Margaery Tyrell: A Rosa Dourada de Highgarden 🌹 escrita por Pedroofthrones


Capítulo 15
A Serpente da Corte




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Meses atrás…

As coisas não iam nada bem para Daenerys. Era visível para todos.

—Meu Alto Septão a odeia —Disse sua prima, Tyene. Elas estavam bebendo vinho dornês nos aposentos de Arianne. —Acha-a profana, nojenta… Imprópria para ser rainha.

Arianne deu de ombros.

—Ela é esposa de Aegon —Respondeu ela. —E desde quando nós concordamos com a opinião geral de algum lorde que não seja de Dorne? Eles todos…

—Ele não é um mero lorde —Sua prima a interrompeu. —Ele é o chefe da nossa Fé, e já prendeu e quase executou duas rainhas. E, se ele não gostar da nova, pode criar um grande caos.

Arianne sabia que ela estava certa.

—Sim, mas ele terá de aceitar que ela é a consorte protegida de Aegon. E ela tem defensores.

—Mas tem mais odiadores —Tyene lhe fez lembrar. —O povo não a suporta, a nobreza tampouco.

—Dorne a apoia —Arianne disse, tentando defendê-la.

—Dorne apoia a Aegon. —Corrigiu Tyene. —Ele é do sangue de Elia e herdeiro real do trono.

Arianne suspirou. Era difícil defender a rainha; tentava entender o lado dela… mas a verdade é que, não fosse pelo grande exército e dragões, as coisas seriam melhores sem ela.

De fato, seu exército de Essos se provou um grande problema: eram muitas bocas para alimentar, vivendo nas ruas de Porto Real, quase ninguém falava a língua deles, e estavam causando brigas pela religião. Até os dragões de Daenerys eram um problema; estavam acabando com o gado, e a própria Rainha não tinha certeza de que eles permaneceriam para sempre nas ruínas do fosso dos dragões. Volta e meia Drogon era visto voando e aterrorizando o povo comum e os comerciantes; e o rugido das três criaturas aladas apavoravam todos que moravam perto da grande ruína onde viviam, e até os impedia de dormir.

—Daenerys está grávida —Disse Arianne—Quando ela nos der um herdeiro, tudo isso terminará logo.

—Se ela nos der um herdeiro. —Tyene a corrigiu —Ela já nos atrasou alguns meses para ter a criança; é bom que vingue, ou o rei e os súditos ficaram irritados por terem ficado sem se mover por tanto tempo.

—Ele vai vingar. —Disse Arianne, tentando ser convicta —E assim, todos passarão a aceitar mais Daenerys.

—Se você acha…

—Tenho certeza.

—O povo comum ainda não vai gostar dela. Eles a odeiam e temem; acham que matou Margaery e suas primas, que se banha no sangue das donzelas, e corrompeu o próprio sobrinho…

Sempre é assim, pensou irritada, Aegon pode ser marido de Daenerys e ser um Targaryen tanto quanto ela, mas ela é a tia promíscua e ele o salvador da pátria.

—Se ao menos ainda tivéssemos a rainha Margaery…—Lamentou Tyene.

—Mas não temos. —Cortou Arianne, irritada. Margaery estava presa em uma cela especial, mas, a cada dia que passava, ela ouvia dizer, a jovem só sabia piorar mais a própria situação. —Demos segurança para ela, e ela nos devolveu com um plano de fuga e uma rebelião falha.

Tyene levantou uma sobrancelha e riu.

—Não foi você quem tentou coroar a Myrcella para ir contra o seu pai, prima? —Ela a questionou.

Arianne fez um som irritado.

—Não é a mesma coisa…

—Tem razão —Tyene disse —Você foi contra o seu pai porque achou que ele lhe tirou seu direito, e agora se alia a mulher que matou seu irmão; Margaery se rebelou contra as pessoas que foram totalmente culpadas pela morte de seu pai, e que prometeram uma falsa vingança e segurança. De fato, nada igual.

Arianne franziu o cenho e deixou a taça de lado.

—Daenerys não matou Quentyn —Arianne disse, irritada.

—Se você acredita nela…

—Os amigos dele confirmaram!

—Ela negou o casamento, foi o dragão dela que…

—Basta! —Disse Arianne —Saia daqui, Tyene! Acho que ficou muito tempo ouvindo as canções chatas daqueles pardais.

Tyene parecia ter uma resposta na língua, mas pousou a taça na mesinha e se levantou do assento.

—Princesa— fez uma reverência e saiu.

Arianne bebeu o resto de seu vinho e o jogou o da prima na lareira. O silêncio perdurou no aposento até que alguém bateu na sua porta.

