Dark Entries escrita por KendraKelnick


Capítulo 7
Capítulo 7 - O estranho




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Campus da Universidade de Darrow, Crystal Cove

8 de janeiro de 2023 – 12:10 am

 

Fred havia acabado de digitar uma série de mensagens longas para Velma e Shaggy, informando sobre o livro e sobre tudo o que aconteceu nas horas passadas, quando um número desconhecido apareceu na tela de seu celular. Ele achou melhor atender, visto que poderia ser alguém da polícia, para tratar sobre o caso que ele vivenciou. Para a sua surpresa, ele reconheceu a voz doce e feminina que atendeu.

Daphne: Fred? Oi! É a Daphne… a Daphne Blake, que você salvou horas atrás, lembra?

Fred a achou inocente por achar que algum homem no universo se esqueceria dela. Ao mesmo tempo, ele a achou nobre por ter ligado para ele.

Fred: Oi, é claro que eu me lembro de você, eu nunca…

E, no momento seguinte, ele se sentiu um imbecil por dizer aquelas palavras e deixar tão claro que ele a considerava inesquecível. Felizmente, Daphne interpretou aquelas palavras de maneira totalmente diferente.

Daphne: …você nunca tinha visto alguém morrer e depois voltar à vida, não?

Fred: Bem, para falar a verdade, eu nunca tinha visto alguém morrer. Muito menos, ressuscitar. Mas eu espero nunca mais ter essa experiência…

Daphne: Bem, é por isso que eu decidi te ligar… eu queria me desculpar por te assustar… por te fazer passar por todo aquele interrogatório com a polícia… e, também, para te agradecer por ter me levado até a emergência… se eu sobrevivi, foi graças a você…

Fred sentiu seu coração acelerar ao ouvir aquelas palavras, mas manteve a calma e tentou pensar em algo que mantivesse Daphne falando.

Fred: Não foi nada. Mas prometa que não irá morrer novamente.

            Fred se arrependeu imediatamente por ter feito uma piada com algo sério. Para a sua sorte, Daphne riu e concordou. No mesmo instante, Fred tentou novamente evitar que a conversa terminasse.

            Fred: Eu falo sério. Eu não sei o que aconteceu, mas espero que você fique bem…

            Daphne: Ah, não se preocupe, eu já estou ótima! Não irá acontecer novamente…

            Fred: …e eu realmente espero que você denuncie a pessoa que fez isso com você. Não quero ver um artigo sobre você no True Crime Forum.

            Fred percebeu que havia falado demais porque Daphne imediatamente se calou. Constrangido, ele tentou consertar o que havia dito.

Fred: Quero dizer, eu não sei o que houve, não é da minha conta, mas me parece que você passou por algo bem ruim… então… eu espero que você fale com alguém a respeito do que aconteceu…

Fred queria perguntar o que havia acontecido – e, principalmente, o que a fez gritar o nome de sua mãe e do tal Herbet Stevins—, mas ele não teve coragem de se intrometer. Daphne riu timidamente, e levou algum tempo para voltar a falar.

            Daphne: Bem, eu não sei por que você se importa, mas… obrigada por se importar.

            Ele se importava. Mais do que gostaria de admitir, e por isso, não encontrou palavras para responder.

            Daphne: Bem, eu já me desculpei e já causei problemas demais a você hoje. Então… até mais, Fred.

            Fred encerrou a conversa dizendo “tchau”. Mas alguns sentimentos confusos desejaram que aquela despedida fosse apenas um “até logo”.

Blake Manor, Crystal Cove,  8 de janeiro de 2023 - 12:35 am

 

Daphne se arrependeu imediatamente de ter encurtado a conversa e desligado. Fred se importava. Provavelmente, ele era o único que se importava de verdade. E, além disso, ele era parte daquele mistério. Ele era filho de Hannah e, portanto, uma das vítimas indiretas do enigma envolvendo fractais e casos sem solução. “Ele entenderia”, foi o primeiro pensamento que Daphne teve ao salvar o número de Fred entre seus contatos. Porém, um minuto de lucidez depois, ela se sentiu ridícula. “Claro, Daphne, ligue para ele imediatamente! E diga que você tem uma identidade secreta que você usa para ferrar com a vida dos seus pais enquanto resolve casos sem solução! Aproveite e diga, também, que quando você morreu, você viu a mãe dele em uma casa velha. Com certeza, ele vai te entender e te encaminhar para um psiquiatra!”, respondeu a voz da razão em sua mente, fazendo-a apagar o contato de Fred e desistir de qualquer possibilidade de falar sobre o que aconteceu. Após largar o celular, Daphne se preparou para o banho. Ao retirar o relógio, ela notou que os ponteiros estavam fixos em 8:38, como se tivessem sido derretidos. No verso do relógio, o metal também aparentava ter sido fundido, ele estava amassado e apresentava uma mancha marrom em algumas partes. Daphne estremeceu ao ver o relógio totalmente destruído, como se tivesse sido colocado em meio a chamas. “Nem você entende o que está havendo, Daphne, então, ele jamais entenderia!”, foi a conclusão final que ela teve antes de entrar no chuveiro.

