um pouco pra baixo – Megatron entendeu. Apesar da personalidade brincalhona e irritante de Nocaute e das indiretas sobre Optimus, aquilo tudo ainda doía muito nele. Não fazia muito tempo que Nocaute havia perdido Breakdown, seu Conjunx Endura, então, ouvir Starscream zombar de algo tão importante, acabou deixando Nocaute tão melancólico quanto ele – Starscream é um completo idiota. Ele teve grande parte da culpa pelo que houve com o Breakdown. Foi ele quem atraiu o Silas. Ele não entende o que é perder alguém que está unido a você por toda a eternidade. Perder um conjunx é como perder metade da sua própria centelha.

Uma cascata de energon emergiu das óticas de Nocaute, fazendo todo aquele vermelho se borrar de azul-celeste. Megatron voltou a apertar as próprias óticas. Sabia como Nocaute se sentia. Apesar de sua outra metade ainda viver, já não a sentia mais há muito tempo. Era quase como se não existisse mais.

Em um ato de puro reflexo, Megatron se aproximou de Nocaute e o abraçou com suas enormes garras afiadas, colocando a face do mech menor contra sua centelha. Nocaute retribuiu, sentindo a centelha de Megatron gritar tanto quanto a sua.

— Mas olha só que cena mais linda. – Megatron e Nocaute se afastaram em um pulo, colocando-se, ambos, em posição de defesa. – Sabe, Nocaute, sinto um pouco de inveja de você. Depois você precisa me dar umas dicas de como conquistar o seu superior.

— Seu lixo autobot. A única coisa que você irá conquistar é uma centelha despedaçada.

Nocaute e Smokescreen começaram a travar uma intensa batalha, disparando suas armas, enquanto Megatron permanecia paralisado no mesmo lugar. Raiva, ciúmes, medo, dor. Ver Smokescreen ali, bem a sua frente, despertava uma total confusão no Warlord. Sabia que o jovem mech autobot talvez estivesse muito próximo de roubar a coisa mais importante que havia conquistado, desde que deixou aquela vida miserável nas Minas de Tarn.

Megatron não permitiria. Não deixaria um both qualquer levar metade de sua centelha assim tão fácil. Megatron apontou seu canhão de fusão para o autobot e esperou a arma carregar ao máximo.

Quando estava prestes a disparar, um mech tão grande quanto ele, aterrissou bem na sua frente. As óticas azuis celeste brilharam mais que o energon que acumulou em suas próprias óticas.

Megatron manteve a arma carregando. Talvez pudesse acabar com metade da sua dor. Não, talvez pudesse explodir o mech a sua frente e depois se jogar lá embaixo, até se espatifar contra o chão e acabar com a dor por completo. Porém, o olhar daquele mech parecia não acreditar que ele fosse capaz de pôr um fim ao próprio sofrimento.

Infelizmente, o mech azul e vermelho estava certo. Megatron realmente não conseguia. Acabou abaixando a arma, derrotado. Ambos ficaram ali, se encarando, com os semblantes carregados de sofrimento, apesar de nenhum disparo ou golpe ter sido desferido um contra o outro.

— Smokescreen – o autobot pode sentir a dor que causou em Megatron, pelo simples fato de chamar o outro pelo nome – Vamos embora.

— Mas estamos em vantagem.

— AGORA!

O autobot maior gritou, com fúria, fazendo todos ali tremerem. Smokescreen correu até ele e pulou em suas costas. Ambos saltaram da nave em direção ao solo.

— Lord Megatron – Nocaute veio correndo até onde Megatron permanecia, paralisado – O senhor está bem?

— Não.

Nocaute não disse nem fez mais nada. Sabia que aquele “não” estava muito além da luta, muito além da guerra e muito além de suas habilidades médicas. O médico decepticon se afastou discretamente, a fim de deixar o seu senhor e paz.

— Aonde você vai em uma hora dessas, Nocaute? – Megatron perguntou, assim que viu o mech vermelho se afastar.

— Desculpe, My Lord, mas isso está fora da minha capacidade.

— Não, não está.

Megatron caminhou novamente até a beira da nave e se sentou no mesmo lugar de antes. Deu uma batidinha no chão ao seu lado. Nocaute esboçou um pequeno sorriso e se sentou ao lado do Warlord, ambos voltando a contemplar o céu, cada um com a sua dor.

 

***

 

Optimus não solicitou a ponte terrestre, como sempre fazia. Ao invés disso, aterrissou sem a mínima delicadeza ali mesmo, no solo, bem abaixo da Nemesis. Smokescreen teve que se transformar para poder travar as rodas e não ser arremessado longe.

