The Fall of Gondolin | A Tolkien Fanfic escrita por Ovigi4online


Capítulo 3
Capítulo 3




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/810879/chapter/3

A fuga de Nan Elmoth



Aredhel soube quando concebeu. E aquilo a encheu de pavor. Ela não queria aquilo. Não a criança, mas o que ela significava. Tentou ocultar com todas as maneiras que conhecia o fato de seu... Ahn... Marido. E ela sentia os olhares discretos dos servos - que até então não sabia nem que estavam lá e desapareciam quando ela gritava de dor e implorava para que Ëol a deixasse em paz - sobre si, cuidando cada um de seus movimentos. Ela temia a reação de Ëol. Temia o que ele poderia fazer, não apenas com a criança, mas com ela. Numa tarde, invadiu a biblioteca enquanto ele dormia e encontrou anotações precisas sobre as ervas que ele utilizava. Haviam mais. Venenos, plantas medicinais, plantas anticoncepcionais e até mesmo...

— Oh, não! - Mas ela não tinha coragem. Ou tinha?

Os servos estavam ocupados e Aredhel colheu algumas das flores sobre as quais havia lido nas anotações. Eram frequentemente usadas por jovens casais das famílias dos homens para interromper gestações indesejadas. Aredhel era uma elfa e jamais pensaria em ferir outro ser, mesmo um que estivesse dividindo seu corpo com ela. Bem, Ëol também o fazia todas as noites, e por mais doloroso que fosse, ela nunca havia pensado em tirar a vida dele.

Ela ferveu as flores e levou o líquido quente à boca. Tudo o que precisava era virar a xícara e a semente daquele... Daquele maldito, desapareceria. Ele poderia tentar fazer com que se dobrasse novamente, mas apenas tentar. Haviam muitas daquelas flores para serem usadas.

Ela não pôde. Despejou todo o líquido no tanque. O da xícara e o da chaleira. Não poderia matar seu filho, aquela criança que não amava, nem desejava, mas ela não poderia viver consigo mesma se o destruísse.

Como todas as vezes, Ëol apareceu muito depois do pôr do sol e a convocou à mesa de jantar. A refeição foi silenciosa, embora ele tentasse às vezes dizer-lhe algumas coisas ou apenas avisar outras, ela não parecia realmente ouvi-lo. Passaram-se quatro meses que estava presa alí, além dos angustiantes dias em que esteve sob seus cuidados. Ela havia parado de tentar fugir. A última vez foi quando descobriu sobre o bebê. Seu coração afundou ao saber da existência dele e que o menino cresceria no mesmo ambiente que Ëol. Ela não desejava isso. Tentou novamente encontrar a borda da floresta e novamente falhou. Ele a encontrou e a trouxe de volta. Sua paciência estava acabando, ele avisou.

— Amanhã devo ir à Nogrod. - Ele disse sem muita cerimônia.

— Sim, meu senhor. - Ela não o chamava pelo nome e não o olhava nos olhos. Até mesmo quando se deitavam... Não. Quando ele se deitava sobre ela, seus olhos estavam sempre focados em outro ponto do quarto, nunca nos dele.

— Não a quero vagando longe de casa. - Ele avisou.

Aredhel suspirou e lutou para não revirar os olhos. Ele havia acertado seu rosto da última vez que o fez.

— Certo... Eu... Não posso nem mesmo caminhar ao Sol?

— Eu a quero aqui. - Disse. - É onde você pertence.

Eu pertenço à Gondolin! Gritou em seus pensamentos. Eu pertenço à Tirion, e à casa de meu pai! Ela sorriu.

— Se não se importa, eu... realmente não estou com fome. - Seu estômago embrulhou com as palavras dele.

Ëol olhou para ela e depois para a mesa. Então assentiu. Terminou sua refeição e foi para a forja, onde ficaria o resto da noite, até resolver atormentá-la, antes do amanhecer. Aquela era sua rotina desde antes de conhecê-la, e ele fez com que Aredhel se acostumasse a ela. A Dama Branca de Gondolin, agora passava as noites acordada, temendo ser despertada pelo toque rude de seu marido em seu corpo, como ocorreu nas primeiras semanas do suposto casamento. Ela tentava dormir durante o dia, como ele fazia e acordar com o crepúsculo, mas descobriu ser difícil acostumar-se com aquilo. Assim como profundamente perturbador, ver-se forçando sua rotina a mudar para o agrado de alguém que sem nenhum remorso a feria constantemente.

