Os Pecados de uma Família escrita por Pedroofthrones


Capítulo 1
Um feliz casamento




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A família Grynn estava reunida para tirar uma bela foto, era um dia especial, pois a jovem de vinte anos, Helena, estava finalmente casada com o amor da vida dela; o jovem Gareth, apenas dois anos mais velho.

A família da noiva e a mãe do noivo se juntaram em frente a piscina da casa, onde o sol brilhava intensamente, queimando os corpos das pessoas, que tentavam ignorar o calor e a luz que caiam sobre eles, tornando difícil manter os olhos abertos.  A água da piscina, azul por causa dos azulejos, refletia a luz dourada do sol com intensidade cegante.

O avô da recém-casada, Ectório –Hector, para os amigos–, deu uns tapinhas no ombro do jovem marido de sua neta.

—Bem-vindo a familia, filho. –Disse Hector, sorrindo –Cuide bem da minha netinha.

O jovem marido parecia ainda um tanto nervoso, mas forçou um sorriso tímido. Tinha um simples cabelo acobreado, e olhos de um cinza tão escuro que pareciam quase ser pretos; totalmente ofuscado pela beleza inumana da família da esposa. Usava um terno prateado, com abotoaduras de ouro com botões de diamantes, com uma meia-capa azul royal pendendo em um ombro. A cabeça acobreada estava encimada por uma boína de veludo vermelho, cheia de pérolas, com uma pluma negra — era comum homens da Cornualha usarem boínas, e, quanto mais emfeitada, mais era provada a sua riqueza. Assim como a família da noiva, Gareth Tareth Gyonnel não padecia por falta de dinheiro, tendo herdado uma boa fortuna da herança de seu pai. Uma parte da herança fora usada para comprar a bela casa de praia em que as duas famílias estavam.

— Claro, senhor — Respondeu Gareth. Ele era quieto por natureza, então não sabia se deveria ter falado mais do que isso.

Hector se afastou um pouco, deixando seu filho mais velho, Aenor, tomar lugar para a foto.

Aenor era um um homem quieto, mas belo. Ainda iria fazer quarenta anos, apesar de parecer ainda estar na casa dos vinte. Usava um palitó branco-marfim, tão longo, que descia até as pernas, quase como uma saia, com cristais rosas como renda, que brilhavam comforme ele se movia, e botões de ouro. Uma capa de seda branca e transparente estava costurada nos ombro da veste.  Assim como a filha, tinha olhos cor-de-rosa bem brilhantes, tendo puxado totalmente o lado da família de sua mãe, Alienor, nas cores da aparência e nas bochechas cheias e altas, e tendo os mesmos traços aquilinos do pai, embora mais perfeitos, como uma estátua viva. Para realçar a cor, ele e sua filha passaram uma maquiagem rosa bem forte em volta dos olhos, colando alguns cristais brilhantes que refletiam o brilho do sol.

—Assim eu espero. –Disse Aenor quando ficou próximo do genro, parecendo um tanto intimidante.

—Ora, deixe o rapaz em paz, filho! –Brincou Alienor, sabendo como seu filho era protetor com a sua filha.

Aenor tinha uma aparência bem fechada, como sempre, mas sorriu após sentir uma mão boba lhe apalpando.

— Seja gentil, sobrinho –Disse Igraine, com um sorriso largo nos lábios. Seus olhos eram de um tom mais escuro que o de sua irmã, sendo quase roxos. O cabelo também era mais claro, sendo totalmente prateado.

—Está bem, titia, vou ser seu bom garoto. –Brincou Aenor. Depois, se virou e deu um beijo no loiro de sua filha. –Está linda, Helena. A mais linda de todas.

—Obrigada, pai. –Ela respondeu.

O noivo só tinha a mãe para tirar a foto do seu lado; em compensação, a noiva não tinha a mãe, mas tinha o pai, os avós paternos, um irmão mais velho, a cunhada, e até a tia-avó, com o seu filho, Ambrosius, estavam na foto – o rapaz tomava cuidado de esconder as mãos nas costas, pois tinha vergonha dos seis dedos nas mãos.

Os irmãos do avô paterno não vieram para a cerimônia. O pai já havia falecido há tempos, enquanto Ímer, o irmão do meio, não era próximo da família, e não viu motivos para ir; o mais novo, Sigrún, não teve tempo, pois o chefe não deu folga para ele.

 Hector achava que o sobrinho da esposa, Artur, teria ido para o evento, pois adorava festas, mas ele acabou por preferir fazer uma sessão de fotos como modelo. Apesar de tudo, tinha de admitir, nenhum deles fazia falta, pois nunca foram próximos da sobrinha — E seu sobrinho era um jovem avoado, a bem verdade, era bem melhor que não causasse alguma confusão, como da vez que ficou bebado e subiu numa mesa, no meio de uma cerimônia, e começou a tirar a roupa.

—Está feliz, amor? –Perguntou Gareth para Helena, quando ela ficou ao seu lado para tirar a foto.

—Estou radiante! –Ela respondeu, de forma sorridente, fazendo seu jovem companheiro dar um risinho bobo e ficar corado.

Helena usava um vestido de seda branca-rosada com renda de prateada e pérolas doces côr-de-rosa — a maioria das mulheres da Cornualha casavam de dourado, mas ela preferiu usar outras cores. Em sua cabeça, havia um diadema de correntes de ouro que firmava um círculo de ouro no lado esquerdo de sua cabeça, encrustado com turmalina rosa lapidada, pérolas, e topázios imperiais dourados. Era um tanto pesado, mas não estava apertado. O diadema também prendia seu véu de seda branca. O pai da jovem noiva a ajudou a passar uma maquiagem, passando uma maquiagem rosa com pequenos cristais refletores, como as que ele usava.

Hector sorriu ao ver os dois pombinhos felizes; também casara-se bem cedo com a sua Alienor; atualmente já tinha cinquenta e três anos, mas ainda lembrava-se vivamente de seu casamento. Torcia para que sua neta também tivesse um bom casamento.

De fato, a família Grynn parecia ter pressa em se casar: Agravaine, filho de Aenor, já se casara aos dezenove com sua bela esposa, Isolde, em uma cerimonia a uma deusa do amor que a moça cultuava; e o pai dele se casara pouco depois de fazer vinte anos com a falecida Dalila.

Dalila, infelizmente, morrera, pouco depois do nascimento da filha. Foi uma tristeza, pois ela era uma mulher bela e simples, mas claramente sofreu muito nos dois partos que teve. Hector nunca vira o filho mais velho ser do tipo jovem apaixonado, mas imaginou que ele fez Dalila feliz do jeito que pôde.

A figura que mais ajudou Aenor no luto foi a sua tia, Igraine, a irmã mais nova de Alienor. Ela sempre fora bem próxima do sobrinho, e os dois eram os únicos que moravam no Estado vizinho do restante da família Grynn, então, não tinham muito contato com os dois. Em seu dedo estava um anél de prata com um grande diamante quadrado; era sua aliança de casamento.

Igraine também ajudou o sobrinho a superar a perda do segundo filho, e a esposa dele, que ainda era viva na época. Foi um momento muito triste, pois o bebê mal tinha três meses de vida.

Após tirarem a foto, Isolde abraçou Helena. A jovem de pele escura usava um piercing na testa, pouco acima da sobrancelha, em formato de uma lua minguante, feita de uma ametista roxa-escura, com uma pérola negra embaixo, tendo o formato de uma lágrima. Ela usava um anél de ônix e outro de pérola nos dedos, mas o mais bonito era o seu anél de casamento: um círculo de prata-damasco, com ondulações escuras, como ondas no mar, encimado por uma ametista roxo-escura, vinda da ilha de Atlas, que emitia um brilho natural fosco, que se intensificava no escuro. A noiva também usava um anél de casamento feito de pedra luminosa, feita de diamante lapidado e bem cortado, que emitia um brilho branco mais claro.

—Oh, você está tão linda e radiante, querida! Que fortuna! — elogiou a cunhada, com o sotaque hibérico forte. —Acho que deve estar mais bonita do que eu em meu casamento!

