Margaery Tyrell: A Rosa Dourada de Highgarden 🌹 escrita por Pedroofthrones


Capítulo 16
A Chegada de Daenerys




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Daenerys não estava feliz em sua estadia em Westeros. Não era o reino mágico que ela imaginava; as pessoas a odiavam, alguns de seus apoiadores em nada pareciam se importar com seu direito; e a fortaleza parecia sempre estar em pé de guerra por algum motivo.

Não, aquelas não eram as terras verdes que ela imaginava. Tampouco um lugar cheio de pessoas felizes.

Também não tem portas vermelhas, pensou. A fortaleza vermelha estava cheia de tijolos vermelhos, mas nenhuma porta vermelha. 

Pelo menos Dany não tinha escravos para quebrar as correntes, mas também não tinha amor para si.

O Alto Septão a odiava, isso era óbvio para todos, detestava ela insistir em dar opiniões em assuntos do reino, mas detestava ainda mais o fato de Dany trazer a Fé Vermelha consigo para Westeros.

Um dia, pouco antes dela deixar a Corte, enquanto estava na sala do trono, observando o imenso trono de ferro, o Alto Septão —ou Alto Pardal, dependendo de quem o chamava—, veio falar com ela.

—Vossa Graça —Disse ele —, uma palavra?

Dany assentiu, deixando-o se aproximar. Seus pés estavam descalços, sujos, e duros como pedra. Tinha o cabelo preto preso para trás, e olhos castanhos cansados.

Os filhos Guerreiro ficaram poucos passos atrás de seu líder. Os irmãos de Sangue da Dany fizeram o mesmo com ela. Junto do Septão, sempre ao seu lado, estava a prima de Arianne, Tyene.

—Khaleesi —Disse Rakharo, na língua Dothraki —, não faz bem você falar com um andador de pés feridos. Não lhe é digno.

—Está tudo bem, Rakharo. —Disse Dany, depois, se voltou para o Alto Septão. —Diga, vossa eminência.

—Eu percebo que é uma mulher de opinião forte —Disse o Septão, num tom calmo. —E que passou por muitas coisas; mas, acredito eu, que vós se esquece de que não está mais em Essos e suas terras profanas, mas, sim, em Westeros.

Daenerys assentiu, tentando segurar a língua.

—Entendo. —Respondeu.

—Talvez, pelas coisas selvagens e profanas que viu em sua estadia nas terras além do mar estreito, ache que nosso reino está subserviente a vossa palavra -e, de fato, uma rainha tem palavra, mesmo sendo uma mulher-, mas é o Rei quem tem a palavra suprema.

A palavra da sua Fé, você quer dizer. O sobrinho de Dany se mostrara bem melhor em lidar com a Fé dos Sete do que Daenerys, mas ele parecia esquecer-se de que a Fé Vermelha também tinha lugar na corte. Na verdade, até o sobrinho de Dany parecia esquecer.

—Eu sou a companheira de Aegon, Vossa santidade —Dany disse —, e, tal qual Alysanne e as irmãs de Aegon, posso opinar sobre assuntos do reino. É meu dever como rainha.

O Alto Septão assentiu.

—Deixar Visenya ter voz não foi tão bom assim —Disse o Alto Septão. —No fim, ela voltou-se contra todos.

Talvez ela só não suportasse sua fé dando pitaco em tudo.

—Rhaenys e Alysanne não. —Dany o fez lembrar.

—Alysanne teve de ser barrada em muitos momentos; em sua loucura de mulher, Alysanne deu a infame ideia de que mulheres deveriam herdar junto dos homens —Ele retrucou. —E Rhaenys morreu cedo, nas areias de Dorne. Não sabemos como seria, mas acho que ela sabia mais seu lugar que a irmã.

Dany estava farta daquele homem. Ele seria menos enfadonho se só mandasse ela calar a boca.

—Acredite em mim quando digo…

—Não nos esqueçamos da princesa Rhaenyra —Ele a interrompeu. —; a ambição dela pelo trono do irmão quase destruiu os sete reinos e marcou o fim da era dos dragões.

Foi difícil para Dany manter o sorriso calmo.

