Legado De Poder escrita por Merophe


Capítulo 11
XI


Notas iniciais do capítulo

Olá, queridos leitores de 'Legado de Poder'! Primeiramente, é dia de baile! Preparem-se para uma noite cheia de glamour, mistério e surpresas neste novo capítulo emocionante. Queria compartilhar que este capítulo deu um trabalho danado para organizar, com cada cena cuidadosamente elaborada para dar continuidade à história e manter vocês envolvidos do início ao fim. A transição entre as cenas e a organização dos personagens certos foram fundamentais para garantir a fluidez da narrativa. E tem mais: o próximo capítulo continuará com o baile! Planejei separar o evento em duas partes para garantir uma leitura mais agradável, tanto aqui no site quanto no Word, já que ficaria muito extenso. Mal posso esperar para compartilhar essa nova etapa da história com vocês. Preparem-se para uma noite inesquecível!

Peguem as suas máscaras de bailes e os seus broches!



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Lorenzo já havia desconfiado do fato de a garota aceitar tão facilmente sair de Pormadre. Ele estava ciente das dificuldades que Enrico enfrentava, demonstrando timidez desde os tempos em que atuava como cafetão; aliás, ele sabia aproveitar muito bem essa característica. Lorenzo instruiu Ettore a não mencionar a chegada da herdeira para evitar complicar ainda mais a situação. Mesmo sendo filha de Vincenzo e uma Rosa Azul, ele considerava que a presença da garota poderia representar um perigo. Ele lembrava claramente do episódio em que ela fugiu de casa, quando Enrico aparentemente disse a verdade. Lorenzo temia as possíveis consequências se ela descobrisse sobre a máfia desta vez.

A garota poderia agir da mesma forma como agiu com o pai, ou até pior. Não era hora de causar agitação em Monte dos Reis, especialmente com o surgimento dos Arma Branca pela cidade.

O baile oculto estava marcado para o dia seguinte, e muitos dos Rosa Azul se reuniriam mais uma vez. Lorenzo encontrou a garota no quarto, com o livro grosso aberto em suas mãos. Ele bateu na porta antes de entrar: "Por curiosidade, qual é o seu número de calçado?"

Na mansão Villa Serenità, Eliane estava ocupada com os preparativos para o baile. Ela até mesmo solicitou a visita de uma maquiadora particular para ajudá-la, marcando o encontro para a tarde seguinte. Enquanto isso, em outra parte da cidade, Fiorella estava indecisa sobre comparecer ao baile. Apesar de sempre ter acompanhado o marido, ela evitava eventos dos Rosa Azul desde que descobriu sua traição.

Ettore não se preocupava com a resposta da patroa, pois já sabia que ela não compareceria ao baile. Ele nunca foi de frequentar eventos que reunissem tantos membros dos Rosa Azul, mas desta vez sabia que deveria fazer o contrário. Ele tinha que cumprir o trato feito com Enrico, pelo menos desta vez.

 

 

Era quinta-feira, o dia do baile. Descendo as escadas da sala, Lorenzo avistou alguém no foyer à distância. Ele havia ajustado o fraque e segurava a cartola escura nas mãos. Lorenzo sabia que havia feito uma excelente escolha com os trajes da garota, mas ela ainda se sentia desconfortável. Não estava acostumada a se comportar em eventos de etiqueta. Diante do espelho comprido do foyer, ela tentou mais uma vez esticar o vestido de franjas brancas.

— Não se preocupe tanto.

Com um misto de desconforto e incerteza em seus olhos, Gigi virou o rosto para olhar para ele. Ela não via necessidade de acompanhar Lorenzo e sua esposa no baile, nem mesmo achava que as roupas que estava usando faziam diferença. Apesar de não ter expressado sua opinião diretamente, demonstrou bastante insatisfação na tarde passada, quando Lorenzo chegou com o traje completo para o baile desta noite.

Ela sentia que não podia recusar o convite, afinal, já estava hospedada na mansão que não pertencia ao pai, disso ela tinha certeza. Apesar de Lorenzo ter se aproximado mais dela, ainda não tinha perguntado a ele a verdade sobre o dono da mansão. Helena dizia que isso era demais, que sua desconfiança era apenas porque ainda não se adaptara completamente.