Uma noite, após desvencilhar-se dos braços de Ëol, que ainda estava acordado, ela se atreveu a perguntar porque ele fazia aquilo. Por que não a havia matado quando a conheceu.

— Nós merecemos isso. - Ele a puxou novamente para perto e sussurrou em seu ouvido. Seu corpo estremeceu e sua pele se arrepiou com o tom sério. - Eu e você. Após tantos anos, finalmente somos recompensados por nossas ações.

Aredhel sentiu-se enojada com o que ele disse, mas não retrucou. Ela nem mesmo se esforçou para defender-se e dizer que não ergueu sua espada em Alqualondë. Ela não teve chance de defender seus amigos, pois Celegorm e Curufin a trancaram em uma das casas dos Teleri, juntamente com Artanis, sua prima mais nova. Ela não os viu até que fosse tarde demais. Ainda assim, teve a sensação de que Ëol não se importava.

Não, ele não merecia seu esforço. Nem mesmo suas lágrimas, que pareciam divertí-lo e encorajá-lo.

Aredhel voltou ao quarto que agora dividiam. Não foi sua ideia, mas não queria contrariá-lo mais. Estava presa naquela floresta com ele. Caminhou de um lado a outro, indagando a si o que faria quanto a Gravidez. Não poderia escondê-la por muito tempo, mesmo assim não sabia o que pensar. A porta se abriu novamente e ela se perguntou quanto tempo havia ficado alí. Ëol se aproximou e tentou beijá-la, mas ela se desviou.

— Tenho que falar com você.

— Isso não pode esperar? - Ele estava arrancando a camisa. Aredhel estremeceu.

— Não...

— Isso não é nenhuma tentativa para me distrair é? - Ele a puxou pela cintura, agora com mais força para que ela não escapasse e quando tentou beijá-la novamente, Aredhel apenas deixou escapar:

— Não! Eu estou grávida!

Ao menos, suas palavras tiveram o efeito devido. O elfo se afastou espantado, mas não parecia nada infeliz. Um raro sorriso apareceu nos lábios dele.

— Então... É verdade. Teremos um filho.

Ele teria. E estava feliz com isso. Aredhel sentiu enojada e quase vomitou novamente, mas ignorou o próprio corpo. Ëol não a tocou novamente enquanto durou sua gestação. Na verdade, ele parecia estranho e suspeitamente gentil, de modo que Aredhel começava a pensar que ele já não era mais o monstro que ela conheceu. Uma vez ouvira seu pai dizer que Morgoth, o Senhor do Escuro, apaixonado pela beleza das Silmarils as olhou com tanta intensidade e só percebeu quando uma de suas lágrimas caiu sobre as jóias. Então as trancou no mais escuro dos cofres. Elas quase o fizeram repensar sua conduta. E Aredhel se perguntava se a ideia de ter um filho poderia ter feito o mesmo com Ëol.

— Uma criança é uma benção. - Elenwë disse a ela certa vez, quando embalava a pequena Idril nos braços.

Mas Elenwë era casada com um príncipe dos Altos Elfos e o amava, tão profundamente que foi capaz de atravessar o Helcaraxe com ele e perder sua vida no processo. Aredhel não amava Ëol. Mesmo que, por muito tempo, tenha pensado que sim. E as palavras de sua cunhada não faziam sentido para ela, ao menos não até o final daquele ano, quando seu filho finalmente nasceu. Lomion, ela o chamou em segredo. E ele era perfeito.

Ëol passou uma grande quantidade de tempo embalando-o nos braços enquanto ela observava. E Aredhel queria saber se ele também choraria como Morgoth, mas aparentemente o coração de seu marido era muito mais duro. Ele tornou a entregar-lhe a criança e disse que não o nomearia, não ainda. Chamaram-no de "filho".

E assim ele foi chamado ao menos até os doze anos, quando passou a ficar muito mais tempo com seu pai. Após isso, Lómion tornou-se Maeglin, filho de Ëol. E com facilidade aprendia o ofício do pai.

