Revolting Child escrita por SnowShy


Capítulo 6
Perdedora




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Violet chegou furiosa no consultório do Dr. River. Ele logo presumiu que ela tivesse brigado com a mãe novamente ou que houvesse acontecido algo muito ruim na escola, porém, a menina, sem dizer nada, tirou o jornal de dentro da mochila e entregou ao doutor, que logo entendeu o porquê de sua raiva. A notícia da primeira página dizia que o menino Charlie Bucket havia ganhado a própria fábrica de Willy Wonka como prêmio do concurso dos convites dourados.

— Como você está se sentindo com isso? — Perguntou o terapeuta.

— NÃO DÁ PRA VER COMO EU TÔ ME SENTINDO??? EU NÃO ACREDITO QUE ELE GANHOU! Quer dizer, eu já desconfiava, mas a fábrica inteira??? Esse era o prêmio??? Isso não é justo! Eu só não consegui porque virei uma amora gigante, AI QUE RAIVAAAA!!! E o pior é que eu já tinha dito lá na escola que ninguém tinha ganhado o prêmio, aí hoje, justo a idiota da Cornelia apareceu com esse jornal rindo da minha cara! ARGH QUE VONTADE DE QUEBRAR ALGUMA COISA!

— Eu tive uma ideia. O que você acha de descontar a sua raiva naqueles brinquedos?

O doutor se referia aos bichinhos de pelúcia que estavam lá. Os outros brinquedos estavam todos guardados num armário, então Violet não quebraria nada se jogasse os que estavam expostos contra a parede. Então foi o que ela fez, ficou jogando os bichinhos pra todo lado e tentando ragar alguns deles (que eram bem resistentes) enquanto xingava Charlie de tudo quanto é nome.

 

Na época do concurso, mesmo que não estivesse nem aí pros outros 4 ganhadores dos convites dourados, Violet havia analisado muito bem cada um de seus concorrentes e não tinha a menor dúvida de que iria ganhar. Havia classificado os 4 na seguinte ordem, do mais forte para o mais fraco:

1° - Mike Teavee - Ele era um jogador e parecia ser muito inteligente e sagaz. Porém, trapaceou para conseguir o convite dourado, o que significava que jogava sujo. Se Violet ficasse atenta, poderia dedurá-lo e fazê-lo ser eliminado.

2° - Veruca Salt - O pai da menina fazia de tudo pra ela conseguir o que queria, mas na verdade essa era a única vantagem que ela tinha. Porém Violet imaginava que isso não seria relevante para a competição da Fantástica Fábrica de Chocolate. Pelo menos era o que esperava que acontecesse... Enfim, aquela Veruca podia até se achar alguma coisa, mas sozinha ela não seria capaz de fazer muito. Era só uma menina ridícula e irritante, mesmo. Ah, como aquela mimadinha nojenta era insuportável! Dava vontade arrancar aqueles cachinhos perfeitos da cabeça dela. Ela podia até não ser a concorrente mais forte, mas com certeza era quem mais irritava Violet! Enfim...

3° - Augustus Gloop - O desespero do menino por chocolates era a única coisa poderia favorecê-lo ao tentar ganhar o prêmio, mas ele parecia agir sem pensar e com certeza não era inteligente.

4° - Charlie Bucket - Ele era bonzinho, era o pobre da turma. Só isso mesmo.

 

— Como foi que ele ganhou?... — Disse Violet novamente após se acalmar um pouco e sentar na poltrona. — Ele era o concorrente mais fraco! Eu até disse na cara dele que era um perdedor...

— Por que você fez isso?

— Obviamente porque eu achava que ele ia perder, né?

— Bom, mas quem ganhou foi ele. O que significa que, na verdade, ele era o mais forte. E você precisa aceitar isso.

— Até parece que ele era o mais forte! Eu acho que o Sr. Wonka queria que ele ganhasse desde o começo e deu um jeito de eliminar todas as outras crianças, isso sim!

— Como assim?

— Eu acho que foi tudo marmelada, o Sr. Wonka colocou armadilhas pra gente. Tipo, ele sabia que se colocasse um chiclete na minha frente eu ia querer experimentar e fez questão de colocar um que estava com defeito.

O Dr. River ficou um pouco chocado com essa suposição. Se fosse verdade, seria muita maldade com as crianças... Mas então pensou numa coisa:

— Ele te ofereceu o chiclete?

— Não... — Menos mal... — Na verdade ele disse pra eu não experimentar porque ainda não tava pronto, mas... ah, eu tenho certeza que ele sabia que eu ia experimentar e queria que eu fizesse isso!

