Margaery Tyrell: A Rosa Dourada de Highgarden 🌹 escrita por Pedroofthrones


Capítulo 2
Confronto com a rainha




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Quase três dias depois de falar com os reis, enquanto olhava o dia passar pelo banco da sua janela --só lhe restava isso, costurar e rezar--, uma noviça anunciou a chegada da rainha Daenerys e a princesa Arianne.

Margaery e suas primas se levantaram imediatamente para receber as convidadas. Margaery ajeitou um pouco o cabelo e colocou o Xale verde sobre os ombros.

O que será que aconteceu?

A rainha chegou em um traje de lã e sua colega dornesa em um longo vestido laranja.

—-Vossa Graça. Princesa--Disse Margaery, fazendo uma longa reverência. Suas primas a imitaram.

A septã ordenava as noviças para servirem bem as damas.

Antigamente, eu teria uma corte só de mulheres amigas. 

—-Está sendo bem tratada, Milady?--Perguntou Daenerys.

Se estivesse você não teria que perguntar.

—-Claro!--Disse sorrindo--Eu minhas primas nos sentimos mais seguras assim.

—-É como em Highgarden---Disse Megga---cheio de crianças!

Aquilo pareceu animar Daenerys:

—-Oh, tem muitas crianças em Highgarden?

—-Sim, todas correndo sorridentes com flores nas mãos--disse Elinor.

—-É um lugar lindo--garantiu Margaery-- Cheio de cantores e colunatas de mármore rosa. Rosas douradas até onde vista alcança e além. Há melões, pêssegos, ameixas, e tantas outras gostosuras...--Deu um sorriso sem jeito, enquanto uma noviça enchia seu copo de vinho quente-- Claro, antes do inverno e toda essa loucura dos homens de ferro.

Daenerys fez um gesto que mostrou que entendia.

—-Isso não será problema para sempre, garanto. Logo iremos tirar aquela escória de lá.

Margaery não sabia se aquilo era verdade, mas se agarrou aquilo.

—-Fico muito feliz em ouvir isso, vossa graça---Disse, segurando a mão de Daenerys.

A rainha ficou um tanto chocada com o resto.

—-Não se preocupe--Disse a rainha, colocando outra mão sobre a dela--Vai ficar tudo bem. Seu pai apoiou o meu; mesmo não tendo apoiado o Aegon. Mas entendo que a situação era outra e que a posição de Aegon...--Ela exitou.

Ela também tem dúvidas...

—-Aegon se mostrou digno do nome Targaryen--Terminou por ela--O que está feito está feito. Eu apenas peço que Vossa Graça tenha piedade de minha amada família.

 

—-Quanto à isso, fique tranquila. Eu e meu marido nada guardamos em rancor.

 

Margaery se viu obrigada a acreditar nela. Que escolha tinha?

—-Que ótimo---Disse Margaery, sorrindo.

—-O exército de Dorne está se reunindo--Disse a princesa dornesa, abruptamente--Eles vão nas marcas vermelhas de Dorne; irão passar pelo passo príncipe.

Margaery prestou atenção no que a Dornesa dizia.

—-Oh... Sou pouco sábia no que tange partes estratégicas...--deu um sorriso simples, para dar o ar de que não se importava tanto---Meus irmãos e meu pai sempre cuidavam dessa parte entediante para mim.

Arianne se prontificou em explicar:

—-O exército de Dorne irá passar das terras da tempestade.

—-Eles não vão direto para a Campina?

—-O caminho pelas montanhas é muito estreito e fechado para ir direto até a Campina. O exército de Randyll e Mathis irão para a Campina assim que estocarem tudo que precisam--A princesa se remexeu no assento, como se estivesse desconfortável-- Junto com a companhia dourada.

—-Ah, sim...--Ela não sabia bem o que poderia responder. Não entendia de táticas de guerra--E os outros exércitos?

—-Os filhos do guerreiro também irão--Disse Daenerys--, mas achamos melhor que os outros exércitos permaneçam aqui para... Proteger a capital.

Para não ficarem irritados com seu bando de exércitos estrangeiros, você quer dizer. Os sete reino nunca aceitarão a fé vermelha, ex-escravos e dothrakis em suas terras. E nem uma estrangeira queimando tudo.