—Rhaenyra foi declarada herdeira pelo seu pai. —Ela respondeu, com a voz um pouco mais irritada que gostaria. —O irmão dela não era herdeiro.

—O rei foi do pai dela —Retrucou o velho homem. —E Rhaenyra morreu por seus pecados.

—Assim como Aegon II, o usurpador. —Dany disse, rapidamente.

O pequeno e sujo homem apertou os olhos.

—A senhora está me dizendo Rhaenyra, que quase botou bastardos no trono e negou a paz, deveria ter reinado?

Daenerys suspirou e balançou a cabeça. Não queria defender Rhaenyra, usurpada ou não, ela ainda foi a mulher que nunca se importou com o povo. Doía saber que queriam compará-las.

—Ela parecia se inspirar com Visenya —Continuou tagarelando o velho Alto Septão, e então, pareceu olhar para o cabelo prateado e trançado de Dany. —Ambas usavam tranças.

Fingindo não ouvir, Dany afastou uma das tranças do cabelo, jogando para trás do ombro.

Ela tentou achar uma desculpa para se afastar, mas ele voltou a falar antes que pudesse:

—Acho que a incapacidade de governar da antiga rainha regente e a traição de Margaery já mostraram a todos nós como mulheres precisam saber seu lugar. Não só para protegê-las, mas também para proteger o reino de sua malícia.

Foi essa mesma malícia que fez Cersei rearmar sua fé, mas você não vai se lembrar disso, não é? Nem que Margaery acreditou nas palavras da fé dos sete para acreditar que seria solta?

Dany quase falou de Reis como Maegor, Aegon IV, ou até mesmo de seu pai, Aerys II… Mas ela sabia que seria inútil; aquele homem iria apenas culpar as mulheres ou dizer que deviam ser apenas alguns "casos isolados".

A culpada por ter de aguentar aquele fanático e muitos outros problemas era Cersei. Aquela mulher tinha derrubado os sete reinos num caos. Ao invés de resolver os respaldos da guerra, a antiga rainha Lannister os ignorara e criou outros problemas maiores: a fé militante reformada, os cofres vazios, diversos reinos em rebelião ou saqueados… O que ela estava fazendo durante seu período de regência? Porque não era governar, Dany tinha certeza.

—Eu estou um pouco fraca, Vossa Alta Santidade —Dany disse, e era em partes verdade, o parto de seu… as dores do seu quase parto ainda lhe machucavam um pouco, mas ela já podia montar Drogon.

Felizmente, acreditando ou não nela, o Alto Septão acenou e ela se afastou dele.

 

Isso foi há alguns dias, agora estava mais revigorada e em cima de seu filho mais velho, Drogon. Tyrion lhe fez uma sela nova em Essos, assim a pele coriácea de Drogon não a machucaria como antes. O berrante gigante estava preso na parte da frente, assim Dany não teria dificuldades levantá-lo e nem tocá-lo.

O Berrante foi um espólio que ela pegou de Victarion, um homem de ferro idiota que ela fez bem em matar. O berrante nunca funcionaria com ele mesmo, ele era para o sangue de Valíria, não para um brutamontes.

A frota de Essos estava quase toda embaixo dela, mais da metade dos navios de sua frota a seguiu. Ela tentou falar contra isso, mas seu sobrinho insistiu que era melhor os Essosi a acompanharem.

—O povo não gosta deles —Aegon insistiu.

—Mas então por que não os leva consigo para a Campina?

Aegon balançou a cabeça prateada.

—A Campina não está tão revoltada contra mim. —Ele disse, parecendo ignorar Dany como sua companheira. —O Norte sim. Os que não forem com você na frota, vão subir o tridente e enfrentar os lordes do rio.

Dany não gostava daquele plano. Se eles acreditavam tanto que o Norte cairia rapidamente, e que isso logo derrubaria os lordes das Terras Fluviais e o Vale, por qual motivo deveriam usar tanto de suas forças para enfrentá-los? Gastaria muito tempo e comida.

—Não acho que seja uma decisão sensata, Aegon. —Dany havia lhe dito. —Os imaculados deveriam defender a cidade.