— Entendi. Por isso você chamou de "armadilhas"... Sabe, eu entendo que você e a sua mãe, pelo que ela me contou, culpem o Sr. Wonka por isso, afinal, ele não devia ter exposto as crianças a situações perigosas assim e o que aconteceu com você foi mesmo horrível! Mas você não pode ignorar que quem quis experimentar o chiclete foi você apesar do aviso que ele deu. E qualquer outra criança poderia ter feito isso, inclusive o Charlie Bucket. Eu me lembro da entrevista que fizeram com a família dele quando ele ganhou o convite dourado e eles eram bem humildes... Você não acha que foi difícil pra uma criança que mal tinha o que comer resistir a um chiclete que valia por uma refeição inteira?

A menina não soube o que responder, então não disse nada. O doutor prosseguiu:

— Violet, por que você acha que era tão importante pra você ganhar esse prêmio?

— Sério? Depois de saber como esse prêmio é incrível você ainda pergunta???

— Mas você não disse que quer ser uma atleta profissional quando crescer?

— Tá, e daí? O que isso tem a ver?

— Em algum momento você já desejou ser a dona de uma fábrica de doces? Você queria essa carreira pra sua vida?

— Eu nunca tinha pensado nisso, mas se eu ganhasse, eu podia...

— Mas você não ganhou. E não precisava ganhar. Você não acha mais coerente que as suas vitórias tenham a ver com os seus objetivos ao invés de querer ganhar em qualquer coisa? Você não acha que talvez o Charlie Bucket precisasse mais desse prêmio do que você ou qualquer outro competidor? Você não acha que ele era o que mais merecia o prêmio?

Violet ainda estava indignada e achou as palavras do Dr. River totalmente sem sentido. O prêmio deveria ter sido dela e pronto. Ela estava odiando se sentir uma perdedora! E o pior é que isso havia acontecido há quase dois meses, ela já sabia que tinha perdido e, acreditem ou não, meio que já tinha se conformado com isso. Porém, talvez fosse apenas pelo fato de não ter saído nenhuma notícia a respeito do prêmio e de ninguém além dos que foram à fábrica saberem que ela perdeu... Agora, era como se sua derrota tivesse sido oficializada e isso era muito embaraçoso! Violet achou que nunca mais seria vista como uma vencedora por ninguém, ainda mais agora que sua mãe não a deixava mais competir... Isso significa que a última competição de que participou marcou o seu fracasso. Sim, foi a última, porque tecnicamente era "trapaceou" na única competição que participou depois do concurso da fábrica, a de ginástica artística, e foi desclassificada. A sessão acabou antes que a menina pudesse contestar as afirmações do terapeuta. Ela se foi ainda frustrada pela notícia do jornal, o qual guardou de volta na mochila; porém consideravelmente mais calma do que quando chegou. Ela sempre saía mais calma.

***

Na noite daquele mesmo dia, Violet e Scarlett estavam jantando em casa e assistindo TV enquanto comiam. Era uma boa maneira de não terem que se falar e não se irritarem uma com a outra. Então, durante o noticiário, passou uma entrevista com Willy Wonka, o novo herdeiro da fábrica e a família dele. Era difícil dizer quem ficava mais sem jeito em frente às câmeras, mas impossível afirmar que não estavam todos muito felizes. As Beauregarde, porém, não repararam em nada disso, apenas ficaram estáticas durante toda a entrevista. Nenhuma das duas dizia nada, mas pensavam a mesma coisa: "fracassamos!". Recordavam detalhe por detalhe tudo o que havia acontecido na fábrica e tinham o orgulho muito ferido por não terem ganhado a competição.

Mas, apesar de tudo, a Srta. Beauregarde chegou a uma conclusão oposta à de sua filha. Depois que acabou a entrevista, desligou a TV e disse:

— Acho que foi melhor assim.

Não por Violet ter virado amora, claro, com isso a mãe da menina nunca se conformaria! Mas pela família Bucket ter ido morar na fábrica. Eles com certeza precisavam mais disso do que elas e Scarlett com certeza nunca mais entraria naquele lugar!

Violet não respondeu ao comentário da mãe, apenas deixou sua comida de lado e foi para o quarto. A Srta. Beauregarde achou melhor não ir atrás dela, pois, considerando a situação atual, as consequências certamente seriam explosivas.