—Quem é? —Ela perguntou.

—Sou eu, Moqorro.

—Moqorro? —Ela perguntou ao ouvir a voz no idioma comum quase perfeito. O que o sacerdote queria numa hora dessas? —Mas por...

—Nossa rainha —Disse o homem alto—, precisa de nós.

Daenerys? Pelos deuses, que não seja o bebê.

—Eu já vou. —Ela respondeu, se levantando.

Arianne abriu a porta e saiu. Viu que Tyrion também estava lá, ao lado do enorme sacerdote.

—Princesa. —O filho de Tywin disse, secamente.

—Anão. —Ela se virou para Moqorro. —O que ela tem?

—Venha e você verá.

—Princesa! —Saiu Daemon de seus aposentos ao lado do dela, com uma adaga na mão e com roupas de dormir esfarrapadas.

—Vá dormir Daemon. —Disse Arianne, não querendo que ele soubesse de algum problema —Não tenho tempo para você.

 

Mormont e Barristan estavam protegendo a porta dos aposentos da rainha.

—Ninguém entrará. —Disse Barristan.

—Deixe-os! —Gritou Daenerys.

Mormont abriu a porta e botou a cabeça para dentro do quarto escuro.

—Minha rainha...

—Deixe-os!

Quando eles entraram, as duas aias dothrakis de Daenerys, Irri e Jhiqui, estavam lá. Elas molhavam um pano para ela. Uma estava com a jarra. E a outra botava o pano na testa. Ela estava toda suada e nua. Seus joelhos estavam arqueados e abertos.

—O que ela tem? —Perguntou Arianne.

—Achamos que ela está morrendo. —Disse uma das mulheres em um sotaque pesado. Arianne não sabia se ela era a Irri ou Jhiqui. — E que está com febre. E parece gritar de dor.

É bom que elas não sejam as dothrakis mais espertas.

Daenerys levantou a cabeça e depois as costas, e deu um sonoro grito. Depois de um tempo parou. E se deitou novamente.

—Olhem. —Disse uma das aias. Arianne nunca se lembrava quem era quem. —Sangue

—Achei que já o tinha perdido… —Disse Daenerys. Olhando para o nada. —eu já sangrei antes da hora mais de uma vez.

Quando chegaram perto, Arianne afastou os lençóis de seda.

—Oh, deuses. —Disse ela, espantada. Tyrion rogou uma praga. Moqorro disse qualquer coisa em Valiriano.

Era uma coisa pequena e disforme. Meio-bebê, meio-dragão. Com partes faltando, substituídas por uma pasta cinza e sangue, além de uma outra gosma preta. Faltava o coração. O único olho que tinha era cego. Tinha uma cauda, e a espinha dorsal saía do corpo, rasgando as costas cheias de escamas; assim como saiam chifres pretos da enorme meia-cabeça. E tinha larvas dentro dele.  E a pele parecia estar a descolar do corpo, isto é, as partes que já não estavam se desgrudando. Saia uma espuma vermelha com vermes da boca. E alguns dentes também. Caídas nas costas, tinha uma asa solta que parecia apodrecida por meses de tantos rasgos, e a outra asa nem terminara de sair do corpo. Ele era a coisa mais feia que já virá. E a mais fedida também.

De alguma forma o corpo parecia estar defecando. Mesmo não tendo comido nada, embora parece-se mais uma pasta marrom e verde, cheia de larvas mortas. Ele também tinha um buraco no nariz. garras saltavam dos dedos de uma de suas mãos; mas elas tinham rasgado a pele normal, então elas tinham aberto seu pequeno braço em dois, e rachado suas unhas normais.

—Rápido. —Disse Moqorro. —Peguem isso!

Moqorro e Arianne tiraram os lençóis. Cobriam a fera, depois o sacerdote se ajoelhou na lareira, cortando o tecido, enquanto falava uma outra língua. Até chegar… naquilo.

Jogou tudo de uma vez, ergueu os braços, começou a gritar, não em uma, mas em várias línguas diferentes. E as chamas aumentaram. E mudavam de cor, conforme ele mudava de língua e de tom de voz. 

Arianne se agachou-se e segurou a mão de Daenerys.

—Está tudo bem.

—Não está… —Ela tinha vômito e suor na cara. —Não conte a ele. Ninguém deve saber...por favor…

—Está bem. —Ela disse. Apesar de não concordar. —Não direi. —Ela apertava a mão, mas Daenerys quase não tinha pulso, estava fria, e a falta de força em sua mão, só a deixou mais preocupada. A rainha balançava a cabeça, brilhante de tanto suor, e não conseguia nem abrir os olhos direito.