Ele a olhou com fúria.

—E eu pareço me importar com o que você pensa? —Ele perguntou, comprimindo os lábios. —E, além do mais, Viserion ficará de guarda no Fosso dos dragões.

Por sorte, quase nenhum dos companheiros de Dany entendia o que ele dizia.

—Eu só estou…

—Está boa para montar? —Ele perguntou, num tom cortante.

Dany assentiu.

—Então faça o que mando. —Ele havia lhe dito. —Você leva uma parte consigo, para o Norte. Barristan e seu mercenário de estimação levarão os Dothraki para o Tridente. E é isso.

Dany não pode ignorar o comentário a Daario... Mas preferiu não falar nada. Eles já não tinham nada há havia um tempo. E seria péssimo para ela mantê-lo por perto. Parecia que muitos comentavam sobre eles.

 

Daenerys teve que voar abaixo das nuvens, normalmente não voava tão baixo, mas as nuvens de inverno estavam muito densas; não iria conseguir ver nada lá de cima. E não ajudava estar tão escuro e frio.

Daenerys usava uma armadura de aço negro, algumas partes tinham formato de escamas, como um dragão. Um seu peitoral, um dragão vermelho de três cabeças, feito inteiramente de rubis, se encontrava. Era parecida com a que seu falecido irmão, Rhaegar, usava em batalha. A mesma que usou ao morrer.

A última vez que viu Arianne, estava vestindo a armadura.

—Está tudo bem? —Arianne perguntou, ao entrar nos aposentos da rainha.

Dany acenou, enquanto um cavaleiro de Essos -Sor Barristan ungira alguns em Meereen- ajudava Dany a encaixar a armadura. Ele prendeu uma tira de couro, deixando o braço esquerdo de Dany coberto por escamas de aço frio e negro.

—Eu espero que já esteja mesmo bem, vossa graça —Disse a princesa, sentando-se em um banquinho ao lado da rainha. —Está… recuperada?

Dany fechou a cara e assentiu.

—Estou.

—Acha que dará tudo certo no Norte?

Daenerys levantou o outro braço, para que o servo colocasse mais partes da armadura.

—Não sei. —Disse Dany, ainda desgostosa com a ideia do que poderia ter de fazer quando chegasse ao reino inimigo. —Eu espero que eles escutem a voz da razão, mas sei que raramente é assim… nunca é assim.

Arianne assentiu e deu-lhe um sorriso simples, mostrando que entendia o que ela sentia.

Quando o jovem de Meereen terminou de colocar a manopla na mão de Dany, ela abaixou o braço e se recostou na coluna de madeira da cama. Se sentia cansada. Sufocada.

—Está bem, majestade? —Perguntou Arianne.

Dany apenas assentiu.

—Vossa iluminada —Perguntou o cavaleiro com pele de âmbar —, a armadura está apertada?

Dany deu de ombros.

—Eu não sei —Disse Dany —Talvez…

—Quer que eu tente afrouxar?

Dany balançou a cabeça.

—Não, não precisa.

Arianne foi até ela e tocou em seu ombro coberto por metal.

—Vai ficar tudo bem, Vossa Graça —Ela prometeu —Eu vou cuidar de tudo até você e Aegon voltarem. Eu juro.

Daenerys sorriu em agradecimento. Arianne era uma das poucas amigas wue tinha.

 

Estava no Vale neste momento —ou perto dele, para ser mais exato —, mas não iria para a terra, ela sabia que um jeito de derrotar a rebelião era no Norte.

Após um tempo, ela viu, lá do alto, a frota inimiga do norte e do vale se aproximando.  Era enorme, mas não era nenhum dragão vivo.

Descendo em um rasante, Daenerys tocou o berrante e estalou um chocou no pescoço de drogon. O filho rugiu, indo de frente ao perigo, sem medo, e com muita fúria. Seu rugido fez tremer até o corpo de Dany.

—Dracarys! —Ela disse, sentindo o vento quente da descida rápida do filho, sentindo-se viva de novo. Esquecendo-se dos problemas.