Lá em cima, a menina tirou o jornal de dentro da mochila e ficou encarando a matéria da primeira página, a foto de Charlie, a foto da fábrica; segurando os papéis com força. Ela quis rasgar o jornal, mas não o fez. Por pior que se sentisse, numa atitude meio masoquista, achou que precisava guardar aquilo. Era como uma autopunição por ter perdido. Violet olhou para os seus troféus e medalhas, distribuídos pelo quarto. Tanto esforço, pra nada...

Deixou o jornal dentro de uma gaveta pra tentar esquecer essa história, mas, durante uma semana, o tirou de lá todos os dias, pelo menos uma vez por dia. Ficava relendo a matéria e tendo vários pensamentos. No início, esses pensamentos vinham carregados de raiva, mas, ao longo da semana, aquela raiva foi diminuindo, os pensamentos da menina foram mudando e olhar para aquele jornal foi se tornando menos doloroso. Aos poucos, as palavras do Dr. River começavam a fazer sentido para ela. E a competição em questão e o motivo para ter perdido também. Bem como o motivo para o "concorrente mais fraco" ter ganhado...

Sendo assim, na sessão seguinte, Violet disse ao doutor que talvez não tivesse mesmo merecido ganhar o prêmio. Disse que não sabia como seriam as provas do concurso da Fantástica Fábrica de Chocolate e achava que elas só começariam depois que o Sr. Wonka mostrasse a fábrica aos visitantes. Porém, chegou à conclusão de que aquelas "armadilhas" nas quais ela e os outros 3 perdedores caíram eram justamente as provas. Sendo assim, por mais que lhe doesse admitir, ela falhou. Foi eliminada na segunda prova. Ficou em penúltimo lugar, só conseguiu ganhar do Augustus Gloop. Que vergonha...

Levou mais ou menos uns 20 minutos pra Violet conseguir dizer essas coisas em voz alta, e, mesmo sendo uma menina que fala muito alto, ela falou num volume que, se tivesse uma mosca voando na sala, não daria pra ouvir. Mas o terapeuta ficou feliz com a mudança de percepção dela. Porém, o que mais o surpreendeu foi o que veio em seguida. Pela primeira vez, Violet falou bem de alguém que não era ela mesma:

— O senhor tinha razão quando disse que o Charlie mereceu ganhar. Ele precisava mesmo e... também... eu acho que ele é muito legal. Legal demais até... por isso eu achei que ele fosse fraco.

O Dr. River sorriu, impressionado, e respondeu:

— Talvez o que você chama de força não seja o único tipo de força que existe.

— É, talvez... Okay, acho que já aprendi essa lição. Podemos mudar de assunto agora?

— Tudo bem. Mas antes eu preciso dizer que você fez muito bem em aceitar e confessar todas essas coisas. É sinal de que está começando a ficar mais humilde e isso é uma coisa boa! Você lembra de quando eu falei do significado das violetas?

— Ah, é, eu esqueci! — Disse Violet, indo pegar sua mochila.

O doutor achou que ela estava dizendo que tinha se esquecido do significado das violetas, mas na verdade ela tinha se esquecido de mostrar o livro das flores completo e seus novos desenhos a ele. A menina os tirou da mochila, dizendo que ia mostrá-los na semana anterior mas acabou se esquecendo por causa do jornal. E o psicólogo ficou impressionado com o que viu. Violet ficou feliz em ver que ele tinha gostado e reconhecido as violetas, significava que o desenho tinha ficado bom.

— E essas são hortênsias. — Ela disse, apontando para o outro desenho. — Hortensia é o meu nome do meio, mas eu só descobri a espécie delas depois que já tinha desenhado, acredita?

— Ah, quer dizer que você andou pesquisando sobre flores?

— É... mas eu ainda não sei o que elas significam, o livro que eu li só tinha o nome científico e o nome comum das plantas.

— Se eu não me engano — disse o Dr. River —, elas representam devoção, coragem, determinação...

— O que é "devoção"?

— Dedicação. 

— Ah! Legal! Acho que o meu primeiro nome devia ser Hortensia, esses significados têm bem mais a ver comigo!

— É, têm a ver mesmo! — Concordou o doutor. — Mas eu acho que você também tem potencial pra ser uma violeta se começar a se importar mais com os outros.

Violet não deu muita importância no momento, mas guardou na memória o que o doutor disse por último. Talvez, algum dia, ela realmente se tornasse uma pessoa mais humilde, leal e de sentimentos puros, como as violetas...

Enfim, ao longo daquela sessão, Violet acabou se lembrando de uma outra coisa: não tinha mascado chiclete nenhuma vez naquela semana. Nem tinha pensado nisso, na verdade. As únicas vezes em que pensou em chiclete foi se arrependendo por experimentado o chiclete refeição e pensando em como era bobinha no passado por achar que os chicletes faziam dela uma campeã. Mas agora a menina estava satisfeita em perceber que conseguia viver sem eles.