Lorenzo se aproximou da garota e colocou uma mão em seu ombro, os dedos alcançaram uma parte da clavícula. Ela se sentiu desconfortável com o contato e discretamente remexeu os ombros para trás.

— Eu sabia que ficaria bom em você. O tamanho está certo.

Ela não conseguia concordar totalmente com Lorenzo. Estava descontente com o tamanho do vestido, que ia acima dos joelhos. No entanto, não poderia simplesmente ignorar a gentileza do casal. Sentia-se à mercê deles de qualquer maneira. Enquanto ajustava o vestido no espelho, viu Lorenzo mexendo na lapela do fraque.

A garota notou Lorenzo se aproximando e se colocando à sua frente, levantando as mãos para encaixar um broche em seu vestido. A rosa metálica, adornada com galhos de oliva, brilhava sob a luz do lustre. Ela ficou confusa ao ouvir Lorenzo mencionar que ela era uma Rosa Azul, e ele ainda a lembrou de pegar a máscara de baile.

 

 

Patrícia tinha ido à frente para a Fortaleza de Prata. O marido pediu que ela chegasse primeiro ao castelo; ele iria depois com a garota. Eliane avistou Patrícia atravessando o salão de dança aberto. Seus olhos percorriam além das mesas dos convidados, buscando pelo filho que se afastara em um instante.

De longe, Eliane já avistava alguns conhecidos, incluindo praticamente toda a família Rizzo. Melina, uma das convidadas para a reunião no monte do Planalto das Bambinas, estava presente, acompanhada pela sogra. Eram amigas de Eliane, ambas compartilhavam o péssimo hábito de falar mal dos outros.

Melina demonstrava mais controle sobre sua língua do que Eliane. Possuía uma aura enigmática e misteriosa, com olhos penetrantes e sempre utilizava maquiagem para disfarçar as olheiras. Apresentava uma aparência pálida, mas cuidava bem dos seus longos cabelos escuros e sedosos. Geralmente vestia túnicas e cachecóis luxuosos, embora recentemente evitasse acessórios no pescoço devido ao bebê de três meses que tinha para cuidar.

Próximo à mesa das duas mulheres, o velho Tarcísio foi avistado trajando uma máscara de baile cinzenta. Apesar de seus sessenta e seis anos, já se assemelhava a um mausoléu ambulante da família. Seu cabelo escasso e os avisos do médico sobre complicações futuras no fígado não o impediam de continuar bebendo incessantemente. Ele mantinha sempre uma taça de álcool e outra de água à sua frente, na esperança de atenuar os problemas de saúde. Sentado à mesa, encontrava-se com um coquetel laranja, enquanto a outra cadeira permanecia vazia devido à saída de algum conhecido.

A família Rizzo seguiu os passos de Tarcísio, mantendo-se influente no comércio de falsificação. Eles eram especializados em produzir e vender produtos baratos como se fossem de alta qualidade. O pai de Melina, que era filho de Tarcísio, era o responsável por comandar os negócios clandestinos, distribuindo as tarefas entre os parentes para administrarem. O marido de Melina, que antes era apenas um batedor, trabalhava nas ruas pela família. Após o casamento, tornou-se um membro oficial da família e recebeu uma parcela dos negócios.

Pasini retornou à mesa, e Eliane notou seu marido, segurando uma taça de champanhe com uma cereja mergulhada e um copo de água.

Ele aproveitou para ir ao bar quando uns conhecidos tiraram ele da mesa. Entregou o copo para a menina, que permaneceu retraída ao lado da mãe, parecendo sentir um leve desconforto corporal. Apesar de não ser muito comum os membros dos Rosa Azul levarem seus filhos pequenos, Eliane fazia questão de levar a menina consigo. Geralmente, o baile se estendia até tarde, e Eliane retornava para casa quando a menina pegava no sono. Ela não se sentia confortável em deixar a menina sozinha na mansão, mesmo com os empregados e a avó por perto. Pedrina geralmente não era tão reservada nos ambientes em que acompanhava sua mãe. Antes de deixarem a residência, a menina estava em bom estado.

— Luca não está no salão.

— Eu vi ele no bar.