As velas das galés foram as primeiras a queimar, algumas se desprenderam e caíram em cima dos galés e das pessoas, queimando-os. Drogon também queimou o convés e o casco de vários navios. Homens pulavam nas águas frias do mar, tentando fugir do fogo ou apagar as chamas no corpo.

Drogo subiu, se virou e desceu novamente, cuspindo fogo negro na frota inimiga.

De repente, uma enorme seta cinzenta passou por cima de Dany, assustando-a, mas não lhe atingindo. Porém, arrancou o seu capacete de metal negro e machucou sua cabeça. Ela podia sentir uma leve ardencia e um fio de sangue escorrendo pela sua testa. Um tambor parecia rugir ruidosamente dentro de seu crânio. 

Depois, veio outra, acertando a membrana vermelha e transparente de Drogon, fazendo o gritar de fúria e sangrar um pouco na área afetada.

Deve ser de Braavos, pensou Dany. Ela sabia que eles estavam aliados a Stannis e aos nortistas, mas nem imaginou que eles estariam dando armas contra dragões, achou que apenas lhe dariam moedas. Acreditava que logo eles mudariam de lado e ela e Aegon os comprariam com o dinheiro da Campina.

O ódio aos valirianos talvez tivesse falado mais alto. Agora, a frota do Norte tinha os Bravosi consigo.

Drogon estava ainda mais furioso, graças ao ferimento, que pingava sangue e fazia sair fumaça. Mas Dany não era como seu filho, não se entregaria à fúria suicida como ele. Bateu-lhe o chicote contra a couraça de couro quente.

—Suba! —Ela berrou. —Suba!

Seu filho berrou em fúria, descendo mais, talvez procurando o navio que o machucou.

Dany tocou o berrante, expulsando todo o ar de seus pulmões e sentindo os ossos queimarem. Seu filho a obedeceu e começou a descer.

Mas era tarde demais, eles já estavam muito baixos. Isso permitiu que um arpão surgisse, Drogon pareceu ter reflexos rápidos o bastante para escapar, girando o corpo quando Dany ainda nem tinha visto a seta inimiga.

Mas ele não foi rápido o bastante, logo Dany o ouviu rugir de dor e sentiu um solavanco. Por um instante, ela achou que iria cair da sela. Drogon balançou as asas mais rápida e raivosamente, fazendo o som de trovões e soprando um ar tão quente que Dany achou que seria assada viva em sua armadura.

Dany viu que ele não conseguia sair do lugar e se virou. Era a cauda dele, estava trespassada pelo arpão do inimigo.

Seu filho voo para o lado, indo em direção ao inimigo.

—Não! —Berrou Dany. Tocou o berrante, fazendo Drogon dar a volta.

Seu filho logo estava com a corda enroscada na corda, fazendo sangue vermelho expelir mais do ferimento e sair mais fumaça.

Dany estava desesperada. As chamas e as fumaças nas velas estavam por toda a parte, causando uma confusão que devia impedir os atiradores de ver seu filho com clareza. Entretanto, ela sabia que isso não iria durar para sempre, ainda mais com a corda do navio presa em Drogon, sinalizando para algumas galés próximas a direção dele, mesmo que eles não o vissem.

Dany se sentia sem fôlego. Seu filho se remexia, mais desesperado, fazendo com que a corda se enroscasse mais nele. Isso a impedia de pegar o berrante, pois ele a impedia de ficar parada e se recuperar para pegar o berrante.

Ela esticou a mão para o berrante e encheu o ar de pulmões. Ela iria fazer seu filho se virar e queimar a corda. Só com o berrante poderia dar um comando tão complexo.

Quando ela ia colocar os lábios no berrante, algo o acertou e quebrou o mecanismo que o prendia, fazendo o material de metal da sela quebrar em pequenos pedaços, fazendo Dany instintivamente se encolher e colocar os braços na frente do rosto. O berrante caiu para o lado.

Dany esticou os braços para agarrá-lo, desesperada, mas foi inútil. Ele era pesado demais, e acabou por escapar de seus dedos e cair nas chamas abaixo dela. Dany viu sua enorme e exuberante figura diminuir conforme caia para longe dela, até finalmente sumir entre a fumaça.