A conversa não foi muito além daquilo. Palavras frias e vazias.

—-Lady Margaery--Disse Daenerys---Você e suas adoráveis primas aceitariam dar uma volta no jardim?

Assim que ela falou isso, Margaery ficou agitada, assim como suas primas.

—-Adoraríamos muito, Vossa graça---Disse Elinor--Mas é que esta muito frio para nós.

Alla se prontificou em confirmar:

—-Sim, nós, rosas, não somos feitas para o frio, sabe?

—-Bobagem--Disse Arianne--vocês precisam de ar. Se movimentar. Eu mesma vim de Dorne e não congelei--Disse rindo.

Margaery sabia que suas primas tinham medo de alguma trama. Algum ataque. Uma passada no jardim, poderia ser um caminho direto para as masmorras.

Mas ela sabia que não podia correr o risco de irritar a rainha. Não naquele momento.

Ela se levantou:

—-Eu adoraria, Majestade--Disse sorrindo.

—-Ma-Margaery...--Começou Ellinor, gaguejando.

Ela ignorou a prima:

—-Minhas primas podem ficar se quiserem, mas eu amaria ver a neve branca. Oh, eu nunca vi a neve! Deve ser lindo!

A rainha sorriu e se levantou, com a princesa dornesa a seguindo.

—-Perfeito, vamos então.

Ao descerem as escadas em caracol e passarem pela ponte levadiça, adentrando no jardim sagrado.

—-É realmente muito bonito--Disse Margaery enquanto olhava a neve cair.

Não era nada bonito. Era tudo um bando de plantas mortas e uma longa camada branca de neve cobrindo tudo. E o frio tornava tudo menos agradável.

Sansa e sua família talvez achassem isso lindo; mas esse mundo preto, branco e cinza é deles. Essas são as cores justas da casa Stark; mas eu sou uma Tyrell. Não fui feita para esse mundo.

Ela caminhava lentamente, de braços dado com a Daenerys. Não fazia mais de 1 ano que ela vivia cavalgando com suas primas e andando pela cidade. Mas o pouco tempo presa pela fé a deixou cansada e com os joelhos doloridos pelas rezas. Ser solta, mas nunca sair do castelo pelos tempos perigosos, não ajudou. Na verdade, o clima severo do inverno fazia até seus ossos ficarem frios e duros.

As rezas que estava tendo que fazer desde que a fé voltou a vigia-lá voltou a machucar seus joelhos; agora tinha que acordar mais cedo e fazer várias orações ao dia. Seus joelhos já estavam quase virando joelhos de santa.

Ao ficar ali no frio, sem uma roupa realmente quente, seu corpo estava quase tão duro quanto madeira. Ela não tinha encomendado vestido para o inverno extremo, pois no fim do outono ficou presa e a guerra logo depois a impediu de pensar nisso.

—-Diga-me--Disse Daenerys--, Lady Margaery, você conhecia bem a Lady Sansa Stark?

Por favor, Deuses, que Sansa e o Mindinho não tenham dito nada sobre o casamento...

—-Lady Sansa era uma garota doce e delicada--Disse, dando um ar de simplicidade e indiferença--Eu e minha avó tentamos casar ela com meu primo, mas isso não deu certo.

A rainha assentiu.

—-Lorde Tyrion disse que tentaram prometer Cersei, mas sua avó achou ela uma peça muita usada.

As duas deram risinhos. A ideia de Cersei ouvindo isso e se irritando a deixava com borboletas no estômago.

A princesa Arianne ficava atrás delas. Aquilo a deixava preocupada. Será que ela estava tramando algo? Será que ela detestava a Targaryen falando com uma Tyrell?

O tio da garota, Oberyn martell, aleijou o irmão mais velho de Margaery, Willas. Seu irmão o defendeu e sempre disse que era um acidente.

A jovem Tyrell acreditava nisso no início... Até ver o que aconteceu com o rosto da pobre Myrcella. Ela não acreditava na inocência de Arianne. Assim como não acreditava mais na inércia do pai da mesma. Era possível, até onde sabia, que os Martell tenham se aliado com Tyrion para libertá-lo e matar seu pai, Tywin.