Quando se sentiu seguro de novo, Smokescreen voltou a se transformar e viu Optimus de costas para ele, observando o céu acima deles. Sabia que Optimus estava irritado agora. O que poderia dizer para acalmar a centelha do Prime? Que estava passando e, do nada, Megatron e Nocaute resolveram atacá-lo e ele só revidou? Bem, talvez, se pudesse voar. Ou, que pensou em fazer uma surpresa e acabar pessoalmente com a vida de seu inimigo mortal? Como se Optimus estivesse esperando mais alguma surpresa, vindo dele.

— Desculpe, Optimus. Eu sei que fui imprudente ao sair de novo sem a sua permissão – Smokescreen achou melhor apenas se desculpar, até Optimus pedir por alguma explicação mais detalhada.

— Você não é nem nunca foi um prisioneiro, Smokescreen. Sabe que pode sair para onde quiser e quando quiser, sem precisar da permissão de ninguém da base.

— Eu sei, Optimus, mas me sinto culpado por você ter ido até lá só para me ajudar contra o Megatron.

— Para impedir que ele te matasse, você quis dizer – Optimus se virou e Smokescreen notou o quanto o Prime parecia irritado – Você acha que tinha alguma chance contra o Megatron?

— Quem sabe. Ele parecia fragilizado, um pouco abatido talvez. Só não desativei ele na hora porque aquele mech, metido a gostosão, defendeu ele. Hum – Smokescreen riu – Aposto que estão tendo um caso.

— Fala do Nocaute? O Megatron jamais teria algo com o Nocaute; eles amam outros bots.

— Olha pois deviam. O Nocaute é bonito pra caramba e o Breakdown não vai mais voltar de qualquer forma. Já o Megatron, devia é agradecer por alguém querer ele. Feio, velho, chato, grosseiro…

Smokescreen teve uma epifania.

Optimus o olhava com certa… raiva? Era isso, Optimus estava irritado por ele estar denegrindo a imagem de Megatron bem na sua frente? O bot que quase o matou a sangue frio? O bot que quase extinguiu a centelha de Optimus, o deixando em migalhas em meio a uma pilha gigantesca de chamas e ferros retorcidos? Amargamente, as palavras de Ratchet e de Optimus faziam muito sentido agora, a de que ele não teria chance alguma.

— Optimus, você acha que o Megatron é o contrário de tudo o que eu disse, certo?

— O Megatron já foi jovem e muito gentil, no passado, e sim, nada do que você disse sobre o Megatron é o que eu realmente acho. Mas não pense que sou algum tolo, Smokescreen, eu sei quem é o Megatron e todo o risco que ele representa a Cybertron e a Terra.

— Ainda assim, você…

— Sim – foi tudo o que Optimus se limitou a dizer.

— Mas ele quase te matou, diversas vezes.

— Eu também, já tentei matá-lo, várias e várias vezes, e falhei, em todas elas; assim como ele também falhou.

— Não, ele só falhou porque eu te salvei; eu! – Smokescreen parecia transtornado – Então é isso, ele deixa você à beira de se juntar ao Allspark, eu te salvo, mas é ele quem você ama? Eu sou só o bot chato e pervertido que fica te assediando o tempo todo?

— Eu nunca disse isso.

— Nem precisa. Eu vejo a forma como você me olha, como se eu fosse a frag de um espumante, querendo a sua atenção e os seus cuidados, e você só me alimentasse porque tem pena de mim, ou porque não tem outra opção.

— Isso é uma comparação horrível de se fazer, Smokescreen.

— E acha que eu não sei? Mas é assim mesmo que eu me sinto, toda vez que tento me aproximar de você, Optimus.

— Então não se aproxime – Smokescreen o olhou atônito – Se não consegue manter uma postura profissional ao meu lado, recomendo que volte imediatamente ao seu antigo posto. Não posso ficar arriscando todo o grupo, porque você não aceita que eu tenha sentimentos pelo Megatron.

— Está simplesmente me trocando; pelo Megatron?

— Não foi o que eu disse, e você sabe muito bem disso. Eu jamais trocaria a vida de qualquer autobot pela do Megatron.

— Então prove e acabe com ele, de uma vez por todas.

— Acha que, se um dia, o Megatron for desativado, eu vou ficar com você?

— Não se preocupe, não estou mais contando com isso. Pelo jeito tenho que esperar pelo Hot Rod também. Quem sabe até mesmo pelo Bee.

— Eu não tenho mais nada para dizer a você, Smokescreen.

Desta vez foi Smokescreen que se transformou e saiu cantando pneus, deixando Optimus para trás.

 

 


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