Não estando mais no bar, o rapaz havia passado pelo hall de entrada e agora estava no átrio do castelo, pensando qual seria o melhor caminho para atravessar os jardins sem ser notado. Devido ao grande número de membros nos reencontros como aquele, a segurança era reforçada, e era comum ver missionários escondendo armas sob os trajes. Luca mantinha-se discreto, ciente de que o missionário da mãe também poderia estar de olho nele durante o baile.

Luca afastou-se do caminho pelo gramado que tinha os balizadores. Adentrou na área onde os buxos formavam espirais, ainda conseguindo ouvir risadas distantes e o som de um carro estacionando. Mesmo enquanto avançava, ele constantemente lançava olhares para trás, atento ao trajeto percorrido. Mesmo com os buxos imóveis e a iluminação dos faróis não penetrando pelos arbustos, ele continuava temendo encontrar o espião da mãe.

Luca seguia por um caminho já conhecido, combinado previamente, em outras reuniões, para encontrar-se com Natália na área escura dos jardins. Natália sempre inventava alguma coisa para o tio, como desta vez que disse que iria ao banheiro.

Ela percebeu a movimentação entre os arbustos se aproximando. Virou-se para os buxos altos e viu o rapaz sem a máscara de baile, segurando o casaco de cauda longa nas mãos. Luca se apressou para abraçá-la, ansioso para reviver o beijo após tanto tempo.

— Você leu a carta?

Natália balançou a cabeça, levantando o olhar para o rapaz, que era maior do que ela.

— Só eu que sou maior de idade.

— Eu já sou um homem.

Ela sempre apreciava ouvir essas coisas de Luca. Mesmo sem compreender totalmente, sentia um calor no peito ao perceber a responsabilidade que o rapaz já demonstrava.

Natália sentiu um arrepio percorrer sua pele quando os lábios de Luca roçaram suavemente em sua bochecha. As bocas estavam tão próximas, quase se tocando, mas ele preferiu provocar a paixão de outra maneira.

— Poderíamos ficar um tempo na casa do seu pai. Eu tenho uma boa reserva, que serviria para encontrarmos um lugar.

Luca percebeu os olhos cor de mel dourado dela desviando-se do seu olhar. Ele costumava chamá-la de “Canelinha” por causa da sua pele morena clara.

— Meu tio desconfia das cartas.

Davide sempre desconfiava, mas nunca fez questão de impedir a entrega das cartas. Ele escutava os empregados comentarem sobre as passagens da moça pelo jardim, mas nunca tomava nenhuma providência. Pelo menos o tio poderia ser mais a favor do casal do que a mãe de Luca. Aliás, Davide também não costumava ter uma relação agradável com Eliane. Ela sabia que Davide costumava tolerá-la por causa do interesse na irmã. Caius já tinha suspeitado das gentilezas de Davide com a esposa. Na última vez que se reuniram, o casal não estava muito bem, e Caius já se sentia mal tratado pela falta de atenção da esposa. Ele percebeu que a gentileza de Davide era ameaçadora.

Eliane não pôde deixar de notar a aproximação de Davide à mesa. Embora considerasse inconveniente o interesse dele por sua irmã, casada, não podia negar sua presença imponente. Davide era um homem de muitas gentilezas, além de possuir um refinado senso de vestuário, como evidenciado naquele momento, com o colete, suspensórios e luvas de couro que trajava, além da máscara de cor carmim adornada com entalhes.

Ele dirigiu primeiramente seus cumprimentos a Pasini, e em seguida, desviou o olhar além da máscara laranja adornada por strass, saudando a mulher diretamente nos olhos.

— Tem notícias de Fiorella?

Eliane fingiu prestar atenção na filha quieta ao seu lado, apenas para esconder o riso, evitando assim qualquer sinal de deboche na presença do marido.

— Ela ainda está sofrendo com a situação do marido.

Ela notou que Davide desviou o olhar para o piso xadrez do salão, aparentemente absorto em pensamentos, enquanto mordiscava a bochecha por dentro da boca, sem perceber sua própria expressão. Ao mesmo tempo, percebeu a chegada de Luca à mesa. O rapaz aproximou-se com cautela, logo captando um olhar estranho vindo do homem. Davide cumprimentou todos novamente antes de se retirar, Luca presumiu que ele encontraria sua sobrinha logo em seguida. Tinham combinado de se encontrar novamente no jardim daqui a pouco.