Os Martell eram serpentes. Se nem os próprios aliados da Campina eram confiáveis, então ninguém mais era.

A rainha levou a donzela tyrell para um banco de pedra.

—--Sansa era muito triste--Disse Margaery, enquanto era lentamente guiada até o assento--Ela era gentil e amável, mas claramente tinha uma tristeza no olhar.

—-Imagino que os Lannister não foram gentis com ela.

—-Não. De fato, Joffrey batia nela e Cersei... Bom. Não é lá uma boa companhia.

Ela se soltou o braço de Margaery, que se dirigiu ao assento de pedra. Margaery fez um som de desconforto, dado a certa dor nas costas e joelhos.

Deuses, nem minha pequena avó é tão frágil.

—-A Lannister não parece ser a melhor das sogras...--Disse a rainha, fingindo não ver a fragilidade de Margaery, que levou as mãos até as laterais doloridas do corpo.

—-De fato--Concordou Margaery, serrando os dentes.

A princesa se mantinha afastada. Olhava para Margaery de forma estranha. Com pena. Como quando Margaery olhou para a Sansa no casamento de Tyrion.

Ela tem pena de mim... Que humilhante. Eu era a rainha mais amada dos sete reinos; hoje, sou uma uma jovem com ossos de uma velha.

—-Não quer se unir conosco, princesa?--Perguntou Margaery, forçando um sorriso.

A princesa exitou e olhou para Daenerys, que a fitava com aqueles quentes olhos de cor púrpura.

O quê podem estar tramando?

—-O frio não me faz bem--Respondeu Arianne, fazendo uma vênia e saindo.

Daenerys ignorou e se voltou para Margaery.

—-Pode me dizer mais sobre Sansa?

Ela balançou a cabeça:

—-Infelizmente não, majestade. Não éramos próximas.

—-Sabe menos ainda de seus irmãos, certo?

—-Nunca nem sequer os vi. Tem certeza de que esse que se diz Rickon é verdadeiro? Os Greyjoy não são o tipo de casa do Misericordiosa. Não são nada confiáveis nesse requisito. E não seria o primeiro falso-Stark a ser forjado. Se o filho de Lorde Balon jurou que matou os meninos...

—--Não temos provas. Mas não vejo motivo para os nortenhos mentirem. Eles já tem Sansa e o seu irmão bastardo legitimado... E faria mais sentido lorde Manderly mentir sobre o outro Stark assassinado mais velho.

—-Tudo que posso lhe dizer é que a Jovem Stark que conheci era calma e bem mansa. Lorde Petyr deve ser o mandante. Junto de outros lordes.

—-Ela me pareceu bem firme na carta...

—-Carta?

Daenerys assentiu:

—-Ela mandou uma carta sendo bem educada e com cortesia... Mas dizia que o Norte, o Vale, as terras fluviais nunca mais dobrarão os joelhos para ninguém. Que eu e Aegon poderíamos fazer o que quiséssemos com os outros reinos; mas ela e seus irmãos nunca vão se curvar.

Por que ela está me contando tudo isso?

—-Não parece do feitio de Sansa, Majestade.

—-Nós prometemos anular o casamento dela com lorde Tyrion. Aceitar o lorde que Winterfell quisesse ter. Devolver as terras Tully, até dar-lhes Harrenhal e as gêmeas para vingar as desfeitas Frey... Nada. Esperava que essa jovem fosse mais sensata que seus irmãos, mas é só mais polida ao falar. Deve ser o sangue nortenho.

—-Isso é a herança de Tywin. Os reinos o respeitavam. Temiam. Mas nunca o amaram. O norte até poderia fazer o que pede, mas o casamento vermelho tirou qualquer esperança de paz. Para eles, Robb e Lady Catelyn, junto com qualquer familiar nortenho falecido no evento, são mártires injustiçados.

A rainha concordou a contragosto. Claramente a ideia se ir guerra contra crianças não lhe era prazerosa.

—-De fato. O único outro rei que eles pareciam aceitar era o Stannis, mas os ferimentos da batalha o mataram. Bom, acho que dificilmente ele me apoiaria.