Depois de se banhar, Daphne finalmente se deitou em sua cama e pegou o livro que achou na garagem do Sr. Arthur. Ela logo procurou as páginas que tinham os desenhos similares à mancha da garagem. Ao analisá-las, ela percebeu que, apesar de parecidas, elas tinham pequenas diferenças. Cada uma delas correspondia a uma sequência diferente de números, então, Daphne logo avançou as páginas à procura da mancha número 6102016, o número que havia na garagem de James Arthur.Antes que Daphne pudesse encontrar o que procurava, ela ouviu alguém bater em sua porta. Infelizmente, a pessoa não esperou uma resposta e abriu a porta sem permissão. Em pânico, Daphne, escondeu o livro aberto embaixo de sua cama e se deitou rapidamente, fingindo dormir.

Daisy: Daph? Posso entrar?

“Deveria ter perguntado isso antes de entrar, querida”, foi a resposta raivosa que surgiu em sua mente. Mesmo assim, ela concordou de maneira sonolenta e sorriu. Para o seu espanto, aparentemente, Daisy pretendia ficar ali, pois ela trazia, em uma mão, um travesseiro, e na outra, ela arrastava um puff. Daphne ficou irritada, pois isso a impediria de investigar o livro – e, possivelmente, publicar sobre ele no True Crime Forum.

Daphne: Daisy, eu não sei o que você pensou quando trouxe essa mudança para o meu quarto, mas não vai acontecer. Eu estou exausta, boa noite!

Daisy: O quê? Eu não pensei nada, sua ingrata, eu só estou preocupada com você!

Daphne: Você nunca se preocupou comigo em toda a minha vida!

Daisy: Você nunca havia morrido em toda a sua vida!

Daphne, então, se sentou na cama, cruzou os braços e olhou de maneira desdenhosa para a irmã, que timidamente acomodava sua cama improvisada.

Daphne: Você quer mesmo que eu acredite que você não veio aqui só porque quer saber o que aconteceu comigo?

Imediatamente, Daisy se sentou no puff, cruzou as pernas e sorriu.

Daisy: Eu quero. Mas se você não acreditar, não tem problema… só me conta, vai?

Daphne revirou os olhos e demonstrou irritação, mas Daisy a ignorou e continuou olhando para ela com um sorriso.

Daisy: Você estava em um encontro?

Desta vez, Daphne ignorou a irmã e se aninhou em sua cama, deixando claro que não queria conversar.

Daphne: Boa noite, Daisy.

Daisy: Eu o conheço? Me dá uma dica?

Daphne: Boa noite, Daisy.

Daisy: Por que você foi a Riverdale?

Daphne: Boa noite, Daisy!

Daisy: O que fez você passar mal?

Daphne: B-O-A N-O-I-T-E, Daisy!

Após se despedir de maneira enfática, Daphne desligou o abajur e se cobriu até a cabeça. Daisy entendeu o recado, deitou-se em sua cama e ficou em silêncio por alguns minutos.

Daisy: Você estava com o Fred Jones, né?

Daphne sentiu seu rosto corar ao ouvir o nome Fred Jones. Mas sua única reação foi arremessar um travesseiro em direção à irmã enxerida.

Daphne: BOA NOITE, DAISY!

Campus da Universidade de Darrow, Crystal Cove

8 de janeiro de 2023 – 1 am

 

Velma dormiu tão profundamente que acordou sem saber onde estava. Após colocar seus óculos, lentamente, seu cérebro percebeu que ela estava em casa, e que a soneca que ela havia tirado após voltar de São Francisco havia durado algumas horas. Norville dormia profundamente ao seu lado, e antes de se levantar para buscar algo para comer, ela o cobriu e beijou a sua testa. Na sala, ela viu Scooby-Doo deitado no sofá, mastigando uma meia enquanto assistia a desenhos animados. Velma se irritou com aquela cena, porém, não repreendeu o cão – afinal, ela sabia que o dono dele era o responsável por aquilo.

Enquanto comia, ela leu as dezenas de mensagens de Fred relatando os estranhos acontecimentos envolvendo o livro e Daphne Blake. “Por que diabos alguém como Daphne Blake morreria subitamente? E da mesma maneira que James Arthur e Allyra Mahon? Certamente, alguém tentou assassiná-la, e pretendia enterrar o livro próximo ao corpo dela!”, dizia a última mensagem de Fred.  “Elementar, meu caro Watson, mas a data de hoje não forma um palíndromo”, foi a primeira resposta que Velma digitou, sem esperar que o amigo estivesse acordado para respondê-la. “Já ouviu falar daquelas seitas malucas que só pessoas muito ricas e famosas entram? Talvez Daphne seja parte da seita que estamos investigando. Não vejo por que outro motivo ela teria um livro tão raro. Além disso, eu sempre achei estranho uma it girl, de repente, comentar em um post da Mistério S/A. Mas vocês idiotas a acharam incrível por fazer isso. Enfim… eu acho que ela está nos vigiando e a resposta que buscamos realmente está nesse livro”, ela completou.

Velma, então, pegou seu computador e buscou pelo nome “Herbert Stevins”. Ela encontrou pouca coisa além de homenagens militares e menções ao nome dele em sites de veteranos do Vietnã. Em seguida, ela fez uma nova busca pelo livro na internet, desta vez, em redes sociais e plataformas de venda online. Após várias tentativas, ela encontrou a página de uma pequena loja de garagem no condado de Marin que, entre outros itens, vendia um exemplar de Numerologia Cabalística. Velma, imediatamente, entrou em contato com a página e reservou o livro.

Depois, Velma encontrou cada uma das datas-palíndromo que constavam nos registros de perdas do acervo da biblioteca. Então, ela acessou as páginas de vários jornais de São Francisco e procurou por essas datas. Para a sua surpresa, ela encontrou várias notícias de mortes e desaparecimentos que ocorreram nesses mesmos dias. Após anotar o link de cada notícia, Velma repetiu a pesquisa em jornais de Marin, o local onde, sabia ela, havia um exemplar do livro sendo vendido. Infelizmente, ela obteve o mesmo resultado chocante. 