Maeglin era esbelto e alto, mesmo com sua pouca idade, e forte, embora ainda não se atrevesse a enfrentar Ëol quando ele e Aredhel pareciam dispostos a matar um ao outro e ela sempre lhe dizia para não se meter. Ela não suportaria vê-lo machucado, assim como não permitia que ele visse os hematomas e as marcas em seu corpo. Maeglin era inteligente, no entanto. Mesmo para a sua idade. E ele conhecia os maus tratos que sua mãe sofria e com ela, ele sofria internamente, enquanto fazia o possível para consolá-la.

— Eu o mataria se pudesse. - Ele disse, enquanto afagava os cabelos da mãe com uma das mãos. Aquela foi uma de duas únicas vezes que ele a vira verdadeiramente machucada. - Ele não tem o direito de tratá-la dessa forma. Ninguém tem.

— Lómion... - Sua mãe chorou, apoiada em seu abraço. Seu menino já tinha quase a sua altura. - Ele é seu pai. Nenhum filho deveria odiar o pai.

— Eu não posso amá-lo. Não depois do que ele fez a você.

Pobre criança... Ele não sabia um terço do que Ëol havia feito a ela em todos os anos em que esteve alí.

— Eu ficarei bem, meu amor. Seu pai não pode me ferir mais do que já feriu.

— Mas... - Ele não entendia. Como ela poderia se conformar? Por que não fugiu há tempos atrás? - Nós podemos fugir. Eu a protegeria. Vamos para Himlad, para seus primos. Ou para Gondolin, para seu irmão. Não espere que ele mate você.

Ela já havia tentado. Por muito tempo. Até que parou de tentar. Mas Maeglin parecia esperançoso e a esperança dele tornou-se sua novamente.

Ocasionalmente, Ëol deixava a floresta de Nan Elmoth em direção às cidades dos anãos em busca de minerais. Ele poderia passar dias ou até semanas. Eles não sabiam exatamente quanto tempo ele ficaria fora dessa vez, então precisariam agir rápido.

— Os cavalos conhecem o caminho. - Disse Maeglin. Ele havia estudado por um mês inteiro aquela floresta. - Vamos usá-los.

— Seu pai vai ficar furioso. Ele... E se ele nos encontrar?

— Ele não é meu pai! - O garoto bradou e seu tom era quase como o de Ëol, o que tornava estranha sua afirmação. Mas então respirou fundo e a olhou nos olhos. - Que esperança há aqui para você ou para mim?

— Não temos certeza do que acharemos no caminho. - Ela disse

— Mas aqui há certeza de morte e sofrimento.

Eles guardaram suprimentos em uma mochila e montaram os cavalos. Se mantivessem um bom ritmo, chegariam a Himlad antes que Ëol pudesse retornar. As palavras de Maeglin eram verdadeiras: Os cavalos sabiam o caminho, pois o feitiço do elfo negro não os atingia. A floresta desapareceu após dois dias de cavalgada e Aredhel pareceu lembrar-se magicamente do caminho de volta à fortaleza de Maedhros, filho de Fëanor, onde residiam seus primos Celegorm e Curufin.

— Aredhel! - O Elfo de longos cabelos prateados havia acabado de voltar de uma cavalgada, quando a avistou e fez o cavalo voltar em sua direção.

Maeglin parou o cavalo e observou sua mãe fazer o mesmo, mas ao contrário dele, que ficou quieto sobre a cela. Aredhel saltou de sua montaria e correu para abraçar o primo. Celegorm a ergueu em um abraço saudoso e a girou no ar, apertando-a contra seu corpo.

— Céus, eu pensei... Pensei que estivesse morta! - Ele não queria soltá-la de seu abraço. E pela primeira vez em muitos anos, Aredhel sentiu-se confortada em estrar abraçada a alguém que não fosse seu filho.

— Bem, não... Embora eu acredite que a morte talvez fosse uma recompensa melhor. - Celegorm a olhou pesando em sua mente aquelas palavras. Seus olhos se desviaram para Maeglin, que ainda os encarava sem dizer nada e sem demonstrar alguma emoção. Aredhel percebeu seu olhar. - Eu vou explicar tudo, Mellonin.

— Certo... Certo, só... Vamos! Vocês precisam descansar e comer.

Eles assentiram, e seguiram rumo à fortaleza dos filhos de Fëanor.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "The Fall of Gondolin | A Tolkien Fanfic" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.