E lá se foi uma das poucas memórias restantes dos antepassados de Dany… E o único modo de Daenerys controlar seu filho.

Desesperada, Dany logo se viu de cabeça para baixo. Seu filho estava virado novamente, tentando se soltar.

Uma seta acertou a barriga de Drogon, cortando-o e fazendo sair sangue e fumaça preta. Logo, uma o acertou no pescoço, como quando o atacaram na arena. Desta vez, ele e Dany gritaram juntos.

Dany tentou se equilibrar e pegar as rédeas, apesar de se sentir tonta. Com dificuldade ela conseguiu, puxando-as para o lado, na esperança de que seu filho entendesse.

Por sorte, pareceu que sim, pois ela logo estava no topo novamente. Mas ainda tinha que pensar em como soltar seu filho.

Ela não conseguia soltar o arpão na cauda, mas conseguiu retirar a seta do pescoço dele. Estava quase derretida, graças ao calor corporal de seu filho. Dany a soltou, deixando-a cair no fogo dos navios.

Por sorte, talvez graças ao sangue fervente de Drogon, a corda finalmente se rompeu e eles puderam voar para longe.

Entretanto, enquanto voavam, Dany sentiu outro solavanco e Drogon gritou novamente. Mas ela não podia parar para ver e nem se dar o luxo de continuar lutando e acabar sendo atingida. Ela pegou o chicote e o fez estalar na coriácea de Drogon.

—Suba! —Ela berrou, batendo o chicote até o braço doer e implorar para parar, mas ela ignorou a dor. —Voe! Suba, agora!

Seu filho rugiu e fez o que lhe era ordenado. Fumaça tampava a visão da Dany, fazendo lágrimas se acumularem em seus lindos olhos. Ela teve que apertar as pálpebras e expulsar a água de sua vista. Seu coração parecia estar prestes a explodir em seu peito, seu fôlego estava quase no fim, e seus ossos doíam. Um sino batia em sua cabeça. Ela sentiu que iria desmaiar. Parte dela queria isso.

Logo a escuridão da fumaça pareceu se dissipar, e a luz a tocou. Não era a luz dourada do sol, mas lhe pareceu isso inicialmente. Ela sentiu o vento a atingir, fazendo o calor insano em seu corpo diminuir. Ela pegou um pouco de ar. Sentia-se um pouco melhor agora, apesar da dor de cabeça.

Ela olhou para baixo, vendo o caos de fumaça e fogo que causara. As chamas laranjas e negras subiam, mas a fumaça cobria a maior parte. Alguns navios estavam quase todos afundados.

Dany se afastou mais ainda, com medo de ser atingida, tal qual a rainha Rhaenys em Dorne. Ela sabia que a frota era enorme, por mais que tivesse queimado uma boa quantidade de navios, ainda existiam muitos outros para derrubar. Logo o fogo iria se apagar, e a maior parte dos navios estaria intacta. Teria de deixar a sua própria frota lutar contra aquela, pois não podia arriscar outro ataque. Tinha certeza que não sobreviveria à uma segunda batalha.

Olhando para baixo, percebeu que um arpão atingiu Drogon bem na pata esquerda. Estava trapassando-a, fazendo sangue fervente pingar. Claramente machucando seu filho. E ainda havia o arpão na cauda, mas este parecia que logo iria cair, pois já estava torto pelo calor do sangue.

Dany queria tirar aquela coisa que machucava seu filho, mas não conseguiria se abaixar para pegar setas que o feriam. Teria de tirar em terra firme, mas não podia se dar ao luxo de ir até alguma terra do Vale e ser atacada quando estivesse de guarda abaixada. Teria de esperar chegar ao Norte ou que o sangue de Drogo as derretesse.

Dany manteve Drogon parado, enquanto observava a frota que o atacou se movendo em direção a de Essos. Teve que esperar muito até que os exércitos se chocarem, pois ela viu e atacou a frota muito antes deles se aproximarem da sua.

Esse era o plano, derrubá-los com Drogon… Mas os Stark se provaram mais traiçoeiros.

