Legado De Poder escrita por Merophe


Capítulo 2
II




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Bem cedo, em Monte dos Reis, Ettore se organizou para ir novamente a Pormadre, onde um carro já estava preparado. Acostumou-se com os favores, embora ocupasse oficialmente a posição fixa de missionário. Nível alto entre os recrutas. Trabalhando entre as três famílias principais, o destino dos missionários se reservava as missões complexas. Fosse uma guarnição ou um embate de rivais, os missionários adiantavam primeiro no caminho. Tendo diversidades nas classes dos recrutas, os batedores e os apagadores também integravam para as famílias em necessidades eventuais. Tanto para lidar com algumas questões na cidade ou uma execução, ambos exerciam as suas funções respectivas.

A ascensão de missionário era merecedora por confiança, ficando à mercê dos trabalhos importantes e das decisões recebidas diretamente pelos membros importantes dos clãs. Funcionários dos capôs, das senhorias, poderiam ser reconhecidos como membros e garantir espaço no próprio clã. No entanto, não era o caso de Ettore. Ele integrou na Sociedade gozando de ser um missionário, pois estava Caius precisando de um recruta particular. Não o apresentaram bem nem mal, apenas garantiram que era um rapaz que sabia fazer de tudo, e Caius aceitou. Mais tarde, os favores foram divididos entre os Valentinis, prosseguindo para a busca do herdeiro dos Marqueses.

Ettore estava saindo do pátio quando avistou o Mercedes prateado seguindo a curva depois do portão. Visita bem cedo na mansão Trofeo, o paraíso murado dos Valentinis. Em especial, a residência ocupada por Lorenzo acolhia os canteiros extensos de macieiras depois dos jardins nos fundos e uma piscina de cinquenta metros na área de lazer. Juntamente com um salão de eventos nunca utilizado, existia apenas por ostentação.

A buzina foi apertada de propósito em frente às escadarias. Ettore cruzou os braços, reparando ainda para dentro do carro, todo o requinte desnecessário para a previsão ensolarada do dia.

A senhora desembarcou com o chapéu matinê cinzento nas mãos. Eliane retirou os óculos quadrados assim que cruzou caminho com Ettore.

Entrara nas pressas para dentro da sala. Firmou a postura ereta na poltrona Lilian, preservando o cinto grosso e escuro na cintura. Percebeu alguém passando atrás da porta e reparou rapidamente na escrivaninha, agrupando um conjunto de canetas coloridas no porta-coisas. Abriram as cortinas antes de lhe cederem a sala para a espera. A luz do sol tingiu com mais brilho o piso de cimento cinza, alcançando diretamente os livros de economia na estante branca ao lado das janelas.

A demora agitou as pontas dos saltos, que pisotearam o tapete. Deu para ouvir uma voz mais baixa se aproximando pelo corredor do primeiro andar. A porta se abriu pela metade; a mão clara sustentou a maçaneta e a metade do corpo alto e magro se ergueu para a empregada fora da sala.

Eliane não retribuiu o “bom dia” e atacou Lorenzo antes de atravessar para a escrivaninha.

— Pensei que não morava mais aqui.

— Estive resolvendo um problema. — Lorenzo largou o celular na escrivaninha e cruzou as mãos.

— Sempre se envolvendo em problemas.

Eliane fez um esforço para sorrir enquanto encarou o olhar insolente e desnecessário do azul oceano.

— Pensei que era o seu marido. — Não funcionou muito bem inclinar-se para sussurrar.

— Ele não saberia lhe questionar do jeito que se deve. — A sobrancelha esquerda se levantou, acompanhando a rigidez da voz.

— Então me diga, o que eu estou fazendo que não está lhe agradando?

— Ninguém mandou você procurar um substituto para Caius.

A perna cruzada melhorou a postura afrontosa. Não era uma tolerância recente que Eliane se obrigava a ter por Lorenzo. Desconfiava do bom carisma e da grande intromissão. Até onde sabia, Lorenzo resolvia os negócios sozinho, fazia de tudo para não precisar de ninguém. Tinha orgulho dos cassinos e dos jogos de azar, herança desonesta dos Valentinis. Apaixonado por esportes aquáticos, em quesito de mulheres carregava uma maldição de divórcio. Recordando do último casamento, terminado há seis meses, com a ex-esposa saindo de Monte dos Reis. Nem demorou para a próxima se mudar direto para a mansão e mostrar a aliança fina na mão. Mulher nova da cidade, não da dos tiras, vivia com a vocação de professora. Na primeira partida para Monte dos Reis, adorou o caviar e o dinheiro mais fácil com as sujeiras do marido.