—Tu-tu...tudo o que eu fiz...será em vão. Nada adiantará se eu não tiver um herdeiro varão. Tudo terá sido em vão... —ela chorou.

Arianne ouviu um riso de um homem cruel. Ela se virou.

—Quem está aí? —Ela perguntou, perturbada.

Tyrion abriu o armário, que estava do lado da armadura com rubis de Daenerys, e escalou nele. Empurrou a parte de trás.

—Relaxe. —Ele disse. —Não tem passagem secreta...eu acho.

Tem alguém aqui, ela pensou, posso sentir.

—Acho que apostei no cavalo errado. —Disse Tyrion. —Minha sorte já não vai tão bem pra aguentar uma infelicidade dessas.

—Quieto! —Repreendeu Arianne.

Moqorro se levantou e foi até a rainha acamada.

—Iluminada. —Disse Moqorro. —O Deus da Luz cuidou de queimar o que sobrou de vosso filho. Recomendo dizer ao.rei que se enganou, que não estava grávida.

—Na-na… —A rainha gaguejou. —Nada aconteceu...

—Nada aconteceu. —Todos repetiram.

 

—O que aconteceu? —Questionou-lhe Daemon na manhã seguinte. Estava no aposento de Arianne, comendo uma laranja sanguínea.

—Nada —Disse Arianne, tentando ela mesma acreditar no que dizia.

Sor Daemon sorriu.

—Está me dizendo que o sacerdote e o Duende vieram lhe falar sobre a rainha e nada aconteceu?

—Estou. E você vai acreditar!

Ele deu de ombros.

—Se insiste…

Um servo entrou, anunciando que o rei queria falar com a princesa. Arianne e Daemon se olharam.

—Tem certeza que nada aconteceu, Margaery? —Daemon lhe perguntou novamente, mas dessa vez, parecia preocupado. 

Ignorando-o, Arianne se levantou e foi se juntar com o rei.

 

Aegon não estava sentado na sala do trono, mas sim nos seus próprios aposentos, sentado em um simples banquinho. O guarda real ruivo, chamado Pato, estava em pé ao seu lado.

—Meu Rei. —Arianne fez uma profunda reverência.

—Diga-me, princesa —Mandou o rei, de forma que parecia quase um simples pedido de amigo, não uma ordem real. —Tem algo que minha esposa não anda me contando?

Pelos Deuses, ele já deve saber!, pensou desesperada, será que devo falar logo a verdade ao invés de fingir de desentendida?

—Que tipos de problemas, meu rei? —Arianne respondeu com outra pergunta.

O rei franziu o cenho e cruzou os braços, não gostando do rodeio com palavras dela.

—Ela disse para todos que estava grávida —Ele disse —Agora me diz hoje de manhã -bem fraca, por sinal- que se enganou… Eu me pergunto, como ela pode ter se enganado, se a barriga já estava a crescer? —Ele olhou bem fundo nos olhos de Arianne, o brilho púrpura de seus olhos pareciam mais tristes do que zangados. —Diga-me a verdade, Princesa, não será castigada.

Não devo nada a Daenerys. Ela que assuma e resolva os seus problemas.

—Ela o perdeu ontem —Ela disse.

Aquilo foi um golpe para o jovem rei. Ele não ficou bravo, só visivelmente abalado.

—Eu sabia! —Ele disse. —Como era o meu filho?

Arianne mordeu o lábio. Lembrando do que Margaery lhe dissera, Arianne pensou que Aegon e os sete reinos precisavam de uma rainha digna.

—Era um monstro. —Disse Arianne, com a voz cheia de repulsa verdadeira. —Deformado, cheio de escamas, sem coração e repleto de vermes e fedor. Foi… Foi bom ter morrido.

Ao ouvir tudo aquilo, o lábio de Aegon tremeu e ele olhou para o chão, perdido nos próprios pensamentos. Depois, ele ergueu a cabeça, irritado, e se levantando de forma rápida.

—Eu quero ver com os meus próprios olhos! —Ele disse. —Onde está? Ela o enterrou?

Arianne balançou a cabeça.

—Moqorro o queimou na lareira dela e disse para ninguém falar nada.

—O sacerdote? —Ele perguntou com asco na voz. —Então Tyrion não mentiu…

Arianne o olhou, chocada.

—Já falou com ele?

Aegon acenou.

—Ele me disse tudo ontem —Ele revelou —Logo após sair do quarto da rainha. Ele me disse que ela viria me avisar no dia seguinte e contou exatamente a mesma coisa que você.