—-Majestade, a campina vai apoiar-lhe. O exército do Vale é uma ameaça, mas os outros estão fracos.

—-É bom ouvir isso...--Respondeu a Mãe dos dragões--Margaery, eu vou ser sincera com você. Sua casa é de grande importância para mim. Eu não quero fazer com Westeros o que fiz em Essos.

—-Ouvir isso é um alívio majestade---Disse, não conseguindo segurar totalmente nervosismo.

Ela sabia o Daenerys fez em Essos: Ela queimou os líderes Dothrakis, queimou Yunkai e Meeereen; saqueou a cidade dourada de Qarth e depois queimou-a. As muralhas negras de Volantis, onde os nobres se abrigaram para escapar das revoltas dos escravos, também foi alvo do fogo de seus dragões. Pentos, o lugar dos Magisters, foi saqueado e os líderes tiveram suas gargantas cortadas. Tudo por uma dívida com um mercenário que agora se denominava ''príncipe de Pentos". Apenas um gordo loiro que veio com Griff foi poupado e trouxe com ele suas riquezas.

Pelo que Margaery sabia, havia boatos de que ela havia queimado o guerreiro Victarion e tomado sua tropa. Ela não sabia se acreditava na época, mas agora, não tinha dúvidas.

Ela trouxe uma horda de estrangeiros: formada por libertos esfomeados (pois, é claro que eles teriam que alimentar mais bocas inúteis por causa da "benevolência" da rainha, que não se importava com o próprio reino), um exército de inumanos guerreiros, uma fé estrangeira e três criaturas nefastas. Ela não era uma salvadora. Era a filha do rei louco. Uma tirana, Uma louca... Não importava, pois o que quer que ela fosse, ela nunca seria o que Westeros precisa.

Não importa para onde ela vai, ela trará consigo mesma fogo e Sangue. Foi uma pena que Lorde Stannis foi impedido de matar ela e seu irmão por causa de uma tempestade. Westeros estaria livre dessa escória incestuosa e queimadora, já bastava-me Cersei Lannister!

—-Então saiba--Prosseguiu a rainha--Se a sua casa se voltar contra mim, eu não terei piedade: eu posso até não queimar Highgarden, mas suas terras irão para os martell. E seus aliados terão suas terras retiradas e transferidas para membros da companhia e para os lordes Tarly e Rowan, e a casa Tyrell ficará sem lar. Você me entendeu?

—-Sim...--Disse Margaery. Só poderia assentir.

—-Ótimo--Disse a rainha.

Ficou um período de silêncio. A neve caía. O Xale de lã que Margaery usava como véu, estava coberto de neve.

—-Eu irei para dentro--Disse Daenerys--Você vem?

—-Não--disse Margaery--Aqui está... Muito bonito.

A rainha partiu e seus guardas imaculados foram com  ela.

—-O que será do norte?--Perguntou a jovem, vendo a rainha se afastar--O que será de Sansa e seu irmãos?

A rainha não se virou.

—-Eu e Aegon demos para eles uma chance. Eles escolheram o caminho deles. Posso até tentar manter os dois mais novos vivos; mas o bastardo da muralha é uma ameaça. Os tios de Sansa e os lordes rebeldes são uma ameaça também.

—-O quê será dos dois se eles viverem?

A rainha se virou. Encarou Margaery com os olhos púrpuras. Parecia uma rainha de gelo. Os olhos, pareciam o veneno que ela botou no vinho de Joffrey.

—-Rickon pode ser um refém. Ou ser lorde desde que submisso a coroa. Mas os relatos sobre ele não me dão essa esperança. Já cansei de ter esperança. E Sansa...

—-Sim? O quê será dela?

—-Talvez, se o marido dela, Harry, viver, possamos poupar eles. Talvez ela esteja grávida, dado a quanto tempo está casada. Se ela está, esperava que a Maternidade os botasse algum juízo...

Se ela tem um filho, então nunca deixará a filha do homem que matou o avô e tio dela perto da criança.