Lorenzo apertou as mãos unidas por incômodo.

— Foi Caius que teve a ideia.

— Ele teve e você aceitou. — Foi duvidoso o sobressalto dela na poltrona. — A Sociedade é que decide a maioria das coisas que ele pensar e não você.

— É uma decisão com os mais íntimos.

— Envolvendo Enrico novamente.

Lorenzo recuou, escorando-se sem necessidade nos braços da cadeira, após a erguida inesperada da mulher.

— Ainda se pode contar com os velhos amigos.

— Está se garantindo demais com este herdeiro. O nome dos Marqueses não combina com você. — Eliane enrijeceu a boca para soltar a petulância. — Não seria muito difícil assumir o lugar de Caius. Encontrou uma solução para governar.

Nem seria conveniente responder. Lorenzo apenas se esforçou em erguer um lado dos lábios e desconfiou quando viu a mulher mais afastada da poltrona.

— Já está indo embora?

Eliane ainda sustentava o chapéu matinê na mão e resolveu utilizá-lo do lado de fora.

— Terminei o que tinha a dizer. — Fitou com firmeza os olhos de Lorenzo, como um reforço de toda a conversa. — Não posso ficar mais porque tenho que visitar a minha irmã. Caius já saiu da cidade.

 

 

Provavelmente, outra cidade seria o melhor para recomeçar a vida. Pormadre demorou a se tornar a primeira opção de Enrico. Afastada de Monte dos Reis, o centro da cidade se via mais artesanal, com ruas estreitas e sem confusão. Acolhia sobrados, por vezes de uma só cor, como também coloridos, em grande parte impressionando muito com o vermelho, o azul e o amarelo. Bem abaixo dos sobrados, encontravam-se as cafeterias, muitas docerias e as padarias tentando com o convite morno das massas. Fontes também enfeitavam a cidade com o pavimento de concreto. Durante a noite, espelhava-se a quantidade certa de estrelas pelos dois rios principais e únicos, enquanto cordas de fitas coloridas cruzavam os postes de luzes reduzidas. Em dias de semana, uma feira variada se organizava na cidade. Algumas tendas apareciam do interior, paravam carroças ou um jumento baixinho, exibiam as hortaliças e, por vezes, vasos com mudas de plantas cheirosas.

A cidade era discreta no silêncio; apenas a brisa dos rios assobiava nos ouvidos. Enrico lembrou-se depois de Pormadre e decidiu se afastar por um tempo em outro lugar após se aposentar da máfia. Tinha concluído todo o trabalho, crescendo os saldos dos Giordanos; somente na família do pai que não quisera se envolver. Resolveu mudar de vida frequentando a catedral antiga da cidade. Arrependeu-se do passado imoral e tornou a devoção em rotina. Era um novo homem transformado com muito esforço, que poderia estar prestes a se desviar novamente.

Enrico atendeu o celular na sala, próximo à janela. A listra de sol esquentou a mão com o celular no ouvido.

— Estou a caminho de Pormadre.

Não deram muita importância a uma conversa longa. Enrico esfregou o rosto após enfiar o aparelho no bolso da calça. Tinha que ser fiel desta vez. Lorenzo não aceitaria mais um dia. Prensou os braços unidos contra o peito, ponderando em alguma solução. Bem irreconhecível, desceu o vulto na escada, atravessou a sala com rapidez, preferindo a passagem próxima aos ciclantos em vasos de terracota.

Enrico desvirou-se, acompanhando o percurso até a porta.

— Está saíndo?

— Quero ficar aqui fora.

Permaneceu agarrada aos joelhos, assim que se sentou no batente. Enrico esperou que algo mais fosse dito, até que desistiu e advertiu suavemente.

— Me avise se decidir sair.