Então ele quis mesmo mudar as apostas dele…

—Lamento, meu rei. —Arianne disse. —Mas a Rainha nos fez jurar não falar nada, e tive medo de que isso causasse problema.

Desta vez, Aegon se irritou de fato.

—Ela é o problema! —Ele berrou. —Ela não me dá um herdeiro, insiste em se intrometer em todos os assuntos da corte, da guerra… Deuses, ouvi dizer que ela ainda pode ter um caso com aquele mercenário de barba azul, pode imaginar ela com aquele feio? Me trair? Trair o seu rei?—Ele balançou a cabeça, irritado. —Ela chorou quando a questionei ontem, sobre o bebê. Ela estava…—Ele franziu o cenho, pensando no que dizer.

—Fragilizada? —sugeriu.

O rei anuiu.

—Nós perdemos meses esperando um bebê que nunca nasceu. —Ele fechou a mão em um punho. —A troco de nada… Nós devemos ir logo para a Campina, pegar o apoio deles.

Arianne concordou com a cabeça.

—Você deve trazer Willas para cá —Disse Arianne, nem lembrando muito do fato de que teria de casar com ele. —Apenas assim teremos garantias das outras casas o apoiando.

Aegon ouviu o que ela disse, assentindo.

—A irmã dele tem sido uma dor de cabeça. —Desabafou Aegon —Sempre está a causar; quase arrependo-me de ter deixado-a viver.

—Você é o rei, ela foi contra isso e, agora, está sofrendo com as consequências. —Arianne disse, esperando acalmá-lo. —Você teve misericórdia com quem nem merecia, e é isso que importa.

O rei sorriu ao ouvir aquilo.

—Obrigado, princesa. —Ele disse, se acalmando. —Eu… eu precisava disso. Obrigado mesmo.

Arianne fez uma reverência.

—Eu estou aqui para servi-lo, da melhor forma que posso. —Ela disse, com um sorriso no rosto. —Você e Daenerys já vão para a Campina e o Norte?

O sorriso dele morreu.

—Não. —Respondeu ele, sentando-se no banco novamente. —A rainha está fraca demais para voar, infelizmente… —suspirou— Teremos de esperar mais.

—E quanto tempo você acha…

—Não sei. —Ele disse, tristemente. Depois, deu um leve sorriso —Sabe, quando eu soube da minha tia, fiquei feliz. Achei que não estava mais sozinho… —O sorriso morreu —Agora, acho que era melhor ficar sem ninguém. Daenerys não me dá filhos, provavelmente nunca dará, e ela só sabe atrair o ódio de meus seguidores. Afastá-los. —Balançou a cabeça. —Teria sido melhor que ela ficasse em Meereen.

Arianne chegou mais perto dele, e tocou-lhe a mão.

—Você é o rei. —Arianne disse. —Deve provar que não depende dela.

Ele a olhou com curiosidade.

—O que sugere?

—Daenerys está fraca, não? —Arianne relembrou —Deixe-a repousar, enquanto cuida de toda a bagunça. Ah, e por que precisaria dela para a Campina? Ela que fique ou vá para outro lugar provar seu valor como sua consorte, a Campina irá respeitar o seu rei.

Aegon assentiu lentamente, pensando em cada palavra.

—Eu… —Ele estava dizendo, antes de um servo abrir abruptamente a porta e entrar correndo, caindo de joelhos perto do rei.

O guarda real se interpôs entre eles e quase tirou a espada da bainha se o Aegon não tivesse mandado parar.

—Deixei-o, Pato. —Ele se levantou e olhou para o homem. —O quê foi? Fala, homem!

A cara do servo estava vermelha como uma romã.

—Majestade… —Ele disse, com dificuldade. —Os servos, eles… tiveram algo. Estão doentes. Achavam que estava começando apenas entre os plebeus na rua, mas… mas chegou até os servos. Pelo menos dois ou três.

Aegon franziu o cenho.

—O quê está a dizer?

—Fluxo. O meistre Harwyn disse é fluxo… fluxo… —O homem franziu o cenho, tentando lembrar, sua respiração estava ofegante.

Aegon pareceu entender o que era, e arregalou os olhos, como se tivesse ficado assustado.

—Não… —Ele disse, parecendo ver um espírito —Fluxo Sangrento? É isso?

O homem assentiu, violentamente.

—A doença? —Arianne perguntou, franzindo o cenho.

Aegon assentiu.

—Sim, essa mesma, mas… —Ele franziu o cenho —Daenerys me jurou que não tinham mais casos, que os doentes não tinham vindo.