 

 

No lado de fora do castelo, um novo carro se aproximava, embora não necessariamente fosse de um convidado, pois a maioria dos missionários já o reconhecia de vista e de caráter. O rapaz desembarcou do carro preto sem se deter diante dos olhares na escadaria. Mantendo uma postura íntegra, verificou com a mão o botão fechado do terno escuro. Sua presença nos bailes não era comum, e ele estreava a máscara azul-marinho com detalhes de metalurgia cinza.

Ele atravessou o hall de entrada sem contratempos, ostentando o broche que o identificava como membro dos Rosa Azul. Ajustou o fone intra-auricular em um dos ouvidos para abafar o som crescente que emanava do salão de dança.

— Estou no baile.

Ettore conversou com Enrico por ligação enquanto caminhava em direção à Fortaleza de Prata. Enrico havia instruído Ettore a averiguar sobre a filha e até mesmo convencendo-o a comparecer ao baile para obter informações sobre os planos de Lorenzo para aquela noite.

— Eu vou procurar por ele.

Ele se encaminhou para a área dos convidados, situada no térreo, dividida harmonicamente entre o bar e o salão de dança. O ambiente, clássico em sua essência, exalava uma aura de elegância e sofisticação. O piso xadrez conferia um toque de tradição, enquanto os lustres imponentes lançavam uma luz suave sobre os presentes, criando uma atmosfera acolhedora e refinada. O brilho e a magnitude do salão eram evidentes, destacando-se pela grandiosidade e luxo que permeavam cada detalhe.

As janelas arqueadas estavam adornadas com cortinas vermelhas de veludo, que conferiam uma sensação de opulência e sofisticação. As paredes exibiam um papel de parede damasco, com padrões intrincados e detalhes delicados. Uma escada imponente, de madeira maciça e corrimão dourado, dominava o salão, conduzindo com majestade para o andar superior, onde se desenrolavam mais mistérios e encantos da noite.

Ettore observou as mesas em busca das pessoas presentes no baile. Entre elas, em uma posição mais periférica, avistou Benedita, a esposa de Gerald, o chefe dos Maestrine. O casamento deles suscitava certas dúvidas entre alguns, devido às disparidades de idade, aparência e peso.

Foi Eliane quem iniciou a propagação dessas conversas. Benedita era uma das frequentadoras do encontro no monte, costumava levar suas duas filhas, Mila e Marisa. Com cerca de quarenta anos, Benedita contrastava com Gerald, que estava na casa dos trinta. Ela era robusta e dedicava-se aos cuidados de seus dois gatos persas, Bartolomeu e Beth. Já Gerald, demonstrava um estilo meticuloso, magro e bem-vestido, exibindo alguns fios grisalhos em seu topete escuro, que ele considerava elegante.

Além de se reunir com as amigas da família Rizzo para criticar o casamento e a esposa de Gerald, Eliane também não poupava críticas ao irmão dele, que trabalhava em parceria. Envolvido na política local, o irmão de Gerald facilitava diversos aspectos de seus negócios criminais, desde a liberação de recrutas até a resolução de outros problemas, contribuindo para suas atividades ilícitas de forma ampla e variada.

Ettore se retirou do salão, primeiramente por não ter encontrado Lorenzo, e em segundo lugar, devido à presença das filhas de Benedita. Apesar de menores de idade, as garotas demonstravam interesse por ele, mesmo sabendo que ele já tinha vinte e quatro anos.

Ao adentrar a área do lounge, Ettore avistou diversos rostos familiares. Avançou pelo tapete longo e vermelho que adornava o piso do ambiente, cuja iluminação refletia-se nas taças das mulheres presentes. Mesmo com a agitação ao seu redor, percebeu alguém segurando seu braço enquanto caminhava pelo tapete.

Por trás da máscara ornamentada com strass verde, ainda era fácil reconhecer Kadu pelos seus olhos azuis elétricos.

— Está perdido?

— Estou procurando por Lorenzo, você viu ele?

— Não, ainda não o vi.

Os dois não encontraram muito assunto para conversar, e logo o clima entre eles se tornou constrangedor, com ambos trocando olhares desconfortáveis. Ettore aproveitou a oportunidade quando ouviu alguém chamando pelo rapaz. Kadu virou-se para Luca, que informou que foi a mãe quem mandou procurá-lo.

