As nuvens de chuva eram uma constante naquela pequena cidade, disso ela se lembrava bem. Suas mãos suavam bastante, puro sinal de seu nervosismo. Seu avô Charlie, policial aposentado, tinha feito questão de ir receber ela no aeroporto internacional de Seattle, para todos na cidade ela seria uma filha fruto de uma relação de poucos dias de Charlie, alguém que ele não sabia da existência até então.  Queria estar com sua família, era fato. Mas, também sabia que não podia, era era o elo fraco do segundo clã mais numeroso, e o sangue que corria em suas veias a fazia ter que ficar o mais longe possivel de sua avó Renée recem transformada que estava sobre os cuidados de sua família.

      - Sue esta preparando algo para receber você, ela queria fazer surpresa mas acho que você não gosta muito, pelo que me disseram.

     Charlie rompeu o silencio dentro daquele veiculo. A garota que observava atenta a vegetacção nativa passou a olhar diretamente para seu avô.

       - Detesto. – concordou. – Mas prometo fazer cara de surpresa. – sorriu, precisaria se lembrar sempre das orientações de sua família : seja sempre gentil e evite conflitos desnecessários, principalmentes com os transfiguradores de La Push. Renesmee também sabia que Sue era mãe de dois deles.

      Quando a picape azul estacionou, ela desceu e parou um pouco observando cada mini detalhe daquela casa. Tudo parecia tão familiar, fechou os olhos por alguns instantes e um flash veio a sua memória. Nessa lembrança, ela estava naquela mesma casa e havia mais alguém...um rapaz moreno cujo rosto estava apagado de suas lembranças. De repente, sentiu um vazio enorme em seu peito, como se sentisse a falta daquele rapaz com o rosto apagado.

       - Algum problema? – Charlie questionou ao ver a garota com a mão direita sobre o peito, bem acima do coração.

      - Uma pontada – ela murmurou indecisa, nunca havia sentido aquilo antes. Certamente não era fisico, sua genetica não a deixava adoecer facilmente e Carlisle fez questão de fazer todo tipo de teste com ela antes deixar que ela viajasse. – Eu me lembro dessa casa.

     -  Você passou bons momentos conosco aqui, como o seu primeiro natal. – ele disse, colocando uma mão no meio das costas dela e a conduzindo lentamente para dentro enquanto cada um puxava uma das malas que ela trouxe.

     Sue tinha mesmo preparado uma recepção para a menina. Sabia que a essa altura ela seria uma mulher completa, tinha ouvido as histórias sobre os hibridos e mesmo assim não deixou de se surpreender. No fundo, Sue esperava mesmo uma menina de dezesseis anos com o corpo em desenvolvimento. Mas, o que ela viu foi uma mulher, alguém que aparentava ter no mínimo dezenove ou vinte anos. Tinha a mesma altura que a mãe, 1.63m; cabelos longos e ondulados um pouco mais escuros do que quando era uma criança; os olhos eram exatamente os mesmos de Charlie e Bella quando ainda era humana. No mais, era muito parecia com o pai até mesmo no jeito de andar, falar, sorrir.

     - Que bom que chegaram! – Sue se adiantou e abraçou a hibrida. Mesmo timida, mesmo sentindo naquela senhor aum cheior que incomodava de ser forma, ela retribuiu o abraço se recordando de ter ouvido falar que os lobos não tinham um cheiro muito bom.- Seja bem vinda

   -  Obrigada Sue. – respondeu.

Havia mais alguem ali, um homem a observava de braços cruzados escorado na porta que dava acesso a cozinha. A fonte do cheiro que havia sentido na senhora era dele, e quando ele se aproximou ela recuou automaticamente, um ato grosseiro que ela tratou de redimir ao pedir desculpás e justificar. Todos riram.

                - O seu cheiro também não é dos melhores, acredite. Mas, deve melhorar agora que esta longe dos sanguessugas da sua familia. Eu sou o Seth.

    Seth. Seth. Seth. Ela procurou em suas lembranças algo que ligasse aquele nome a alguém de sua infancia, e embora se sentisse bem quando ele a abraçou com força, a tirando do chão, não conseguiu se recordar.

       - Seth é filho da Sue, então, para todos vocês serão hm...meio irmaos?! – Charlie indagou, tentando estabalecer uma relação entre os dois.

      -  Verdade. – respondeu ao avô. – Bom te conhecer.

Talvez, fosse ele o rosto apagado de suas lembranças. Ela pensou incerta.

Longe dali, ainda na reserva um grande lobo castanho avermelhado corria entre as grandes arvores.  Collin havia lhe avisado que hoje ela retornaria. A quanto tempo mesmo não voltava a forma humana? Ele não sabia, era mais fácil permanecer naquela forma e ser guiado apenas por instinto, depois que a razão de sua existência foi arrancada dele. Jacob nunca entendeu o que aconteceu para que os Cullen tenham simplesmente desaparecido de Forks sem deixar rastros, Charlie conversava vez ou outra com a filha mas nunca soube realmente onde eles estavam.  Fazia-se quatorze anos que Jacob se mantinha naquela forma, ele já nem sabia mais o que era ser um humano, teve dificuldades em voltar a sua antiga forma.