Velma: Jinkies!

Ao ouvir Velma dizer “Jinkies”, Scooby-Doo parou de mastigar a meia, levantou-se e olhou de maneira séria para ela. Velma não queria ser interrompida, mas não conseguiu ignorar o cão.

Velma: Não se preocupe, Scoob, não é nada grave…

“… a única coisa grave é o fato de eu estar falando com um cachorro”, ela pensou, e se odiou por estar se comportando como Shaggy. Depois de anotar os links das notícias e os nomes das vítimas de Marin, Velma programou uma IA para pesquisar sobre o livro em bancos de dados de todo o país. Em seguida, ela utilizou outra IA para buscar por registros de mortes e desaparecimentos ocorridos em outros estados, nas datas-palíndromo. Quando os programas terminaram seu trabalho, Velma utilizou novamente uma IA para cruzar os dois resultados, e obteve uma revelação assustadora: nos locais em que havia registros do livro, havia casos não solucionados em datas-palíndromo.

Velma: Jinkies! Esse livro realmente deixou um rastro macabro por onde passou!

 Ao ouvir outro “Jinkies”, Scooby-doo novamente largou a sua meia e encarou a garota com preocupação. Velma digitava freneticamente em seu teclado, e sequer o notou. Então, ele desceu do sofá e correu em direção a ela.

Velma: O que foi, Scooby? Que droga, eu não posso te dar atenção agora!

Scooby tentou subir no colo de Velma várias vezes para acalmá-la, mas isso lhe deixou mais irritada.  Por fim, ele perdeu o equilíbrio e, antes de cair no chão, esbarrou a pata no teclado. Sem querer, ele abriu uma janela que não deveria. Imediatamente, Velma expulsou o cão com raiva, mas antes que pudesse repreendê-lo pelo que fez, ela teve uma grande ideia.

Velma: Gerador de imagens? Nada mal, Scoob!

            Ao ouvir seu nome, o cão desistiu de fugir e se sentou ao lado da garota. Ele aguardou que ela o recompensasse, mas isso não ocorreu. Velma passou vários minutos coletando a localização de cada um dos casos não resolvidos que encontrou, e quando terminou, inseriu todas as coordenadas geográficas na IA geradora de imagens. O resultado obtido foi um borrão em forma de espiral, idêntico às manchas que Velma viu nos locais dos crimes. Ao ver novamente a figura sinistra, Scooby-Doo desistiu de esperar sua recompensa e fugiu para a cama de seu dono.

Blake Manor, Crystal Cove,  8 de janeiro de 2023 – 4:34 am

 

Daphne acordou com um grito de horror de Daisy. Antes que ela pudesse se levantar, Daisy gritou novamente várias vezes e se debateu desesperadamente. Mesmo no escuro, ela correu até a porta e deixou o quarto gritando e chamando por ajuda. Sonolenta, Daphne ligou o abajur, e então, ela percebeu que o mesmo velho horrível de antes estava no pé de sua cama, olhando fixamente para ela. Em pânico, ela gritou e deixou o quarto às pressas.

Daphne: Pai, ele voltou! Ele está aqui! O velho está aqui!

Os gritos de Daphne e Daisy acordaram todos que estavam na mansão, e aos poucos, as luzes foram acesas. Daphne já estava no hall de entrada da mansão quando se lembrou do livro que havia deixado embaixo da cama. Temendo que o velho ou a polícia o encontrasse, ela decidiu retornar para pegá-lo. No caminho de volta, ela pegou uma das pás da lareira para se defender do velho, caso ele a atacasse. Porém, ao chegar, Daphne notou que ele não estava mais lá. Imediatamente, ela procurou pelo livro embaixo de sua cama, mas ele também havia sumido. Daphne, então, revirou a roupa de cama, os tapetes e as gavetas de seus móveis à procura do livro, mas não encontrou nenhum sinal dele. Também não havia sinais de como o velho havia fugido, visto que as janelas estavam trancadas pelo lado de dentro. No mesmo instante, seu pai apareceu com uma arma, e ao vê-la em choque olhando para a sua cama, ele a abraçou com força e a levou dali.

***

7 am

Nan: Vamos, querida, tome o seu chá!

As palavras de Nan fizeram Daphne deixar seus pensamentos. Ela aqueceu suas mãos frias na xícara quente, mas não sentiu vontade de beber nada.

Nan: Não se preocupe, não há ninguém aqui, querida. Tudo não passou de um pesadelo, vocês duas passaram por muito ontem à noite.

Daphne tinha muitas dúvidas sobre tudo o que havia acontecido, mas a única certeza era que o velho era real. Ao ver a filha em choque, imóvel, com a xícara nas mãos, Nan suspirou e chamou o marido, com a esperança de que ele pudesse fazê-la reagir. Bart conversava com alguns policiais e agentes do FBI, e após ouvir o pedido da esposa, decidiu intervir.

Bart: Querida, o protocolo de emergência foi seguido e todos os procedimentos de segurança foram realizados. Nada foi encontrado. Ninguém invadiu a mansão durante a noite. Não há o que temer, você está segura. Agora, você precisa se alimentar e descansar.