Gigi não tinha interesse em visitar a cidade. Poucos lugares frequentava em Pormadre; curtia os locais pequenos e com poucas movimentações. Aparecia quase sempre na catedral, perdendo-se por várias horas na reza, igualmente ao pai. Dois devotos de poucas palavras. Enrico, por vezes, tentava interagir, sugeria um assunto, estendia uma revista, insistia em uma relação melhor. Persistindo num motivo, o pouco conhecimento da mãe pôde ser o mais coerente. Nunca tiveram uma conversa clara sobre este assunto. Enrico poderia até ter revelado que a mãe de Gigi era de outra cidade, mas o motivo do divórcio, separação ou de não morarem juntos sempre evitaria mencionar. Tornaram-se pai e filha sem conexão. Evitavam resolver a má relação deixando o problema entre eles ainda em segredo.

 

 

Alguns nem sabiam que era um segredo. Fiorella nunca espalhou boatos sobre a suposta traição de Caius. Desconfiou das mudanças do marido após os retornos para Monte dos Reis. A pouca atenção nunca compensava as esperas de Fiorella. Por vezes, a grosseria desnecessária também incomodava. Não foi difícil imaginar uma amante, aliás, Fiorella já tinha certeza de que algum dia fosse surgir uma aventura de Caius na outra cidade. Eram casados apenas em Monte dos Reis; na cidade dos tiras, Caius ainda vivia sendo um solteiro às vezes cobiçado. A explicação de Caius convenceu Fiorella. Manter o relacionamento sério na cidade dos tiras poderia comprometer o nome de Fiorella com a máfia, caso se envolvesse em alguma investigação. Escondera tudo por precaução. Fiorella concordava e aceitava, mas também receava com as pragas da irmã.

Eliane não falava bem de Caius; tinha a convicção de que um homem sorridente demais e para todos sempre era uma enganação. Sugeriu o caso amoroso para Fiorella já de propósito, para agitar-lhe os nervos na pele. Antes do Natal, aproximadamente em novembro passado, o caso se desenrolou. Caius partiu para a cidade dos tiras, atendendo aos negócios importantes, e retornou para Monte dos Reis com uma morena alva e ousada na cabeça. Encontraram-se por acaso num coquetel empresarial, debateram poucas coisas e alargaram mais os dentes com a troca direta dos números. Esquentaram os assuntos no próximo encontro; o amor por Fiorella se tornou mais esquecido, rude e superficial nas noites de reuniões com a Sociedade. Esposa por obrigação. Envolvido, não precaveu os gastos com os presentes, somente em um colar diminuiu uma fortuna com os diamantes. Encomendou bons perfumes, as bolsas que mal conhecera as marcas, mas se adaptava ao gosto autêntico da mulher nova.

Remarcou na véspera do Natal o retorno para a cidade normal. Deixou ao menos um beijo em Fiorella e a maior consideração na amante. Desde a viagem trocaram mensagens. Não tinha trabalho urgente na cidade, como dito à esposa. Ele combinou de marcar um horário para jantarem fora, porém o plano não seguiu como planejado. A amante não conseguiram localizar, então a opção foi ir embora para Monte dos Reis. Levando presentes e a incômoda frustração, nem com a mulher se encontrara, tão pouco a ceia; encontrou Fiorella na cama ainda em horário cedo.

Nada era novidade para Eliane; sabia dos detalhes e sempre procurava ir atrás de mais, esforçava-se como podia para arrasar com argumentos a irmã.

Não era por acaso que se apressara para chegar cedo na mansão. Estando a irmã indefesa, sabia discutir melhor.

Nos primeiros degraus da escada em leque, Fiorella percebeu a palma erguida recusando algo servido. Avisaram da espera da irmã na sala, acomodada no sofá de frente para a lareira desligada. Animada pela visita não estava; sentiu logo um desânimo em se aproximar do tapete enorme de lã.

Fiorella decidiu não falar quando encarou a irmã.

— Não pense que é uma novidade receber alguma visita minha.

— Nunca é uma visita boa.

— Posso ter piedade de você desta vez. — A conversa tranquila ainda intimidou Fiorella, que fez uma volta na poltrona, onde pôs as mãos unidas nas costas. — Me agrada mais discutir com você na presença do seu guarda-costas.

Fiorella entendeu a ironia com Caius. Teve vontade de retrucar, mesmo sabendo que não superava a língua afiada da irmã.

Pelo menos, ainda se esforçou para ser gentil na resposta.

— Pensei que eu precisaria te contar que estou sozinha.