Arianne quase falou da possibilidade de ser uma epidemia da própria Westeros, era difícil acreditar, mas já houve casos assim em tempos de guerra… Mas não falou nada. Estava na hora de Daenerys lidar com os próprios problemas que dizia.

Aegon se virou para a princesa.

—Vá imediatamente para vossos aposentos —Ele disse —Nós não sabemos se se já se alastrou para outros servos, então não fale com ninguém no caminho.

Arianne assentiu e saiu rapidamente dos aposentos do rei.



Mais tarde, em seus aposentos, Arianne recebeu um meistre. Ele a examinou e concluiu que ela estava bem. Por precaução, ela mandou a aia embora, após mandar que ela acendesse todas as tochas, velas e aumentasse o fogo da lareira. Ouvira em algum momento que isso ajudava a se proteger de doenças como esse fluxo.

Após um tempo, ouviu algumas batidas em sua porta.

—Quem é? —Ela perguntou, temendo ser Daenerys ou Moqorro.

—Sou eu, prima —Ouviu Tyene.

—Entre —Ela disse.

A prima entrou, junto de Obara e Nym. E Tyrion.

Arianne o olhou desconfiada.

—Que faz aqui?

Ele deu um sorriso simples, que ficou macabro, por causa da falta de seu nariz e toda a feiura do rosto.

—Eu? —Ele perguntou de modo inocente e apontou para si mesmo —Ora, nada, princesa! Apenas falando com as suas adoráveis primas!

As mulheres e o anão se reuniram na mesa dos aposentos de Arianne — que ela pediu para Obara a arrastar para perto da lareira—, e Tyene pegou o jarro e encheu as taças de cada um.

—O que estão tramando? —Arianne perguntou.

—Nosso pequeno macaquinho —Disse Obara, acenando com a cabeça para Tyrion —, nos disse sobre o incidente de ontem.

—Pois é, ele também contou ao rei —Disse Arianne, em um tom irritado, olhando para Tyrion, que deu um sorriso para ela.

Antes que a prima de Arianne continuasse, Daemon abriu a porta, sem bater.

—Vim ver como estava a princesa —Ele explicou, franzindo o cenho ao ver todos juntos. —Está tudo bem?

Arianne acenou, mas antes que pudesse falar algo, sua prima Obara disse:

—Reunião das garotas, Sor. —Ela disse. —Pode ir dar a volta. Depois a vossa princesa solicita seus talentos.

—Obara! —Repreendeu Arianne.

—Se esta é a "reunião das garotas" —questionou Daemon, apontando para Tyrion —Por qual motivo esse daí está com vocês?

Tyrion levantou uma taça.

—Eu adoro um bom vinho dornês!

Daemon olhou para Arianne.

—Vá, Daemon. —Ela disse —Logo falarei com você.

A contragosto, ele fez o que ela mandou, fechando a porta.

—Então? —Disse Arianne, olhando para Obara — Continue.

—Daenerys não nos serve como rainha —Disse Obara, sem rodeios. —Ela não pode ter filhos; seus dragões comem muito e ajudam pouco; e a população de Essos que veio com ela só nos atrapalham ainda mais.

Arianne esperou a prima dizer algo mais, quando esta não o fez, ela falou:

—O que estão pensando em fazer?

—Em tirá-la do poder, é óbvio —Disse Nymeria. —Mas não podemos simplesmente envenená-la; ela tem vários provadores de comida. Deve saber que está prestes a ser morta. Fora o exército vingativo dela.

—Então? —Perguntou Arianne, com medo de que alguém as ouvisse.

—Daenerys e Aegon precisam se separar. —Tyene disse —quando ela for para longe, precisamos que todo o seu exército vá com ela. Aegon tem um dragão, mas ela tem dois, isso é ruim, mas deixemos que ela e os seus se destruam no norte. Até tudo lá acabar, nós já teremos cuidado daqui. Cheio de comida, bocas famintas e doentes expulsas…

—E a nova consorte? —Perguntou Arianne, indo direto ao ponto.

O olho verde de Tyrion brilhou.

—Ora, a princesa já sabe quem é— ele disse.

Arianne assentiu.

—Certo, isso é o que eu ganho com isso. —Arianne disse—Mas, e você, Lannister? Que ganha com isso?

Tyrion sorriu, de uma forma sinistra, com o brilho dourado das velas iluminando seu rosto. Era assustador de ver, pois parecia zangado do que alegre.

—Viver, é claro. —Ele disse, sorrindo, que morreu em um instante. —E, acima de tudo, destruir a vida de minha irmã.