            Daphne, então, tomou um gole de seu chá, mas desabou em lágrimas logo em seguida. Comovido, o pai a abraçou, e procurou acalmá-la, mas o medo a fazia soluçar. No mesmo momento, o xerife Bronson Stone chegou e cumprimentou os Blakes.

            Bronson: Nan e Bart, eu sinto muito. Eu só consegui vir agora. Há uma hora, eu tive que intervir em uma ocorrência de invasão e vandalismo na casa de James Arthur. E o responsável era nada mais, nada menos, que o Dr. Emmanuel Raffalo! Acho que ele estava completamente bêbado…

            Daphne parou de chorar imediatamente ao ouvir o xerife, e prestou atenção em cada detalhe da conversa.

            Bronson: … de qualquer forma, depois que ele terminou de dar trabalho aos médicos de Darrow, eu tive que prendê-lo. Ele destruiu totalmente garagem, e oferecia risco aos moradores locais.

            Infelizmente, Daphne não conseguiu ouvir mais detalhes porque, no mesmo instante, ela ouviu Daisy discutindo em voz alta na sala de estar.

            Daisy: VOCÊ ESTÁ INSINUANDO QUE EU SOU LOUCA? EU NÃO SOU LOUCA! EU VI AQUELE HOMEM!

            A discussão fez com que os Blakes interrompessem a conversa. Antes de Bart verificar o que estava havendo, Daisy apareceu, furiosa, para explicar.

            Daisy: ESSES SEUS PSICÓLOGOS DE MERDA ESTÃO DIZENDO QUE EU SOU LOUCA! EU NÃO ESTOU LOUCA, EU VI UM VELHO NO QUARTO DA DAPHNE!

            Como uma criança mimada, Daisy cruzou os braços e fechou a cara, aguardando uma providência de seu pai. Em seguida, um casal de psicólogos forenses do FBI surgiu para explicar o que haviam falado para a garota. Ao perceber que Nan e Bart se interessaram mais pela versão dos psicólogos do que pela versão dela, Daisy ficou ainda mais irritada e se sentou ao lado da irmã. Daphne a encarou por um momento e lhe ofereceu chá, mas ela recusou. Nos minutos seguintes, Daisy se ocupou de interromper os psicólogos para dizer que eles estavam errados, e quando ela percebeu que seus pais acreditavam que ela e Daphne haviam delirado devido ao susto da noite anterior, ela recorreu à única pessoa que acreditava nela.

            Daisy: Você acredita em mim, né? Aquele velho estava lá!

            Daphne terminou o seu chá e concordou.

            Daphne: Sim, ele era real, eu também vi.

            Daisy: Ele não era real! Quer dizer… ele não pode ser uma pessoa de verdade, não há rastros de que uma pessoa esteve aqui… mas ele realmente estava lá, não estava?

            Daphne estremeceu ao perceber que Daisy confirmava suas suspeitas de que o velho era um fantasma.

            Daphne: É claro que era uma pessoa! O que mais poderia ser?

            Daisy: Sei lá… um espírito… ou, até mesmo, a própria morte! E ela está atrás de você, porque você já o viu duas vezes!

            O coração de Daphne acelerou, pois ela sabia que Daisy poderia estar certa. Porém, ela sabia que não havia mais o que temer, o velho já tinha levado o que ele queria.

Campus da Universidade de Darrow, Crystal Cove

8 de janeiro de 2023 – 8 am

 

Velma foi acordada com alegria pelo seu namorado. Ao abrir os olhos, ela percebeu que Shaggy parecia entusiasmado.

Shaggy: Vamos, querida, tipo, temos que ir! Será um grande dia!

Velma levantou lentamente e se espantou ao ver o namorado tão animado para investigar sobre o livro. Dez minutos depois, ao vê-lo colocar dois ingressos em cima da mesa da cozinha, ela entendeu o motivo de tanta alegria.

Velma: Sunday Roast da Tia Francilee, Norville? Nós estamos no meio de um mistério!

Shaggy ficou desconcertado e tentou se justificar.

Shaggy: Tipo, eu sei, mas infelizmente o Sunday Roast é uma tradição da família Rogers, então, a gente vai ter que ir a São Francisco amanhã resolver esse caso do livro…

Velma: Tradição? Como assim? Vocês nem são ingleses!

Shaggy: Tipo, nós éramos há uns 300 anos atrás, quando os primeiros Rogers pisaram nessa nação…

Velma: Norville, isso é inacreditável! Eu nem sei porque você comprou ingressos para esse evento, eu já havia combinado com você que nós iríamos descobrir informações sobre esse maldito livro hoje! Não é justo!

Shaggy: Er… uh… bem… mas… tipo, os ingressos foram bem caros…e além disso, o evento é pet friendly, lá na biblioteca eles nem deixam o Scoob entrar… então, acho melhor a gente deixar São Francisco para outro dia.

Scooby-Doo latiu para confirmar o que o dono havia dito, e Velma se irritou ainda mais.

Velma: Mas tem que ser hoje! Se nós formos amanhã, poderemos perder o livro para sempre, e nunca saberemos o que esse maldito livro tem a ver com todos esses casos sem solução!

Shaggy: Mas o Sunday Roast da Tia Francilee é só hoje também! Tipo, eu nunca mais vou poder ir a um evento assim! Já o mistério, fica tranquila, daqui a dois meses vai ter outro palímetro e a gente fica sabendo mais sobre a seita!

Velma: É PALÍNDROMO, NORVILLE! E, não, nós não podemos esperar que aconteça de novo! Você não viu as mensagens que eu te mandei? Tem algo horrível acontecendo em todo o país! E por isso, nós vamos para São Francisco e para Marin agora mesmo!

