Os Pecados de uma Família escrita por Pedroofthrones


Capítulo 2
Festejos e tramóias




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—Alienor sempre foi uma desastrada. —Disse a velha senhora Niniane, a mãe de Alienor, ao ver a vergonha que a sua filha tinha acabado de passar do lado de fora da casa de praia.

A idosa estava sentada no sofá na sala de estar, que ficava de frente a uma janela que jogava uma brisa fresca no recinto. Ao seu lado estava o pai de seus filhos e ex-marido, Gorlois, junto de sua esposa, Aoibheann. O filho deles, Ban, também estava lá, sentado na poltrona. Um dos tios do noivo, Leodegrance, também estava sentado numa poltrona.

—Você é muito severa com ela, Niniane. —Disse Aoibheann. Ela tinha olhos roxos simples, um tanto desbotados pela idade. Seu cabelo roxo passara a ficar totalmente grisalho—A pobrezinha só deve ter pego muito sol.

Niniane tomou um pouco do chá e depois pousou a xícara no pires e o colocou na mesinha ao lado.

— Porquê esqueceu o chapéu —Lembrou Niniane. — Minha filha só não esquece da cabeça porque é grudada no pescoço. Há! —Ela começou a rir. — Aposto que Ectório estaria carregando a cabeça loira dela para todos os lados se assim fosse, já que só sabe dar mimos a esposa. —Parou de rir, ficando rapidamente amarga. —Deve ser porque é um escritor. Vivem com a cabeça nas nuvens e são todos idiotas sonhadores, idealizando a vida que não tem.

Gorlois apenas balançou a cabeça, em silêncio. Aquela velha caduca cada vez mais provava que ele estava certo ao ter se divorciado dela.

A própria Alienor entrou na casa e se aproximou do grupo de idosos e de seu meio-irmão. Ectório segurava-lhe a mão, mesmo que ela já estivesse bem. Ao vê-la, Niniane deu espaço para que ela se sentasse ao seu lado. O marido de sua filha pegou uma almofada e ajeitou para que sua esposa se sentasse confortavelmente.

— Obrigada. —Disse Alienor, e depois se sentou.

Hector se sentou no chão, ao lado do sofá, e tocou a mão de sua esposa. Sem se importar com o quanto seu terno ficaria amarrotado.

— Se sente melhor? —Ele perguntou.

Alienor fez que sim com a cabeça e deu um sorriso frágil. Tentava manter a mente limpa, não deixando a ansiedade transparecer. Todavia, não conseguia parar de rever a cena: seu filho, apalpando a própria tia, se empurrando para dentro dela. Falando que era seu bom sobrinho…

— Sim, querido, estou bem — lhe garantiu. — Foi só um sustinho.

Niniane revirou os olhos e disse:

— Um "sustinho" que poderia ser evitado se usasse isso. — Entregou o chapéu de sol que a filha havia esquecido. — É sempre muito desastrada, Alienor. Incrível como nunca amadureceu.

A mulher de quase cinquenta anos se sentiu como se fosse uma garotinha de doze anos de novo.

— Eu usei um chapéu… — Ela retrucou. —Apenas… o perdi. Simples assim. — Ao pensar no chapéu perdido, seu estômago se embrulhou de novo.

A mãe de Alienor não tinha olhos cor-de-rosa, isso ela puxou de seu pai, ao invés disso, seus olhos eram cinza, lembrando ardósia. Seus cabelos prateados estavam se tornando brancos e cinzas.

— É claro — ralhou Niniane, com um óbvio desdém na voz. — Tudo é sempre simples para você, Alienor. Talvez também devesse virar escritora, como seu marido, já que está sempre mudando a realidade em que vive!

Alienor afastou sua mão da do marido e cruzou os braços. Pensou que talvez a mãe estivesse certa, talvez ela simplesmente tivesse uma visão de mundo muito simples e por isso não viu a verdade sobre seu primogênito e sua própria irmã.

Como pude ser tão cega?, ela se indagou. Como não vi nada? Como deixei que fizessem uma atrocidade dessas e nunca suspeitei? Serei eu uma mãe tão ruim assim?

— Não escute sua mãe, filha — aconselhou Gorlois, saindo em defesa de Alienor. —Niniane sempre foi dura demais.

A velha senhora fez um estalo com a língua e voltou a pegar a xícara e o pires. Alienor deu um sorriso triste para o seu pai.

Aiobheann tentou acalmar os ânimos:

— O importante é que agora está tudo bem. 

Pouco depois, Helena apareceu, junto de seu marido e a senhora Elaine.

— Avó, está melhor? — Sua jovem neta perguntou, se ajoelhando na frente de Alienor.

Alienor fez que sim com a cabeça e tocou na cabeça loira e coberta de sua pequena beta, como se fosse uma benção.

— Estou bem, Helena. Sério. Eu apenas peguei muito sol.

— Eu vou me deitar um pouco, no andar de cima — anunciou a senhora Elaine, com seu filho segurando a mão dela. — Não quer se deitar também, Alienor? Temos quartos sobrando.

Alienor negou com a cabeça.

—Não, mas obrigada —Ela disse, com um leve sorriso. 

Elaine acenou. Olhou de soslaio para Hector, e viu que ele olhava feio para ela, com o cenho franzido e a boca comprimida. Ele ainda estava raivoso com ela, era óbvio.

Helena foi até o marido e lhe deu um beijo.

— Volto logo, amor — Gareth se despediu e ajudou a mãe a ir até a escada e subir os degraus.

— Ah, o amor jovem! — Brincou Leodegrance com um sorriso, enquanto seu sobrinho levava sua irmã pela escada.

Quando os dois sumiram de vista, Niniane disse:

—Parece que todas as mulheres dessa família conseguiram encontrar algum cãozinho para dar a pata bem cedo na vida.

Helena se virou:

—Ah, bisa, não seja assim! Meu marido é bom para mim…

Niniane apenas lhe mostrou um rosto de pedra.

—Bem, pelo menos não casou porque estava grávida. —Disse Niniane de forma mordaz.

Hector segurou a língua. Não suportava a sogra, entretanto, sua esposa ainda parecia viver tentando se resolver com a mãe. Só podia torcer para que aquela velhota decadente caísse morta um belo dia… Ah, quem estava enganando? Sua esposa sofreria horrores pela morte da mãe, e ele não suportava vê-la sofrendo.

O irmão mais novo de Alienor finalmente falou algo:

—Irmã —Disse Ban, se virando para a Alienor. —, onde está seu filho Aenor?

Alienor ficou tensa, e fechou as mãos, sentindo as unhas quase furarem a carne.

—Como vou saber? —Ela respondeu irritada. —Ele já tem quase quarenta, por quê ainda devo saber onde ele está?

Ban a olhou surpreso, arregalando os olhos.

—Certo… —Ele disse.

Alienor, se sentindo mal pela resposta, estava prestes a pedir desculpas quando sua mãe disse:

—Típico —Disse Niniane sarcasticamente—, não consegue controlar a vida dos próprios filhos. Olha, Alienor, eu juro, deveria ter sido mais severa com você quando pequena. Seu pai mimou demais você e sua irmã, eu sempre disse isso.

Gorlois estava pronto para falar algo, mas Aoibheann colocou uma apaziguadora no braço dele, fazendo-o se calar.

—Mãe…—Alienor tentou falar algo.

—É por isso que seu filho Cai se veste daquele jeito. —Continuou Niniane. —Onde já se viu? Parece uma menina!

—Bem, nisso eu tenho que concordar. —Disse Leodegrance, dando um meio sorriso.

Hector não tinha parentesco com aquele homem, então não precisava aguentar qualquer desaforo por parte dele.

—Bem, eu não acho que a sua opinião sobre meus filhos me interessa. —Disse Hector, levantando um pouco a cabeça para olhar nos olhos do homem sentado em uma poltrona à sua direita. —Assim como não interessa a opinião da sua irmã sobre sobre meu casamento e filhos! Diga isso pra ela, quando estiver acordada.

Leodegrance levantou um pouco as sobrancelhas, surpreso pela reação do homem.

Alienor franziu o cenho e olhou para seu marido.

—O que Elaine disse sobre nosso casamento? E o que disse sobre nossos filhos?

Leodegrance tentou remediar o que disse:

—Eu apenas… Não estava falando sério, senhor Hector.

—É senhor Ectório Grynn para você. —Disse Hector, irritado. —Não somos amigos.

—Hector, por favor —Repreendeu Alienor. —, não vamos atrapalhar o dia feliz de nossa neta… Depois nós conversamos sobre isso.

—O que a senhora Elaine disse para você, vô? —Perguntou Helena.

Ectório coçou a parte de trás da nuca, suspirando.

—Não olha… Não é nada, Helena. Eu juro.

Uther entrou na casa e se aproximou do grupo de pessoas. Edmund estava segurando sua mão.

—A senhora está bem, mãe? —Edmund perguntou quando se aproximou.

—O que ela disse, avô? —Quis saber Helena.

Uther franziu o cenho.

—Perdemos algo? —Perguntou Uther com um sorriso brincalhão. —Alguma fofoca?

—Já disse que não é nada! —Disse Hector, se levantando do chão. —Só falei o que me veio à mente, só isso, Helena!

Edmund olhou para mãe, em um pedido silencioso para uma explicação. Ela apenas respondeu balançando a cabeça e fazendo um rápido movimento com a mão, indicando que ele não deveria se incomodar.

Um silêncio desconfortável pairou no ar por uns instantes, até Uther tentar quebrá-lo:

—Então… A tia Aly está melhor?

Alienor deu um sorriso fraco.

—Estou bem, querido. —Ela respondeu. —Foi apenas um susto.

A mãe de Alienor deu um suspiro exasperado ao ouvir o comentário da filha, mas todos preferiram ignorar.