—Ora, deixe de bobagem! –Disse Helena. –Nunca que eu poderia me equiparar a sua beleza, Ise!

Isolde, em contraponto com a concunhada, tinha a pele bem escura e cabelos pretos; envergava um vestido preto-dourado, com mangas boca de sino tão finas que quase tocavam o chão, em contraste ao branco-rosado da noiva; usava pérolas negras e Helena brancas; e tinha olhos oblíquos, grandes e estreitos, de cor púrpura, tão escuros que eram quase pretos — ao contrário da noiva e seus olhos rosas, com alguns detalhes verdes.

Eram o oposto uma da outra, mas ainda eram boas amigas; praticamente, irmãs.

—Ela tem razão, amor. –disse Agravaine, colocando o braço em volta da cintura de Isolde e a puxando para si e alisando sua bochecha. Admirando sua beldade. –Ninguém supera a vossa beleza. Nem mesmo minha amada irmã, verdade seja dita. –Deu-lhe um beijo nos lábios.

O marido de Isolde, irmão mais velho da noiva, tinha cabelos pretos, bem escuros e brilhantes, e estava deixando a barba crescer. Usava um paletó verde-samito com renda dourada, com um par de mangas extras que pendiam no ar. Usava uma pulseira de pérolas cinzas que dava duas voltas no pulso. Em contraste com a sua esposa, ele usava um piercing dourado, em formato de sol, com uma opala de fogo amarela no centro, cercada por ouro amarelo, que formava as labaredas curvadas, como se fossem um raio de sol. Abaixo dela, havia uma rara pérola melo melo, com uma cor laranja fosca.

Ambrosius, o único filho da irmã de Alienor, colocou seu sorriso travesso de sempre e não perdeu a oportunidade de zombar de alguém:

— Ora, de fato, prima –Disse ele, embora não concordasse de fato. –A sua beleza branca em nada se compara a beleza escura de Isolde. –Virou-se para o noivo. –Não acha, Gar?

O recém casado ficou rubro com a pergunta.

—Ah, bem… –Olhou para a esposa, meio sem jeito. – Eu jamais poderia dizer que existe moça mais bela do que a minha amada Helena.

— Ouviu, amor? –Disse Agravaine, fingindo surpresa, e olhando para a esposa. Seu olho escuro cintilou de malícia. –Gar não lhe acha bela! Imagine só!

Gareth coçou a nuca, estava se sentindo terrivelmente idiota, sentindo as bochechas arderem.

—Eu nunca…

A avó da noiva resolveu salvar o marido da neta.

— Ora, as duas são belas, rapazes. –Disse Alienor. – Tenho certeza que Ambrosius só está lhe chateando pois ainda não conseguiu uma garota pra si, pobrezinho.

O sobrinho comprimiu a boca, mas ficou quieto e saiu andando. Era belo, mas carrancudo.

Hector se aproximou de Gareth.

—Perdoe meu neto e meu sobrinho, filho. – se desculpou, com um sorriso. –Agravaine é um fiel protetor da irmã, e acho que Ambrosius ainda tem alguma quedinha por ela.

—Vovô! –Helena enrubesceu ao ser lembrada de como o primo tinha uma paixonite nela.

—Ora, Gareth não tem com o que se preocupar! Você já é casada com ele!

Isolde sussurrou algo no ouvido de Agravaine que o fez sorrir e o puxou pelo braço, fazendo ambos se afastarem do resto dos convidados. Todos sabiam que o casal era bem ativo e que já pensavam em ter filhos.

— Oh, ali está o meu tio Ban! –Disse Helena. Era o tio-avô favorito dela, meio-irmão por parte de pai de sua avó. –Vamos falar com ele, amor!

Obediente a sua esposa, Gareth se deixou levar pelo braço, como um cachorrinho.

Alienor foi até Aenor e cochichou:

—Você deveria proteger seu genro, Aenor! –Ela ralhou, cutucando-lhe o braço. –Não devia deixar seu filho e primo fazerem piadinhas as custas dele!

O filho a olhou de forma indiferente e deu de ombros.

—O garoto já é crescido, mãe. Ele pode se virar. Fora que, se ele não pode se defender, não é homem para minha Helena.

— Filho, não se faça! – censurou Hector, franzindo o cenho. — Sei que não gosta de Gareth, mas ele parece bom para Helena.

O filho de Hector teria algo a dizer, mas perdeu a concentração quando pareceu ver algo ou alguém e saiu de perto, sem nem falar o motivo, deixando os pais sem resposta.

Envergonhado, Hector deu um sorriso forçado para a mãe do noivo, Elaine.

Elaine tinha quarenta e cinco anos, mas a aparência dela lembrava mais a idade de Ectórios do que Alienor. Tinha olhos azuis simples, e os cabelos castanhos já estavam quase todos brancos, e trançados para cima, mas sem nenhuma fita ou adereço para prendê-los. O único adorno que ela usava, era uma mera espada de prata, presa por uma corrente de seu pescoço, o símbolo da Espada Sagrada do Salvador. Seu simples vestido azul simples era ofuscado pelo vestido fucsia-dourado de Alienor, que usava um colar de gordas pérolas brancas e rosas que combinavam com sua tez branca e seus olhos cor-de-rosa. As pérolas brancas e rosas eram separadas por pequenos cristais de jade, que combinavam com os detalhes verdes de sua íris. Os brincos caros de esmeralda que seu marido lhe dera também realçavam os detalhes verdes. Tinha os lindos cachos loiros soltos, caindo até as costas em cascatas. Seu loiro era tão claro, que variava entre dourado e prateado batida. E, apesar de ter tido sete gestações, seu corpo voluptuoso e cinuoso continuava em ótima forma, com a cintura ainda em forma e os seios fartos.

O rosto de Alienor era ainda mais deslubrante e invejável do que seu vestido; tendo o formato de um diamante, com as bochechas altas e nariz arrebitado — nariz esse que poucos de seus filhos tinham, puxando mais o formato aquilino de seu marido, Ectórios, que tinha uma protuberância acentuada. Suas sobrancelhas douradas bem arqueadas. Seus cílios finos também eram dourados. Provavelmente, sua bela aparência era tão deslubrante e única pois seus bisavós vieram da ilha de Atlan, o País do Verão, onde todos tinham etnias mais variadas e únicas, causada pela união de diversos povo que ali vivia.

— Perdão pelos meninos, senhora –Disse Hector, coçando a nuca. – Eles têm um gênio muito forte…

A mulher assentiu, mostrando que entendia.

— Oh, eu sei bem como é –Mentiu Elaine, seu filho sempre fora quieto e obediente. 

—Alguém viu minha irmã? –perguntou Alienor, olhando para os lados. Igraine sumiu sem falar nada.

—Não a vi se afastar. –Disse Hector, sem dar muita atenção. –Deve ter ido pegar uns doces, talvez?

Alienor deu de ombros, deixando a questão de lado.

—Gareth é seu único filho, certo, senhora Elaine? –Perguntou Hector.

A mulher assentiu.

— Bom, eu bem queria ter tido mais, mas Deus não quis assim. – Disse ela, dando de ombros.

Hector assentiu, tentando manter o sorriso afável que tinha no rosto. Detestava gente que botava Deus em tudo; pareciam-lhe fanáticos irritantes e vazios. Mas deixou isso de lado. 

Lembrava-se de que volta e meia os seus livros eram criticados pelos Sacromanos, pois reclamavam que ele "parecia odiar a religião deles". Idiotas e fanáticos, todos eles. 

—Vocês têm outros filhos? – Perguntou Elaine, sabendo que nem todos participaram da foto.

Alienor fez que sim com a cabeça.

—Oh, sim, temos vários! –Brincou ela. –Aenor é nosso primogênito; depois tivemos Pellinore, Cai e Edmund; porém, nossos três mais novos, os gêmeos Balan e Balin, não puderam vir, pois achamos que eram muito novos para viagem e um casamento poderia parecer chato… Ah, e Brân, pois ele está na faculdade.