—Por que não a deixa em paz? — Perguntou —Ela não tem mais nada, Tyrion, para que continuar torturando ela?

Tyrion fez uma carranca.

—Daenerys e Aegon me prometeram minha vingança —Ele disse —Onde ela está? Cersei ainda vive, e, para piorar, eles ainda a deixaram fazer um acordo para entregar Margaery.

—Não falemos dela. —Disse Arianne. —Que quer? Fale logo.

—Cersei morrerá pelas minhas mãos no fim de tudo. —Ele disse. —E eu quero um cargo importante na corte. Não apenas um assento de convidado especial no conselho, quero um posto alto.

Arianne entendia bem onde ele queria chegar.

—Feito.

Tyrion assentiu.

—Temos que destruir a imagem de Daenerys —Disse Tyene. —E acabar com qualquer pretendente ao trono.

Arianne a olhou, confusa.

—Daenerys já é odiada —Lembrou-os —E Jon e Sansa vão ficar a cargo dela, vocês mesmas disseram.

Tyene lhe deu um sorriso frio.

—Eu falo de matar dois coelhos com uma cajadada só —Ela disse — E não me referia aos usurpadores ao norte. 

—Falamos também de vingar o sangue de Elia e Oberyn. —Disse Obara.

Quando Arianne entendeu aonde queriam chegar, ela arregalou os olhos e balançou a cabeça.

—Não, isso não!

Obara fez uma careta, mas Tyene foi quem falou:

—Nenhum mal será feito a Myrcella.

—Mas ela e a mãe…

—Botamos algo para elas dormirem em seus pratos —Ela disse —, Tommen também, ele não precisa morrer sofrendo.

Ela se virou para Tyrion.

—Aceita isso? —Arianne o questionou —Ele é seu sobrinho.

Tyrion torceu a face.

—Não, não quero. —Ele disse —Mas suas primas pediram isso quando eu falei com elas. Elas querem vingança.

—Justiça! —insistiu Obara.

Tyrion a olhou, sem vida no olhar.

—Se você diz. —Depois voltou a olhar Arianne. —Então?

Arianne pensou no que Margaery lhe dissera antes; talvez ela estivesse certa, afinal, Daenerys não se mostrou uma rainha digna, e, se assim fosse, por que não trocá-la por uma melhor? Arianne não tinha dragões, mas tinha Dorne. A Campina também gostaria disso, pensou, assim seriam subservientes a uma rainha dornesa, mas não parte de Dorne. Sim, era melhor assim.

E Cersei fez coisas horríveis no passado, quem se importaria com a morte dela?

E Tommen… que vida teria? Um bastardo, filho de duas pessoas detestáveis. Não, era melhor matá-lo. Talvez tivessem que fazer isso de qualquer forma, pois logo o Oeste poderia se rebelar em seu nome. Sim, era melhor fazer tudo isso de forma mais rápida.

Ah, e Quentyn. Também estava fazendo isso por ele, afinal, Daenerys o matou, assim como matou o irmão, e saiu impune. Ela teria de pagar por isso, e Arianne deveria proteger a memória do irmão.

—Certo, mas e se culparem Aegon também? —Perguntou, querendo saber se já haviam pensado nisso. —Ou se suspeitarem de nós?

Tyrion lhe dirigiu um sorriso medonho, gargalhando de forma assustadora. A vela da mesa fazia seu olho esmeralda brilhar como fogovivo.

—Oh, acredite em mim, princesa, existem detratores que farão de tudo para culpar a rainha e limpar o nome de Aegon. —Ele lhe garantiu. —Mesmo que alguém ouse mencionar nossos nomes, eles farão o rei fazer o rei ter ouvidos moucos sobre isso.

Arianne assentiu, querendo acabar logo com tudo aquilo. Disse a si mesma que valeria a pena no final, não apenas para ela, mas para todos no reino. Talvez nem tivessem que matar Daenerys, e ela escolhesse voltar para Essos ao ver todo o ódio contra ela. Sim, torcia para ser assim, embora duvidasse que fosse ter tanta sorte.



No dia seguinte, trouxeram o corpo de Tommen para o salão do trono de ferro.

Ele era um corpo gordinho e pequeno. O frio deixará-o pálido e meio-azulado. Ele foi enrolado em um grande manto carmesim, que escondia quase que totalmente o sangue de seu corpo, causado pelos espinhos do fosso da fortaleza de Maegor. Os olhos esmeralda estavam abertos, assim como a boca, e pareciam olhar para Daenerys.

Arianne achava que elas simplesmente iriam envenená-lo… Mas menosprezou o ódio no coração das primas, tal qual seu pai fez com ela.