Gareth desceu as escadas e foi até Helena.

—Desculpe a demora, amor. —Disse Gareth, indo até sua noiva e dando um beijo nas bochechas dela.

—O que sua mãe disse sobre o casamento dos meus avôs? — Helena perguntou de forma abrupta.

Gareth arqueou as sobrancelhas pretas e grossas, não esperando por aquilo, depois as juntou, franzindo o cenho.

— O quê? — ele indagou, confuso.

— Sua mãe disse algo ao meu avô e eu quero saber o que é! — Disse Helena.

Alienor olhou furiosa para o marido, este estava coçando a parte de trás da cabeça, como sempre fazia quando ficava desconfortável.

Gareth deu de ombros.

—Não faço ideia, Helena! Mas não deve ter sido nada sério, tenho certeza…

Helena ainda não estava acalmada.

— Bem, irritou meu avô.

— E ele não disse o que foi que o irritou tanto? — Ele perguntou. Quando sua noiva negou com a cabeça, ambos se viraram para ver o avô da noiva.

Hector podia sentir um rubor vermelho tomando conta de seu rosto.

— Vamos, Ectórios — Disse Niniane, levantando a xícara do pires para tomar mais um gole de chá —, conte-nos sobre o que a doce senhora Elaine disse que o aborreceu tanto. — Riu. — Ora, com toda a certeza debe ter sido bem grave.

O genro a olhou de soslaio, enquanto ela saboreava a bebida.

—Vamos logo com isso, Ectórios. —Disse Alienor, claramente irritada.

Suspirando, Hector finalmente falou:

—Olha, Uther tinha brincado sobre você e minha neta talvez logo tivessem filhos e eu fiquei ansioso com a ideia —Revelou Hector. Virou-se para encarar o marido da neta. — Sua mãe, entretanto, não ficou agradada com a ideia de você ser pai tão cedo, e insinuou que eu só disse isso porque eu e minha esposa achamos normal casar cedo, e que passamos isso para nossos filhos e netos. —Passou a língua nos lábios ressecados. —E eu não gostei e disse que ela estava errada e que não era da conta dela, está bem? Foi só isso! Apenas isso!

Gareth assentiu. Não queria problemas com a família da esposa.

— Bom, er, acho que depois a minha mãe pode se desculpar por isso depois, se o senhor assim quiser.

Hector assentiu, feliz que a situação tivesse amenizado, sem grandes problemas. Ele olhou para Alienor e viu que ela franzia o cenho e apertava os olhos enquanto o encarava, meneando a cabeça, desaprovando sua atitude.

— Bem, ninguém pode dizer que a mãe do rapaz está errada — disse a senhora Niniane, com um leve sorriso. — Digo, Agravaine nem tem vinte e dois anos e já está por aí, brincando de fazer bebês com a esposa. — Deu um risinho e pousou a xícara no pires. Depois olhou para a neta. — Só espero que você, Helena, não seja que nem minhas filhas, que não tardaram em saltar em cima do primeiro homem que viram e ficaram buchudas, parindo um bando de fetos chorões, todo o santo dia.

—Mamãe! —Repreendeu Alienor, se sentindo extremamente ofendida. Um rubor subiu em suas bochechas. —Por Deus, pare!

—Você era um bebê horrível, Alienor. —Disse Niniane para a filha. —De fato, era carente de atenção desde que tinha vindo ao mundo aos berros. Santo Cristo, como você era um bebê chato, nunca te suportei. Por sorte você ficou mais suportável com o tempo.

Gorlois grunhiu.

—Você nunca foi boa com crianças. —Disse ele, fazendo uma careta para a ex-esposa.

Niniane deu de ombros.

—Crianças são chatas. —Ela disse, seca. —E os bebês são ainda piores, vivem chorando e cagando, e, quando não fazem isso, estão destruindo os seios das mães. — apontou um dedo enrugado para a barriga lisa da neta e disse: — Até porque, esta barriga dificilmente aguentaria sequer a primeira gestação; e dúvido que seu marido queira uma esposa gorda.

Helena enrusbeceu e olhou para os próprios pés. Gareth pegou a mão de sua esposa.

— Vamos pegar um ar —Ele sussurrou, querendo sair logo dali.

Helena assentiu, a bisavó era simplesmente a pessoa mais capaz de destruir seu dia feliz.

— Nos dêem licença —Ela pediu aos convidados, enquanto andava para fora do local e indo para fora.

Edmund seguiu os passos da irmã e se virou para sair dali. Uther ficou perdido por uns instantes, até decidir seguir os três.

—Ah, esses jovens —Disse Niniane, remexendo a xícara de chá, fazendo a bebida criar pequenas ondas nas bordas. —Sempre com pressa. Por isso fazem tanta besteira.

—De acordo. —Disse Alienor, cabisbaixa e confusa com tudo que tinha acontecido. Se afundou no sofá.

X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X

Os recém casados foram até a mesa onde Pellinore e Morfydd estavam. Cai também estava sentado ao lado deles. Gareth puxou uma cadeira para que Helena se sentasse.

—Sua bisa é bem… —Gareth pensou na palavra certa, uma que não fosse irritar sua esposa e os parentes dela.

—Insuportável? —Sugeriu Helena, com um meio sorriso. —Tudo bem, pode falar.

—Vovó é uma caquética insuportável. —Disse Cai.

Uther e Edmund pegaram duas cadeiras disponíveis e se sentaram na mesa.

—Não ligue para nossa vó, Gar — Disse Edmund. — Ela é insuportável.

Pellinore balançava a enteada, Gwyneth, no seu colo. A pequena jovem dormia calmamente nos braços dele.

— Vovó irritou vocês, foi? —Pellinore perguntou. — Sabia que ia acontecer. Nem sei porquê ainda convidamos ela para os eventos.

Helena pousou a cabeça no largo ombro de Gareth, que beijou seu cabelo loiro em resposta e passou um braço pela cintura fina dela.

— Então ela é sempre assim? — indagou Gar, se dirigindo ao casal mais velho.

Morfydd e seu companheiro assentiram.

— Por isso não entramos com Alienor. —Disse Morfydd. — Eu não a suporto.

Pellinore riu:

—Ela também não te suporta, esposa —Ele disse, dando uma leve risada.

A pequena Gwyneth fez um som irritado e se remexeu nos braços do padrasto. Pellinore se virou para a esposa e falou baixinho:

— Vou levar ela lá para cima. — Ele disse e deu um beijo na esposa antes de levantar e partir.

Ao ver aquilo, Gareth questionou-se se realmente iria querer esperar para ser pai. Ele e sua esposa tinham concordado em esperar, mas, quem sabe? O próprio pai e o avô de Helena não esperaram tanto para ser pais e pareciam estar ótimos.

Vou pensar nisso depois da lua de mel, decidiu. Afinal, ele e sua esposa ainda eram bem jovens.

Cai se virou para o irmão e para Uther, que estavam sentados ao lado deles.

— Então, vocês dois estão juntos?

Edmund foi quem respondeu:

— É, Uther me chamou para sair. Então… — Deu de ombros. — Vamos ver.

Uther deu um sorriso amarelo.

— Seu entusiasmo é contagiante, Ed.

Edmund deu de ombros novamentr.

— Você pediu permissão para o meu pai, não é como se fosse algo super romântico.

Ao ouvir aquilo, Morfydd não conseguiu segurar a risada.

— Você pediu permissão ao Ectório? — Morfydd perguntou, tentando segurar o riso.

Uther ficou corado e assentiu.

— Sim, bem, achei que era melhor assim! —Se defendeu.

Helena soltou um risinho, enquanto Gareth foi em defesa do colega.

— Tudo bem Uther, eu mesmo perguntei para o pai de Helena se poderia casar com ela.

— Sério? —Perguntou Uther.

— Claro, ele teria comido meu fígado se eu não tivesse lhe perguntado  antes! — Ele respondeu, rindo. — De fato, tive que perguntar com a tia-avó de Helena do meu lado, ou acho que ele me teria devorado de qualquer forma.

Gwenhwyfach, segunda filha de Morfydd se aproximou e se sentou no lugar onde antes estava o padrasto. A jovem tinha o cabelo castanho-escuro de sua mãe, assim como o tom de pele marrom e olhos escuros, enquanto suas irmãs tinham o cabelo azul-escuro do pai, assim como os olhos azuis.

— O que houve com a senhora Alienor, mãe? —Ela questionou ao se sentar.

— Pegou muito sol, meu bem. — Ela explicou. —Apesar que ainda me pareceu um tanto grave para ela ficar assim; quando a vi, podia jurar que tinha visto um homícidio! Parecia mais assustada do que qualquer outra coisa.

— Minha mãe estava com ela? —Perguntou Gareth. — Vi que foi ela quem trouxe e ajudou a se sentar.

— Sua mãe saiu pouco depois dela, filho. —Respondeu Morfydd. — Alienor tinha saído pouco antes, acho que procurando por Aenor. — Ela franziu o cenho e olhou ao redor. Tinha alguns poucos parentes do noivo, mas nada de Aenor e Igraine. —Falando nisso, alguém viu ele? Acho que ele nem viu que a mãe passou mal.

Uther balançou a cabeça negativamente, indicando que também não o vira. Ele olhou para Edmund, que respondeu com um dar de ombros.

—Não o vi também — Disse Cai. —Talvez tenha ido pegar um ar?

— Posso ir buscá-lo, se quiser —Gareth se ofereceu, olhando para a esposa.

Helena colocou uma mão no ombro dele, indicando para ele ficar ali, e disse:

— Minha tia deve estar acalmando ele. Quem sabe, talvez ambos estejam acalmando Ambrosius.

Gareth deu uma gargalhada.

— Talvez sua tia-avó esteja acalmando os dois, esposa — Ele sugeriu, de forma brincalhona. —Deus sabe como ambos não suportam a ideia que eu te leve para longe. — Gareth a envolveu nos braços.