Seu filho Brân era interssexual, ele nascera com o cromossomo 47, XXY, de modo que ele e a esposa optaram pelo nome Avery quando este nasceu, pois era um nome unissex e tretaram por pronomes não-binários. Quando Avery teve idade o suficiente para se entender, se assumiu como homem, e escolheu um novo nome, um que indicasse o seu gênero. 

Por sorte, seu filho não teve dificuldades na leitura e na fala, como alguns caso — embora quando criança tivesse tido problemas na leitura. E ele era um rapaz adorável, e era facil em atrair os olhares de homens e meninas por onde passava, mas Hector se preocupava com o relacionamento dele na faculdade — o filho ainda iria fazer 20 anos, bem podia esperar até namorar alguém. Na verdade, se fosse para namorar alguém, poderia ser alguém mais próximo de sua idade, não dez anos mais velho...

—Ah… –Foi tudo o que Elaine conseguiu dizer. –Quantos anos têm os mais novos?

—Doze anos. –Disse Hector. –Umas gracinhas, mas muito energéticos!

—Eu imagino… Devem tomar muito tempo de vocês! Imagine só, oito filhos! Eu acho que nunca teria capacidade para tal coisa!

Alienor deu uma leve risada, e seu marido a tomou pela cintura.

—Bem, minha esposa e eu temos energia de sobra! – brincou o pai da família, dando um beijo nos lábios da esposa.

Sentindo o sol quente queimando muito seu corpo, a senhora Elaine começou a ir em direção às cadeiras onde os convidados estavam, pois deixara o chapéu no assento, para tirar a foto em família, e agora estava se sentindo um pouco tonta. O casal fez companhia a ela.

—Se conheceram desde cedo? –Ela perguntou Elaine.

—Casamo-nos quando eu tinha vinte e três e ela dezenove – mentiu Hector, com o braço no ombro da esposa.

—Oh, parece que a sua família… Gosta de casar rápido, não? –Ela brincou, estranhando um pouco aqueles hábitos.

Ectório sentiu um rubor subindo pelo pescoço e tentou fingir que estava normal, apenas acenando e forçando um riso. A verdade é que ele e sua esposa casaram às pressas quando souberam que ela estava grávida; e bem mais novos do que ele falou para a senhora Elaine.

—É quase uma… tradição. –Brincou Alienor.

Um total de oito mesas redondas foram colocadas embaixo de um pergolato de madeira e cobertas por um fino linho branco. Cada uma tinha uma jarro de vidro em forma de lótus no centro, com uma vela aromática colocada no "botão" da flor. Quando o sol começasse a se por, os mordomos deveriam acender as velas com um cheiro de lavanda. Cada mesa tinha talheres de prata polida, pratos de porcelana e taças de cristal foram colocadas de cabeça para baixo.

A mãe do noivo se sentou numa cadeira com sombra, ainda perto da piscina onde tiraram a foto. Elaine respirou um pouco pesadamente. Se sentia cansada. Infelizmente, não tinha boa saúde como a senhora Alienor.

Hector puxou uma cadeira para sua esposa, mas ela recusou.

—Vou procurar nosso filho – Disse ela. –Não é de bom tom o pai da noiva sumir assim.

Hector assentiu.

—Certo. No pós-casamento nós damos uma surra nele, pra aprender.

Alienor sorriu e deu-lhe um beijo na bochecha. Depois, saiu andando.

—Está muito sol –Disse Elaine, pegando o seu chapéu azul de longas abas do assento e dando para Alienor. –Aqui, tome.

Alienor sorriu e pegou o chapéu. Havia deixado o seu próprio chapéu no assento para tirar a foto, mas ou o vento levou ou ela esqueceu em qual assento estava.

—Obrigada!

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Enquanto andava pelas cadeiras e dava sorrisos e beijos nos convidados, Alienor viu seu filho Cai, encostado numa árvore, pegando sol.

O jovem de vinte e sete anos usava uma camisa cor-de-rosa, que brilhava quando ele se movia, e era tão transparente que revelava o peito e a barriga. A gola era alta e cheia de babados. Usava também uma calça larga e colorida, com bocas de sino. As pernas das calças eram abertas na frente, fechadas por largos botões brancos.

A mãe do rapaz colocou a mão nos cabelos sedosos do filho. Eram de um castanho bem claro, em contraste com o loiro de seu próprio cabelo ou com os fios pretos de seu marido –agora quase todos cinzas ou prateados. 

O filho sorriu preguiçosamente ao sentir os dedos dela, mas não abriu os olhos.

—Por que está tão sozinho, filho? — Indagou Alienor.

Cai deu de ombros.

—Acho que a família da noiva não aprova muito o meu estilo.

De fato, pensou Alienor, eles não iriam. Além da camisa cor-de-rosa, seu filho estava cheio de maquiagem no rosto, principalmente nos olhos, e um brinco de uma pérola em forma de lágrima no ouvido esquerdo. O batom marrom-escuro que passara fazia com que seus lábios lembrassem os de uma moça. Seu filho já havia tirado algumas fotos como modelo, junto de seus dois primos, mas nunca seguiu a carreira. Uma pena, ele tinha um bom rosto para a área.

—Lamento, querido. –Disse ela para o seu filho.

—Tudo bem, mamãe. –Ele disse, abrindo os preguiçosos olhos castanhos. –Só queria que Vortigern estivesse aqui, comigo. Sinto saudades dele…

—Você trouxe seu laptop? –Ela perguntou. –Tente falar com ele depois da festa.

O jovem acenou. Sentia saudades de seu namorado, mas ele não ficou muito animado com a perspectiva de fazer uma viagem de avião para ver um casamento cheio de desconhecidos. E Cai sabia que seu pai não aprovava seu companheiro, não gostava dele ter largado a faculdade e estar desempregado.

—Viu seu irmão mais velho, Cai? –Ela perguntou. –Tenho que ter uma conversinha com ele.

O garoto se espreguiçou e voltou a relaxar as costas na samambaia, apreciando o som das ondas que vinham da praia, logo atrás da cerca do terreno.

—Acho que o vi com a tia Igraine… –Ele disse, voltando a fechar os olhos e relaxar. –Mas… hmm... não. Não sei.

—Com a tia Igraine, é? –Ela perguntou, estranhando os dois se afastarem da festa. Bem, ele sempre fora o sobrinho favorito dela, e, considerando que Aiden era o único parente que morava perto dela, devem ter ficado mais próximos, mas ainda assim…

Esperava os olhos de falcão de meu Aenor sempre próximos do marido da filha, pensou. Era capaz de que sua irmão o estivesse apenas acalmando, para que ele ficasse mais brando com o genro.

—Certo, obrigada. –Ela agradeceu, se afastando.

—Ah, e tome cuidado! Não vá procurar fundo demais, hein?

Alienor se virou, franzindo o cenho.

—Por que?

Seu filho riu, dando uma gargalhada genuína.

—Aenor me disse que o filho e a Isolde ainda estão vivendo na lua de mel. – Avisou. –E que não tarda deles brincarem de fazer filhos. –Cai abriu um olho e piscou para mãe, vendo que ela entendeu o recado.

—Oh, Cai! –Ela tentou o repreender, mas acabou por não se segurar e dar uma risada.

Alienor saiu andando até o pequeno jardim, talvez estivessem lá.

 

X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X

 

Elaine estava usando um leque para se abanar e espantar o calor, mas o único efeito foi fazer ela se sentir mais esgotada, de tanto que mexera o braço.

Uther, irmão mais velho de Isolde, foi até a pequena mesa onde estavam Hector e a senhora Elaine. O jovem tinha a mesma pele escura de sua irmã, assim como cabelos pretos; porém, seus olhos violetas eram mais claros que o de sua irmã. Usava um terno branco, com mangas bufantes — a moda na Hibéria era que as pessoas usassem mangas bufantes ou com boca de sino. O rapaz segurava na mão um copo de cristal, com uma bebida típica da hibéra, a base de anis.