Olhar para o cadáver deixou Arianne nervosa e fraca, com suas pernas ficando bambas. Sua boca logo ficou seca e ela sentiu lágrimas prestes a brotar de seus olhos.

O ódio de uma mulher é capaz das piores coisas, pensou.

—Pelos Deuses… —Disse Daemon, enojado com a visão.

Enquanto o Rei Aegon VI estava sentado sobre o trono, Daenerys estava sentada nos degraus do trono. Pálida, fraca, sentada em cima de uma almofada, com as pernas bem afastadas. Claramente estava doente.

—Ele era só uma criança… —Disse Daenerys de forma fraca —Quem faria isso com uma pobre criancinha?

O rei se levantou do trono.

—Quero quem fez isso! —Ele disse —Tommen estava sob minha proteção, tal ação é imperdoável!

Jon Connington, o Mão do Rei, mandou cobrirem o corpo e entregarem para as irmãs silenciosas. Depois, voltou suas atenções para Tyrion.

—Foi você, Duende? —Ele perguntou.

Tyrion lhe dirigiu um olhar carregado de ódio. Arianne pode ver ele começar a chorar.

—Tommen era meu sobrinho —Ele disse —Quem fez isso, vai me pagar, caro!

O anão saiu do salão, irritado. Arianne se perguntou se ele realmente falava sério.

—Tyrion não faria isso —Disse Aegon, sentado novamente no trono —Ele mataria a Cersei, não Tommen.

—Bom, alguém fez —Disse Jon, irritado —E isso pode nos prejudicar.

—Quem fez isso vai pagar —Disse Daenerys, com a voz um pouco mais forte pela raiva, fechando as mãos em um punho, enquanto olhava para a mancha de sangue que o corpo de Tommen deixou no chão. —Juro por todos os deuses, vou entregar ao fogo dos meus filhos.

—As coisas pioram —Disse Jon —Agora pouco uma serva me informou de que Margaery Tyrell fugiu.

Arianne o olhou, surpresa. Depois, sem conseguir se conter, olhou para Tyene, que estava, como sempre, ao lado do Alto Septão. Sua prima balançou a cabeça, negativamente. Quem quer que tenha libertado Margaery, não foram suas primas… Isso era bom, poderia estar viva.

—Um corpo de uma garota foi encontrado na cama de Margaery —Continuou Connington. —Alguém lhe quebrou o pescoço.

Daenerys fez uma careta.

—Quantas crianças devem morrer neste reino? —Ela indagou, amargurada.

—Varys já está a procura dela? —O rei perguntou.

—Seus passarinhos estão procurando, mas já deve estar fora da Capital a essa altura. De certo, já está na Campina.

—Acha que isso tem a ver com a morte de Tommen? —Arianne perguntou.

Jon deu de ombros.

—Cersei disse que não viu nada, que estava bebendo vinho e, quando deu por si, acordou com um grito de seu filho.

Dopada fracamente, ela percebeu… ou ela só estava bêbada.

—Ela nos acusa, como é de se esperar —Continuou Jon —, mas também acusa Margaery.

—Dificilmente —Disse Arianne, talvez fosse estranho apenas jogar a culpa de Margaery, pois poderia soar suspeito. —Mas, quem sabe…

—A pessoa que fez isso não deve ter matado Margaery —deduziu Jon —Ou não deixaria um corpo para fingir que era ela. É muito cuidado. 

—Quem quer que seja —Disse Aegon, descendo do trono —Nós vamos pegá-lo.

—Ou pegá-los —Disse Daenerys. —As primas de Margaery ainda estão sob nosso teto?

A Mão do Rei assentiu.

—Sim, mas não sei se devemos investigá-las.

—Oh, não teríamos de torturá-las, não é? —Perguntou Daenerys, nervosa com a perspectiva de machucar crianças.

Jon fez que não com a cabeça.

—Tenho certeza que nada sabem. —Ele disse —Margaery talvez nem soubesse do resgate, ou, se sabia, nem tinha como sequer avisar as primas. Elas estavam fora de seu alcance.

—Mas vamos melhorar a guarda —Disse Aegon, parando nos degraus do trono —Coloque filhos do Guerreiro para vigiá-las de dentro do quarto, e coloque uma serva de Essos para servi-las todo o dia. E uma septão, pois a doença pode aumentar, então seria melhor afastar elas de interagir com outras pessoas.

O Mão do Rei assentiu.

—Que assim seja, Vossa Graça —ele disse.

—De qualquer forma —Daenerys disse, se levantando. —Vamos tentar esconder isso de todos. Já basta saberem e murmurarem sobre Tommen, não precisamos deles achando que matamos uma boa rainha. O povo pequeno nos odiaria se soubesse.