—Oh, e eles deviam ter medo? —Ela perguntou, brincando.

—Oh, sim, deviam. —Ele respondeu, a puxando para si. —Quero você todinha para mim, Helena. — ele começou a roçar o nariz de ponta inchada no nariz de boneca da esposa, que repetiu o gesti. — Nada de dividir!

Helena abraçou o marido, enquanto este a beijou, empurrando a língua para dentro da boca dela.

Gwenhwyfach ficou um pouco desconfortável e desviou o olhar, mas sua mãe deu um risinho. Aproveitando o clima, Uther passou a mão pelos ombros de Edmund e sorriu para ele.

—Vai me beijar? — Perguntou Edmund, sorrindo para o rapaz. — Ou terá que pedir permissão para meu pai?

Uther, rindo, mandou ele calar a boca e deu-lhe um beijo nos lábios, e, como Gareth, empurrou a língua para dentro da boca do rapaz loiro. Edmund lambeu a língua de Uther, enquanto este botou a mão na parte de trás da cabeça dele, empurrando-a para frente. Cai saiu da mesa, cabisbaixo.

—Ah, pena que seu padrasto não está aqui! —Disse Morfydd.

— Mamãe! —Gwenhyfach a repreendeu, se sentindo sem graça com a situação.

—Ora, o que foi? —Ela perguntou, rindo — Seu pai podia não ter a pegada, mas Pellinore…

— Mãe!

Morfydd levantou as mãos, como num gesto de defesa e começou a rir.

— Tá bom, tá bom! — Ela disse. — Não direi mais nada… Mas, que ele sabe como agradar uma mulher, ah, sim, isso ele sabe.

Gwenhwyfach soltou um som irritado, fazendo sua mãe rir.

Pellinore chegou pouco depois, enquanto Helena e Gareth ficaram se acariciando, como se ninguém estivesse em volta deles, e Uther e Edmund foram para uma outra mesa, onde dividiam um pedaço de pudim e começaram a conversar a sós. Gwenhwyfach começou a se levantar para dar lugar a ele, mas ele a parou com um gesto.

— Fique aí, mocinha — Ele disse, dando a volta no assento dela e indo até a esposa. — Meu lugar está bem aqui.

Rindo, Morfydd se levantou e deu o lugar para que seu marido se sentasse. Após isso, sentou-se no colo de Pellinore, que a cobriu com os braços roliços. O casal se beijou.

— Oh, por Deus-Todo-Poderoso… —Gwenhwyfach voltou a ruborescer.

Morfydd soltou uma boa gargalhada.

— Acho que nosso amor entristece minha filha, Pellinore!

O padrasto riu e deu alguns beijos no rosto da esposa.

Gwenhwfach fingiu não ouvir, ao invés disso falou:

—Mãe, aqui é bem bonito, não é? —Ela disse, admirando a paisagem. —É da família de Gareth ou da Helena?

Sua mãe afastou os lábios dos de seu marido — que agora estava com marca de batom vermelho nos lábios — e respondeu a filha:

—É um presente de Gareth para a noiva, filha —Revelou Morfydd, enquanto o marido beijava seu pescoço. —Está no nome de ambos, eu acho. Mas agora é deles.

A jovem assentiu, pensando em como Helena era realmente uma mulher de sorte.

—Queria ser rica assim! —Comentou Gwenhwyfach. —Imagina? Uma casa de presente?

Sua mãe riu, diante do entusiasmo da filha.

—Ora, trabalhe bastante e, quem sabe, logo você pode comprar uma para você, filha.

Pellinore bem podia nos comprar uma assim, pensou Gwenhyfach. Seu padrasto, infelizmente, não trabalhava nos negócios da família de sua mãe —que estavam agora sob os cuidados do meio-irmão dela—, preferindo ficar em algum emprego chato de escritório. Claro, ele ganhava o bastante para sustentar as enteadas, assim como a mãe dela; entretanto, nem de longe se equiparava à riqueza de Ectórios com os seus livros publicados. Ou mesmo a de Gareth, já que ele tinha uma boa fortuna; pelo que ela entendia, o rapaz teria algum tipo título de nobreza ou algo assim. Diferente da fortuna da mãe do padrasto de Gwenhyfach, que era oriunda de uma rede de restaurantes de alta classe, tendo diversas redes de restaurantes por quase toda a Gália. Ela já tinha visitado alguns, afinal, o marido de sua mãe era parente dos proprietários.

—Sabe, eu podia passar um tempo aqui, não é mãe? —Sugeriu Gwenhyfach. —Afinal, já terminei a escola e ainda não achamos uma faculdade.

Morfydd franziu o cenho e afastou os lábios do marido de seu pescoço.

—E? Você não ter achado uma faculdade ainda, só mostra que você deveria estar procurando uma faculdade, não ficar por aí curtindo!

—Ah, mãe, por favor! —Gwenhyfach implorou, amuada.— Eu tirei ótimas notas, e, além do mais, posso ficar um tempo sem estudos.

Morfydd negou com a cabeça, impassível.

—Não. Você nem sequer conhece alguém daqui, filha. Não invente.

A jovem bufou, abaixou a cabeça e cruzou os braços. Sua mãe nunca lhe deixava fazer nada, se fosse sua irmã mais velha, tinha certeza de que ela deixaria. Gwenhwyfar sempre era amada por todos.

Para sua surpresa, seu padrasto foi em sua defesa:

—Poxa, amor, deixe a garota se divertir! —disse Pellinore. — Ela pode tirar algum tempo para descanso. — Ele se virou para os recém-casados, antes que sua esposa pudesse respondê-lo. — Minha enteada não poderia passar um tempo em alguma propriedade? Talvez na casa de seu pai, Helena?

— Não vejo problemas — Respondeu sua sobrinha, simplesmente. — Mas você sabe que eu e Gareth ficaremos em lua de mel, tio.

— Ou seja — Disse Morfydd, irritada —, não tem ninguém para fazer companhia com ela.

— Mas teria Ambrosius, Agravaine e Isolde —Pellinore lembrou.

Morfydd fez um estalo irritado com a língua, indicando que seu marido deveria ficar calado.

—Eu não quero ouvir mais nada sobre isso  —avisou ela, irritada. Virou-se para a filha. — Você não vai ficar e ponto final.

Gwenhwyfach quase falou algo, mas se calou. Seu padrasto deu uns tapinhas na mão dela, indicando que ela deveria se acalmar. Após isso, estalou os dedos e mandou um mordomo encher a taça dela com um refri azul.

— Obrigada — Disse Gwenhwyfach. Ainda não estava acostumada a chamar seu padrasto de pai, mas ele não parecia se importar, apenas acenando com um sorriso em resposta.

Após um tempo, uma moça que segurava bandeja de prata colocou pequenos pratos de porcelana cheios de morangos vermelhos e azuis cristalizados para as pessoas na mesa, pousando-os por cima dos pratos maiores. Pellinore deixou a esposa comer o prato dele, enquanto Gareth dava alguns pedaços de morangos na boca da esposa. Gwenhwyfach achou as frutinhas um tanto grudentas, mas as comeu mesmo assim, saboreando o xarope de açúcar. Era tão doce e viciante que chegou a lamber os dedos.

— Tem mais? — Ela indagou, após terminar os morangos do prato dela e lamber todo o açúcar dos dedos.

—Não acho que seja bom você comer tanto açúcar assim — comentou Morfydd.

Ela diz isso, pensou Gwenhwyfach, quando é ela quem está obesa.

—Deixe-a, amor —Disse Pellinore, empurrando o prato dele pelo pano da mesa, para frente de sua enteada. — Pode comer, morangos azuis são uma especiaria de Gália.

A irmã mais velha de Gwenhwyfach, Gwenhwyfar, se juntou à irmã mesa, pegando uma cadeira onde outrora Edmund estava.

— Dormiu bem, filha? — Perguntou Morfydd.

A filha mais velha fez que sim com a cabeça. Ela tinha o mesmo cabelo azul-escuro do pai, assim como os olhos e sobrancelhas.

—Sim, Sim. 

Helena perguntou se ela estava mal e Gwenhwyfar respondeu:

— Só estava um pouco cansada pelo curso, nada demais.

— Se o curso lhe estiver dando problemas, querida  — sugeriu Morfydd —, podemos dar uma pausa nele. Sabemos que tem sido muito estressante.

Gwenhwyfach revirou os olhos ao ouvir aquilo; para variar, sua irmã sempre era a mimada, mesmo sendo a mais velha.

Gwenhwyfar balançou a cabeça, em negação.

— Não é necessário — Ela respondeu. —Perdi algo enquanto estava deitada?

Gwenhwyfach meneou a cabeça.

—Tudo bem calmo, irmã —acenou para o prato de morango na mesa. —Quer morango?

Gwenhwyfar olhou para os morangos e franziu o cenho.

— Morangos azuis? — Ela indagou, estranhando a cor das bagas. —Acho que vi num prato em algum restaurante que nosso padrasto nos levou, mas…

— São comuns em Gália —Explicou Gwenhwyfach, se lembrando do que Pellinore lhe disse pouco antes. —Experimenta, são deliciosos!

A irmã provou uma das frutinhas azuis, mas fez uma careta e preferiu não pegar outra. Ao ver aquela reação, Gwenhwyfach revirou os olhos.

— Como você é fresca.

— Xiu! —Censurou Morfydd.

Gwenhwyfach abaixou a cabeça, comendo o restante dos morangos do pequeno prato.