Shaggy olhou para Scooby-Doo e para os ingressos por um momento e, em seguida, olhou para a namorada. Após tomar coragem, ele tomou a sua decisão.

Shaggy: Tipo, desculpa, Vel, mas eu já prometi para o Scoob que…

Velma ficou tão irritada por ter sido trocada por um evento gastronômico que correu para o banheiro e bateu a porta com força. Norville se calou e procurou apoio emocional em seu cão, mas ele apenas sorriu e lambeu o seu rosto. Após se arrumar, ela deixou o banheiro com pressa e pegou as chaves do carro dele sem pedir permissão.

Velma: VOCÊ ME CONVENCEU A VOLTAR PARA A MISTÉRIO S/A, VOCÊ ME COLOCOU NESSA MERDA TODA, E AGORA ME DEIXA FAZER ISSO SOZINHA!

Antes que Shaggy pudesse dizer qualquer coisa, Velma bateu a porta da frente com raiva e saiu. Shaggy suspirou e olhou confuso para o cão, esperando novamente algum apoio emocional. Então, Scooby foi até a mesa e trouxe os convites com alegria.

Campus da Universidade de Darrow, Crystal Cove

8 de janeiro de 2023 – 9 am

 

Após uma boa noite de sono, Fred finalmente acordou se sentindo revigorado. Depois de preparar uma xícara de café, ele se sentou em frente ao computador para ver as últimas notícias. Não havia nada de novo no True Crime Forum, apenas centenas de novos usuários comentando nos posts antigos, e uma discussão interminável entre as filhas de Joel Marlow e os membros que o consideravam um assassino. Em seu celular, havia dezenas de mensagens de Velma – grande parte delas, reclamando de Shaggy -, e algumas poucas mensagens de Shaggy – dizendo como Velma era difícil. Não havia nenhum sinal de que sua noiva havia entrado em contato, e isso fez Fred perceber o quanto ele estava encrencado. Nas redes sociais, ele viu uma pequena nota em um site de famosos, mencionando que Daphne Blake havia sido hospitalizada na noite anterior. Entretanto, nenhum dos detalhes macabros foi divulgado. A simples menção ao nome “Daphne Blake” induziu Fred a acessar o perfil dela, para saber se ela estava bem. Porém, lá não havia nenhum tipo de atualização.  Então, um impulso inconsequente lhe fez procurar pelo número que havia ligado para ele na noite anterior. Felizmente, antes que tais sentimentos efetuassem a ligação, a razão o impediu. “Por que raios você se importa? Eu não sei por que você se importa, você não deve se importar!”, Fred repetiu para si mesmo, em voz alta, relembrando a frase que a própria Daphne havia dito antes de desligar. Quase que imediatamente, como um sinal divino, Fred recebeu uma mensagem do seu pai que dizia: “Eu realmente espero que você faça a coisa certa hoje, filho”, e ela foi suficiente para trazer de volta toda a lucidez que ele precisava para desistir daquela ligação.

Embaixo da frase, Brad havia mandado um vídeo curto, e em seguida, ele questionou: “Esse não era o seu professor de ciências? Nesta madrugada, ele foi detido enquanto destruía a garagem de James Arthur. Depois, trouxeram-no para a emergência, ele estava completamente drogado”. Fred, então, abriu o vídeo, e logo reconheceu o professor Emmanuel Raffalo. Nas imagens, o professor estava totalmente fora de si, e gritava por ajuda, enquanto uma equipe de enfermeiros tentava contê-lo.

Emmanuel Raffalo: Me soltem! Vocês não podem me deixar aqui, eu não tenho tempo! Eu preciso voltar, eu preciso pegar o que é meu, eu tenho o direito de pegar o que é meu! Me larguem, eu estou ficando sem tempo!

No mesmo momento, Fred procurou por notícias locais a respeito do que havia acontecido. A manchete de um jornal de Riverdale dizia: “Renomado professor de ciências preso por vandalizar casa do assassino de Molly Becker”. No entanto, ao acessar a notícia, Fred viu uma foto do assoalho da garagem de James Arthur completamente destruído, e a foto seguinte mostrava o professor Raffalo sendo detido. Aquilo foi o suficiente para fazê-lo ligar para Velma.

Velma: Oi Fred, estou dirigindo, seja breve…

Fred: Ouviu as notícias sobre o professor Raffalo?

Velma: Hmm… nada além de pessoas contestando o Nobel que ele ganhou o ano passado… e, para ser sincera, eu concordo com elas, os trabalhos dele sobre pontos quânticos é ridículo!

Fred: Eu me refiro a notícias de pessoas normais, Velma… Emmanuel Raffalo foi preso ontem à noite após vandalizar a garagem de James Arthur. Meu pai disse que ele estava completamente fora de si quando foi levado para a emergência. Ele parecia bastante assustado, como se estivesse buscando algo…

Velma: Você quer dizer, algo relacionado a…?

Fred: Ao caso Molly Becker, talvez? James e Emmanuel eram amigos e trabalhavam juntos há muito tempo… ele pode ter sido um cúmplice, e agora que o caso foi resolvido, está tentando esconder algo que possa incriminá-lo.

Velma demorou um pouco para responder.