—Olá, senhor, senhora –Ele disse, acenando com a cabeça. –Viram minha irmã?

Elaine balançou a cabeça e Hector deu um risinho.

—Bem, talvez estejam nos fundos. –Disse ele, sorrindo. –Ou dentro da casa; porém, eu não iria atrás dele.

O irmão da jovem riu.

—Oh, eu tenho pena de seu filho, senhor Ectórios –Disse Uther. –O tanto que minha irmã e Agravaine devem deixá-lo louco!

A senhora Elaine enrubesceu ao ouvir aquilo, mas tentou não demonstrar nada. Apesar disso, Uther logo viu que ela estava desconfortável com a conversa.

—Ah, desculpe, senhora… –Ele disse, sem graça, enquanto se sentava perto deles.

A mãe do noivo assentiu, tentando sorrir. Depois, ela se virou para o avô de Helena.

—Seu filho e Igraine parecem bem próximos. –Ela disse, louca para mudar de assunto.

Hector fez que sim com a cabeça.

—Oh, sim, eles eram próximos desde sempre. –Ele disse. –Praticamente irmãos.

—E a esposa dele? Como era? Nunca a conheci…

—Oh, Dalila era uma moça frágil. –Ele disse. –Acho que Agravaine ainda faria dois anos quando ela nos deixou.

—Oh, pobrezinha… Foram complicações no parto?

—Bem, de certa forma acho que podemos falar que sim. Ela ficou bem doente após o nascimento de Helena, morreu uns poucos meses depois. –Ele disse.

Elaine acenou.

—Entendo… –A mulher disse, e depois soltou uma leve gargalhada. –Eu achei que eles eram casados da primeira vez que o vi! Ou que eram irmãos! Achei até que o filho dela era filho de Aenor também, imagine só!

Hector riu.

—Bom, eles são tão idênticos, que não seria de se espantar!

— Se permite que eu pergunte…

— Prossiga.

— O marido de sua cunhada também morreu? Ou eles não se falam?

Hector, como de costume ao se sentir desconfortável, coçou a parte de trás da cabeça.

— Bem… A minha cunhada nunca falou muito sobre isso, entende? Tinha um homem com quem ela se relacionou, mas eu só o vi uma vez, então não sei se é o pai. De qualquer forma, ele não muito cuida do filho, mas Aenor tem sido como um pai para Ambrosius. Ajudou muito ele em superar os problemas com os dedos extras nas mãos.

Essa era uma meia-verdade; o antigo namorado de sua cunhada a largou quando a acusou de lhe colocar uns belos chifres nele e que o bebê não era dele. Aparentemente, ele estava certo, pois o teste de DNA provou que ele não era compatível. Foi um escândalo, mas muitos na família nem sabem disso; apenas Hector, sua esposa, Aenor, Pellinore e, é claro, a própria Igraine. Era melhor assim.

—Ele realmente gostava da minha nora? –Elaine perguntou enquanto ria ao lembrar do rosto corado do jovem quando o avô dele disse aquilo.

Hector acenou, rindo com ela.

—Oh, Ambrosius era louco por Helena! Amou-a desde que a viu; acho que meu filho acreditava piamente que eles casariam.

—Mas então nunca chegaram a namorar?

O homem fez que não com a cabeça.

—Nunca. Minha neta nunca gostou do primo, pelo menos não do mesmo jeito que ele. Acho que ela sempre o viu como um irmão mais velho. –Explicou Heitor. –Espero que ele nunca tenha sido muito rude com seu filho.

Elaine suspirou. A verdade é que seu doce Gareth era frio e distante com a maioria das pessoas, e nunca foi de reclamar de qualquer problema que tivesse, guardando-o para si. Ela viu por diversas vezes as piadas de Ambrosius e Agravaine sobre seu filho, mas ele nunca se deixou abalar. Só esperava que o filho não aguentasse sempre aquele tipo de tratamento só para ficar com Helena.

—Bem, jovens podem ser maldosos… –Elaine respondeu, não querendo criar caso. –Mas Gareth é um bom garoto, então espero que eles possam se resolver logo.

Hector assentiu, forçando um pouco um sorriso, claramente desconfortável.

—Bem, logo eles devem se resolver. –Disse Uther, voltando a falar na conversa. –Agravaine também não era muito legal comigo no começo. E olha que eu é que deveria ser o rabugento, afinal, eu era o irmão protetor! –Disse rindo, mas Heitor não viu graça.

—É culpa de Aenor. –Disse ele. –Ele mima demais os garotos e Helena, e também era bem ciumento com a tia quando era mais novo.

—Por falar nisso –Disse Uther. –, onde está ela?

Hector deu de ombros.

—Bem –Disse Uther–, mas voltando a falar dos noivos, acham que logo teremos novas crianças na família? –Ele perguntou, num tom que parecia um pouco com o de uma brincadeira, mas que deixou Elaine nervosa. –Minha irmã e Agravaine já estão loucos para serem pais, então podemos estar cheios de bebês chorando e correndo por aí, logo, logo.

—Ah, e eu estou louco para ser bisavô! –Disse Hector, sorrindo de forma genuína desta vez. –Será bom ter mais membros na família.

Hector amava crianças, e sentia-se triste conforme os seus filhos iam crescendo. Lembrava-se de como sentia saudades das festas infantis, de ter um bebê no colo, e passar um tempo brincando com os filhos e netos.

A senhora Elaine não dividia essa opinião com o homem.

—Acho que é um pouco cedo para terem filhos. –Ela disse. Na verdade, ela sequer era a favor de um casamento tão cedo na vida do filho. –Ainda temos muito tempo para isso; meu filho ainda nem trabalha.

Ectório acenou com a cabeça, mostrando que entendia o ponto da moça.

—Entendo, mas tenho certeza que Helena será uma boa mãe, e não me parece que eles vão esperar muito…

—O que te faz pensar nisso? O fato de você e sua esposa não terem esperado? Bem, meu filho não é deste tipo de gente!

Hector piscou, surpreso, para Elaine. Uther desviou o olhar, fingindo não ter ouvido nada.

—Desculpe? –Hector perguntou, franzindo o cenho. –Que quer dizer?

Elaine tentou se explicar, mas percebeu que se embaralhou com as palavras, suspirou, e tentou se recompor:

—Eu apenas quis dizer que, como você e sua esposa foram rápidos em ter filhos, talvez achem normal que os jovens tenham filhos cedo, mas eu não acho…

— Só um filho meu se casou bem cedo. – Hector disse, não gostando da intromissão dela. – E ele já conhecia a moça desde de jovem. –Deu de ombros. –E meu neto casou-se cedo também, e daí? –Virou o rosto para Uther que sorriu sem jeito para ele. –Espero que a sua irmã não tenha se sentido forçada a casar com meu neto?

Uther deu uma risada forçada e sem graça.

—Ah, o que? Isolde ama muito Agravaine, nunca que ela poderia ser forçada a algo… Além do mais, divórcio existe, não? –Ele tentou brincar, mas não mudou o clima.

Hector assentiu.

—De fato. –Ele disse, de forma seca. –E minha neta pode ter um logo, logo…

Sentindo que falou demais e um pouco farta dos assuntos que aqueles dois homens tinham a dizer, Elaine pensou em sair dali.

—Desculpe, acho que falei demais. –Ela se desculpou. — Eu...

— Você só acha? — ele indagou, sarcasticamente, deixando a raiva transpareccer, antes dela pedir licença para sair. Seu lábio estava torto de um lado, era vísivel a indignação no rosto dele.

Elaine sentiu um rubor arder em sua pele. Estava realmentente chocada com a reação daquele homem.

—Com licença, eu preciso tomar um ar. — disse, se levantando da mesa. — Está muito quente aqui, senhor.

O homem assentiu, com a cara séria. Ele claramente não gostou do que ela disse sobre o casamento dele.

—Não a leve a mal, tio Hector – pediu Uther, quando a mulher se afastou, chamando-o pelo apelido que só ele usava. –A senhora Elaine é uma boa dama, só não aceitou ainda que o filho dela já cresceu. É só isso.