X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X

Quando o sol parecia uma hematoma pungente, o céu azul começou a ficar alaranjado e as brancas nuvens brancas ficaram roxas com bordas douradas, os empregados acenderam as velas perfumadas nas lótus de vidro que estavam no centro das mesas. Novos alimentos foram servidos para as pessoas; cada convidado recebeu um grande prato de porcelana com arroz, e um pedaço de frango e peru fritos, cobertos por molho picante e açafrão; ostras amontoadas foram deixadas em uma bandeja de prata em cada uma das mesas; para finalizar, uma fruteira feita de cristal belamente trabalhado foi trazida, cheia de maçãs cozidas e caramelizadas.

—É um banquete dos deuses! —Disse Gwenhwyfar ao ver todos aqueles pratos de comida.

— A maioria não vai aguentar comer tudo, amor. —Disse Pellinore, enquanto enchiam as taças da mesa com champanhe. Um balde de metal foi deixado por cima do pano de linho, cheio de cubos de gelo, para deixar a garrafa da bebida conservada no frio, e expelindo uma pequena névoa que caía pelas laterais e sumia.

Gwenhwyfar fez uma careta ao ver toda aquela comida por cima da mesa.

— Só de ver tudo isso eu já me sinto farta. Tudo isso parece um exagero — Disse a jovem, depois se virou para o casal, com medo de tê-los ofendido. —Não que eu não entenda, apenas como muito pouco, e, afinal, vocês tem vários convidados.

O casal sorriu e acenou, mostrando que não tinham ficado ofendidos. Gareth pegou o champanhe e encheu a enorme taça de sua esposa.

—Ah, eu vou comer o que puder! —Disse Gwenhwyfach, não tendo a mesma inapetência de sua irmã. Pegou um garfo e uma faca de prata polidos — ela tinha que admitir, se sentia mais viva e requintada ao usar talheres desse naipe, em contraste com os simples talheres de sua casa— e pegou grandes pedaços de frango com açafrão, botou pedaços de maçã caramelizada por cima e saboreou. Até o simples arroz tinha um tempero forte que fazia com que suas papilas gustativas saltassem.

Gareth fez um gesto com a mão e chamou um dos empregados.

—Já quero que nos sirvam o restante dos pratos para os convidados, por favor.

O homem assentiu e se virou, indo avisar os colegas.

Aenor e Ambrosius se aproximaram da mesa onde os recém-casados estavam. Igraine estava logo atrás deles.

A tia de aenor estava deslumbrante, isso ninguém poderia negar: usava um vestido sem mangas e púrpura, tão transparente que deixava os seios à mostra —Ela acabou por não colocar o sutiã de volta, após a confusão no galpão do jardim, pois a pressa de seu sobrinho o rasgou —, o decote tinha um corte em forma de "V" que descia de forma provocante pelo seu peito. Seu cabelo estava bagunçado, mas nem por isso não estava bonito. Em seu pescoço havia uma longa corrente de ouro, descendo até ficar entre seus seios, estava uma ametista rosa no formato de um coração que seu sobrinho lhe dera.

Morfydd notou que Igraine parecia um tanto apreensiva, ficando atrás de seu sobrinho e filho.

—Pelo Grande Salvador, ela me faz sentir um conservador de quase oitenta anos, como a minha avó, com uma roupa decotada dessas. —Brincou Pellinore, sussurrando no ouvido de sua esposa, antes que os três chegassem perto o bastante para ouvir.

—Filha — disse Aenor, dando um beijo em Helena, depois dirigiu sua atenção a Gareth. — Onde está sua mãe, Gar?

—Está deitada, senhor. —Disse Gareth. —Ela passou mal, agora está descansando.

—Ah, é mesmo? Pobrezinha... —Disse Aenor, então mostrou o chapéu azul. —Acho que este é o chapéu dela, certo? A pobrezinha o deixou para trás.

—Ah, sim, é dela. —Gareth disse. —Onde estava?

Aenor sorriu, aquele velho sorriso cínico que Gareth detestava.

—Estava caído no jardim. —Ele disse. —Eu mesmo entrego, a pobrezinha não pode ficar fritando no sol, não é?

Gareth fitou aquele sorriso por um tempo antes de responder:

—É. Não podemos.

—Bom, permita-me, entregar para ela, genro. —Disse Aenor, de forma claramente zombeteira. —Afinal, agora somos uma família, não?

Gareth assentiu lentamente, tentando entender o que havia por trás daquelas palavras. Seu sogro claramente estava zombando dele, mas tudo bem, ele sempre engoliu palavras ácidas de pessoas assim. Não importava, ele era um homem casado agora, nada mudava isso. O quanto os familiares de Helena se mostrassem desgostosos com isso não iria mudar nada.

Pellinore aproveitou que seu irmão estava ali para perguntar o que queria.

—Aenor — chamou Pellinore —, minha enteada pode passar um tempo com vocês? — Perguntou, sem rodeios, fazendo sua esposa o fuzilar com um olhar raivoso. — Só umas semanas ou, quem sabe, um mês? —Ele acenou ligeiramente a cabeça para o lado, na direção de Gwenhwyfach.

A jovem de cabelo castanho não se segurou e esboçou um sorriso animado, sem se importar com o olhar fulminante de sua mãe.

Aenor piscou, surpreso, para o irmão. Nem sequer conhecia tanto a jovem para ele lhe fazer um pedido desses —Exceto que isso poderia dar um leve atraso nos planos de se livrar da sogra, mas ele não poderia simplesmente falar isso. De qualquer forma, não viu motivos para negar, deu de ombros e assentiu.

— Bem, claro, mas vocês tem certeza? Digo, não moro numa mansão como Gareth…

Pellinore se virou para a enteada.

—Tudo bem, amor?

Gwenhwyfach fez que sim com a cabeça, agitadamente.

— Ela não trouxe roupas — A mãe dela lembrou.

— Ué, a gente compra — Pellinore disse, despreocupado. — Ou mandamos as roupas dela para cá, qual o problema?

Morfydd bufou e franziu o cenho, mas ficou calada.

— Que tal passarem um pouco deste verão na minha mansão? — Sugeriu Gareth, enchendo uma taça de champagne. — É bem grande, tem um enorme jardim e uma grande floresta em volta, que tal?

Gwenhwyfach não viu problema algum, assentindo novamente com um sorriso.

—Sim! Sim, seria ótimo! Obrigada, Gar.

Abruptamente, Morfydd se levantou irritada, e foi para longe dali. Pellinore se levantou e foi atrás dela, sem pedir licença. 

Gwenhwyfar olhou brava para a irmã.

— A culpa é sua, Gwenhwyfach, você deveria só obedecer a nossa mãe e ir para a casa.

— Para que? É da sua conta por caso o que eu faço ou não da minha vida? Hein, filhinha da mamãe? Aposto que se fosse você a nossa mãe não negaria!

A irmã mais velha fez um som irritado.

— Você abusa do carinho de Pellinore — ralhou —, só porque ele quer sua atenção!

—E você abusa da nossa mãe e do nosso padrasto porque é uma mimada que se faz doente sempre que algo ruim acontece, sabendo que vão te paparicar como a bebezona que você é! —cuspiu todas as palavras de uma vez. — Chorona!

Um silêncio se estendeu e Aenor assoviou, surpresa pela briga das duas irmãs, que olharam de soslaio uma para outra,  irritadas, mas caladas.

—Bem, eu vou entregar isto a sua mãe, Gar—Avisou Aenor, se referindo ao chapéu azul.

O jovem anuiu, ainda estranhando toda aquela boa vontade de seu sogro.

—Por favor, peça para que os outros saíam de dentro e venham para as mesas — Ele pediu. —Já vão servir as últimas refeições, e logo eu e Helena temos de partir.

A última parte da frase fez Ambrosius soltar um grunhido. Aenor assentiu para o genro e entrou na casa. Igraine permaneceu em pé onde estava.

— Não quer se sentar, tia? —Perguntou Helena, estranhando a mulher ficar parada ali.

Igraine pareceu sair de um transe ao ouvir a sobrinha. Ela a olhou, com os profundos olhos fúcsia e sorriu.

—Desculpe, querida? — ela indagou. — Que disse?

—Não quer sentar-se conosco, tia?

Igraine balançou a cabeça. Se sentia em péssimo estado; a maquiagem borrada, o cabelo desarrumado, a falta do sutiã…

Tinha que se arrumar, mas como? Tinha medo que a mãe de Gareth falasse algo ao vê-la; isto é, se ela própria não entregasse tudo ao ver a mulher

— Tenho que me retocar antes, amor! —Ela disse, ainda forçando o sorriso. —Devo estar bela para não envergonhar você no seu dia, certo? Não que alguém supere a vossa beleza resplandecente!

Helena ficou corada.

— Oh, amada tia, ninguém supera você!

— Devo concordar com a sua tia, amor —Disse Gareth, pegando a sua mão e beijando. —Ninguém supera a sua beleza!

A jovem riu, corada, enquanto seu marido lhe dava beijos e sua tia se dirigia até dentro da casa. Quando ela se afastou, parou de sorrir e se virou para o marido:

— Reze para que meu pai não saiba o que sua mãe disse ao meu avô.

Gar suspirou e assentiu:

— Nem brinque com isso, Helena, teu pai não tardaria de nos mandar para a vala!

Helena riu das palavras do marido.

—Ora, ele não é tão mal!

—Se você diz…

Enquanto o casal falava, um rapaz sentou-se ao lado de Gwenhyfach. Ao ouvir o som da cadeira raspar no chão, a jivem de pele escura virou o rosto na direção do barulho, de forma instintiva. O rapaz tinha cabelos ruivo-dourado, quase loiros, caindo pelos ombros em duas grossas tranças; os olhos cinzas eram bem claros também, em contraste com a pele oliva, de tom mais claro que a de Gwenhyfach. Ele era bem alto, mais alto que a jovem ao seu lado, apesar de aparentar ter a mesma idade que ela. Usava um kilt, com uma bolsa de pele na frente e um tartan passando por um ombro e dando uma volta na cintua. Gwenhyfach lembrou-se de ter visto ele durante a cerimônia do casamento, de relance.