Ou só você, a princesa pensou.

Arianne foi ao seu auxílio e a ajudou a descer.

—Obrigada, princesa —Daenerys disse, com um sorriso frágil e pálido. —É uma boa amiga.

Não, não sou, pensou Arianne, se sentindo culpada.  Ela deu uma fungada ao sentir o nariz escorrer e a sua visão começou a ficar borrada. Piscou para fazer as lágrimas caírem.

—Oh, pobrezinha —Disse Daenerys, que era alguns anos mais nova que ela, terminando de descer dos degraus. —A visão do corpo de Tommen lhe fez mal; está até pálida, pobrezinha!

Daemon foi até Arianne quando ela ajudou Daenerys a descer dos degraus.

—Está mal, princesa —Ele disse, friamente —Venha, vou ajudá-la a pegar um ar nos jardins.

Arianne o olhou. Podia ver uma certa raiva nos olhos azuis dele.

—Vá, querida —Disse Daenerys, soltando o braço de Arianne —Irri e Jhiqui cuidaram de mim.

Arianne assentiu e foi com Daemon para fora do castelo.

Daenerys viu seu marido descendo dos degraus e tentou falar com ele.

—Gostaria de ir aos meus aposentos? —Ela perguntou. 

Seu sobrinho lhe deu um olhar de nojo.

—Estou ocupado resolvendo nossos problemas —Ele disse, rispidamente —Mas, não se preocupe, tenho certeza que seu mercenário favorito vai cuidar de você, como fez em Meereen.

Daenerys o olhou, chocada e magoada, e acompanhou-o com os olhos, enquanto ele passava por ela, sem nem lhe dirigir a palavra.

—Meu rei… —Jon tentou censurá-lo, mas ele também o ignorou. Suspirou, cansado, e voltou-se para a rainha. —Lamento, majestade.

Daenerys assentiu, lentamente. Levou uma mão à barriga, fazendo círculos com a palma. Estava fazia e machucada, como ela.

 

Do lado de fora, o jardim era quase todo branco e preto. Daemon dava passos largos, fazendo Arianne ter de dar passos largos e rápidos até ele.

—Acho melhor entrarmos —Disse Arianne —Está muito frio. E a doença parece estar se espalhando muito. Não devemos ficar expostos. —A verdade é que ela estava nervosa e só queria ir para a sua cama.

Finalmente, após um tempo, Daemon se virou para encará-la. Ele estava visivelmente furioso, fazendo com que Arianne quase se encolhesse perante seus furiosos olhos azuis.

—Foi você, não foi? —Ele perguntou, pertunado. —Você, suas primas e aquele demônio anão?

Arianne se fez de desentendida, franzindo o cenho.

—Eu o quê? Do que está falando?

—Não minta para mim! —Ele berrou, assustando-a. Arianne deu um passo para trás. —Pelos Deuses, Arianne, me diga que não o fez!

Arianne ia lhe responder que não; que nada fez contra Tommen; que se sentia ofendida pelas suas acusações e palavras duras…

Mas, quando foi tentar falar, nada saiu. Abriu a boca e tentou falar algo, mas nada saiu.

Daemon fez uma expressão de dor e se virou; talvez porque ele não quisesse que ela o visse chorando, talvez porque já não suportava mais olhá-la. Talvez os dois.

—Sim, foi você —Ele disse, e era palpável a dor em sua voz —Você e as serpentes tramaram contra a vida daquele garoto… Pelos deuses, que não tenham matado Margaery.

Arianne olhou para os lados, instintivamente, para ver se ninguém estava por perto. Por sorte, parecia não ter alguém.

—Eu te amei —Ele disse —Eu apoiaria, veria você com outro homem e coroada rainha, desde que fosse o melhor para você, mas isso…

Arianne tocou-lhe no braço e no ombro, tentando fazê-lo virar-se para vê-la. Ela podia consertar isso, sabia que ele ainda a amava. Poderia seduzi-lo novamente. Sim, faria isso; assim Daemon a acalmaria e faria amor com ela, como era no passado 

—Não diga isso —Ela sussurrou em seu ouvido, esticando um braço e passando a mão pelo peito musculoso de Daemon. —Não pode esquecer o que tivemos.

—Acabou —Daemon disse, sem nem olhar para ela —Tudo que nós tínhamos está agora acabado, princesa.

Sem se virar para ela, ele se afastou bruscamente dos toques sedutores de Arianne, dando passos largos. Deixando-a sozinha, chorando.

 


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