 

 

Foi na trilha de cascalho que o Porsche vermelho buzinou. Gigi encostou a cabeça na janela do carro para observar a movimentação do local. Durante a noite, o ambiente do castelo ganhava uma atmosfera encantadora. As azaléias ao redor eram delicadamente iluminadas pelos balizadores, enquanto as janelas e os toldos do castelo lançavam uma suave luminosidade. Até mesmo a bandeira italiana em uma das janelas estava elegantemente iluminada, destacando-se no cenário noturno.

A movimentação dos carros era intensa no local, com várias pessoas aglomeradas nas escadas e no átrio. Mulheres elegantemente vestidas com vestidos clássicos e homens trajando fraques ou ternos, alguns apoiados em bengalas, adentravam o espaço, ostentando suas máscaras de baile e broches.

Uma sutil sensação de calor envolveu a mão da garota, indicando que Lorenzo havia novamente segurado sua mão.

Os dois desembarcaram do carro portando suas máscaras prateada e branca. Lorenzo prontamente ajustou a cartola sobre a cabeça e ofereceu o braço à garota. Era evidente a sua dificuldade ao lidar com os sapatos boneca meia pata. Subiram as escadas lentamente, onde alguns rapazes também ocultavam os rostos. Em um deles, Gigi avistou claramente uma arma discretamente escondida atrás das costas.

— Você parece um pouco nervosa.

Lorenzo notou que Gigi mantinha as mãos levemente trêmulas, enquanto seus olhos vagavam pelo átrio, como se estivesse tentando encontrar um ponto de fuga.

Diante do olhar hesitante de Gigi, Lorenzo percebeu sua dificuldade em se expressar e deixou escapar uma risada suave, compreendendo sua timidez.

Desde que havia atravessado o hall de entrada, Lorenzo foi recebido pelos conhecidos. Ele inclinava a cabeça para sorrir, ocasionalmente cobrindo os lábios com alguns dedos para conter o sorriso quando questionado sobre a esposa, especialmente após os olhares direcionados à moça. Ele notou a jovem puxando levemente seu braço, indicando que tinha algo a dizer.

— Eu posso me sentar em algum lugar?

— Por que não encontramos minha esposa primeiro? Ela pode lhe fazer companhia.

Patrícia dirigiu-se à mesa de Eliane já ciente da situação da menina. Kadu tinha ido procurar um remédio a mando da patroa, mas não deu tempo para que a menina o tomasse. Luca aproveitou o momento em que a mãe saiu da mesa com a menina indisposta, sendo conduzida por Patrícia ao banheiro mais próximo. Ele deixou o pai na mesa, aproveitando a música clássica que, naquele momento, era conduzida pelo violinista.

Era hora de reencontrar Natália nos jardins. Antes de chegar ao hall de entrada, Luca se assustou ao cruzar novamente com Davide, mas por sorte, o homem não havia percebido sua presença. Davide estava ocupado conversando com alguns conhecidos próximo à entrada do lounge e parecia estar próximo de alguém que se assemelhava a Lorenzo. Embora Luca não tenha confirmado, seguiu diretamente para os jardins sem olhar para trás.

Luca encontrou a moça já à espera no mesmo local, porém conduziu-a até um dos bancos do jardim. Apesar do movimento no estacionamento, eles permanecer ocultos entre os arbustos e retomaram a conversa de antes.

— Não vai dar para eu ir embora.

Natália uniu as mãos no colo, usando as luvas curtas de bege suave, demonstrando certa preocupação. Ela explicou que o tio estava considerando transferir o pai para Washington para realizar o tratamento da doença.

Mesmo sendo maior de idade, Davide também costumava restringir bastante a liberdade da sobrinha. Luca tinha consciência de que a jovem era responsável pelo cuidado do avô na ausência do tio, além de gerenciar os afazeres da mansão conforme as instruções dele.

Ele delicadamente afastou algumas mechas castanho-douradas do penteado em ondas suaves enquanto Natália abaixava a cabeça, buscando certificar-se de que ela não tentava ocultar nenhum choro. Um brinco de pérola em uma das orelhas se destacou quando a mecha foi gentilmente afastada.

— Acho que irei embora mais cedo para casa.