Não era um jovem particularmente bonito, mas Gwenhyfar achou seus olhos lindos. Ele era um pouco parecido com Gareth, tendo o mesmo rosto longo, queixo proeminente, e nariz grande e voltado para baixo. O rapaz sorriu para ela, fazendo-a enrusbecer e abaixar os olhos, sem graça.

— Ned! — saudou Gar ao ver o primo. — Mal te vi depois da cerimônia, primo!

O rapaz acenou com a cabeça, dando um leve sorriso para o primo e disse:

— Vossa esposa é muito bela, Gar — comentou Eadweard —, não sei como está com um cara de cu como você! 

Gareth não ficou irritado, pelo contrário, riu da troça.

Para a noiva, Eadweard disse:

— Vossa beleza etérea é deslumbrante, doce Helena — ele elogiou. — Caso meu primo lhe destrate, saiba que sempre lhe serei complacelente e poderei aquecer vossa cama sempre que quiser

Helena, acosumada com a boca suja de Ned, riu da promessa. Gar voltou o olhar para a Gwenhyfach.

— Gwen, este é meu primo, Eadweard — explicou —, nosso querido Ned. É um tanto boca suja, mas amoroso.

Gwenhyfach virou-se e acenou com a cabeça, sorrindo.

— Olá — ela disse, afobada pelo seu olhar. O rapaz pegou sua mão e a levou até os lábios, beijando as costas e cada uma das pontas dos dedos.

— Olá, Gwen — ele disse, com um forte sotaque das terras do Norte —, é um prazer conhecê-la. — colocou uma outra mão por cima da dela e alisou de forma gentil. — Sabe, tens a pele escura, igual as mulheres das tribos e clãs das Altas Terras de inverno.

— Ah, sério? — ela nem sabia o que dizer, não sabendo ser um elogio.

O rapaz acenou.

— Nós do Norte somos um povo claro, como bem deve saber; pelo menos na parte sul, perto da Antiga Muralha do Império caído que separa o meu país do teu.

— Ah, sim — ela respondeu. — Tinha um colega de classe cujos país eram da Bretanha menor; ele era bem claro e sardento, com o cabelo tão loiro que era quase branco, e a pele bem clara.

— Quisera eu ter puxado mais a minha mãe — comentou ele. — Minha bela pele oliva... Nem de longe tão bela quanto a que tens... não combina com meus cabelos e olhos claros, diferentes dos teus, que são tão escuros e lustrosos. É muito bonita, devo dizer.

A jovem ruborizou de novo, enquanto o rapaz alisava uma mecha de seu cabelo.

— Olá, Ned — Disse Gwenhwyfar, intrometendo-se na conversa, com uma fisionomia desgostosa. — Então, é primo de Gar, é?

O rapaz assentiu.

— Meu pai é irmão da mãe dele — explicou. — Conheceu minha mãe numa fogueira de Ano Novo e desde então eles não se desgrudam — Chegou mais perto da face de Gwenhyfach e murmurou: — Não param de me dar irmãos; não sabe como é ter conviver com tanta gente em casa.

— Na verdade — olhou de soslaio para a irmã —, eu acho que sei sim.

Gwenhwyfar fez um som irritado e saiu da mesa. Ned a olhou, surpreso.

— Oh, eu a irritei de alguma forma? — ele indagou. — Nunca quis...

Gwenhwyfach fez um gesto com o braço, indicando que ele não deveria se importar com os pensamentos de sua irmã mais velha.

— Ah, Gwen é uma chata — comentou. — Não ligue para ela.

— Pensei que você fosse Gwen — ele disse, arqueando uma grossa sobrancelha ruiva em sinal de dúvida.

— Sou Gwenhyfach — ela explicou. — Minha irmã, Gwenhwyfar, é que é chamada de Gwen.

O rapaz riu e pegou sua mão novamente, dando outro beijo nas pontas do dedo. Apesar de parecer bruto e atrevido, Gwenhwyfach o achou até gentil.

— Pois para mim — ele disse, com os olhos cinzentos bem brilhantes —, você é a Gwen. Minha Gwen.

X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X

A senhora Elaine já estava fora da cama, sentada na mesma poltrona em que seu irmão, Leodegrance, estava. Estava se sentindo um pouco melhor, embora ainda fraca, mas isso já era padrão em sua vida.

Quando Alienor viu seu filho, Aenor, passar pela porta de correr de vidro, tentou se manter calma. Ambrosius estava logo atrás dele.

Ele é idêntico ao pai quando jovem…, pensou Alienor, enquanto o jovem ia em direção às escadas. O mesmo cabelo loiro bem claro, como ouro batido, os olhos côr-de-rosa com marcas verdes, a altura, os mesmo traços aquilinos e um queixo forte... Sim, Aenor era pai daquele garoto, para seu horror.

Igraine passou rápido pelo local, mas não disse nada e não olhou para ninguém, indo direto para as escadas. Mesmo assim, Alienor ainda tremeu ao vê-la.

—Tudo bem, amor? —Hector perguntou ao sentir sua mão tremer. Sua esposa ficou pálida em instantes. Ela apenas assentiu com a cabeça.

Aenor aproximou-se de sua sogra, que pareceu estranhar a proximidade dele, e estendeu a mão, mostrando o chapéu azul.

Alienor suprimiu um suspiro horrorizado ao ver aquilo. Rezou para que Elaine não lhe dissesse nada.

— Deixou cair, sogrinha. —Aenor disse, com seu velho sorriso cínico

— Oh — Disse Elaine, um pouco confusa com a atitude do pai de sua nora —, obrigada, Aenor.

Ela pegou o chapéu, olhando para os brilhantes olhos cor-de-rosa e verdes daquele homem.

Ela sabe que eu sei, deduziu Aenor, por isso ela passou mal e está apavorada. Velha maldita!

Aenor acenou com a cabeça, sorrindo, depois virou-se para as outras pessoas da festa.

— Meu amado genro me pediu para avisá-los de que já já irão servir os últimos pratos do banquete, e que devem ir para as mesas lá para fora.

A maioria das pessoas assentiu, levantando-se de seus assentos e indo em direção ao pergolado do lado de fora.

Hector ajudou Alienor a se levantar, pois ela estava se sentindo fraca novamente. A mulher temeu que seu filho lhe questionasse, mas, para sua sorte, ele estava ajudando a avó Niniane a se levantar.

—Sabe, Aenor — Disse a idosa, enquanto o meto lhe segurava pelo braço — Você sempre foi o mais decente e menos ridículo de seus irmãos, isto eu admito. Não tem o melhor gosto para roupa, mas pelo menos não se casou com uma mulher usada e já cheia de filhos.

Aenor sorriu.

—Oh, obrigado avó.

X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X

Pellinore e Morfydd estavam no jardim pequeno, porém belamente florido, da casa de praia. As flores brancas e cor-de-rosa pareciam ser todas iguais pela falta do brilho do sol, quase indistinguíveis umas das outras. A voluptuosa mulher andava em círculos, irritada.

— Querida — Pellinore tentou acalma-lá —, por favor…

—Não me venha com "querida"! —Ela explodiu —Eu não acredito que você desafiou a minha autoridade na frente das minhas filhas! Na frente de todos!

—Eu sei, eu sei, lamento… —Pellinkre respondeu, com sinceridadeb—Mas você sabe o quanto quero me aproximar delas.

—Eu sei, Pellinore, mas mimar Gwenhwyfach não vai te ajudar em nada! —Morfydd rebateu. —Olha, você tem já tem carinho de Gwenhwyfar, e Guinevere te ama -talvez mais do que ela ama o próprio pai!

Pellinore assentiu.

—Mas Gwenhwyfach ainda é distante —Ele lhe lembrou, chegando perto dela —E ela claramente se sente excluída. Sente que a irmã mais velha tem tudo e ela não—Ele pegou as mãos da esposa e entrelaçou seus dedos.

—Você acha mesmo?

Pellinore fez que sim com a cabeça.

—Acredite, como alguém que também é um segundo filho, eu sei.

Morfydd balançou a cabeça, mas estava entendendo o ponto de seu marido.

—Acha mesmo que ela ficará feliz aqui?

Pellinore deu de ombros.

—Se não ficar, ela volta mais cedo, simples. —Ele riu e soltou as mãos dela, passando em volta de sua larga cintura. —Vamos, querida, deixe a garota viver antes de perder a vida no trabalho.

— E o doador de esperma? —Ela o questionou.

— Ele que se foda! —Respondeu Pellinore, o desgraçado do pai das garotas já nem participava mais das visitas, elas apenas ficavam um tempo sozinhas, passeando por aí. Sua esposa não sabia, mas ele sim.

Morfydd, derrotada, apenas assentiu.

—Certo, mas saiba: —Ela levantou o dedo e fez cara séria. — ainda estou irritada com você!

Pellinore sorriu.

—Você fica tão sexy quando está irritada, amor! —Ele brincou, puxando-a para si. Tentou beija-lá, mas ela virou o rosto rapidamente.

—Nah-ah. —Ela disse, balançando o dedo na sua frente, como um pêndulo. —Terá que se esforçar para voltar a me beijar!

Pellinore riu.

—Ah, é? Tipo o que? Massagem nos pés, comprar morangos, transarmos ao acordar e antes de dormirmos, ouvir suas constantes reclamações sobre a sua colega de trabalho, Aisling, e como ela é uma vaca desgraçada e nojenta? Há! Fácil! Já faço tudo isso!

—Bom, terá que fazer em dobro, mocinho!

Ele acenou, divertido.

—Vamos? —Pellinore perguntou. —Temos que dar as boas novas a Gwenhwyfach.

Morfydd se colocou ao lado dele, sentindo a mão boba dele descer de suas costas até uma de suas nádegas.