— Meu marido também é capô, sempre foi a vida toda. — Em discrição, Fiorella esticou um lado da boca como reprovação. — Algumas coisas ele me diz, enquanto outras prefiro saber por conta própria.

— E o que você veio saber?  

No mesmo instante, Eliane cruzou o outro lado das pernas. Não era a primeira vez que ponderava, demorando o olhar castanho na irmã.

— Já descansou da amante? Não esqueci de acompanhar as novidades deste trisal mal assumido.

Fiorella evitou desviar os olhos para outro lugar, relembrando do problema de antes. Manteve o encaro e a melancolia através do azul bebê.

— Tenho apenas problemas com a acusação do meu marido.

— Não me convence muito esta sua inocência com ele. Ele se arrependeu por falta de opção. Repensou porque a amante o deixou. É um fracasso.

— É vontade dele ficar mais tempo em Monte dos Reis.

Eliane estalou a língua sem querer com o riso folgado e corrigiu a má postura rapidamente.

— Eu sinto pena quando você me pede para eu te humilhar.

Fiorella apertou as mãos, insegura com o silêncio da irmã. Repensou em sentar-se no sofá, até que Eliane retornou com as perguntas.

— Sabe se descobriram alguma coisa sobre o herdeiro de Vincenzo?

Fiorella não confiou no olhar mais pacífico da irmã; adiantou o que sabia, inclusive do que soubera durante a noite pelo marido.

— Enrico ainda não falou sobre o herdeiro, mas pediu que o rapaz o encontrasse de novo.

 

 

Não estava mais distante de Pormadre. A velocidade do carro aumentou depois da encosta, ao passar pela divisa da vista com um setor portuário em movimento. A saída de Monte dos Reis também conduzia ao caminho dos portos, um deles em plena atividade com o desembarque de cruzeiros, atraindo turistas sofisticados que frequentemente estendiam a estadia, principalmente devido à reserva antecipada nas pousadas à beira-mar. A cidade era encantadora, lucrando tanto na costa com seus quiosques de palha à beira-mar quanto na vida noturna, onde em todo lugar eram servidos quitutes feitos com as iguarias do mar.

Apesar de ter residido por bastante tempo em Monte dos Reis, Enrico não tinha muito gosto pela cidade. Sempre manteve um perfil discreto desde os tempos da máfia. Abusava mais das visitas aos cassinos e aos castelos com exposição de obras. Às vezes, explorava as boates mais tranquilas, reduzindo o consumo de álcool mesmo utilizando o chofer. Pormadre parecia ser realmente a sua cidade ideal, um refúgio para alguém adepto ao celibato e às fraquezas que só encontrava em Monte dos Reis. Ettore sabia que Enrico se daria bem em Pormadre. Aliás, conhecia o fato de que ele não era muito bom em conversas e evitava ficar por muito tempo com desconhecidos no mesmo lugar. Até mesmo com os mais conhecidos, às vezes faltava-lhe desenvoltura, chegando a gaguejar.

Fazia cinco anos que Ettore conhecera Enrico. Estava precisando muito de trabalho, e Enrico indicou uma solução. Pelo menos, foi o que Enrico imaginou: que seria um trabalho rápido e não fixo. Conseguir um bom emprego em Monte dos Reis era algo muito duvidoso. Ettore serviu nos favores de Caius e acabou ficando de vez na máfia. No início do serviço, não desfrutou de boa fama. Subindo rapidamente para o alto escalão de missionário, enfrentava qualquer situação de forma inegociável. Dependendo da missão, agia com os punhos ou utilizando armas, sempre assegurando-se com ameaças e, ocasionalmente, recorrendo à tortura. Por isso, tornou-se conhecido como “Anticristo”; na máfia, o serviço não permitia piedade.

Enrico não aceitava muito bem o apelido. Sabia que a mudança maligna era por causa do pecado de Monte dos Reis. Tatuou as blasfêmias nos antebraços e pensava em colocar um piercing em algum lugar.

Apertando a buzina do carro, Ettore viu alguém passando pelo jardim do lado de fora. Enrico aguardava no salão, movendo algumas peças de xadrez e praticando estratégias no tabuleiro. Sendo muito experiente no tempo em que era mais jovem, devolveu a torre para o lugar assim que os passos do mordomo ressaltaram no salão.