Hector apenas acenou em silêncio, novamente. Seu semblante estava fechado e carrancudo.

Okay, você deve estar certo. – Ele concordou. –Mas não quero ouvir aquela mulher intrometida falando algo assim novamente. Juro, se ela ousar falar de novo de meu casamento, ou mesmo da forma como crio meus filhos, não responderei por mim!

Uther assentiu e se aproximou um pouco do tio de consideração.

—O que foi, Uther? –Hector perguntou, levantando um sobrancelha grisalha. –Tem algo para me dizer?

—Bem… — o rapaz enrusbeceu e abaixou os olhos, dando um sorriso tímido. — Eu estava querendo saber se Edmund está livre para sair, tio. — revelou. Ergueus os olhos púrpuras, esperançoso, e fixou o olhar nos escuros olhos azuis de Hector. — Talvez, quem sabe, ficar uns dias por aqui?

O homem riu.

—Ora, meu filho tem quase a sua idade, deveria perguntar pra ele se está disponível!

O jovem enrubesceu novamente, escurecendo a pele oliva, e dando mais um sorriso sem graça.

—Ah, ele não é tão mais velho assim, tio…

—Ele já tem vinte e três.

—E eu vinte e cinco, não sei se combina, tio!

—Bem, eu diria que você poderia gostar de Cai, caso queira alguém mais próximo da sua idade.

—Mas ele não namora?

—Namora um vagabundo. –Hector disse. –Você seria uma segunda opção, mas seria uma opção bem melhor.

—Puxa, obrigado, tio… Mas não, obrigado. –Ele disse, com um ar carrancudo, mas depois fez outro sorriso. –Então? Edmund?

—Meu filho é quietinho, mas… –Deu de ombro. –Claro, vá em frente. Pergunte a ele, acho que ele aceita sair com você. Bem, apesar que ele nunca namorou ninguém, então nem sei se você faz o tipo dele.

—Isso! –Pegou a mão dele e apertou. –Obrigado! Fortuna paara ti, tio! E, Quem sabe, eu posso te chamar de sogro, logo, logo?

—Claro… –Hector sorriu e depois fez uma cara séria– vá sonhando. — Pegou a garrafa de bebida alcólica borbulhante e verteu o líquido dourado numa taça gorda. — Bem, devo admitir, você seria um partido melhor do que os meus outros "possíveis" genros que tenho.

Uther deu um último gole na bebida do copo.

— Tem outro além de Vortigern?

Hectoe aquiesceu.

— Brân tem um namorado, imagino que talvez o tenha visto?

Uther balançou a cabeça, negativamente.

— Não, tio. — disse, tentando lembrar-se. Não tinha um contato muito grande com o filho mais novo de Ectórios. — Ele tem alguém?

Hector tomou um gole da bebida dourada doce, sentido o gás na boca, e depois engoliu.

— Um tal de Cormac. — revelou. — Bom sujeito, bem bonito, mas muito, muito velho para meu filho prateado.

— Ora, teu filho não está na faculdade?

— É, mas só tem 19 anos. — rebateu. — Não quero que ele fique com alguém enquanto devia olhar para os estudos.

A bem da verdade, o problema de Hector com o companheiro de seu filho prateado era a idade. Podia ser um bom partido, e aparentava ser carinhoso, mas era muito mais vivido e claramente queria algo mais sério do que Hector achava que seu filho prateado estava pronto para dar a ele. Ora, o homem já tinha quase trinta anos e uma filha! O sujeito deveria cuidar da filha, não ficar de namorico!

Na verdade, achava que teria sido melhor se seu filho tivesse esperado mais para ir para a faculdade. A maioria das pessoas da classe eram mais velhos que ele. Houve um homem — um bom homem, que sem dúvida alguma, era atencioso e sempre ajudara seu filho com deferência —, que também parecia ser muito velho para Brân, mas parecia ter quase tido algo mais sério com o rapaz. Não deu em nada, mas também não mudou muito seu filho trocar uma pessoa mais velha por alguém um pouco menos velho.

Uther abanou a cabeça.

— Relaxe, tio. Jovens cometem seus erros por amor, mas tenho certeza que seu filho não fará bobagem alguma. Afinal, o partidão dele já é bem crescido. Mais velho.

— Mais velho não é mais sábio. — Rebateu, tomando outro gole. Após beber, pousou a taça na mesa coberta por linha e virou-se para Uther. — Você é um ótimo exemplo disso.

X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X

Alienor deu a volta na casa e passou por baixo de um arco tomado por vinhas, e entrou no pequeno jardim da casa, lá os sons das ondas eram mais altos. O pequeno jardim verde tinha rosas brancas e cor-de-rosa em todos os cantos, um cheiro doce e fresco tomava conta do local. 

Conforme andava, porém, sentia um formigamento estranho nas costas. Era uma sensação estranha que às vezes ela tinha quando pequena, entretanto, já devia fazer anos que não tinha um formigamento tão forte. Um arrepio frio.

Ignorou a estranha sensação.

Sorrindo, Alienor pegou uma flor rosa e a levou até o nariz. Ao ouvir um barulho alto virou a cabeça, deixando a rosa de lado. O som veio do fundo do jardim, onde um pequeno galpão se encontrava, separado por uma cerca de madeira alta e uma porta branca. Lá dentro devia ter ferramentas para jardinagem e outras coisas. Curiosa, ela se aproximou. 

Ela ouviu uma moça gemer e ouviu algum objeto pesado cair e fazer um barulho, imaginando que alguém teria esbarrado nele e o derrubado. Ao se aproximar um pouco mais, ela ouviu o que parecia ser um homem soltando um grunhido e a moça deu um gemido mais alto.

Percebendo que aquele deveria ser o pequeno esconderijo de seu neto Agravaine com Isolde, Alienor soltou um risinho e se virou, tentando sair de mansinho, sem ser notada.

—Ainda acho que Ambrosius devia se casar com Helena. –Ela ouviu uma voz conhecida dizer.

Ao ouvir aquilo, Alienor parou de andar e seu sorriso morreu. Ela se virou de volta, sentindo o coração bater mais forte e seus pés e mãos tremerem.

—Ah, acho que Gareth vai servir para ela. –Ouviu sua irmã dizer em resposta. –Vai ser melhor para os filhos dela, acredite.

—Se você acha, sabe que não sei dizer não para você.

Alienor segurou o chapéu com uma mão quando o objeto quase foi levado pela brisa e se aproximou, se agachando e botando o olho pelo buraco da porta branca.

E, então, ela viu que era o que temia. Seu primogênito, Aenor, nu, com a boca mordiscando o pescoço de sua tia, enquanto desavergonhadamente massageava um seio dela com uma mãe, e acariciava as partes íntimas dela com a outra, fazendo-a gemer. Suas calças estavam arreadas e ele fazia movimentos rápidos na cintura, se empurrando contra o corpo da tia.

—Ah, você é um bom sobrinho! –Disse Igraine, acariciando os cachos loiros de Aenor. –Você sempre soube ser um bom sobrinho para sua tia.

—Sim, sou um bom sobrinho, tia. Seu sobrinho, carinhoso. Seu doce, doce sobrinho…

Alienor ficou chocada, não sabendo o que fazer. Ela deixou uma mão cair e soltar o chapéu, enquanto levou outra para o peito, sentindo o ar de seu corpo escapar. Sua boca estava escancarada e seus olhos esbugalhados. Uma ventania derrubou seu chapéu, mas ela nem notou. Ela soltou um som que mais parecia o de um animal assustado, mas baixo.

Alienor tirou a mão de seu peito e a levou para a boca, para tentar não fazer som.

Seu filho, entretanto, deve ter ouvido o barulho, pois, enquanto beijava a tia, olhou para a porta. A expressão do rosto dele mudou quando ele olhou em sua direção, e Alienor percebeu que ele a tinha percebido. Aenor retirou seus lábios dos de sua tia e, por uns instantes, olhou para a porta com uma expressão séria.

—Ei! Quem está aí? –Ele gritou.