A menina não estava se sentindo bem, então Luca prontamente explicou a Natália que, caso o encontro terminasse mais cedo, seria por esse motivo.

Luca retornou ao castelo após concluir a conversa com a moça. Ao chegar no salão, encontrou sua mãe já sentada à mesa, enquanto a menina estava amparada nos braços do pai. As amigas da mãe deixaram a mesa onde estavam os Rizzo para entender o que estava acontecendo. Entre os presentes que estavam na mesa dos Rizzo, Tarcísio estava ausente.

O que qualquer um poderia suspeitar era que Tarcísio havia escapado para saborear algumas bebidas do bar. À primeira vista, nem de longe parecia ser alguém que tivesse problemas com o álcool. Demonstrava uma fragilidade perceptível, com mãos enrugadas e algumas pintas pelo rosto. Falava demais e costumava nunca terminar os assuntos.

Tarcísio já tinha algum conhecimento da esposa de Lorenzo. Embora não fosse muito frequente em reuniões sociais, quando comparecia, era comum vê-lo ao lado de Patrícia, o que indicava certa familiaridade. No entanto, sua preferência por ambientes com jogos de aposta e a companhia de conhecidos era evidente.

Patrícia encontrou o marido no lounge, onde ele estava acompanhado por Davide e pelo senhor Tarcísio. Ao notar a presença da garota sentada à mesa, o marido indicou-a a Patrícia, que prontamente conduziu Tarcísio para se juntar a ela, enquanto o marido se ocupava de alguns assuntos com Davide.

— Como você está aproveitando o baile até agora?

A garota lançou um olhar discreto para Tarcísio enquanto ele se sentava com cuidado, ajustando a cadeira. Por um momento, ela pensou que ele estivesse se dirigindo a ela.

Patrícia sorriu, revelando discretamente seus dentes brilhantes, demonstrando sua habilidade em se adaptar às diversas ocasiões. Assim como o marido, ela usava uma máscara prateada adornada com filigranas, combinando com seu vestido “sparkle fuzzy” estampado com flores e plumas, além de um choker de veludo escuro.

— Acredito que ainda não tivemos o prazer de nos conhecermos, não é mesmo, jovem dama?

A garota percebeu que ele não estava mais dirigindo sua atenção a Patrícia. Observou o senhor com um sorriso discreto, aguardando sua resposta.

— Você é filha de quem?

Ela hesitou por um momento, seus lábios se moveram ligeiramente antes de finalmente conseguir pronunciar o nome do pai. Tarcísio juntou as sobrancelhas, revelando uma expressão de desconfiança que não passou despercebida pela moça.

— Enrico nunca quis ter filhos. Ele também veio com você?

Apesar de ter compreendido claramente tudo o que Tarcísio havia dito, ela respondeu negando com a cabeça, indicando que o pai não estava presente. Baixou os olhos para as mãos em seu colo, mas ouviu Tarcísio estender o braço para alguém que passava pela mesa, confundindo-o com um garçom.

— A minha visão não é mais a mesma. Como está a noite para você?

Tarcísio reconheceu o rapaz quando ele se apresentou, lembrando-se das histórias que havia ouvido sobre Eliane contratando homens para trabalhar para ela. Mantendo-se gracioso diante da confusão, o jovem missionário soube contornar a situação com Tarcísio, e até Patrícia entrou na conversa, indagando sobre a menina de Eliane.

— O senhor quer beber alguma coisa?

— Bem, acho que não, mas talvez... Talvez uma taça de vinho.

Patrícia recusou a cortesia do rapaz assim que ele se dirigiu a ela.

— E você, vai querer alguma coisa?

Ao avistar o rapaz aguardando, a moça ergueu a cabeça, negando com um aceno antes de ele se retirar. Observou Tarcísio trocar algumas palavras com Patrícia, reconhecendo-o como um conhecido de seu pai. Não poderia ignorar o que tinha ouvido sobre seu pai vindo de Tarcísio. Ele nunca quis ter filhos e também nunca esteve casado.

Voltou a pegar suas próprias mãos, entrelaçando-as nervosamente, os dedos tremendo ligeiramente. Ao erguer a cabeça, ela tentou iniciar uma conversa com o senhor, mas foi interrompida pelo retorno do rapaz, que serviu a taça na mesa. Tarcísio prontamente começou a bebericar.