Stark. Essa casa se provara uma grande ameaça a ela; não se ajoelhando, recusando-se a lhe dar paz. Agora, graças a eles, havia perdido seu poderoso berrante e quase perdeu a vida junto… quase perdeu seu filho.

Eles iriam responder por isso.

Eles também mataram meu pai e irmão, pensou. Mas, desde que soubera da verdade como seu pai Aerys era… Não, não ia pensar nisso. Pensar nele e em Rhaegar era como dar razão para os Stark nessa guerra, e ela não podia fazer isso.

 

No fim do dia, boa parte de sua tropa estava destruída, mas derrotaram a tropa inimiga. Dany estava com as pernas doloridas, cansada de ficar em Drogon, mas assim teria de ser, até chegar em Porto Branco. Infelizmente, parecia-lhe que mais da metade de sua tropa não havia sobrado para chegar até o local. Sua jornada no Norte claramente não seria rápida e fácil como ela imaginou, teria de torcer para nada atrapalhar Aegon na Campina e Barristan no Tridente.



Uma galé chegou horas após a batalha, quando Dany e sua frota já tinham partido.. Se aproximando dos cascos queimados, sem medo. Eles foram até o local onde seu líder mandou, e baixaram um esquife para água. Dois homens remaram até um casco enorme e queimado que estava virado para cima. Quando pararam, outros três pularam nas águas negras em absoluto silêncio.

Após um tempo de silêncio, com exceção das ondas da água, o enorme berrante emergiu, com seus glifos em valiriano brilhando. Os três homens o erguiam, estavam molhados e quase morrendo de frio.

Um dos homens que remava o pegou e o trouxe para dentro, sem fazer nenhum barulho. O esquife balançou furiosamente e quase pareceu que iria afundar com o peso do místico do objeto.

O homem voltou ao seu assento e pegou os remos, sem ajudar os silenciosos companheiros que erguiam as mãos, em um sinal de ajuda. Ele acenou para o outro homem com os remos e eles voltaram para o navio, deixando os outros para trás.



Daenerys se sentia fraca, a comida em suas bolsas havia acabado antes da hora e ela não aguentava mais voar no dorso de seu filho. Sua garganta doía, devia ter tocado muito o berrante. Precisava parar, desesperadamente. Mas a dor em sua cabeça já havia diminuído, mas o sangue nela havia secado e ela não conseguia limpá-lo sem água.

Ela também sentia seu filho ficando fraco. Drogon odiava o frio do Norte, e estava cada dia mais lento nos céus. Os pedaços de metal que haviam fincado nele já haviam se soltado, após derreterem com o calor de seu sangue. Porém, Dany sabia que ele ainda estava muito cansado e ferido. E, infelizmente, ela não sabia se poderiam ajudá-lo com os ferimentos; dragões estavam extintos há séculos.

Por sorte, haviam finalmente chegado em Porto Branco.

Dany não se atreveu a ir em frente, deixando a frota ir em seu lugar, deixando-os ir até o porto e descerem de seus navios. Ela não queria arriscar ter escorpiões nas ameias.

Para sua surpresa, o castelo não demorou para se render, demorando só uma hora ou duas. Daenerys viu alguns dos homens nos navios sinalizarem que a cidade era sua, balançando hastes de madeira com a bandeira Targaryen, enquanto outros homens amarravam as cordas para prender os navios.

Dany voou até Castelo Novo, onde os Manderly ficavam. Os portões estavam abertos, e alguns imaculados estavam passando por eles. Após voar por cima das ameias, Dany pousou Drogon no pátio do castelo. O dragão deu um rugido desconfortável, claramente sentindo dor na pata ao pousá-la no chão. Dany pareceu poder sentir a dor dele.

Ela viu um imaculado a esperando por lá, ao lado de um lorde e um homem de ferro.

Dany saiu com dificuldade de sua sela. Suas pernas estavam duras e doloridas, sangrando, como quando ela ainda dava suas primeiras cavalgadas em sua Prata. Mas tentou não demonstrar dor.

Flocos de neve tocaram seu rosto, derretendo-se. Dany olhou para cima, percebendo que ainda não havia apreciado a neve desde que chegaram em Westeros.