Igraine, assustada com as palavras do sobrinho, olhou para a porta, sobressaltada.

Alienor se virou e saiu correndo, quase caindo por causa dos saltos que usava. Mas desapareceu a tempo, enquanto seu filho levantava as calças e andava de forma desajeitada até a porta.

Quando ele abriu a porta, ela já havia sumido. Aenor olhou em volta, tentando ver se não teria alguém.

—Alguém nos viu? –Sua tia perguntou com uma voz inquieta, se agachando e pegando o sutiã no chão.

Aenor viu algo caído no chão. Após ir ver o que era, se agachou e pegou o objeto.

—Aenor? –Sua tia o chamou, abotoando a calça.

Quando Aenor se virou, ele tinha uma carranca no rosto. Sua maquiagem estava borranda e os cristais grudados por cima de sua palpebra estava ou bagunçados ou haviam caído. O batom de sua tia estava todo borrado em sua boca, por causa do beijo. Mas Igraine só prestou atenção no objeto nas mãos do sobrinho: um simples e lindo chapéu azul.

Igraine empalideceu de horror ao perceber que alguém os viu.

—Sabe de quem é isso? –Ela perguntou ao ver o objeto azul nas mãos do sobrinho.

—Sei. –Respondeu Aenor, com uma voz fria, mas seus olhos mostravam que estava com raiva. Ele entrou no galpão e fechou a porta atrás dele. –Da puta da minha sogra.

Igraine suspirou, apavorada.

—Ela nos viu? Oh, Deus! O que vamos fazer? Será que ela vai falar para os outros? Oh, eles podem chegar aqui a qualquer momento!

Aenor deixou o chapéu de lado e fechou o cinto das calças.

—A idiota não vai falar nada. –Ele disse. –E não se preocupe, eu vou cuidar disso.

A tia balançou a cabeça.

—Oh, Deus, nós tomamos tanto cuidado… Se Ambrosius saber, ele ficará arrasado. Por Deus, e se suspeitarem dos seus filhos também? Helena não suportaria!

Ele foi até ela e a abraçou.

—Ninguém vai saber, eu prometo. –Ele passou a mão nos ombros dela. –Prometo, tia. Ninguém vai saber.

—O que você vai fazer? –Ela perguntou.

—Não pense nisso agora. Vamos nos vestir e voltar. Aquela velha decadente não vai querer criar um escândalo no casamento do filho.

X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X

 

Alienor andava apressadamente, olhando de vez em quando para trás, para ver se nenhum dos dois vinha atrás dela. Seus passos estavam agitados e seus saltos faziam seus pés doerem, quando ela se virou para olhar mais uma vez, tropeçou e quase caiu.

A senhora Eliane se aproximou e viu Alienor quase cair, ela acelerou um pouco os passos para ir em auxílio da mulher.

—Você está bem? –Ela perguntou, segurando no braço da mulher que parecia estar perturbada. –Aconteceu algo?

Por um tempo, a senhora Alienor olhou para trás, em direção ao arco verde, como se nem tivesse ouvido a senhora Elaine. Após um tempo, ela se virou para ver o rosto da mulher e a olhou com olhos um tanto vidrados.

—Acho que fiquei muito no sol… –Ela disse, com lábios trêmulos e uma voz falha.

—Oh, pobrezinha. –Disse Elaine, segurando-a nos braços da moça e a levando para longe. –Vamos nos sentar, sim? Vou lhe trazer um copo d'água. Talvez seja só a emoção do casamento.

—Sim, claro… –Disse Alienor, com as pernas bambas.

Ainda conseguia ver perfeitamente; Aenor beijando Igraine, acariciando as partes íntimas dela… Como a irmã se atrevia? Seu filho ainda mal estava quarenta, enquanto ela faria quarenta e sete anos! Desde quando aquela depravação teria começado?

Então, ela logo se lembrou do antigo namorado da irmã, do teste de DNA, os dedos extras nas mãos do jovem sobrinho… Ambrosius era filho de Aenor. Ele era o amante.

Que outros segredos eles teriam?, ela se viu perguntando, totalmente enojada com aquela situação.


X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X 

Hector estava falando com o filho Pellinore e sua esposa Morfydd, uma mulher da mesma idade de Alienor; já divorciada e com três filhas, Gwenhwyfar, Gwenhyfach, e Gwyneth. A esposa do filho, além de mais velha, era um tanto mais gorda que ele, contrastando o peitoral do marido com seu corpo volumoso.

O filho de Hector tinha apenas trinta e cinco, mas já era totalmente careca; quando tinha apenas vinte anos, seu cabelo começou a cair, e então descobriram que ele tinha alopecia. O rapaz preferiu raspar tudo de uma vez. Surpreendentemente, ele reagiu até que bem a tudo aquilo; seu filho era alguém bem relaxado com a vida, sem se deixar levar pelos problemas.

—Acha que vai dar certo? –Perguntou Pellinore, segurando a mão da esposa.

Hector deu de ombros.

—Não sei porque não daria. –Ele respondeu.

—Juventude? –Brincou Morfydd, comendo um doce com formato de mini-bolo de casamento. Seus cabelos escuros estavam ficando cinza em alguns cantos, e rusgas de expressão já apareciam em sua pele escura.

—Ora, eu era mais novo que o marido de Helena quando me casei! — Argumentou Hector.

—E eu era mais velha, nem por isso durou. –Disse Morfydd, de forma gentil. –Às vezes casamentos não duram, Hector.

Suspirando, ele assentiu.

—Mas tomara que esse dê…

Pellinore deu tapinhas na mão da esposa.

—Deixe-o, esposa. Meu pai é o último dos românticos! –Brincou. –E onde está Aenor? Imagino que atazanando o genro? Meu irmão sabe ser um intrometido.

—Deve estar com a tia –Respondeu Heitor. –, ambos devem estar acalmando o mimado do Ambrosius. E as meninas? — perguntou.

—Gwenhyfar foi tirar um cochilo –Disse Morfydd, enquanto seu marido pegava um lenço e limpava o glacê de seus lábios–; Gwyneth está pegando uns doces; e Gwenhyfach… –Ela franziu o cenho e olhou para o marido, em um pedido de ajuda.

— Está fofocando com Edmund e Uther. — respondeu Pellinore, prestativamente.

— Isso, está fofocando com os primos.

— E vocês? –Perguntou Heitor. –Anda tudo bem em casa?

Ambos assentiram.

— Ah, vamos bem. E as garotas também, nenhuma briga na escola e boas notas — conpartilhou Morfydd–, o doador de esperma delas vem busca-lás nos sábados e as traz de volta aos domingos, e, para minha sorte, ainda paga o que deve.

"Doador de esperma" era o jeito carinhoso de Morfydd chamar seu ex-marido. Isso sempre fazia Pellinore soltar um risinho.

—O "doador" cada vez mais está ficando esquecido para minhas filhas. –Disse Pellinore, sorrindo. –Elas já não ficam mais tão tristes com a falta de atenção dele. Gwyneth já me chama de pai!

Hector deu um sorriso.

—Puxa, que bom! –Disse para o casal. –Logo, logo elas já nem se importam de visitá-lo e ele nem vai reclamar.

—Assim espero –Disse Morfyd. –Ah, olha quem é!

A pequena Gwyneth veio com os braços cheios de doces. Pelinore estendeu os braços e a deixou sentar em seu colo e beijou-lhe os cabelos.

—Ô, nenêm, está toda lambuzada! —Brincou o padrasto, pegando um lenço para tirar o chocolate da boca e das bochechas da enteada.

O riso do casal logo morreu quando pareceram ter visto algo.

—Pai… –Disse Pellinore, apontando para algo, atrás de Hector.

Quando ele se virou, viu seu filho Cai e a senhora Elaine ajudando Alienor a andar.

—Oh, meu Deus… –Disse Hector, sentindo uma ponta de dor no coração e se levantando na mesma hora. –Alienor? O que foi?

O marido puxou uma cadeira e seu filho e Elaine ajudaram Alienor a se sentar nela.