X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X

Ambrosius bateu na porta do quarto onde Agravaine estava.

Ouviu o primo soltar um palavrão e um barulho de agitação dentro do quarto. Seu primo logo abriu a porta. Estava usando uma camisa branca, com todos os botões abertos e uma calça com o cinto também aberto. O rapaz não abriu totalmente a porta, para que ninguém que estivesse do lado de fora visse sua esposa se vestindo.

—Mas que porra, Ambrosius!? — Exclamou Agravaine.

 —É para todo mundo se reunir lá fora. —Ele disse.

—Já vou. —Seu primo disse, seco e brusco, fechando a porta. Ambrosius esticou o braço e o impediu de fechar, irritando ainda mais Agravaine. —O quê é agora?

—Tenho que falar com você.

—O que é? —Agravaine já estava perdendo a paciência.

—A sós. —Ele explicou, sabendo que Isolde estava ali.

Agravaine balançou a cabeça, dando-lhe uma resposta negativa.

— Isso pode esperar.

— Não pode não. —A voz de Isolde foi ouvida de dentro do quarto. A porta se abriu, e ela estava usando seu belo vestido preto. — Pode falar com ele, Ambrosius.

A jovem fez um gesto com a cabeça, indicando que seu marido deveria fechar-lhe o zíper das costas do vestido, o que ele fez de imediato. Após isso, ela se virou para ver o rosto do marido.

— Estou bonita? —Ela perguntou.

— Uma deusa, amore mio, como sempre.

— Ótimo. — Ela lhe deu um beijo. — Dê a atenção que seu primo precisa. — Ela disse e se virou, indo até as escadas. Agravaine admirou o seu corpo enquanto ela andava, balançando os quadris.

Quando os sons dos passos de Isolde nos degraus sumiram, Ambrosius disse:

— Sua esposa é mandona — Disse.

Agravaine esboçou um largo sorriso, olhando para a direção onde ela tinha ido.

— É, eu sei. — Seu sorriso morreu e ele se virou para o primo, carrancudo. — Agora, diga, o que é, idiota.

Ambrosius bufou e o afastou, entrando no quarto sem pedir permissão. Agravaine fechou a porta, irritado.

—Então? —Ele perguntou e prendeu a fivela do cinto.

Antes de falar, Ambrosius se ajoelhou diante do primo e inclinou a cabeça, num sinal de que esparava uma benção; era um jovem educado, que fazia como sua mãe e seu tio lhe ensinaram.

Agravaine revirou os olhos desiguais e pousou a mão no louro do irmão, mas não lhe deu um beijo.

— E então, vai falar agora, seu retardado? — indagou ele, quando o jovem irmão se levantou.

Ambrosius revelou que seu tio Aenor lhe disse que Elaine havia feito alguma coisa ruim com Igraine e que ela precisava cuidar disso.

Agravaine franziu o cenho.

—Que coisa, exatamente? —Ele quis saber.

Ambrosius deu de ombro.

—Tio Aenor não explicou. Isso importa?

—Se isso importa? Você é retardado ou se faz?

Ambrosius fez uma carranca, mas se segurou para não bater no primo.

—Olha, tudo o que eu sei é que seu pai quer que façamos algo a respeito da Elaine. Ela fez mal a minha mãe.

—Meu pai disse, é?

Agravaine pensou sobre aquilo; para seu pai estar preocupado com a senhora Elaine em relação à sua tia e amante, era porque ela devia ter feito algo grave…

Ou visto algo grave, pensou. Sabia que seu pai não desgrudava de sua tia por nada neste mundo. E, considerando que eles quase não tiveram um tempo a sós por causa do casamento, não era difícil imaginar que seu pai não se segurou e fez algo estúpido.

Deve ter pensado que era mais seguro achar um lugar afastado de todos, deduziu, do que usar um dos quartos de cima. Idiota.

Seu pai sabia ser um imbecil, e sua tia Igraine nunca seria o maior cérebro da história humana. Ambrosius, Agravaine tinha certeza, puxou ambos nesse aspecto.

—E meu pai mandou você falar comigo? —Ele perguntou, duvidando disso. —Imagino que não.

Ambrosius assentiu, meio sem graça.

—Tio Aenor falou comigo, sim, mas foi ideia minha falar com você?

Agravaine o olhou de soslaio, duvidoso. Seu primo —Na realidade, seu meio-irmão, mas preferia nem pensar nisso— era um brutamontes imbecil, dificilmente seria capaz de pensar em algo a longo prazo ou simplesmente não estragar tudo ao usar os punhos de seis dedos para resolver tudo.

— Por que? —Agravaine quis saber.

Ambrosius ficou um tanto corado.

— Porque eu acho que você pode pensar em um jeito de resolver isso de forma calma. —Explicou. —É melhor nisso do que eu…

— Então, você admite que é um bruto burro? —Debochou Agravaine. —Realmente… —Deu uns tapinhas no ombro largo do primo. —É menos idiota do que eu imaginava, primo!

— Tanto faz —Ambrosius disse, irritado. —Vai ajudar ou não?

Agravaine pensou por um momento. Não queria se meter em nenhuma estupidez que seu pai e seu primo-irmão fizessem… Todavia, não podia negar que podia pensar num jeito de usar isso ao seu favor. Não sabia como, pelo menos não ainda. Sorriu para o primo.

—Ah, claro, primo! —Disse Agravaine. —Afinal, somos família, não?

—Acho que sim…—respondeu Ambrosius.

—Vamos, deixe eu me trocar, e depois, podemos curtir a festa. Anda, sai daqui.

X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X

Os empregados serviram meia-dúzia de bolos; deram um peixe bem gordo, frito, e coberto de açafrão; foram servidos vários tipos de vinhos rosé, e um tipo de vinho tinto, de um roxo tão escuro que parecia preto, trazido diretamente do oriente; pedaços de coelho frito —Para o horror de Gwenhwyfar; uma montanha de gelatina verde de quase três metros; o prato especial foi trazido em uma enorme mesa com rodas, carne de leão da bretanha, assado, coberto de temperos fortes, e com uma enorme maçã dourada na boca. A maioria das pessoas não aguentou comer tudo, então alguns chegaram a vomitar o que haviam comido para comer mais.

A maioria dos seguidores da Deusa do Amor eram vegetarianos ou, em sua maioria, veganos. Isolde, por outro lado, era do tipo que comia frutos marinhos — alguns sendo típicos de Hibéria, sua terra natal. Saborou lagosta assada, tentáculos fritos, ostras, e um gordo peixe, recheado com açafrão, e cercado por bagas. Dividiu uma bebida típica de sua terra natal com o seu marido e seu irmão.

— Ah, que mas que belo casamento! — Disse Uther, alegre pela bebida forte, e olhou em direção aos noivos, que estavam longe deles. Pegou o prato que já estava sem comida. — Fortuna! — Ele bradou, sorrindo, para os noivos, e jogou um prato no chão, fazendo a porcela se quebrar no chão. — Fortuna, Gareth! — jogou outro prato. — Fortuna, doce Helena! — jogou mais um. — Fortuna! Fortuna!

Jogar pratos era um costume que tinha em suas terras — embora estivesse um tanto esquecido — que símbolizava sorte. Acreditasse que espantava o mal e a negatividade.

Isolde e Agravaine riram da cena. Edmund sorriu, mas claramente não sabia como reagir a cena do novo namorado.

— Minha nossa! — exclamou. —Precisa disto, amor? — indagou para Uther.

O rapaz, já meio tonto e com as buchechas vermelhas, virou para encarar o namorado. Ele pegou sua cabeça loira e a puxou para si, enquanto levava a a própria cabeça para frente, dando lhe um beijo, e empurrando a língua para dentro. Edmund sentiu o gosto de álcool quente na boca do namorado, sentindo a grossa língua se empurrar para dentro e lamber lutando que encontrava, lambuzando com bebida e baba. Quando Uther parou o beijo, ambos estavam sem folêgo.

— Ah, fortuna, Edmund! — Bradou Uther, sorridente, enquanto o namorado limpava um fio de baba que ele deixara em sua boca com um lenço. Pegou um prato e jogou no chão novamente. — Fortuna! E Fortuna ao tio Heitor e a tia Aly por terem tido a você! Fortuna! Fortuna!

Heitor balançou a cabeça ao ver a cena, mas Alienor deu um leve sorriso.

— Ora, que coisa mais estapafurdica! — exclamou Niniane, desaprovando a cena. — Ninguém ensinou bons modos aquele animal?

Em contrapartida, Eadweard riu do gesto.

— Eu amo seu irmão, Isolde — disse Ned, que já havia todo um caso com o irmão da moça. Ambos seguiam a mesma deusa do amor, e Eadweard estivera na cerimônia de casamento de Isolde com Agravaine. Lembrava-se de ter tido um belo caso com o tio do noivo naquela época.

O irmão de Alienor, Ban, foi até Gareth e apresentou sua filha, Eigyr, uma jovem da mesma idade de Gwenhwyfach. Ela tinha olhos vermelhos bem escuros e brilhantes, com um belo cabelo roxo-escuro.

—Se importaria de deixar ela passar um tempo na sua mansão? Ouvi que você vai deixar a filha de meu sobrinho por lá, junto de Agravaine e Ambrosius, e pensei se não poderia deixa-lá ir com eles?

Gareth não viu motivos para negar, assentindo com a cabeça.

—Claro, senhor! Sua filha é bem vinda!

Ban sorriu, assim como a sua filha, mas Gareth notou que sua esposa não pareceu ter gostado da ideia. Quando pai e filha se afastaram, ele se virou para a esposa.

— Algum problema, amor? — Ele perguntou, sussurrando.

Helena forçou um sorriso e abanou a cabeça.

—Nada. Sério, está tudo bem.

Ela odiava sua prima.