—Majestade —Disse o imaculado, indo até ela. —, eu sou Bosta de escaravelho.

Dany fez uma careta, mas ignorou o nome. Sabia que muitos de seus imaculados libertos preferiram manter o nome que tinham no dia em que foram libertos —uma pena nenhum deles ser agradável.

—O que houve com Verme Cinzento? —Ela perguntou. Serviu como batedora, então acabou não falando com ninguém na frota. De fato, sua voz estava um pouco embargada, pois passara muitos dias sem falar e ainda respirara muita fumaça na batalha.

—Morreu, minha rainha —Ele disse. —Assim como o segundo e terceiro em comando. Eu fui escolhido pelos meus, e assim permanecerei no posto, se a senhora assim o quiser.

Dany assentiu. Verme Cinzento foi um soldado valente, merecia mais do que ser morto em alto mar. Dany faria os responsáveis por isso pagarem.

O imaculado apontou com a cabeça para o homem bem vestido e o Homem das ilhas de ferro.

—Este é o Castelão —Disse o homem das ilhas de ferro. —Ele não entendia o que o imaculado falava, então me ofereci para explicar tudo, vossa graça.

Dany não gostava daquele homem. Não gostava de nenhum homem das ilhas de Ferro. Eram todos horríveis, mas precisava deles.

Dany assentiu e se virou para o castelão.

—Onde está seu lorde?

O homem pareceu pálido ao encará-la. Lambeu os lábios, nervosamente, e falou nervosamente:

—Meu lorde, Wyman Manderly, morreu de ferimentos em Winterfell.

Dany revirou os olhos. Não tinha tempo para isso.

—Onde está o seu lorde? —Ela perguntou novamente, irritada.

—Wilys está em Winterfell —Ele disse —Junto de sua esposa e filhas.

Dany franziu o cenho.

—Então eles fugiram. —Ela disse. Apesar disso lhe irritar, era óbvio e bem esperado. —Simplesmente entregaram Castelo Novo não é? Bem, imagino que tenham levado todos os seus suprimentos, mas não podem tirar as pratas da mina.

O homem assentiu, mas pareceu que o medo diminuiu em seu olhar.

—Não há nada aqui no norte para você, usurpadora. —Ele disse e cuspiu no chão.

O homem de ferro pegou o ombro e retirou uma faca cinto, pronto para enfiar na garganta do homem.

—Pare! —Ela disse —Já chega!

Ele a olhou com incredulidade.

—Este homem a desonrou!

—Como se você e seu povo não fizessem pior com as esposas. — rebateu Dany, irritada. —Agora saia daqui!

—Mas eu…

—Saia! —Ela ordenou, com fúria na voz. —Agora!

Ele a olhou como se quisesse esfaqueá-la ali mesmo. Mas teve o bom senso de largar o homem e guardar a faca. Ele saiu andando, claramente irritado.

Dany olhou para alguns imaculados no pátio.

—Prendam este homem —Ela ordenou, apontando para o Castelão. Não queria matá-lo, mas não ia confiar nele. —Achem algum quarto e o tranquem-no lá.

Depois que ele se foi, ela se virou para Bosta de Escaravelho —pelos deuses, ele iria mesmo manter aquele nome?

—Marwyn está vivo? —O meistre veio com ela, esperava que ele estivesse vivo para cuidar de Drogon.

O imaculado assentiu.

—Ótimo. —Ela disse. —Tem carne nos navios?

Ele assentiu.

—Sim, minha libertadora, mas não sabemos quanta. Creio que muita, pois quase não a comemos, como a senhora ordenou.

Dany assentiu.

—Certo. Agora, prendam todos os servos e guardas que tem neste castelo. Não devem ter sobrado muitos —Ela disse. —Após isso, procure comida para meu filho. Drogon precisa de qualquer carne; morta, viva… de preferência viva. Procurem alguma carne nas casas da cidade, cacem alguma na floresta se precisarem.