—-Se ela não desistir--Continuou Daenerys--Então eu não terei escolha. O casamento dela é invalido por bigamia. Ela é esposa de Tyrion. O filho deles herdará o norte e o Oeste, caso Rickon não coopere . E ele herdará as terras dos rios, com os tios mortos, caso o bebê de Edmure não vingue. Mas posso permitir que ela cuide do bastardo que nascer com o tal Hardyng. Essa é a piedade que ela terá de mim.

—-Tyrion não irá anular o casamento?---Aquilo a surpreendeu. Podia ter certeza de que ele jamais tocaria na garota.

—-Ele está... Muito ansioso para botar as mãos no norte. E em Sansa. Assim, ele terá o Rochedo, e talvez Winterfell.

—-Mas ele não faria nenhum mal com Rickon ou filho de Sansa não é? Nem com o de Edmure?

—-Lorde Tyrion é um homem de ambição. Um Lannister. Ele não medirá esforços para destruir qualquer obstáculo.

Aquilo lhe fez um arrepio em Margaery.

—-E você e Aegon permitiriam isso? Só para manterem seu trono?

A rainha pareceu não ter coragem em responder e virou os calcanhares. Ela foi embora sem demora, deixando Margaery sozinha.

A jovem Tyrell gostaria de ter ido junto. Mas ela não queria ficar nem um pouco próxima da tirana.

Se eu tivesse veneno, aí sim eu me aproximaria. Ah, eu estaria bem próxima dela, elogiando cada fio de cabelo dela... Diferente de Joff, eu não ficaria horrorizada com a visão dela arranhando a própria carne.

Eram pensamentos cruéis. Nunca teve pensamentos assim antes.

Ela não demorou para sair do banco de pedra. Fez força para se erguer quando deixou de ouvir os passos da rainha e seus imaculados.

Ela soltou um gemido de desconforto enquanto levantava. Nunca havia se sentido mais frágil. Mal conseguia deixar as pernas retas quando se ergueu.

Um vento ainda mais frio veio e jogou neve contra seu corpo, fazendo-a tremer freneticamente. Infelizmente, a ventania que fez o cabelo dela se bagunçar e ficar grudado na cara dela, também levou seu Xale embora.

Fui uma idiota, devia ter ido com a rainha. É capaz que eu morra congelada antes de sequer sair do jardim.

Ela se abraçou, seus braços e mãos doíam pelo frio. Ela devia ter pegado luvas.

Olhou para os lados, tendo ver se encontrava o Xale em algum lugar... Mas era inútil. Mesmo se o vento não o tivesse levado voando para longe, a neve do Jardim teria deixado-o totalmente coberto.

Não podia ficar ali. Já estava anoitecendo. Ela começou a se mover...

Uma ventania ainda mais forte levantou suas saias e os de cabelo de Margaery voaram para todos lados. Seus joelhos ficaram ainda mais doloridos pelo frio e ela nem sentia os pés. Era como se o vento frio fosse a mordida violenta de uma alcatéia ou um dragão que cuspia gelo ao invés de fogo.

Quando abriu os olhos, eles estavam quase grudados um no outro pela neve. Seus lábios também.

Ela deu um passo, não sentido o pé sequer tocar no chão. A neve chegava aos calcanhares. Seu joelho parecia uma tábua pesada ao ser movido.

Ela foi indo assim. Um passo e depois outro. Ela foi dando passos terrivelmente lentos e curtos.

Ela ouviu o barulho de um galho se quebrando e se virou.

Nada.

—-Olá?--Não havia ninguém. Só uma árvore.

Ou pelo menos deve parecer que não tem ninguém...

Era assim na corte. Nunca estavam sozinhos.

Até que ela viu uma cor verde perto da árvore. Seria o represeiro do bosque, mas era um carvalho.

Ela deu alguns passos. Na esperança de ser seu Xale.

Ela fez mais algum esforço para ir até o lugar, quando chegou, ela percebeu que era mesmo o Xale coberto de neve. Puxou o tecido e balanço para tirar a neve. Colocou-o sobre os ombros.

Ela viu algo de um tom azulado coberto uma crosta de neve grossa. Retirou a neve que cobria e percebeu que eram flores.

Mas não eram qualquer tipo de flores... Eram rosas. Rosas de inverno.

Rosas de invernos azuis crescendo no meio daquele frio deserto branco. Crescendo fortes.