— Vou ter que reaprender a andar. – falou consigo mesmo ao tentar ficar em pé sobre as duas pernas novamente.

— Bem vindo de volta, irmão. – Sam saudou o amigo com alegria. Desde que parou de se transformar, a cinco anos, que não viu novamente Jacob.  Ele estendeu a roupa para que Jacob vestisse. – Suas irmãs estão loucas para te ver, Billy então nem se fala.

— Eles vão ter que esperar mais um pouco, eu quero ir ver ela Sam. Quero ir ver a minha Nessie.

— Jake, a garota não se lembra de você. Ela mal se lembra do avô. Seth já esta lá, ele esta sondando tudo o que ela sabe. Você já esperou quinze anos, pode esperar mais um dia. Venha, vamos ver a sua família. Conhecer seus sobrinhos.

Sam tinha razão, Jacob sabia disso. Mesmo com seu instinto gritando dentro dele para correr para os braços de Renesmee, ele precisava ter paciência. Ninguém sabia o real motivo dos Cullen e principalmente Bella terem ido embora sem dar explicações ou oportunidade para ele ir junto.

Quando os dois passaram pelas ultimas duas árvores, Jacob foi recebido por Rachel que literalmente se jogou nos braços dele chorando. Ele segurou a irmã com força, não havia percebido o quanto sentia falta dela também.

— Você está bem, está vivo. – ela se afastou, acariciando o rosto dele.

— Nunca mais faça isso conosco. – esbravejou Rebecca, puxando o irmão para um abraço também. – ele ficou confuso sobre até onde a outra irmã estava informada. Sabia que Rebecca vivia aqui desde que se separou do marido, mas não sabia até onde ela havia sido informada. Ele não sabia que sua sobrinha mais velha, Raabe que tinha dezesseis anos, era o imprinting de Seth. – Nunca mais passe tanto tempo em forma de lobo.

— Você sabe. – ele falou como uma confirmação para si mesmo, fazendo a irmã rir.

— Desde que o Clearwater inventou de ter imprinting com a sua sobrinha. – esclareceu a duvida no olhar do irmão caçula.

O homem de grandes cabelos brancos observava seus três filhos interagindo. Por mais que quisesse demonstrar força, tudo o que conseguiu foi não fazer barulho quando as lágrimas silenciosas surgiram em seu rosto. Nunca achou que veria o filho novamente, nunca pensou que o filho fosse forte o bastante para sobreviver sem noticias do seu imprinting.

— Oi velho. Será que tem lugar nessa casa pra mim ainda? – ele perguntou se aproximando do senhro na cadeira de rodas.

— Sempre. – respondeu com a voz tremula pela emoção. Jacob se inclinou, abraçando o pai.

— O que ta acontecendo? – uma garota morena perguntou ao chegar da escola e ver toda a movimentação na parte de trás da casa do seu avô, na qual também morava com a mãe. Precisou empurrar um pouco seu tio Paul que como sempre implicava com ela de brincadeira, não a deixando ver, e quando não conseguiu apelou para a tia. – Tia Rachel!

— Paul, deixa Raabe passar. – Rachel repreendeu e ele afastou, e ela viu o homem que abraçava seu avô. Quando ele se levantou, ela pode ver melhor seu rosto. Era o famoso Jacob Black, seu tio que a muito tinha desaparecido em sua forma de lobo. – Jake, essa é sua sobrinha mais velha, Raabe Leong.

O que o moreno viu, foi a cópia fiel de sua falecida mãe. Raabe era o clone de Sarah Black.

A ruiva sentou-se a mesa farta que Sue tinha providenciado. Ela não sabia direito o que a garota gostava de comer, mas lembrou-se de que ela gostava de doces quando menina. A hibrida não era tão fã de comida humana, quase não se alimentava assim mas não queria fazer disfeita e lietralmente se forçou a comer um pouco de cada um dos pratos que haviam sido preparados com tanto carinho pela mulher de seu avô.

— Minha mãe falou que a senhora tinha uma filha também. – ela quis saber, curiosa pois em sua cabeça Leah estaria presente. Sue e Charlie trocaram olhares, Leah era outra que nunca mais pisou em Forks, ela jurou a mãe que nunca mais retornaria e embora eles soubessem onde ela estava, sabiam bem que a promessa era real. Leah não era mais um dos lobos, e havia constituido familia longe daqui.

— Leah vive em Albion. – foi Seth que respondeu enquanto cortava um pedaço de carne quando respondeu. – Ela não vem a cidade a uns quatro ou cinco anos.

     Depois do almoço, enfim a ruiva subiu para o quarto que ocuparia. O antigo quarto de sua mãe. Havia muitas fotos ali, um dos quadros lhe chamou atenção. Era ela, com o rapaz moreno de suas lembranças, agora ela podia ver o rosto dele, pelo fundo da foto ela reconheceu que a foto tinha sido tirada no natal. Ela se quer percebeu que Seth ainda a observava, desenhou o rosto daquele estranho com as pontas dos dedos.

                - Você se lembra dele?- Seth questionou, ela se virou e olhou para ele.

                - Não, quem é ele?

                - Jacob Black, ele é o meu alfa.

    Jacob Black. O som daquele nome trouxe uma lembrança a muito apagada.