A garota fixou os olhos no piso do salão, um elegante padrão de mármore branco entalhado. Um breve silêncio pairou sobre a mesa, até que a presença incômoda do rapaz surgiu silenciosamente ao lado da moça, cujo tamanho indicava que estava agachado. “Eu posso estar enganado, mas eu nunca te vi por aqui”, ela ouviu o rapaz dizer, interrompendo o silêncio com sua observação inoportuna.

 

 

O primeiro andar do salão era conhecido por ostentar os salões de entretenimento, onde se encontravam o casino e a maioria dos jogos de azar que despertavam o interesse. O ambiente exibia uma decoração opulenta e clássica, com paredes revestidas de papel de parede em tons de ouro envelhecido e detalhes em madeira entalhada. Lustres imponentes pendiam do teto alto, emitindo uma luz suave que refletia nas mesas de jogo. Os móveis eram ricamente adornados, com estofados de veludo e detalhes dourados.

Um jogo de roleta estava em pleno andamento, envolvendo os participantes em uma atmosfera de suspense e emoção. A roleta, com seu design clássico e elegante, girava suavemente enquanto a esfera de marfim saltava e dançava ao redor do disco numerado. Os apostadores se aglomeravam ao redor da mesa, observando com atenção a trajetória da bola e decidindo onde colocar suas fichas.

Ao passar pela mesa, Ettore avistou o irmão de Gerald envolvido nas apostas. Sua presença não era bem-vinda nos jogos devido à sua reputação duvidosa, frequentemente associada a práticas desleais no cassino. No entanto, naquela roda da roleta, muitos participantes não jogavam de forma honesta, pois todos entendiam que era mais um entretenimento do que uma competição justa.

Enquanto Ettore observava a mesa, ouviu o homem apostar uma quantia considerável em um único número. A rodada iniciada era a dele. Enquanto alguns jogadores se afastavam para dar espaço a outros observadores ao redor da mesa, um cabelo familiar destacou-se entre os presentes de tons mais escuros.

— Você também aposta? — Ettore se aproximou da mesa e sussurrou discretamente para o rapaz enquanto se apoiava nela.

— Com esta gente aqui é difícil de ganhar. Eles pegam leve entre si.

Kadu observou atentamente o jogo, acompanhando o movimento da bola girando na roleta e o suspense que pairava no ar enquanto ela saltitava de um número para outro.

— Você não estava procurando por Lorenzo? Ele já chegou.

Ettore desceu para o lounge e encontrou apenas o Sr. Tarcísio e Patrícia na mesa. Lorenzo havia saído há pouco tempo.

Havia uma sala no primeiro andar que funcionava como escritório, onde a luz era mais escura e parecia antiga, destacando-se o lustre de ferro forjado com detalhes em ouro envelhecido. A decoração era predominantemente escura, com móveis de madeira escura e cortinas pesadas que davam um ar de mistério ao ambiente. Lorenzo havia levado a garota para lá.

Ela pediu uma conversa com ele quando retornou ao lounge. Observou Lorenzo remover a máscara prateada e a cartola, colocando ambos sobre a escrivaninha, ao lado de uma estatueta de um gárgula em ouro.

— Sobre o que você está querendo conversar?

Gigi brincou nervosamente com as bordas de sua máscara branca entre as mãos enquanto percebia Lorenzo circular pela sala.

— Eu tive vontade de conversar com você.

Ela interrompeu sua fala ao perceber o olhar intenso de Lorenzo sobre ela, especialmente agravado pela luz mais fraca, que projetava sombra em um lado do rosto dele. Ela uniu as mãos quando Lorenzo começou a circular ao redor dela.

— Eu... eu vim para a cidade... pensando que ficaria na casa que meu pai tem aqui. — as palavras de Gigi foram cortadas pelo choro, que dificultava sua fala. — Ele disse que tinha uma casa na cidade. Eu não sei o que está acontecendo. Agora descubro que ele nunca quis ter filhos.

Ela dirigiu seu olhar para Lorenzo, as lágrimas escorrendo pelo rosto. Por um instante, ele pareceu ponderar a situação, suas mãos repousando discretamente dentro da lapela do fraque. Então, com firmeza, ele ofereceu uma resposta decisiva para ela.

— Eu te digo a verdade.


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