X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X

Após isso, uma música alta foi tocada e algumas pessoas dançaram —Pellinore roubou as atenções brincando com a enteada, Gwyneth, se agachando e girando-a um pouco, como se fosse uma dança real. Eadweard dançou com cada um das moças da festa, com Edmund, e depois com Uther, sem nem parecer se cansar — na realidade, estava exausto, mas escondia bem.

Após a dança final entre os recém-casados, todos foram para o lado de fora e, enquanto alguns jogavam arroz cru no tapete rosa — Urther e Isolde, numa repetição da cerimônia da terra natal deles, jogaram pratos de porcelana —, os viram entrar na enorme limusine cor-de-rosa com arabescos dourados, coberta com alguns panos de linho branco.

O vidro fumê do teto da limousine foi aberto e Gareth e Helena subiram em seus assentos para acenar para os convidados. O veículo começou a se mover, puxando as cordas que estavam amarradas no para-choque, e fazendo as latas que estavam amarradas e jogadas no chão saltitar, os sinos circulares que estavam amarrados nos fios começaram a tilintar. Quando pegaram uma boa distância, Helena se virou de costas para a plateia e jogou o buquê de rosas cor-de-rosa e douradas para trás.

As mulheres mais jovens da festa se reuniram atrás do veículo, e ergueram os braços, gritando e rindo. A moça que conseguiu ficar no centro foi a que pegou o buquê de renda branca. As pessoas em volta aplaudiram e riram, como se fosse um espetáculo.

— Veja, querida — Disse Hector, batendo palmas —, sua irmã pegou o buquê! Será que é um sinal de logo ela acha um homem na vida dela?

Alienor, que quase não comera nada durante a festa, fez uma cara seca e deu de ombros.

— Se algum dia ela tomar jeito, quem sabe… —Disse friamente.

Os recém-casados voltaram a se sentar nos bancos de couro preto, ambos quase sem folêgo de tanto dançar, e Gareth apertou o botão que fechava o teto de vidro. Ele se virou para a esposa. A maquiagem brilhosa dela, por sorte, era resistente ao suor, e brilhava no escuro do veículo; porém, os pequenos vidrinhos refletores que ela usava tinham caído ou estavam desalinhados.

Gareth a abraçou e ela deitou a cabeça no ombro dele, se sentindo cansada.

—Então, está feliz, amor? —Ele perguntou.

—Ora, você já me perguntou isso umas quinhentas vezes hoje! —Ela disse, rindo.

—E vou perguntar mais quinhentas vezes amanhã, e depois… durante tooodo o tempo do mundo!

Rindo, ela o beijou. Ao perceber que o diadema de ouro que ela usava estava meio caído e parecia incomoda-lá, Gareth o soltou da cabeça dela e o deixou cair no chão. Era uma fortuna em ouro e pedrarias, mas ele nem se importou. Só conseguia olhar para ela.

Sem o diadema, seu véu caiu, e Helena balançou a cabeça e agitou um pouco o cabelo com a mão, libertando seus belos cachos dourados e cor-de-rosa. Gareth soltou as abotaduras de seu palitó prateado, sentindo que estava apertado e sufocando-o.

—Desculpe pelo que for que a minha mãe disse ao seu avô, eu já pedi para ela se desculpar. —Disse Gareth, olhando para a esposa e afagando seus cabelos. Devia ter exagerado no champagne sentia um pouco tonto. Leve. –Eu…

Helena colocou um dedo entre os lábios dele. Talvez também estivesse embreagada, pois sua cabeça balançava e ela soltou um risinho, fazendo Gar também soltar um riso igual.

—shhh… Nossas famílias podem se resolver ou ir para o inferno, eu realmente não ligo para isso agora. Só quero chegar logo ao aeroporto, pegar o avião, chegar na pousada e ficar com você até o fim da nossa lua de mel.

Sorrindo, ele a tomou pela cintura e a apertou contra si, sentindo o calor vindo de dela.

—Por que esperar? Vai demorar até chegarmos ao aeroporto mesmo!

X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X

Quando todos os convidados já haviam ido para um hotel próximo ou foram para seus respectivos quartos na casa de praia, e os serventes limpavam a bagunça. Hector e sua esposa foram para um dos quartos da casa, era o segundo maior, sendo o primeiro onde Aenor estava. Elaine ficaria com ele, mas ela foi educada e disse que ele ou outra pessoa poderia preferir ficar com ele.

Cai foi para o seu quarto —Que dividia com Edmund, mas este estava no quarto de Uther, para sua sorte—, tirou a roupa, tomou um rápido banho para tirar toda a maquiagem do rosto, e pegou o seu laptop, fazendo uma chamada de video para Vortigern. Devia ser só uma ou duas horas mais tarde na Bretanha maior, mas esperava que ele estivesse acordado e atendesse. Para sua sorte, seu namorado atendeu quase assim que ele ligou.

—Oi, Cai. —Disse Vortigern, parecendo casado.

—Oi, amor —Cai disse. Estava deitad, apoiando sua cabeça com um braço, e usando apenas uma cueca. Torceu para que isso agitasse seu namorado. —Dia difícil?

Vortigern deu de ombros.

—É, nada demais. —Ele respondeu. —E aí? O casamento foi bom?

Cai fez que sim com a cabeça.

—Ah, foi lindo! —Ele disse. —A comida foi ótima, todos estavam lindos... —Ele deitou a caveça no colchão. —Senti sua falta, amor. —Disse ao lembrar de como muitos olharam torto para ele e ele ficou um tempo afastado de todos.

Vortigern acenou com a cabeça.

—Olha, Cai, está um pouco tarde e eu tenho uma estrevista amanhã cedo. Posso ligar amanhã?

Cai sorriu.

—Uma entrevista? Que ótimo, amor! —Ele disse, pelo menos assim seu pai poderia parar de chamar seu namorado de vagabundo. —Claro, claro... Nos falamos amanhã!

—Certo. Tchaaauu...—Ele acenou um pouco com a mão, antes de apertar o botão e encerrar a ligação. Cai ia dizer "eu te amo", mas ele desligou antes.

Suspirando, Cai fechou o laptop, deixou o no pequeno armário ao lado da cama, e se deitou na cama. Se sentia sozinho de novo.

X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X

 

Alienor ficou se olhando no espelho, vendo a si mesma no reflexo. Seu cabelo dourado e prateado, caindo em cachos pelos seus ombros e indo até a metade das costas. Podia ver o quanto estava perturbada.

Não conseguia esquecer, não importa o que fizesse. Ainda podia ver Aenor, apalpando o seio de Igraine, masturbando suas partes íntimas; o riso selvagem dela e o beijo sedento que eles deram um no outro; seu filho, empurrando para dentro dela, enquanto dizia ser um bom sobrinho… De novo, de novo, de novo, de novo….

Aquela imagem lhe encheu de repulsa. Sentia como se duas cobras estivessem se remexendo em sua barriga. Ela correu para a privada, abrindo a tampa e vomitando todo o jantar que comera mais cedo. Quando ela achou que já tinha expelido tudo, sentiu a comida correndo para fora e forçou uma massa verde e amarela para fora de sua garganta.

Sentiu uma mão gentil afagar seus cabelos loiros e afastar os cachos soltou de perto da sua boca.

—Pronto, pode vomitar tudo. —Disse seu marido, que sempre lhe ajudava com os seus velhos enjoos quando ficava grávida. Ela expeliu mais do jantar. —Isso, pronto…

Quando ela terminou, Hector pegou um rolo de papel higiênico, enrolou um pouco na mão, e rasgou.

—Tem certeza que não quer ir para um hospital? — Ele indagou, se agachando ao lado dela e passando o papel nos lábios dela, tirando o resto da comida de seus lábios. 

Alienor negou com a cabeça, tentando recuperar o fôlego. Estava sem fôlego e sentia-se cansada.

—Acho que foi bem mais do que o sol que lhe fez mal, amor.

—Talvez eu esteja um pouco gripada…

Hector jogou o papel sujo na privada e tomou as mãos da esposa nas suas.

—Acha que pode estar grávida? —Ele perguntou, sem olhar para ela, mas não segurou o sorriso e a esperança na voz. —Que vamos ter um novo bebê na família novamente, como queríamos? Digo, sei que falamos de não criar expectativas, mas andamos tentando tanto, amor…

Alienor deu um sorriso fraco, mas fez que não com a cabeça. Nada agradaria mais ela do que estar grávida de novo, ao invés da infâmia de seu primogênito. Ter, finalmente, uma garotinha e trançar os cabelos dela, como sempre sonhou. Sua mãe nunca nem sequer lhe trançou as mechas, mas Alienor fazia isso com sua irmã Igraine…

Igraine. Ela era a causa do seu enjoo. Ela e Aenor. Nunca deixaria aquela sensação que eles lhe causavam para trás .

—Não, Hector, querido. —Ela disse, afastando lentamente as mãos dela. —Sei que não é isso, acredite.

Ele assentiu, tentando manter o sorriso, mas ela pôde ver a dor da decepção em seus escuros olhos azuis.

—Certo. —Hector disse —Vamos continuar tentando então.

Alienor passou a mão no ventre, pensando na possibilidade de gerar outra vida. Ela queria isso, queria dar mais um filho ao seu marido e ser mãe de mais algum bebezinho sorridente. Até passara a fazer uma tabela para saber quando estaria ovulando. Sabia que a medicina já havia avançado, poderia dar um jeito nisso, era rica, afinal de contas.

Entretanto, após ver seu filho e sua irmã, já não sabia mais se queria aquilo. Ela foi quase como uma mãe para sua irmã, e nunca deixou faltar nada para Aenor. Sangue de seu sangue. Achava que era uma boa mãe… Agora, não tinha certeza. Uma boa mãe perceberia o que sua irmã e seu filho estavam aprontando.