Ela sabia que seria inútil, os Manderly já deviam levado comida e queimado o que não conseguiram. Dificilmente sobrou algum animal vivo, mas talvez tivesse algum animal morto por perto. Não queria ter de sofrer pelos mesmos erros que cometeu em Meereen. Drogon estava com fome e ferido… mas sabia que logo iria querer voar e caçar.

O imaculado assentiu e se afastou, logo depois, Marwyn apareceu. Dany e Aegon sabiam que ela precisaria dele, pois não poderia confiar em nenhum meistre…

Mas isso não significava que ela confiava no meistre.

—Vossa Graça —Ele disse. Era um homem feio e esquisito. —Quer que eu trate de algum ferimento seu?

Ela fez que não com a cabeça.

—Isso pode esperar — Ela disse. —Consegue cuidar dele? —Ela perguntou, acenando com a cabeça para Drogon.

Marwyn visualizou a criatura alada por um tempo e depois deu de ombros.

—Não sei. Farei o que puder.

—Você vai curá-lo. —Ela ordenou. Se virou e foi até Drogon.

Ela tocou seu focinho com a mão coberta por cota de malha. Era possível sentir o calor dele. Fumaça negra saia de suas narinas.

—Meu pobre filho… —Disse Dany, com dor no coração. —Eu prometo, eles vão pagar por isso.



Dany foi até o quarto de Lorde Manderly. Não pretendia ficar muito tempo em Castelo Novo, só até os mantimentos e carroças estarem prontos e Drogon se recuperar; iria demorar mais do que ela gostaria, mas não teria problema. Após isso, marchariam para o Norte.

Dany mandou os servos de Essos retirarem sua armadura. Sua carne estava cheia de marcas, e algumas partes tinham hematomas e cortes leves. Sangue seco estava acumulado ao longo de suas pernas.

Ela ordenou para uma serva desfazer suas tranças e para os outros prepararem uma banheira com água bem quente para ela.

Ao entrar na água, ela se esfregou e os empregados a ajudaram. A sujeita de seu corpo começou a sair, as crostas de sangue seco, cinzas, manchas de sujeira acumulada… a água terminou escura de tão suja, e Dany mandou prepararem outra banharem para ela se banhar.

Quando terminou, ela dispensou os empregados. Dois Imaculados ficaram de guarda dentro de seu quarto, mais dois na antecâmara, e dois do lado de fora. Ninguém iria lhe fazer mal.

Dany colocou um roupão velho e desgastado que a senhora Manderly não havia levado —talvez nem fosse dela, e sim da anterior—, mesmo que ficasse grande nela, e se jogou na cama. Deixou-se afundar no colchão de palha. Era quente e confortável, mas mesmo que fosse de pedra, ela provavelmente o bem iria sentir.

Depois pensaria no caos de sua vida, por agora, ela só queria ser uma jovem garota, dormindo em um colchão de palha.

Rapidamente caiu no sono.

 

Quando o sonho tomou conta dela, ela viu um imenso kraken roxo, com um olho azul brilhante. Ele ria, enquanto esmagava um dragão de ouro!

—Não!— gritou Dany, que estava em cima de Drogon, batendo o com o chicote e o instigando para a luta. Ela estava envergando a armadura negra com rubis novamente.

Ao seu lado, um lobo albino com asas de couro verde voava, uivando e cuspindo fogo. Ambos estavam indo em direção ao kraken do mal, que se escondia em muralhas negras em um rio.

Um exército de gelo se erguia para defendê-lo, mas ela e seu companheiro os derretiam ao cuspir fogo neles. Dany se aproximou do Kraken, que estava quebrando o dragão de ouro, rindo malignamente.

—Dracarys! —Ela gritou, se arrependendo logo em seguida, sem saber exatamente o porquê.

Quando as chamas negras de Drogon atingiu as muralhas negras onde o Kraken se escondia, uma imensa chama verde explodiu e queimou toda a região.

Com horror, Dany olhou para baixo. O mundo estava enegrecido, as criaturas de gelo eram na verdade pessoas normais, gritando, enquanto eram consumidas pelas chamas esmeraldas.

O quê eu fiz?, Dany se perguntou, horrorizada. Era para eu ser a salvadora deles…




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