***

Violet não queria vencer tantas competições somente para alimentar seu ego. Ela também tinha necessidade de aprovação. Certamente a pessoa que ela mais queria impressionar era a mãe dela, que era quem a incentivava a competir. Claro, isso antes... Agora que não conseguia mais a aprovação dela estava tentando chamar sua atenção de outras maneiras. Porém, depois de um tempo, o Dr. River descobriu que havia outra pessoa que ela sempre quis que a aceitasse. Não tanto quanto sua mãe, mas com certeza mais do que os jurados das competições. 

Na verdade, ele já tinha começado a desconfiar disso numa brincadeira de faz-de-conta que eles haviam feito em uma das primeiras sessões. Violet não era uma criança que pensava em coisas mágicas e fantasiosas, então as historinhas que ela inventava eram bem pé no chão, só com alguns exageros de vez em quando. Na brincadeira em questão, ela fez de conta que era uma cantora mirim internacionalmente famosa chamada Diva Pop. Até inventou uma música* lá na hora, com coreografia e tudo. Na história, o pai da Diva Pop era bem presente, era o agente dela e ficava o tempo todo incentivando e apoiando tudo o que ela fazia. Basicamente, ele tinha o mesmo papel que Scarlett na vida real. Mas não era à toa que a menina tinha escolhido uma figura paterna para esse faz-de-conta...

Pelo que a mãe da menina contou, o doutor imaginava que não seria fácil para Violet falar sobre o pai e, na época em que essa sessão aconteceu, ele até pensou em questionar a respeito disso, mas a conversa que tiveram depois da brincadeira acabou tomando outro rumo, pois Violet ainda era bastante obcecada por chicletes na época e, inclusive, os mencionou várias vezes em sua musiquinha. Enfim, foi nesse dia que ela confessou que ainda mascava chiclete escondida e tudo mais.

Mas, em algum momento, eles teriam que falar sobre o pai dela, afinal, ter sido abandonada antes de nascer não era uma coisa qualquer, é claro que a afetava. A oportunidade de tocar no assunto chegou quando Violet, em uma das sessões, contou que sua mãe tinha um namorado novo. O doutor perguntou como ela se sentia em relação a isso e a menina disse:

— Muito bem! Agora que ela tá com ele, não tá mais pegando tanto no meu pé. Pena que, pelo histórico dela com homens, eu sei que não vai durar muito...

— Você queria que fosse diferente? Que a sua mãe tivesse relacionamentos mais longos?

— Sei lá... Eu não me importo com os caras que ela namora e eles também não se importam comigo, então eu acho que não ia fazer muita diferença...

Na verdade, Violet nunca tinha pensado nisso. Mas é claro que ia fazer diferença. Se isso acontecesse, a vida dela toda podia mudar e ela não sabia se isso seria uma coisa boa, por mais que, no momento, quisesse que sua mãe passasse o maior tempo possível com esse namorado novo cujo primeiro nome ela nem sabia.

— Mas isso nunca vai acontecer mesmo, então eu acho que não faz sentido pensar nisso... — Ela respondeu depois de pensar um pouco.

— Talvez... — Disse o doutor. — Mas só porque a gente acha que alguma coisa nunca vai acontecer não quer dizer que a gente não pense...

— Bom, eu nunca penso em ter um padrasto.

— E... no seu pai? Você pensa nele?

A menina foi pega de surpresa. Teve uma sensação ruim, uma mistura de raiva, tristeza e nervosismo.

— Não. — Respondeu. — Eu não tenho como pensar nele, eu nem conheço ele, não sei o nome dele, não sei como ele é, a única coisa que eu sei que ele foi embora e eu odeio ele! — Ela disse tudo num fôlego só.

— Você não sabe nada mesmo sobre ele?

— Por que a gente tem que falar disso?

— A gente não precisa falar se você não quiser. Mas a gente tá aqui pra você aprender a lidar com os seus problemas e o melhor jeito de começar é falando deles.

— Eu não tenho um problema com o meu pai. Como eu posso ter problema com alguém que eu não conheço?

— Mas mesmo sem conhecer você pode odiar ele?

Violet não soube o que dizer. Talvez ela tivesse, sim, problemas com alguém que não conhecia. E ela pensava, sim, em seu pai. Ela não queria e achava que não devia pensar nele, mas pensava. E também achava que devia odiá-lo pelo que ele fez, por isso sempre dizia a si mesma que o odiava. Mas não tinha certeza se era isso o que sentia.