Talvez minha mãe esteja certa, pensou, fui uma péssima mãe. Hector e meus filhos mereciam uma mulher melhor na vida deles.

Seu marido ajudou-a a se levantar. Quando ela se ergueu, ele a abraçou, passando uma mão calmaante pelas costas dela.

—Está melhor? —Ele perguntou, interrompendo o abraço, mas deixando mãos calmantes emseus ombros.

—Sim, sim… — Mentiu, acenando com a cabeça. —Agora que vomitei, me sinto melhor. Vá para a cama, amor. Vou só escovar os dentes e já lhe faço companhia.

Hector assentiu, lentamente, tentando tomar coragem para fazer a pergunta que queria.

—Você ainda…

Ela deu-lhe um beijo na bochecha, antes que ele terminasse.

—Sim. Sim, Hector, eu vou.

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Hector beijava e mordiscava o pescoço de sua esposa e massageava-lhe os seios, sentindo o calor deles. Ela parecia distraída, mas ele ainda assim estava tentando tranquilizá-la. Queria ter outro filho com ela —quem sabe, dessa vez, não poderiam ter uma filha? Uma bela filha para ele brincar e para Alienor trançar os cabelos, como ela sempre disse que faria caso eles tivessem uma filha.

Hector e Alienor conversaram sobre isso há algumas semanas. Queriam mais uma criança, agora que Bran já era quase um adulto e os gêmeos logo cresceriam também. Queriam voltar a cuidar de uma criança novamente.

Mas ele sabia que era uma ilusão; ainda poderia tentar, isso não mudaria o fato de que Alienor dificilmente teria um filho, pois logo faria cinquenta anos. E, mesmo que sua amada ainda concedesse uma vida, quem garante que isso não lhe faria mal? Sabia que não era impossível uma mulher mais velha conseguir filhos ao passar da idade indicada, graças aos avanços da tecnologia… Mas não. Não valeria a pena colocar Alienor em risco.

Além disso, mesmo que eles pudessem ter outra criança, dificilmente poderiam participar da vida dela; caso seu possível filho ou filha completasse dez anos, Hector já teria uns sessenta e três anos. Não poderia ter tantas participações em sua vida como teve com os outros filhos.

Já tivemos nossos filhos, pensou, tenho ainda três garotos para cuidar e terei de me contentar que não tive uma filha. Sabia que sua esposa já devia saber disso, entretanto, era difícil aceitar que a idade deles já não permitiria que fossem pais joviais como antes.

Suspirando, e vendo que sua esposa parecia triste e distraída, ele tirou as mão do corpo dela.

Ao ver aquilo, Alienor pareceu voltar para a realidade, o olhou e tocou no rosto dele, alisando a espessa barba cinza dele.

—O que foi, amor? —Ela perguntou. Hector pegou sua mão e a beijou.

—Você não está muito afim, não é? —Ele perguntou, com um sorriso triste. —Tudo bem, eu entendo.

Alienor franziu o cenho, confusa.

—Do que está falando? 

—Ora, Alienor, eu sei que você não está feliz com a ideia de ter um novo filho! —Ele finalmente disse. —Sei que é por isso que está apreensiva. Tudo bem, não quero ter um filho se você não quiser também. Só quero você, amor. Só isso já me basta para ser feliz.

Alienor franziu as sobrancelhas e afastou a mão dele.

—Não seja bobo! Claro que não é isso!

Alienor quis dizer que ele estava errado; dizer como ela queria ter um novo bebê, mais um garotinho ou ter a sua tão sonhada filha que sempre quis.

Mas, mesmo que falasse aquilo, o que mais diria? Mesmo que não falasse a verdade, sabia que seu marido ainda suspeitaria dela… Além do mais, já não acreditava mais que era uma boa mãe; falhou com seu filho mais velho, deixou que ele fizesse coisas nojentas com a própria tia. Pelo que sabia, bem podia ser que eles tivessem filhos juntos.

Alienor assentiu, chorando, fingindo que confirmava as suspeitas do marido. Doeu, mas era melhor assim. Já estava velha para ter outros filhos, nem mesmo se adotasse uma criança, já não acreditava ser uma boa mãe para ela.

Hector sentiu seu coração apertar, se culpando por ter forçado sua amada esposa a fazer algo que ela não queria. Ver ela, ali, chorando, o destruiu. Se sentiu um lixo de marido.

—Eu sabia! —Disse Hector—Eu sabia! —Ele a puxou para si, envolvendo-a com os braços. —Oh, meu amor, eu nunca quis que você se sentisse obrigada a nada. Minha pobre, pobre Alienor!

Alienor desabou, chorando no ombro do marido, enquanto este a abraçava de maneira protetora. Ela sentia o calor do corpo nu e peludo dele, se sentindo segura. Quando ela pareceu se acalmar, Hector ergueu o rosto dela, levantando-lhe seu queixo. Estava escuro, mas podia ver os olhos cor-de-rosa de sua esposa brilhando pelas lágrimas. Ele lambeu as lágrimas caídas, sentindo o sal delas.

—Oh, Alienor… —Hector sentia suas próprias lágrimas vindo. — Eu fui um péssimo marido para você, nisto, tenho que admitir, sua mãe estava certa. Botei meus desejos a frente do seu, achando que você queria o mesmo. Ah, esposa, você me perdoa?

Alienor, secando as outras lágrimas que brotavam, respirou fundo. Doía, mas precisava mentir. Mentiria e tudo isso ficaria para trás.

Sim, deixaria todo esse pesadelo guardado para si. Levaria-o consigo, para o seu túmulo. Talvez nunca esquecesse a horrível cena de Aenor e Igraine juntos, e Hector talvez achasse para sempre que era uma infelicidade que ele lhe causou, acreditando que ela nunca o perdoaria por ter lhe forçado a ter um filho… Mas teria de ser assim. Era melhor assim. Era melhor negar a verdade ao invés de causar uma ruptura em sua amada família.

—Vai ser difícil. —Disse Alienor, tentando endurecer seu coração dolorido. Pode ver a dor nos olhos de Hector quando ele ouviu aquela resposta. —M-mas… — Gaguejou. — Estou disposta a tentar, Hector.

Ectório pegou as mãos de sua esposa e as levou aos lábios, beijando os nós dos dedos.

—Vou fazer de tudo para você me perdoar, prometo. Não lhe afligirei mais, Alienor. Será tudo como você quiser, querida. Serei o homem que você quer e precisa. Prometo.

Você já é, Ectórios, ela quase lhe disse, mas nada disse.

Hector colocou as mãos nos ombros pontudos de sua esposa, de forma protetora.

—Amanhã, voltaremos aos nossos filhos —Ele a lembrou, com um sorriso triste. Não conseguiram falar com os gêmeos naquela noite, pois a babá lhes disse que eles já estavam a dormir. —Sinto saudades deles, e de Bran.

Alienor acenou com a cabeça. Tentaria não ser uma mãe falha para eles.

—Também sinto saudades. —Ela disse, voltando a sentir lágrimas vindo até ela, sem ser convidadas.

—Ah, não, sem lágrimas, Alienor. —Disse Hector. Detestava ver sua esposa sofrendo.

Seu marido beijou-lhe as pálpebras e as bochechas dela. Alienor, percebendo que ele a queria, mas estava retraído, levou as mãos para as laterais da cabeça dele e a empurrou para frente, para que pudesse beijá-lo nos lábios.

O beijo inicialmente foi simples, mas logo a fome por amor de ambos falou mais alto, e suas línguas estavam entrelaçadas e Hector também empurrou a cabeça da esposa para frente, faminto de amor. Alienor pegou uma das grossas e peludas mãos de seu marido e a guiou para dentro dela. Ao sentir seu dedo penetrá-la, ela soltou um gemido que mais parecia um choro. Hector colocou mais um dedo dentro dela, mexendo-os, massageando gentilmente as intimidades de sua esposa e fazendo-a arfar. Ele sentia o calor de seu corpo nos dedos.

Alienor se deitou de costas no colchão, com seu marido ficando por cima dela. Ela tocou seu membro duro, sentindo o calor dele, e o colocou para dentro de si, soltando outro gemido. Hector começou a se empurrar para dentro dela, fazendo sua esposa soltar mais gemidos, abafados pelo beijo deles. Hector entrelaçou os dedos de uma de suas mãos na de Alienor. Ambos sentiram o calor um dos outros.

Alienor envolveu a cintura do marido com as suas pernas. Sua mão livre arranhava as costas dele.

—Ah, sim, Hector —Alienor gemeu no ouvido de seu marido, que sentiu ela ter um orgasmo. —Por favor, me faça esquecer isso… por favor…

Hector parecia nem ouvir, sentindo que estava chegando ao ápice. Ele mordiscou o pescoço dela, arranhando a pele dela com os pêlos da barba espessa.

Quando Alienor sentiu seu marido jorrando dentro dela, Ectório soltou um grunhido, e ela sentiu ele se esgotar; já não era mais o jovem viril e energético de antes. Suas costas ardiam, devido aos arranhões de sua esposa. Ambos estavam ofegantes e lustrados de suor. Os corações do casal batiam juntos, como se fossem um só.

Quando ele pareceu que iria rolar para fora dela, Alienor o apertou contra si.

—Não me deixe, Ectório. —Sussurrou Alienor, se sentindo triste e sozinha. —Por favor, me sinto tão sozinha.

Hector a apertou contra si, de forma protetora. Ainda estava dentro dela, sentindo o esperma morno que jorrou dentro dela. Sentiu-se endurecer novamente, pronto para outra transa.

—Eu estou aqui, Alienor —Ele cochichou na orelha dela. —Eu sempre estarei aqui por você —Ele deu beijos no rosto dela, sentindo o sal da lágrima. — Por favor, amor, pare de chorar. Me dói tanto ver-lhe assim…




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