Hector se ajoelhou ao lado dela e pegou em sua mãe. Elaine pegou o leque e começou a abanar a moça.

—Meu amor, o que foi? –Perguntou Ectórios.

Alienor respirava profundamente, algumas mechas de seu cabelo estavam grudadas na cara dela pelo suor.

—Estou bem. –Ela disse, tentando se acalmar.

—Ela pegou muito sol, pobrezinha. –Disse a senhora Elaine. –Alguém poderia nos trazer água?

Morfydd pegou um copo d'água com gelo e limão numa bandeja que passava e deu para a Elaine. A mulher pegou e estendeu-o Alienor. A mulher o pegou e bebeu avidamente, sentindo o gosto citrico e metálico frio enchendo sua boca. Bebeu de forma tão exagerada que sentiu um fio de água escorrer pelo seu queixo.

—Obrigada –Disse Alienor, deixando o copo na mesa e pegando um lenço para tirar o líquido que escorria até seu pescoço. –Acho que fiquei muito tempo no sol…

—Tudo bem mesmo, mãe? –Perguntou Cai.

—Quer se deitar? –Perguntou o marido de Alienor.

Ela fez que não com a cabeça.

—Não. Eu estou bem.

—Oh, eu acho que também fiquei muito no sol! –Disse Elaine, se sentando na cadeira ao lado. Sentia uma falta de ar terrível.

—Onde estão seus chapéus? –Perguntou Hector. –Não levaram nenhum?

Foi então que Alienor lembrou-se de ter pego o chapéu de Eliane. instintivamente, levou as mãos ao topo da cabeça, mesmo que soubesse que o objeto já não estava mais lá —embora rezasse para que estivesse lá. Sentiu apenas os fios de cabelo sedosos.

— E-Eu…–gaguejou, nervosa. –Eu perdi.

Seu marido fez um movimento leve com a mão, indicando que não tinha importância.

—Era só um chapéu, querida. –Disse Hector, pegando a sua mão. —Depois nos preocupamos com isso. Tem certeza que não quer se deitar? Quer entrar um pouco e sentar no sofá? Seus pais estão lá. –Ele tocou na bochecha dela. –Está pálida, parece até ter visto um fantasma!

Vi algo pior…, pensou Alienor, sentindo a garganta fechar.

X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X

O quarto estava cheirando a sexo.

O corpo de Isolde estava amostra, totalmente nu, com exceção do longo colar de pérolas negras que a jovem usava. Era tão longo que dava várias voltas no pescoço e ia quase até a barriga dela. Os seios fartos estavam expostos, e mamilo direito tinha um piercing na ponta. Havia outro piercing entre os seios escuros dela, com duas orbes lilás.

Agravaine grudou as pernas na dela, olhando os pés da esposa. As unhas roxas, quase pretas, sendo naturalmente esmaltadas dessa cor. Ele passou um pé por cima do dela, sentindo o calor e maciez da pele escura dela. Adorava os pés de Isolde, adorava sentir a maciez deles, tocá-los, alisar cada detalhe; adorava cuidar deles deles também, fazer as unhas, limpar, tirar os calos, cortar as unhas...

Desviou o olhar desigual e voltou a ver o rosto oval de sua esposa. O nariz adunco, curvado como o bico de uma ave. O cabelo preto e com mecgas roxas estava esparramado pelo travesseiro. Ele afastou uma mecha roxa e acariciou a bochecha lisa dela. Apreciou o superfície suave, o calor corporal. Observou até as pestanas púrpuras da dorminhoca Isolde. O peito dela descia e subia, suavemente. Os bicos dos seios ainda estavam lustrosos e brilhantes pela saliva dele.

Agravaine brincava com uma das mechas do cabelo da esposa, apreciando a visão de vê-la nua, fazendo caracóis com os dois dedos. Ele virou o olho verde e o negro ao longo do corpo dela, que estava brilhoso pela maquiagem, apreciando-o, como a própria Deusa do amor que ele cultuava. Abaixo do umbigo, perto da fenda de seu corpo, havia uma tatuagem roxa-escura, quase preta. As laterais eram em forma de espiral, e o meio descia, parando perto dos pelos pubianos, de forma fina. Era uma das tatuagens a deusa de amor que a esposa cultuava.

Agravaine também tinha uma tatuagem em homenagem a deusa, estava na nádega esquerda, em forma de espiral, cobrindo-a por completo. Ambos haviam passado um tempo em um recanto que servia a Deusa, onde se casaram, por um tempo. O tio de Agravaine, Brân, havia passado um tempo lá com eles, numa chopana. Sua esposa se dava bem com ele.

Eles se casaram em monumento aquela deusa, em frente a uma estátua de quase três metros, com olhos de ametistas bem brilhantes e seios perfeitamente esculpidos. Haviam fogueiras para todos os lados, coloridas, mudando constantemente de cor, e ele usava um lindo roupão azul-celeste, e sua esposa usava uma manta púrpura, tão transparente, que era possível ver se corpo nu, e um diadema prateado, em formato de uma meia lua de com as pontas voltadas para cima, parecendo chifres de prata, como a que a estátua usava. As mãos dele e da esposa foram entrelaçadas por uma faixa púrpura — A cor do amor naquela religião — com renda dourada, com ambos segurando uma bebiba roxa. Um afrodisiaco potente.

Quando fizeram os votos e beberam o líquido quente, sentindo-o queimar a garganta deles, uma nuvem de excitação febril tomou conta de seus corpos. As pessoas da cerimonia tiraram suas roupas e Agravaine e Isolde subiram em um bela mesa de madrepérola, onde fizeram amor. Lembrava que alguns de seus parentes se afastaram, um pouco sem graça, mas tomados pela nuvem de excitação do local.

Agravaine lembrava-se com carinho daquela noite. Ele passou o dedo em uma das espirais da tatuagem, fazendo círculos, e depois seguiu caminho até o meio da marca, indo até a ponta, e descendo e adentrando entre o calor molhado das pernas dela...

Enquanto acariciava a feminilidade da esposa, ele parou o olhar desigual nos pés da esposa. 

 —Acho que já devemos descer –Disse Isolde, preguiçosamente, se sentindo sonolenta, interrompendo Agravaine enquanto este usava os dedos para acariciar a íntimidade dela. —Devem sentir nossa falta.

Agravaine voltou a olhar para ela e riu:

—Acho que a maioria sabe que estávamos trepando, amor —Ele disse, ainda girando o cabelo dela. Não sentia a menor vontade de sair o quarto e ver seus parentes. Queria apenas apressiar o tempo com a esposa. Ter ela só para si. — A Deusa sabe como meu pai tem nos aguentado!

Ela não se aguentou e deu uma gargalhada.

— Sabe — disse Isolde —, a casa vai ficar um tanto vazia sem sua irmã…

—E vai ficar ainda mais sem nós dois. —Agravaine acrescentou.

—Oh, sem pressa, querido! Eu gosto de morar na casa de seu pai!

— Ora, Isolde, meu amor, já estamos casados, e, quem sabe, logo poderemos ter um filho! — Disse Agravaine, rindo. — Quer mesmo continuar na casa de meu pai, onde volta e meia estamos sendo visitados pela minha tia e o chato de meu primo?

Isolde gostava do sogro, pois ele sempre a tratou com deferência. E achava a companhia de Igraine e de seu filho agradável. Além de que a moradia era perto da casa de seu irmão. Se dependesse dela, ainda ficariam nela por um bom tempo.

—Ora, sem pressa para termos filhos. —ela disse. —Além do mais, gosto da casa de seu pai.

— É, mas logo tenho de conseguir um emprego, amor. Andei pensando, talvez possa trabalhar junto de meu avô. Ele poderia me indicar para algum amigo.

— Isso seria em outro estado! — ralhou ela. — Ou até outro país!

Agravaine deu de ombros, indiferente.

—E daí? Melhor isso do que ser casada com um vagabundo, não?