Ela pegou uma delas e puxou. Levou-a até o nariz e sentiu o aroma perfumado. Deu um leve sorriso triste.

Ela pegou algumas outras flores e as levou até o peito. Um pouco de cor e perfume nesses dias tristes não faria mal algum.

Ao se virar ela voltou a dar seus passos pequenos, ela percebeu que o banco de pedra em que havia se sentado estava com a neve retirada e uma moeda se encontrava nela.

Ao chegar perto, ela percebeu que era uma moeda dourada. E, ao pegar a moeda, viu que não era um dragão dourado. Era uma moeda antiga, da época dos rei Gardner. Ela ja tinha visto várias. Sua avó tinha um baú cheio delas.

Ela olhou para os lados, mas não viu ninguém.

Será que eu deveria dar atenção mesmo? Pode não ser o que aparenta... Mas como saber?

Ela demorou um bom tempo até chegar no saída do jardim, mas encontrar a moeda havia dado uma boa energia em seu coração. Por sorte, a passagem ainda estava aberta e ela não teve que gritar para algum guarda abrir.

Os corredores estavam com tochas acesas. Um ou outro ex-escravo passava pelos corredores e olhava para Margaery, mas nunca paravam para observa-lá. Ela não reconhecia nenhum servo westerosi.

Ela quase esbarrou com uma moça. Poderia ter confundido ela com uma Lannister se tivesse olhos verdes e o cabelo loiro fosse encaracolado. Ela usava roupas de uma septã, mas lhe parecia muito nova para isso.

—-Desculpe--Disse Margaery.

—-Tudo bem--Ela fez uma vênia--Eu é que me desculpo. Margaery, certo?

—-Sim.

—-Espero que saiba que nosso líder, o alto Septão, lhe protege muito nas reuniões de conselho.

Garanto que ele adora me proteger... Certamente ia adorar me jogar em outra cela.

—-É muito bom ouvir isso.

—-Ele retirou a septã de seus aposentos. Ele convenceu os reis de que você está acostumada com uma corte, então faça das servas da fé a sua.

Que tipo de jogo aquele septão velho estava jogando?

—-Isso é... Um grande presente. Não tenho dúvidas de que ele taz o que pode.

—-Vocês dois lutam pelo povo. E certamente pela fé.

Margaery soltou alguns simples agradecimentos e tentou em frente.

—-O rei Aegon e a rainha Daenerys são a volta dos grandes tempos Targaryen--Disse a jovem quando Margaery já estava se adiantando para partir, isso a fez parar e forçar um sorriso--Quando os Targaryen nascem os deuses lançam uma moeda.

—-Parece que as duas moedas tiveram a benevolência dos deuses--Cortou Margaery e se dirigiu as escadas, Irritada.

—-É isso que sua moeda lhe diz?

Isso fez a Margaery parar e se virar:

—-O que disse?

A garota fez uma vênia profunda e saiu apressadamente.

Apenas quando Margaery chegou em seus aposentos e viu os filhos do guerreiro ela se sentiu aliviada.

Eles a reconheceram e a deixaram entrar. Quando ela passou pela porta, as alabardas dos guardas se encontraram e formaram um "X" atrás dela, antes dela fechar a porta.

As primas da Margaery se voltaram imediatamente para ela assim que ela entrou.

—-Oh, graças aos deuses...--Disse Elinor ao vê-la.

—-Desculpem o atraso... Perdi a noção do tempo---mentiu.

—-Está tremendo e cheia de neve---Disse Alla.

Margaery se virou para uma jovem garotinha vestida de branco.

—--Quero um banho. Vá procurar alguns serviçais e diga-lhes para trazer uma banheira bem grande e prepararem água bem quente. Traga vinho também. Dornes, de preferência, para aquecer---Ela preferia pedir Dourado da Árvore, pois era mais doce, mas apenas o vinho tinto Dornes poderia aquece-lá. 

A garota loira de olhos verdes assentiu e foi fazer o que mandou. Margaery retirou o Xale e entregou as flores para uma jovem ruiva que tratou de ir botar elas em um vaso e depois voltar.