Velma: Hmmm… não acho que seja plausível. Em 1997, o Prof. Raffalo ainda era um estudante do MIT e estava a várias milhas de Riverdale. Além do mais, ele não é branco e Raffalo parece ser um sobrenome estrangeiro, então seria burrice demais se ele fosse racista…

Fred notou certa irritação na voz dela, por ser obrigada a dar uma resposta complexa enquanto dirigia. Ele sabia que Velma odiava ser interrompida enquanto estava concentrada em uma tarefa, mas, mesmo assim, ele insistiu.

Fred: Então, talvez, seja algo relacionado à morte de James Arthur. Por que outro motivo ele destruiria a mancha e o local onde o corpo dele foi encontrado?

Velma: Hmmm… é… talvez seja…

Fred: Se ele estivesse procurando um livro, estaria dentro da casa. E se fosse uma simples ferramenta, ele não precisaria destruir o assoalho para procurar…

Velma: Fred, me desculpe, mas não posso acompanhar o seu raciocínio agora. Se você me disser que 2+2 é 5 enquanto eu estou dirigindo, eu irei concordar com você. Podemos nos falar mais tarde?

Fred concordou e encerrou a ligação. Por um momento, ele pensou em ir até o Hospital Darrow para falar com Emmanuel Raffalo, mas, novamente, a frase de seu pai o impediu. “Chega de fazer besteira”, ele concluiu, enquanto se arrumava para encontrar Alice. Antes de sair de casa, porém, o universo o instigou ao erro. Sua noiva Alice enviou uma mensagem dizendo: “Estou indo para o hospital, te espero lá”.

Biblioteca Comunitária de São Francisco

8 de janeiro de 2023 – 11:30 am

 

Ao chegar à biblioteca, Velma foi para a sala de informática, para consultar os registros gerados após a devolução do livro no dia anterior. Para a sua surpresa, o exemplar não constava nos registros de entrada, nem de doações, nem de devoluções. Também não havia registros do livro no acervo atual, nem qualquer tipo de informação sobre ele nos bancos de dados da biblioteca. Velma, então, decidiu pedir a ajuda de uma das bibliotecárias.

Velma: Olá, eu me chamo Velma, e preciso de um livro chamado “Numerologia Cabalística”… é do autor Frank Melker… eu não estou conseguindo encontrá-lo no acervo…

A bibliotecária sorriu e digitou as informações no computador, mas nada foi encontrado. Então, a moça sorriu e informou que a biblioteca não possuía o livro que ela procurava. Incrédula, Velma suspirou de raiva e continuou.

Velma: Olha, me desculpe, mas isso é impossível. Eu devolvi esse livro ontem, depois de encontrá-lo no porão do meu avô, então, com certeza ele está em algum lugar dessa biblioteca!

Ao ver Velma elevar a voz, duas outras bibliotecárias se aproximaram da moça, para tentar resolver o problema. Novas buscas foram feitas em outros computadores, e, mais uma vez, nada foi encontrado. Ao perceber que sua raiva não ajudaria, Velma tentou mudar de estratégia para fazer as mulheres lhe ajudarem: ela fingiu que era alguém importante.

Velma: Eu realmente sinto muito por isso, garotas, mas… eu gostaria que vocês entendessem o meu desespero para conseguir aquele livro! Está vendo aquele banco ali, do outro lado da rua? Pois bem, o meu avô o fundou logo após a crise… e, neste momento, o que me impede de ser uma banqueira bilionária são as informações contidas naquele livro! Então, eu ficaria realmente grata se vocês me ajudassem a encontrá-lo, e ficaria muito feliz em bonificar cada uma de vocês por isso!

Velma agiu como as influencers ricas e mimadas que ela odiava, tipo Daphne Blake, e agradeceu por Fred e Shaggy não estarem lá para presenciar aquela cena vergonhosa. Mas, ela estava desesperada, e sabia que somente a promessa de um prêmio em dinheiro mobilizaria aquelas mulheres. Para a sua surpresa, muitas pessoas ao redor ouviram as suas palavras e, curiosamente, também se dispuseram a ajudar. Entretanto, após uma hora de intensa procura, nada foi achado. As câmeras de segurança confirmavam que o livro foi colocado na caixa de devoluções no dia anterior, porém, ele não estava mais na caixa quando uma bibliotecária devolveu cada um dos livros. E ele também não estava perdido em nenhum dos cantos da biblioteca.  Nem mesmo Lisa Genau, a jovem bibliotecária que estava lá no dia anterior, soube explicar o que tinha acontecido.

Lisa: É como se ele tivesse evaporado. Eu mesma coloquei uma etiqueta magnética nele no momento em que você devolveu, então, a porta da biblioteca apitaria se alguém tentasse levá-lo.

Decepcionada, Velma agradeceu e saiu. A promessa de uma grande recompensa em dinheiro fez as bibliotecárias anotarem o telefone de Velma e prometerem ligar, caso o livro aparecesse. Após se despedir, ela saiu em alta velocidade rumo ao condado de Marin. Ela precisava pegar aquele livro antes que ele também desaparecesse.

 

Hospital Darrow, Crystal Cove, 8 de janeiro de 2023.

            12:30 pm

 

Depois de conversar e se explicar por horas, Fred conseguiu convencer Alice a perdoá-lo. Finalmente, as coisas haviam voltado ao normal entre eles, e eles voltaram a ser o casal-exemplo que seus pais – e os dela – tanto queriam. Poucos minutos depois, Fred se odiou por isso. E nem mesmo o orgulho evidente no rosto de seu pai o fez se sentir melhor. Afinal, o casal-exemplo não era um casal feliz. Havia cansaço constante no rosto dela, e culpa em todas as ações dele; havia expectativas frustradas no coração dela e, no dele, apenas desinteresse. A incompatibilidade do casal-exemplo se tornou evidente quando, ao fim do estágio, Alice foi com as amigas ao clube de golfe, e Fred permaneceu na enfermaria da psiquiatria para investigar Emmanuel Raffalo. Alice sorriu desconcertadamente e disse: “Eu te espero lá, querido”, mas havia um “não me decepcione” implícito em seus olhos.