Isolde revirou os olhos. Sabia que era apenas seu marido repetindo o que ela ouvia do próprio pai; ele sempre achara Agravaine um vagabundo sustentado pelo pai. A bem da verdade, talvez em parte do que seu companheiro estava dizendo estivesse certo, mas eles ainda eram jovens. Poderiam apenas relaxar na casa de seu sogro por uns bons anos até resolverem se mudar.

— Tudo o que você achar melhor, amor —Disse a jovem, fechando os olhos e adormecendo um pouco.

Agravaine beijou-lhe a bochecha e puxou o corpo dela para perto de si, sentindo o calor advindo dele. Sua pele escura era macia e cheirosa. Deslizou uma mão leve pela declinação das costas dela, onde uma enorme tatuagem com todas as fazes da lua estava, em forma vertical, com a lua cheia no centro.

—Acredite, amore mio, será melhor para nós ficarmos longe — Ele disse, sentindo-a o abraçar, colocando a cabeça embaixo do queixo dele, fechando os olhos e se deixando dormir. Agravaine voltou a brincar com uma mecha roxa de seu cabelo, fazendo espirais no dedo.

Agravaine queria logo se afastar do pai. Sabia que a esposa amava-o, mas Agravaine sabia que ficar perto dele e da tia-avó poderia ser um problema; sua esposa logo poderia descobrir sobre os dois, e sabe-se Deus o que poderia acontecer com ela por isso… Na verdade, ele nem gostaria de imaginar o desastre que seria se sua família soubesse o que tia e sobrinho andavam aprontando.

Não, era melhor sair dali. Agravaine sabia que isso daria mais espaço para os dois ficarem mais tempos juntos, talvez até morando juntos; só podia torcer para que isso não desse errado.

Por sorte, sua doce irmã – que também era sua prima-tia, caso suas suspeitas estivessem certas, ou seria alguma outra coisa? – estava casada com um bom jovem que faria de tudo para agradá-la.

Sim, isso ajudaria. Gareth iria fazer tudo pela sua jovem esposa, e sabia que Helena sempre estaria disposta a obedecer seu irmão mais velho e ajudar sua cunhada.

X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X

Antes de sair da casa, Aenor lavou o rosto e tirou a maquiagem borrada, passando um simples lápis de olho verde nas laterais das pálpebras. Ele sabia que iria encontrar Ambrosius do lado de fora. 

Dito e feito, o estava sentado e cabisbaixo em um simples banco, perto da areia da praia. Usava um pálito rosa-claro, com renda vermelha. A camisa que aparecia por baixo era de um rosa mais pálido, quase branco, cheia de babados.

Sem falar nada, o homem se sentou perto do rapaz. Ambrosius parecia-se muito com ele quando jovem: o cabelo bem loiro, os olhos côr-de-rosas, e as bochechas bem cheias. Era como olhar uma imagem viva de si mesmo no passado.

—Não estou chorando! —Disse Ambrosius, assim que ficaram lado a lado.

Aenor levantou as mãos em modo defensivo e disse:

—Eu não disse nada.

Ambrosius abaixou a cabeça, envergonhado.

—Desculpa, tio. —O jovem rapaz disse.

—Está triste com o casamento da Helena, não é?

O rapaz fez que sim com a cabeça.

—Eu gosto muito dela, tio…

Aenor assentiu. Ele percebeu que seu filho olhava para as mãos. Seu filho tinha um mindinho a mais na mão, e sempre foi motivo de piada na escola por isso.

—Tem vergonha de suas mãos? —Disse Aenor. — Espero que não ache que é só por isso que Helena não te quis.

—Sei que não…—Ambrosius disse, dando uma fungada com o nariz. Estava lutando para não chorar. —Mas…

Aenor pousou uma mão e tocou no mindinho extra da mão direita do jovem rapaz.

—Isso é quem você. —Ele disse, tentando acalmar o rapaz. Sabia que ele era muito reativo. —Não deixe que zombem de você. —Aenor sempre disse isso para o jovem filho; parecia dar certo, pois ele nunca quis retirar os dedos extras.

Ambrosius flexionou os doze dedos das mãos.

—Os garotos não zombam mais de mim, tio. —Ele disse friamente. —Mostrei pra eles que não sou fraco. Uma vez, bati num deles até o idiota perder um dos dentes.

Aenor abriu os braços e o rapaz que parecia raivoso logo quebrou e se jogou neles, chorando como um bebê. Mas estava tudo bem, pois estava com o único homem que ele respeitara.

—Pronto, pronto…—Disse Aenor, afagando o louro de seu cabelo, como se fosse um mero bebê. Ambrosius soluçava terrivelmente e molhava o paletó de Aenor com lágrimas.

—Não importa o que digam! —Disse Ambrosius, ainda se abraçando contra o jovem pai. —Você sempre será meu pai.

Aenor sorriu. Ergueu a cabeça do rapaz, colocando uma mão em seu queixo quadrado, e beijou-lhe levemente os lábios, o acalmando. O rapaz sempre se acalmava com beijos assim, pois eram mais afetuosos.

—Você também sempre vai ser meu filho. —respondeu. Beijando novamente os lábios dele.

E era verdade, ele era seu filho, mesmo que ele não soubesse. A bem da verdade, Aenor sentia que o amava mais do que jamais amou Agravaine; seu primogênito era lindo e esperto, muito mais controlado que Ambrosius; porém, não seria capaz de amá-lo totalmente. Ele não lembrava sua mãe, Igraine; isto era bom, pois dissipara qualquer tipo de suspeita que alguém poderia ter… Mas ainda lhe parecia errado. Falho.

Seu primogênito tinha a aparência de seu avô paterno: cabelos pretos brilhantes, testa saliente, e um queixo quadrado duplo, com uma fenda no meio. Era alto e de ombros largos como seu avô também, com um peito estudado e braços e pernas bem fortes. As únicas coisas que o diferenciavam era que Agravaine tinha uma pele mais pálida, nariz arrebitado e a cor dos olhos: Ectórios tinha profundos olhos azuis-escuros, enquanto o filho de Aenor tinha um olho verde-pálido, e outro, preto; ambos brilhantes como se fosse de vidro ou cristal, bem polídos, dilapidados e molhados. Seu filho tinha um olhar sempre variando entre malicioso e pensativo, mas sempre era 

Agravaine, ele sabia, era esperto o bastante para ter descoberto sobre o caso de seu pai já havia algum tempo. Nunca falaram sobre isso, mas não era necessário; seu filho nunca dissera-lhe nada. Tinham um acordo silencioso sobre isso.

Caso um dia ele falasse algo, Aenor o silenciaria.

Entretanto, não era a calma e frieza de Agravaine que Aenor queria, pelo menos não agora, precisa da fúria protetora de seu outro filho.

—E se —começou Aenor, ainda acariciando a cabeça de Ambrósius, que parecia estar ficando mais calmo, enquanto ele descansava a cabeça em seu ombro. — fizéssemos algo contra Gareth? Isso te deixaria feliz, filho?

Confuso, Ambrosius levantou a cabeça. Seus olhos estavam inchados e vermelhos, fungando um pouco. Ranho descia pelo nariz.

—Mas Helena ama Gareth, e ele a faz feliz. —Respondeu o rapaz. —Agora estão casados, e ele parece legal… não acho certo fazer algo que o machuque.

Aenor sorriu.

—Nem a mãe dele? —sugeriu. —Ah, isso quebraria o coração de qualquer filho!

E com sorte, pensou Aenor, isso talvez termine bem rápido com essa porcaria de casamento.

Ambrosius franziu o cenho.

—Mas… Por quê? Ela não fez nada, tio.

—Oh, ela não é santa! Ela tem algo que faria mal a sua mãe! —Disse Aenor, sabendo como seu filho era superprotetor com a mãe, assim como com a irmã.

A expressão de confusão e tristeza no rosto louro de Ambrosius sumiram, dando espaço para uma expressão de surpresa, e, logo em seguida, fúria.

—O que nós vamos fazer?

Bom garoto, pensou Aenor. Beijou-o novamente nos lábios, sentindo o calor morno de sua boca.


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