Elinor acendeu alguns incensos e Alla algumas velas perfumadas --claramente as duas estavam cansadas de ficar paradas---, enquanto outra garota da fé botava lenha na fogueira, junto com algumas ervas aromáticas e mexia com o atiçador. Um cheiro de lavanda e pinho encheu o ar, se misturando com o cheiro das flores.

Uma cadeira de ébano foi posta em frente da lareira para Margaery se sentar. Suas primas lhe cobriram com uma grossa renda de arminho.

A jovem de cabelos loiros veio dizer que a água já está sendo aquecida.

—-Eles trouxeram vinho de Yi Ti--Disse a jovem, segurando o jarro de vinho caro.

—-Eu disse que queria Dornes---Respondeu Margaery, irritada. Mas aceitou o vinho de qualquer maneira, levantando a taça de vidro Volanteno. Coisas de Yi Ti eram raras e caras. Só o açafrão valia mais do que todo o ouro do Oeste e da Campina juntos.

Querem no paparicar para nos agradar não é? Pois bem...

De fato, desde a queda da fortaleza, ela e suas primas tiveram tantos pratos cheios de comida que Margaery já estava começando a se sentir engordar um pouco. E ela via o mesmo nas primas.

Os reis deviam saber do amor do povo por Margaery; mas imaginou que eles demorariam bastante até terem segurança de que ela poderia sair livremente. O povo precisaria ser acalmado primeiro. Poderiam se rebelar e tentar salva-lá assim que vissem a liteira dela fora da fortaleza.

Uma jovem botava o jarro com as flores azuis no centro da mesa. As primas dividiam o vinho e a comida, Margaery se juntou a elas enquanto esperava trazerem água e encherem a banheira. Foram trazidos Pratos de ouro cravejados de jóias, cheios de azeitonas, mostarda, canela, pimentas gordas de Dorne, limão de Dorne, e um peru bem gordo com açafrão de Yi Ti. Uma outra tigela trazia açucar de dorne, os cubos eram amontoados e formavam uma pirâmide.

Era um banquete dos deuses!

Margaery tinha que admitir que o gosto do açafrão era novo, porém fraco. O vinho também não era tão bom, e a cor roxa não lhe apeteceu. Ela tentou o vinho de Caqui de Meereen, mas era o vinho mais fraco que já experimentou. Na verdade, ela não aguentava saber de mais nada que viesse de Essos e nem de Dorne.

Mas era melhor do que o pão velho que comia quando era refém dos sete. E o pior é que nem depois ela foi servida como antes; Cersei tinha tido a inteligência suprema de irritar o Lorde de Stokeworth e o protegido de Gyles, graças as batalhas e rebeliões na Campina e nos outros reinos, a fortaleza rapidamente ficou sem comida alguma. Já estavam comendo mingau que mais parecia um leite coalhado e água---Bom, na verdade, ela tinha certeza que Cersei estava guardando o melhor para ela.

Sob o manto de arminho, ela tinha a moeda dourada na palma da mão. Apertou ela com força. Querendo que fosse o pescoço de Cersei.

A banheira ficou pronta e Margaery foi despidas de suas vestes e colocada na banheira.

Ela suspirou de prazer ao relaxar na água bem quente.

Nenhuma das primas questionou sobre a conversa com a rainha. Claramente elas queriam muito saber, mas tinham muitas dúvidas se deveriam. Então, após o banho, Margaery disse que elas apenas passearam no jardim.

Apesar de livres da septã, o Alto Septão mandou algum septão para elas rezarem. O Alto Septão mandaria sempre algum septão diferente em alguns horários. Eles iriam acordar elas cedo, viriam após o almoço, jantar, ceia...

Margaery sentia novamente a dor nos joelhos voltando ao se ajoelhar para outra reza e cerrou os dentes.

Ela jogou a moeda na latrina pouco antes de se deitar. Teria jogado no fogo, mas teve medo da pessoa errada acabar achando. Nem sequer mencionou para suas primas. Ela não iria arriscar que fosse uma armadilha. E nem entrar em alguma briga entre o Alto Septão e os reis.

Que ambos se destruam. Eu não arriscarei. Não sou meu irmão Loras para entrar nessa loucura de cabeça erguida e espada na mão.


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