Ao chegar ao quarto em que o Prof. Raffalo estava internado, Fred o viu sentado na cama, abatido e com o olhar fixo na parede. O prontuário dizia “surto psicótico”, mas ele parecia calmo e consciente. A lucidez dele foi comprovada quando ele reconheceu Fred e o cumprimentou.

Emmanuel: Frederick! Que prazer, cara. Quem diria. Alguém que não sabia diferenciar um álcool de um aldeído se formando em Medicina…

Fred: É que eu tive a sorte de nunca mais ver alcoóis e aldeídos na minha vida, então, aqui estou.

Os dois riram e apertaram as mãos, e Fred notou que as mãos do professor estavam muito machucadas.

Fred: Fique tranquilo, eu não vim aqui como médico. Vim como aluno. Fiquei sabendo que o senhor ganhou um Nobel, meus parabéns! Bem, eu não faço ideia do que sejam pontos quânticos, mas parece ser algo brilhante…

O professor agradeceu e sorriu por um momento, mas logo a sua lucidez se desfez. Ele ficou pálido e seu semblante se tornou sombrio e assustado. No mesmo instante, ele segurou com força nos braços de Fred e implorou por ajuda.

Emmanuel: Agora, você precisa me tirar daqui, Frederick! Eu estou ficando sem tempo! Você precisa me ajudar a recuperar o que é meu, antes que a polícia pegue, ou que ele me ache!

Fred segurou com força nos braços do velho, e isso fez com que ele o soltasse. Emmanuel, então, ficou muito agitado e nervoso, e começou a andar em círculos pelo quarto.

Fred: Antes que a polícia pegue o que, professor? E quem está procurando o senhor?  Se o senhor não disser, não posso ajudá-lo.

Imediatamente, o professor parou de andar, mas antes de dizer, ele hesitou e suspirou.

Emmanuel: Eu não posso dizer! Só me ajude a sair daqui, Frederick! Eu não tenho tempo! Se eles acharem antes de mim, eu… eu… eu estou morto!

O desespero do professor aumentou e ele começou a chorar. Suas mãos tremiam, e Fred percebeu que o medo que ele sentia era real.

Fred: Professor, acalme-se, não há motivos para entrar em pânico. O que quer que seja, e o que quer que o senhor tenha feito, ninguém irá fazer nada contra o senhor por causa disso. Você apenas será julgado de acordo com a lei e irá…

Emmanuel: DOIS DIAS JÁ SE PASSARAM, FREDERICK! EU PRECISO RECUPERAR AQUILO, O TEMPO ESTÁ ACABANDO!

Após gritar, o professor perdeu totalmente o controle, pegou Fred pelo colarinho e o ameaçou. Por ser maior e mais forte, Fred conseguiu se soltar, mas o velho continuou a agredi-lo com raiva, como se ele fosse o responsável por impedi-lo de recuperar o que ele queria. Os gritos do professor chamaram a atenção de uma equipe de enfermeiros, e Fred deixou o quarto no momento em que eles apareceram para sedar Emmanuel. Ao sair, Fred viu o professor deitar na cama mecanicamente, como se fosse um zumbi, e fixar o olhar no teto. Após receber o medicamento, seus olhos e bocas ficaram ligeiramente abertos, formando uma expressão de horror.

            Condado de Marin, 8 de janeiro de 2023.

            3:00 pm

Quando o celular indicou que Velma havia chegado ao destino final, ela comparou a casa bonita e alegre do Street View com a casa sombria, em ruínas, ao lado de seu carro - e logo se arrependeu de estar ali. Ela se sentiu um pouco mais segura quando viu uma placa dizendo “Hassler – Antiguidades e Artigos de segunda mão”, por isso, decidiu descer do carro e seguir em frente com seu propósito. A campainha foi atendida por uma moça jovem, tatuada e de aparência gótica, e isso fez Velma duvidar novamente se deveria continuar.

Velma: Boa Tarde! Eu sou a Velma, eu reservei um livro na sua loja online nesta madrugada, e vim aqui buscá-lo.

Meg: Ah, claro! Olá Velma, que bom que veio! Eu sou a Meg!

A garota sorriu e convidou Velma para entrar – e ela a seguiu, mesmo ciente de que ela poderia nunca mais sair daquele lugar. Ao passar por uma sala de estar em que um jovem de cabelos longos assistia a um jogo de futebol, a garota mencionou que Velma era a compradora do livro, e ele a cumprimentou. Então, Velma seguiu a garota até uma garagem imunda, onde havia, entre outros itens, o tal livro. Velma ficou feliz de ter um exemplar do livro em mãos, então, imediatamente, pagou a quantia prometida e o pegou.

Meg: Ah… isso veio com ele! Pode ficar!

Com a ponta dos dedos, a garota pegou um pedaço de tecido verde oliva muito sujo, com botões de metal, e entregou para Velma. Velma estremeceu ao se lembrar do livro que ela mesma havia desenterrado.

Velma: Como assim “veio com ele”?