— Na verdade... — Ela disse, um pouco hesitante e sem o tom de raiva que tinha antes. — Eu acho que ele me odeia. E que é por isso ele nunca apareceu...

Ela ficou um tempo em silêncio e o doutor achou melhor não dizer nada. A menina tinha dito que não queria falar e estava pensativa, então era melhor esperar até ela querer dizer alguma coisa, nem que fosse pedindo pra mudar de assunto como costumava fazer no início da terapia e ele tocava num assunto do qual ela não queria falar.

— Você conta pra minha mãe tudo que eu falo aqui, né? — Violet perguntou, por fim.

— Não exatamente tudo. Só o que é mais importante.

— Uhn...

— Por quê? Tem alguma coisa que você quer contar e não quer que ela saiba?

— É que... é uma coisa que eu nunca contei pra ninguém e... eu acho que ela ia ficar muito brava se soubesse...

— Tem a ver com o seu pai?

A menina balançou a cabeça afirmando. O doutor, então, prometeu que não contaria nada do que Violet falasse sobre o pai a Scarlett. Assim, a menina concordou em falar o que pensava de verdade. Ela demorou um pouco pra conseguir, mas falou:

— Às vezes, quando eu competia... eu ficava esperando ele aparecer. Eu ficava pensando se ele tava me assistindo e tentava encontrar ele, mas era difícil porque eu não sei como ele é... Mas eu sei que ele nunca veio, porque a minha mãe sempre tava junto comigo nas competições e ela ia reconhecer se ele aparecesse, né? Aí eu ficava me sentindo uma boba e tentava esquecer essa ideia.

— Mas não conseguia esquecer, né?

— Não... e eu também... sonho com ele às vezes. Só às vezes. Quase nunca... Mas eu nunca consigo ver direito a cara dele quando ele aparece, é estranho... Deve ser porque eu não sei como ele é de verdade, né?

— Você nunca perguntou pra sua mãe sobre ele?

— Já... duas vezes. Uma quando eu era pequena e outra uns meses atrás. Mas ela sempre diz que ele não quer saber de mim e que eu não preciso dele e não fala mais nada. Aí eu fico com raiva dele e também não pergunto mais...

— Entendi...

— Eu queria muito não me importar com isso! Ainda mais agora...

— Como assim "agora"?

— Agora que eu não posso mais competir. É que antes eu achava que... se eu ganhasse um monte de troféus e ficasse bem famosa... o meu pai ia gostar de mim que nem a minha mãe e ia querer me conhecer, mas agora tá ainda mais difícil...

Era um assunto muito delicado. O doutor não queria dar falsas esperanças a ela, mas também não podia dizer que era impossível que viesse a conhecer o pai algum dia, pois não tinha como saber... Porém, havia uma coisa que poderia ser feita e era um dos principais motivos para Violet estar naquele consultório: ele devia ajudá-la a melhorar sua relação com a mãe. E se elas tivessem uma relação saudável, poderiam falar sobre qualquer coisa, então a menina não teria que ficar guardando para si esses pensamentos que tinha sobre o pai.

— Não mesmo! — Foi a resposta de Violet quando o doutor sugeriu que ela conversasse com a mãe sobre o assunto. — Já era difícil falar disso com ela antes, imagina agora? Tá sendo impossível falar com ela sobre qualquer coisa!

— Violet, a sua mãe me disse que tá se esforçando pra tentar conversar com você, mas você não tá deixando... 

— Só porque ela tá muito chata! Tá... eu sei que eu também tô chata, mas... é que é difícil!

— Mas não tem que ser. Você só precisa lembrar que a sua mãe só quer o melhor pra você.

Esse era o problema. Violet não tinha certeza se sua mãe queria mesmo o melhor pra ela...


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Notas finais do capítulo

* A musiquinha que a Violet inventou tá na playlist da fanfic, é "The Queen Of Pop": https://open.spotify.com/playlist/7HgCtuTXTxHbxIDEiFSrAm?si=FyTqIXiGSXuSWKbltVRq2g
Mas quem quiser ouvir a versão em português, a "Diva Pop", tem no YouTube: https://youtu.be/X-vPoFLU7OE?si=ZIRvgHWW1UffdNfU

Ah, eu amo o Charlie! ❤️ Mas confesso que ri muito escrevendo o surto da Violet com raiva dele no começo do capítulo kkkk
Agora, sobre a última cena... Chorei escrevendo, sim! Essa parte sobre o pai dela é tão sensível... E as coisas com a mãe dela também, né?...



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