Havia uma sala de estar mais discreta no primeiro andar. Mandaram o rapaz esperar. A luz resplandeceu na porta de correr aberta. Ettore ergueu a mão nos cabelos escuros após a baforada de ar recebida na sacada. Encostou-se no guarda-corpo de inox para enxergar o jardim vazio e deu meia volta, já percebendo a porta se abrindo.

— Eu vi a sua filha no jardim; acho que saiu correndo. É bem igual a você.

Enrico sentou-se pensativo na poltrona e esfregou os dedos de uma mão na têmpora; Ettore reparou no destaque do anel grosso de prata.

— Não é fácil para mim falar sobre o que não deveria ser falado.

— Não precisa deixar as coisas tão estranhas, todo mundo já sabe que Vincenzo deixou um herdeiro.

— Ele não queria que ninguém soubesse.

— Muita gente acabou sabendo.

Ettore descansou no braço da poltrona, juntando perna sobre perna. Enrico desviou o rosto para a porta de correr; Ettore achou estranho ele preferir evitar falar olhando nos olhos.

— Acho que posso confiar em você.

Explicou que não era a primeira vez que a moça fugia de estranhos; quase nunca recebiam visitas, e Enrico vivia com as portas fechadas. Raramente saíam juntos para a cidade, apenas em dias de missa, quando as festividades em homenagem a algum santo podiam durar dias. Ninguém suspeitava de qualquer desentendimento; aparentavam uma boa relação aos olhos de todos, sendo que Giane, ao menos, tolerava o respeito. Percebia desde criança que não recebia atenção. Enrico mal sabia se expressar com palavras e ainda tentava se adaptar à conversão.

— Acho que isso não tem nada a ver. — Ettore esticou a perna cruzada e apoiou as mãos nos joelhos. — Mas seria muito estranho se você não fosse um pai esquisito.

— Não cuidei muito bem. Tentei me reaproximar, mas ela já tinha a convicção de que eu não a amava.

Ettore pensou em dizer algo para amenizar o constrangimento, mas ao perceber a mão de Enrico cobrindo o rosto, achou melhor não ser insensível. Aliás, já era de grande serventia vê-lo abrindo o coração. Cruzou os braços, com a camiseta escura marcando as mangas nos cotovelos, lançando olhares longos pela sala. Respeitou a imagem dos querubins envoltos num linho fino; no momento, somente pensava em manter algum respeito.

— Ao menos deve saber onde você trabalhava.

— Eu nunca contei. Invento mentiras sobre a mãe dela. Fiz ela acreditar que eu era casado sem nunca ter sido.

Enrico baixou a voz ao perceber que estava elevada.

— Não é fácil estar dizendo isso.

A sala ficou silenciosa novamente, causando um incômodo em Ettore, que se levantou, cruzou os braços e passou em frente a Enrico.

— Ainda estou tentando entender o que isso tem a ver com o grande segredo

— É a mesma coisa.

— Sim, o seu segredo. — Próximo à porta de correr, ele apontou o indicador para Enrico. — Vamos resolver essa história, vai facilitar pra todo mundo

— Você ainda não entendeu?

— Está faltando me contar mais alguma coisa?

Enrico virou o rosto após encarar Ettore, que soltou as mãos do quadril, sem vontade de retomar a conversa. A sala estava envolta em silêncio, e o vento podia ser ouvido com clareza.

— Deveria tentar resolver as coisas com ela. — Ettore tentou incentivar, percebendo que os sussurros do vento começavam a despertar uma angústia nele.

— Não posso mais. — A voz desanimada de Enrico parecia ser um problema sério. — Não vai me perdoar por ter fingindo ser o que não era.

Ettore prestou atenção quando os olhos frágeis de Enrico o encararam. Estava sendo verdadeiro, humano e pecador.

— Giane não é a minha filha de verdade. Me deram um bebê. Vincenzo me entregou a filha dele.


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Notas finais do capítulo

Leitores destemidos de "Legado de Poder", o capítulo revelador chegou! Descobrimos o herdeiro dos Marqueses, mas as sombras da máfia são densas. A dúvida ecoa: revelar ou proteger? Preparem-se para mais reviravoltas! ️♀️ #LegadoDePoder #HerdeiroRevelado #IntrigasMáfia



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