Meg: Ah… uh… é uma longa história… meu namorado e eu gostamos de sair por aí explorando lugares abandonados com detectores de metal… e na semana passada, nós fomos àquele forte militar abandonado na ilha Angel. O detector de metal apitou perto de uma árvore. Quando desenterramos, achamos esse livro enterrado, e ele estava enrolado nesse tecido. Para ser sincera, eu fico feliz que a gente tenha vendido rápido, porque isso me dá arrepios… me parece que isso está relacionado a um crime… ou a ocultismo… ou, talvez, aos dois ao mesmo tempo… eu me senti mal quando o abri lá no forte… é que eu sou meio bruxa, então eu consigo sentir uma energia muito ruim vindo dele…

Velma sentiu o medo gelar suas mãos. Mesmo assim, ela pegou o tecido e o analisou com cuidado. Próximo aos botões, havia uma pequena placa de tecido, onde havia bordado o nome Mailand, e isso fez Velma concluir que aquele pedaço era parte de uma camisa militar.

Greg: Querida, não sei se é uma boa ideia…

Ao ouvir a voz masculina, Velma se virou, e o casal olhou de maneira assustada para ela. Em seguida, a garota riu de maneira constrangida e tentou disfarçar a interrupção de seu namorado.

Meg: Desculpe… uh… meu namorado só está um pouco nervoso sobre essa venda…

Greg: Você não é da polícia, é?

A interrupção brusca deixou a garota ainda mais constrangida, e Velma balançou a cabeça para negar.

Greg: Nem pretende levar isso para a polícia, né?

Meg: Desculpe, Velma, o Greg só está preocupado e…

Velma: E eu posso saber o motivo da preocupação?

A moça, então, olhou com raiva para o rapaz, por ele ter dito coisas que, talvez, fizessem com que Velma desistisse de pagar um valor abusivo por um livro mofado. Mesmo repreendido, Greg continuou.

Greg: Bem… aí está escrito Mailand… e… você sabe… o caso Toby Mailand… aquele soldado que foi herói no Vietnã e depois morreu misteriosamente no forte… sei lá, eu acho que isso pode ser uma pista para o caso dele…

Meg: Velma, realmente me desculpe por isso, meu namorado passa o dia lendo o True Crime Forum e esses blogs de crimes da internet, então…

Greg: Não, isso não é bobagem de internet, o caso desse cara ainda está sem solução! E é proibido entrar em área militar sem autorização, então, o que eu quero deixar claro, é que eu não quero ter problemas com a polícia por causa de uma merda de um livro, ok?

Velma: Fique tranquilo, Greg, você está fazendo negócio com uma simples nerd que coleciona livros raros. Ninguém irá saber que vocês estiveram ilegalmente no forte.

O rapaz pareceu mais tranquilo e não interrompeu mais. Então, Velma agradeceu e se despediu do casal. Entretanto, quando ela entrou no carro, o rapaz se aproximou novamente.

Greg: Olha… eu não quero me intrometer, mas eu acho que você deveria entregar esse tecido às autoridades… pode ser uma pista…

Velma: Então, quer dizer que você não quer arrumar problemas para você, mas quer que eu arrume para mim?

Greg: Você pode fazer uma denúncia anônima, do mesmo jeito que fizeram no caso Molly Becker. Esse caso está há uns 50 anos sem solução, esse tecido por ajudar a resolver tudo.

Velma: Greg, me desculpe, mas eu acho que você deveria parar de ler esse True Crime Forum. Está derretendo a sua sanidade. Se nem os militares e o FBI resolveram o crime, quem somos nós para resolver?

Velma acelerou antes de obter uma resposta. Na verdade, ela fez isso porque ela mesma estava curiosa para saber sobre o caso Toby Mailand. Quando finalmente deixou a cidade, ela parou em um posto de combustíveis e pesquisou a respeito. Para o seu espanto, Toby Mailand era um dos casos que ocorreram em datas-palíndromo em Marin. E no local onde o corpo de dele foi encontrado também havia uma mancha escura. Velma, então, decidiu analisar o livro, e buscar nele alguma informação sobre Toby. Após folhear algumas páginas, um pedaço de papel se desprendeu e caiu em seus pés. Ao pegá-lo, Velma ficou em choque: o papel, na verdade, era uma conta de telefone muito antiga em nome de Herbert Stevins. Imediatamente, ela fotografou a sua descoberta, e em seguida, teve a brilhante ideia de fotografar todas as páginas do livro, para não correr o risco de perdê-lo novamente.

Enquanto ela fazia isso, ela ouviu um carro buzinar logo atrás dela. Ao olhar no retrovisor, ela viu um homem furioso pedindo para ela sair do local, pois estava atrapalhando. Velma largou o livro por um momento, ligou o carro e o estacionou poucos metros adiante. No momento em que ela voltou a fotografar o livro, o mesmo homem buzinou novamente e começou a xingá-la. Irritada, Velma jogou o celular e o livro aberto no banco traseiro e decidiu sair do local. Ao entrar na rodovia, ela tentou ultrapassar um carro para chegar à faixa que a levaria a outro posto. Entretanto, no momento que ela olhou no retrovisor, ela notou que havia um homem velho, pálido, vestido com roupas pretas muito antigas, no banco de trás do carro. O velho tinha um efeito luminoso estanho em seus olhos – como olhos de animais iluminados por uma fonte de luz. Velma se assustou e gritou de pânico. E, infelizmente, o susto a fez virar a direção do carro bruscamente e bater em alta velocidade no carro que ela tentava ultrapassar.


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